Isadora recuou levemente, respirando com dificuldade. O papel tremia em suas mãos, mas não conseguiu deixá-lo cair. Seus olhos percorriam cada linha, tentando absorver cada palavra, cada vírgula. Cada cláusula parecia mais pesada que a anterior, e ainda havia uma sensação de que nada do que ela pudesse argumentar teria valor.
— Subcláusula 3.4 — disse ela, a voz embargada — “…A signatária aceita, quando solicitado, participar de interações de cunho afetivo e s****l que sejam necessárias para a manutenção da narrativa pública do relacionamento, incluindo, mas não se limitando a, beijos e contatos físicos.”
O ar pareceu se tornar ainda mais denso. Isadora congelou, o coração disparando. A sala girava, cada batida lembrando-a da impossibilidade de escapar. Um calor sufocante subiu pelas suas veias.
Jean permaneceu imóvel, observando cada reação. Não havia pressa, não havia impaciência, apenas um interesse meticuloso. Ele sabia o efeito que aquelas palavras teriam sobre ela, e não se moveu, deixando que o impacto fosse absorvido por completo.
— Não. — Ela disse, a voz firme, apesar do tremor. — Eu não vou assinar isso. Não vou…
— Você não tem escolha. — A frase foi baixa, mas cortante. A mão dele pairou sobre a mesa, próxima ao papel, mas sem tocá-lo, como um lembrete silencioso de controle. — Pode discutir, negar, gritar, mas nada disso muda o fato de que você está cercada. Fora daqui, sua liberdade é uma sentença de morte.
Ela engoliu em seco, lágrimas borbulhando nos cantos dos olhos. — Isso… isso é a***o!
Jean inclinou a cabeça, um leve sorriso frio surgindo nos lábios.
— Não, Isadora. — Ele se aproximou ainda mais, cada passo medido. — Isso é p******o. p******o do que você acha que poderia escapar, mas não poderia. Do que você não sobrevive sozinha.
Ela desviou o olhar, sentindo a proximidade dele como um peso esmagador. O corpo dele exalava calor, mas também poder, autoridade. Não havia nada de humano em sua presença naquele momento; era a personificação da inevitabilidade.
— E se eu me recusar? — a voz saiu baixa, quase inaudível. — E se eu rasgar este contrato?
Jean desbloqueou o celular, exibindo um ícone de pasta de vídeos.
— Então a polícia receberá material anônimo mostrando você, menor de idade, no incêndio da mansão. — O tom dele era firme, sem espaço para dúvidas. — Você passará o resto da vida fugindo não apenas de criminosos, mas da lei.
Ela sentiu o mundo desabar. A escolha que parecia existir evaporou diante dela. A sensação de estar encurralada, de todas as saídas bloqueadas, era esmagadora.
Ele se inclinou ainda mais, até que seu rosto estivesse quase colado ao dela, o hálito quente roçando sua pele.
— Pode assinar. — disse, cada palavra carregada de implacabilidade. — Ou vai aprender da pior forma que eu sempre venço.
Isadora fechou os olhos, respirando fundo. Um turbilhão de sentimentos a atravessava: medo, raiva, desespero e, estranhamente, uma centelha de segurança. Ele não era o monstro que ela imaginara, ou talvez fosse — mas um monstro que, de alguma forma, poderia protegê-la dos monstros reais.
Ela abriu os olhos, encarando o contrato novamente. Cada linha parecia implorar por sua submissão. As mãos tremiam, mas finalmente pousaram sobre a caneta que Jean havia deixado ao lado.
— E os outros termos? — perguntou, a voz ainda tensa. — O que mais… o que mais devo fazer?
Jean endireitou-se, cruzando os braços, observando cada gesto.
— A cada passo, você seguirá minhas instruções. — Ele falou devagar, quase saboreando cada sílaba. — Você será minha cobertura. Minha companheira. Mas lembre-se: cada passo que der, cada palavra que pronunciar, será calculada. Se quebrar a narrativa… o preço será muito maior do que você imagina.
Isadora respirou fundo. A caneta parecia pesada nas mãos.
— E se eu… — engoliu em seco — se eu me sentir… desconfortável?
— Então você aprende a controlar seu desconforto. — Jean respondeu, a voz firme e fria, mas com um toque de imponência que fazia o medo mesclar-se a uma estranha confiança. — Cada gesto, cada beijo, cada ato… será parte da narrativa. Não há alternativa.
Ela engoliu em seco e finalmente tocou a caneta sobre a linha. A mão tremia. Jean inclinou-se, observando com atenção quase predatória.
— Assine. — Um comando, uma promessa e uma ameaça, tudo em uma palavra.
Isadora respirou fundo e fez o movimento final, riscando o papel. O som da caneta arranhando o papel parecia ecoar como um sino de sentença. Ela sentiu um misto de alívio e humilhação.
Jean pegou o contrato assinado, passando os olhos pelas linhas novamente. Um sorriso frio, quase imperceptível, curvou seus lábios. — Agora estamos alinhados. — Disse, com a voz calma, mas carregada de poder. — Você seguirá minhas instruções. E, ao mesmo tempo, será protegida de todos aqueles que, sem eu, fariam sua vida um inferno ainda maior.
Ele recuou alguns passos, mas não perdeu a presença esmagadora. A tensão no quarto ainda era palpável, como se cada superfície carregasse o peso do contrato recém-assinado.
Isadora, ainda segurando o contrato, sentiu uma estranha mistura de raiva e aceitação. Ela não queria estar ali, não queria submeter-se à narrativa dele, mas sabia, de forma incontestável, que fora a única decisão inteligente. Fora, de longe, a única forma de sobreviver.
Jean se aproximou novamente, desta vez com uma lentidão deliberada, quase ritual.
— Agora — disse ele, baixando a voz — você precisa entender a importância de cada cláusula. Cada gesto, cada palavra, cada interação… tudo tem um propósito. E algumas dessas interações exigirão proximidade física.
O coração de Isadora disparou, mas não havia espaço para recuar. Ela mordeu o lábio, encarando cada linha do contrato, tentando absorver a lógica fria por trás da ameaça velada.
Jean inclinou-se, os olhos fixos nos dela, a respiração controlada, mas intensa.
— Cada ato, cada beijo, cada gesto, não é sobre você… é sobre proteger você. — A frase era simples, mas carregada de uma tensão quase s****l, quase dolorosa. — Não se trata de prazer. Trata-se de sobrevivência, de narrativa, de segurança.
Ela desviou o olhar, mas sentiu a proximidade esmagadora, o calor que ele emanava, a tensão que parecia impregnada no ar. Um arrepio percorreu sua espinha.
— Você entende? — A voz dele cortou o silêncio como lâmina.
— Sim… — murmurou ela, a voz baixa, quase sufocada. — Entendo.
Jean recuou alguns passos, mas manteve a presença, a sombra, a força esmagadora de seu corpo e de seu olhar. O contrato estava assinado. As regras estavam estabelecidas. Mas a verdadeira batalha, a de cada gesto, cada palavra e cada interação, apenas começava.