Analu
Eu não conseguia respirar direito. O segundo beijo na boate, com o Cayo me puxando pela cintura, os lábios dele descendo pro meu pescoço, a mão dele apertando minha b***a com aquela pegada de malandro... foi demais. Demais pra mim, demais pro meu mundo certinho, demais pra tudo que eu fui ensinada a ser. Meu corpo ainda tremia, mesmo depois de me afastar dele na pista de dança, com o coração batendo tão forte que parecia que ia explodir. Eu voltei pras meninas, tentando fingir que tava tudo bem, que eu era a mesma Analu de sempre, mas por dentro? Por dentro, eu tava em pedaços. Ele tinha me desmontado com aquele beijo, com aquele toque, com aquele jeito de quem sabe exatamente o que quer.
— Analu, que beijo foi aquele? — perguntou a Mari, com um sorrisinho malicioso, enquanto a gente voltava pra nossa mesa.
Ela tava com uma taça de champanhe na mão, o cabelo meio bagunçado de tanto dançar.
— Você e o motoqueiro? Meu Deus, parecia que tavam prestes a pegar fogo na pista!
Eu forcei um riso, pegando meu gin tônica e dando um gole pra ganhar tempo.
— Não foi nada, Mari. Só dancei com ele. Ele é... sei lá, convencido. Não é meu tipo.
— Não é seu tipo? — A Bia riu alto, jogando o cabelo pra trás. — Gata, ele te beijou como se fosse te devorar. E você tava na dele, não adianta mentir. Eu vi!
— Para com isso, Bia — retruquei, tentando soar firme, mas minha voz saiu fraca. — Foi só uma dança e rolou um beijinho, bem sem graça. Nada demais.
A Lú, que tava toda vermelha por causa do Vitinho, deu um sorrisinho tímido.
— Ele é meio... intenso, né? Mas, tipo, de um jeito legal. Vocês combinam, Analu.
— Combinam? — Eu quase engasguei com o drink. — Eu e ele? Vocês tão loucas. Ele é... ele é de outro mundo. Não rola.
Mas enquanto eu falava, minha mente voltava pra ele. Pro jeito que ele me segurou na pista, com as mãos firmes, como se eu fosse dele. Pro jeito que ele riu contra minha boca, me fazendo rir também, como se a gente tivesse um segredo que ninguém mais entendia. Pro jeito que os beijos dele no meu pescoço fizeram minha pele arrepiar, meu corpo querer mais, mesmo sabendo que era errado.
Proibido.
Ele era tudo que eu não deveria querer: um cara da quebrada, com cheiro de gasolina e cigarro, com uma vida que minha mãe chamaria de "vulgar". Mas, meu Deus, ele me fazia sentir viva. Viva de um jeito que o Humberto, com suas camisas polo e planos de viagem pra Europa, nunca conseguiu.
Tentei fugir dele o resto da noite.
Fiquei com as meninas, dançando, rindo, pedindo mais drinks. Mas meus olhos traíam. Toda hora, eu olhava pro bar, onde ele tava com os amigos, rindo alto, com aquela energia crua que parecia não combinar com a boate chique. Ele me pegava olhando às vezes, e dava aquele sorriso torto, como se soubesse que tava ganhando. E, droga, ele tava.
Eu odiava admitir, mas tava.
Perto do fim da noite, quando eu tava indo pro banheiro pra retocar o batom, esbarrei nele. Literalmente. Meu ombro bateu no peito dele, e ele me segurou pelos braços pra eu não tropeçar. O toque dele, mesmo tão rápido, foi como uma descarga elétrica. Ele sorriu, os olhos castanhos brilhando sob as luzes neon.
— Tá fugindo de mim, princesa? — perguntou, com aquela voz rouca que parecia entrar na minha pele.
— Não tô fugindo — respondi, tentando manter a pose, mas meu coração tava disparado. — Só... tô ocupada.
— Ocupada? — Ele riu, se aproximando mais, o cheiro de cigarro e algo quente, masculino, me envolvendo. — Você pode enganar suas amigas, mas não me engana. Você tá pensando em mim. No beijo. No que mais a gente podia fazer.
Eu engoli em seco, sentindo o rosto queimar. Ele era direto, sem filtro, e isso me desarmava.
— Você é muito convencido, sabia? Acha que toda mulher cai na sua.
— Não toda mulher. Só você. — Ele se inclinou, e antes que eu pudesse reagir, me beijou de novo.
Rápido, intenso, como se quisesse marcar território. Meus lábios se abriram pros dele, quase por instinto, e por um segundo, eu me perdi. De novo. Quando ele se afastou, tava sorrindo, os olhos brilhando com algo que parecia desejo misturado com desafio.
— Vem comigo, Analu. Vamos sair daqui. Só eu e você.
Meu coração parou. Sair com ele? Ir pra onde? Pro mundo dele, com motos e ruas escuras? Ou pra algum canto onde ninguém me conhecesse, onde eu pudesse ser só a Analu, sem o peso do sobrenome Bernardes? Por um segundo, eu quis dizer sim. Quis jogar tudo pro alto e ir com ele. Mas então a realidade bateu. Minha mãe. Meu pai. O Humberto. Minha vida toda. Era cedo demais. Perigoso demais.
— Não, Cayo — falei, a voz tremendo. — É... cedo demais. Eu não te conheço. E a gente... a gente é... bem diferente.
Ele me olhou por um momento, como se estivesse tentando entender. Mas então assentiu, sem perder o sorriso.
— Tudo bem, princesa. Mas a gente vai se ver de novo. Me dá seu número.
Eu hesitei, mas algo em mim — talvez a parte que tava gritando pra ser livre — venceu. Peguei o celular dele, digitei meu número e devolvi.
— Não promete nada que não vai cumprir, motoqueiro.
Ele riu, guardando o celular no bolso.
— Eu cumpro o que prometo. Você vai ver.
E então ele se afastou, voltando pros amigos, me deixando ali com o coração na garganta. As meninas tavam prontas pra ir embora, e eu fui com elas, o corpo ainda quente do toque dele, a cabeça girando. No carro, enquanto o motorista nos levava de volta pra Zona Sul, eu fiquei olhando pela janela, vendo as luzes do Rio passarem. Mas não via nada. Só pensava nele. No beijo. No jeito que ele me fazia sentir algo que eu nunca senti antes. Algo cru, intenso, proibido.
Cheguei em casa, tirei o vestido, joguei os sapatos no canto e me deitei na cama king size com os lençóis de linho italiano. Mas não conseguia dormir. Fechei os olhos e vi ele. O Cayo. A cicatriz na sobrancelha, o sorriso torto, a mão firme na minha cintura.
Sonhei com ele.
Sonhei que a gente tava numa praia deserta, só nós dois, com o mar batendo nos pés e ele me beijando como se o mundo fosse acabar. Acordei suada, o coração acelerado, e percebi que tava sorrindo. Sorrindo por causa dele.
Mas então veio a culpa. A dúvida. Tudo que eu aprendi sobre certo e errado começou a desmoronar. Minha mãe sempre disse que eu devia escolher alguém como o Humberto, alguém que "combinasse" comigo, que mantivesse a reputação da família. Alguém seguro, previsível, perfeito.
Mas o Humberto nunca me fez sentir assim. Nunca me fez querer jogar tudo pro alto, quebrar as regras, ser só eu.
O Cayo fazia.
Ele me fazia sentir viva, mas também me assustava. Porque ele era perigo. Ele era o proibido. E eu não sabia se era isso que me atraía — o risco, a adrenalina — ou se eu tava, de fato, me apaixonando.
Passei o domingo inteiro pensando nele. No número que ele tinha agora. Na promessa de se ver de novo. No jeito que ele me chamava de "princesa" com um tom que era meio provocação, meio admiração. Eu queria apagar ele da minha cabeça, voltar pro meu mundo, fingir que nada mudou.
Mas mudou.
Ele mudou tudo. E agora, eu tava perdida, entre o que eu deveria querer e o que, no fundo, eu queria de verdade.
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