Existence

601 Palavras
Minha existência é um tédio. Olho para as paredes do quarto e suspiro, mas é claro que não consigo sentir nada, já que é isso que sou. Sou nada. Olho para as três camas perfeitamente arrumadas e me pergunto a que horas os dois garotos que residem nesse quarto vão chegar. Não me lembro quando foi a última vez que os vi e seus rostos já estão se apagando da minha memória, se é que eu tenho uma. Não sei nada sobre mim, nem o meu nome, nem onde estou, muito menos quem eles são, mas sinto uma sensação de familiaridade toda vez que os vejo. Eles não podem me ver, é claro, e isso torna tudo ainda mais chato. Gostaria de poder sair daqui, andar por outros lugares mas o máximo que consegui ir foi até o corredor. Mesmo que eu tente com todas as minhas forças, não consigo grande coisa. Deito na cama e é como flutuar, olho para o teto e fecho os olhos, me imaginando num lugar diferente. Que tipo de ambiente eu gostaria de estar? Bem, algum lugar que tivesse árvores e flores, com certeza. Gosto dessas coisas. Animais talvez? Talvez, contanto que não sejam cobras. Não são minhas melhores amigas, não curto muito a aparência predatória delas mesmo não me lembrando quando foi a última vez que vi uma cobra. Em meio a minha imaginação, sinto meu corpo formigar e repuxar e a sensação me faz abrir os olhos com pressa. Meu corpo está brilhando e eu vejo minhas mãos sumindo, o que me faz gritar. Estou… sumindo? Sou engolida pela escuridão e sinto o estômago embrulhar. Há vozes ao meu redor e eu abro os olhos. – Está feito. Estou numa sala estranha rodeada de pessoas, em sua maioria homens, que me encaram com grande expectativa, especialmente um que está sentado no chão ao meu lado. Percebo agora que estou deitada dentro de uma espécie de caixão de onde me levanto num pulo, mas acabo caindo no chão novamente. Minhas pernas parecem gelatina. – Cuidado! Você não tem estabilidade o suficiente para ficar de pé – O garoto de olhos amarronzados diz me olhando e conferindo se estou machucada, mas eu me afasto do seu toque. – Ainda bem que deu certo. – Estou prestes a chorar de felicidade. – Eu Que o diga – Tenho certeza que mamãe vai ficar super feliz. – Você está bem? Todos falam ao mesmo tempo e o meu ouvido está apitando. Me encolho o mais longe possível deles e vejo um olhar de confusão no garoto de olhos amarronzados próximo a mim. – Você está bem? – Ele repete a pergunta. – Ela não parece bem – um garoto de cabelos brancos diz. – Quem são vocês? – Pergunto com a voz trêmula e eles se entreolham. – Por favor, digam que ela está brincando – Uma das garotas diz. – Ela não está rindo, então temo que não seja uma piada. – Você não nos reconhece mesmo? – A garota pergunta e eu assinto. Então ela aponta para o garoto sentado perto de mim. – Nem dele? Olho para ele e vejo algumas emoções em seus olhos, entre elas a urgência e a insegurança, mas nada mais. – Não. – E quem é você? Você sabe nos dizer? – O mais sério deles me pergunta e eu abro a boca para responder imediatamente, mas paro. Procuro na minha mente as informações e… não há nada lá. Nem a minha casa, meus pais, essas pessoas, meu nome, nada. Há apenas um vasto branco. – Eu não sei.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR