Como mencionei no capítulo passado, as amigas estão conversando a cerca da Despedida de Solteira, nos arredores da Tower Bridge, mas, por favor, vou por os pingos nos is corretamente.
Muitos confundem, mas a chamada Torre de Londres não é aquela suspensa, de cabos azuis, próxima à Torre de Londres. Essa é a Tower Bridge e possui esse nome justamente pela proximidade com a torre. Apesar da verdadeira Ponte de Londres ser mais antiga e historicamente mais importante, a Tower Bridge atrai mais turistas por sua beleza e diferente arquitetura, que segue a da Torre de Londres ali do ladinho, sendo possível passear por dentro dela e ver o Rio Tâmisa de vários ângulos, até mesmo de cima para baixo! Mas isso eu irei explicar mais a frente.
A Tower Bridge que me refiro, foi construída em 1894 sobre o Rio Tâmisa e é uma ponte levadiça, se erguendo para barcos maiores passarem por baixo dela centenas de vezes por ano. Em sua origem, a ponte se erguia através de máquinas a vapor, hoje já são usados recursos eletrônicos para tal. Você pode não saber, mas ela já foi cenário para vários filmes como Bridget Jones, Tomb Raider, Velozes e Furiosos 6, Missão Impossível, 007: O Mundo não é o Bastante, entre tantos outros desde os anos 1900 que nem vale a pena comentar.
Hoje, a Tower Bridge é além de ser um dos cenários do conto, é ponte de Londres mais visitada e uma das maiores atrações turísticas do país, além de ser uma das pontes mais famosas do mundo.
Mas enfim, voltamos ao conto no exato momento em que Neríssa se assustou com a fala da amiga.
— Mas você não vai o que quiser? Isso realmente me inclui nos seus planos? — questionou.
— É claro que eu vou, né? Mas e depois?
— Depois o que?
— Depois eu quero beber e comemorar com você e com algumas poucas amigas da faculdade que eu não concluí.
Neríssa a encarou.
— Tá, mas e depois?
— Depois... É meio óbvio, não? — Elizabeth sorriu.
— Como assim pô? — questionou Neríssa perplexa.
Elizabeth abre outro de seus lindos sorrisos rasgados antes de responder sua amiga.
— Depois... Eu terei a minha despedida de solteira com o... — Neríssa a interrompeu.
— EU NÃO QUERO SABER! — esbravejou.
— Por quê? Se eu não contar pra você, contarei pra quem? Poxa! — Elizabeth abriu um bico enorme.
Neríssa tentou desconversar, mas Elizabeth se chateou.
— Lizz, eu não quero saber, porque isso me faz cúmplice pô!
— No fundo, você tem toda a razão, sabe? Eu sinto como se estivesse te arrastando e fazendo você passar algum tempo comigo. Desculpe por te incomodar assim, sabe? É que você sempre me ajudou tanto que eu não me casaria sem você. Não sei como será minha vida de casada sem você para me ajudar e apoiar. Obrigado amiga.
Elizabeth deu um caloroso abraço realmente verdadeiro em Neríssa.
Neríssa engoliu a seco. Não sabia como reagir.
— Não... Não tem de que... — respondeu ela imóvel.
— Sem você, eu sou uma bagunça, você cuida de mim desde que éramos crianças. — sussurrou.
As amigas voltam a sorrir.
— É verdade, né?
— Simmm! Nê, você foi a pessoa que me apresentou ao Edgard e eu realmente sou grata por tudo o que fez por mim. — agradeceu Elizabeth.
Neríssa volta ao seu ar pensativo. Mesmo sem saber, Elizabeth acaba lhe chicoteando, repetidas vezes. Mas ainda assim, ela ficava um pouco feliz pelo casamento de sua amiga. Seu coração, mesmo triste, pulsava felicidade.
— Você é a minha mais importante amiga, Lizz.
A dupla de amigas volta se abraçar com todo o calor, o momento e a emoção que poderia existir. Era um verdadeiro abraça entre duas amigas que passaram uma vida inteira juntas, mas uma tem que se casar e seguir adiante.
— Nê, agora eu preciso ver outras coisas para a despedida, você vem? — questionou Elizabeth.
— Não posso Lizz, tenho trabalho hoje, preciso assistir a aula de Edgard. — brincou.
— Eu aqui, preocupada com a despedida de solteira e o meu marido trabalhando, vê se pode! — soltou uma gargalhada no final.
— Pode deixar comigo, tá?
— Com o que?
— Se eu souber que ele se encontrará com alguma mulherzinha em sua despedida, irei te contar! — brincou Neríssa.
— Não o deixe respirar!
— Sim Senhor Capitão Senhor!
— Dê um beijo nele pro mim. — brincou Elizabeth.
A mente de nossa protagonista viajou longe e voltou.
— Pode deixar! — respondeu.
As amigas se abraçaram pela última vez naquele dia se despedindo. Enquanto Elizabeth tomou o rumo para os preparativos finais da festa, Neríssa se voltava para o Instituto Imperial não tão feliz quanto sua amiga.
Ela perdeu um tempo considerável ao ficar batendo papo com sua amiga e em sua chuva de pensamentos aleatórios. Ao encarar o relógio e notar as horas corridas e os minutos voando, teve de caminhar cada vez mais rápido enquanto se aborrecia consigo mesma em palavras que nenhuma outra pessoa poderia ouvir.
“É lógico que eu jamais faria isso. Já coloquei na minha cabeça que o meu dever é entrar na Igreja, ficar de pé, assistir a pessoa que eu amo passar pela porta e se casar com a minha melhor amiga que jamais poderá sequer imaginar ou saber o que aconteceu entre nós”. — pensou.
Ao mesmo tempo em que Elizabeth e Neríssa batiam perna em Londres, nos arredores da Tower Bridge, Edmundo e Enrique, aquele nosso não tão querido amante, conversavam na Biblioteca Café.
Edmundo obviamente, sabe de tudo, claro. Mas ele realmente achava que aquilo era fogo de palha e mostrou certa curiosidade à cerca de toda a história do "casal", mas verdadeiramente se surpreendeu com as palavras dele.
“Será que é amor?” — é a interrogação que ficou em sua cabeça.
Mas para que você possa entender melhor o que está acontecendo, preciso ir até a região central, o coração do Reino Unido. O centro de Londres é a parte mais interna de Londres, na Inglaterra, abrangendo vários bairros.
Caso não saiba, a chamada “cidade da rainha” vai do clássico ao descolado no roteiro, na gastronomia, na arquitetura e na acomodação também. Nós não iremos até o Covent Garden ou a South Kensington, mas para o Westminster, um bairro clássico e tradicional de Londres. É a região ideal para quem quer ter a vista dos cartões postais mais famosos da cidade, como o Palácio de Buckingham, a Abadia de Westminster e o Palácio de Westminster, onde fica a Torre do Relógio e também o Big Ben.
É aqui que a Biblioteca-Café mais movimentada da Europa está localizada, e é onde Enrique e Edmundo conversam sobre Elizabeth e o romance que não deveria ter acontecido.
— Vá direto ao ponto Enrique, o que você quer me contar? — murmurou Edmundo.
— Estou tentando te dizer que eu simplesmente fiquei sem chão, sabe? Eu realmente não esperava que minha amiga de balada fosse se casar, principalmente com o meu melhor amigo. Isso é um cúmulo! — reclamou.
— Realmente, trata-se de um cúmulo! — debochou Edmundo.
Enrique toma um gole do seu chá.
— Enrique, posso ser sincero?
— Claro que sim!
— Sei que prometi não me intrometer na vida bagunçada de vocês, não irei contar nada para o Edgard, mas se você aprontar algo, eu mesmo te prendo aqui, viu? — brincou sorrindo.
— E o que um velho idoso como Senhor pode fazer comigo? — ironizou Enrique.
Edmundo tomou outra golada de seu café.
Enrique é um jovem de alta classe londrina, torcedor do Chelsea e ex-campeão de boxe da Universidade. Vive de pequenos investimentos que fez como lojas de flores, quiosques de cerveja e casas noturnas tendenciosas. Tem tudo o que alguém com vinte e oito anos deseja, pois além de beleza, olhos claros, um cabelo loiro disfarçado e uma barba batida, ele é extremamente cobiçado entre as solteiras de Londres e vive na boca e nos pensamentos das mulheres casadas. Ele é alguém que tem tudo? Bom, podemos dizer que sim, exceto o seu grande amor, é claro!
Quando a dupla iria reatar no assunto, Flávia, a filha mais nova de Edmundo, interrompe a conversa aproximando-se da mesa com um telefone celular na mão.
— Pai, me desculpa, é do Jornal, eles querem saber se você vai escrever a Crônica de amanhã!
— É ÓBVIO QUE NÃO! — reclamou.
Flávia revirou os olhos enquanto Enrique gargalhava com a interação entre os dois.
— Ele vai sim, no mesmo horário de antes, tá? — respondeu Flávia para o Editor-Chefe do Jornal ao telefone.
Até os outros clientes de mesas próximas riam com o caso. Flávia se retirou sorridente.
— Se vai escrever, porque reclama?
— Já estou velho, reclamar é o que faço de melhor. — pontuou Edmundo.
— E como é que você vai me ajudar? — questionou Enrique.
— Olha, eu irei... — o despertador do relógio de Edmundo o interrompeu.
Edmundo encarou o relógio, estava na hora marcada de ajudar dois de seus melhores alunos particulares com o TCC.
— Desculpa, eu tô agoniado mesmo Ed... — expôs Enrique.
— Relaxa, serei breve, tá? O negócio é o seguinte, você demorou demais para declarar o seu amor, tratou com s*******m quem queria amor e ainda entregou o seu grande amor de bandeja para o melhor amigo. Tem tantos erros juntos que eu nem sei calcular. E olha que eu já errei muito nessa vida, viu? — argumentou.
— Mas se não vai me ajudar ou se não tem uma solução para isso, porque me chamou?
— Porque estou realmente preocupado contigo cara, você tem bebido exageradamente!
— Boatos! — Enrique entornou outro gole de seu chá.
— Você sabe que isso tem vodka, certo? E ainda não chegamos no meio-dia! — Edmundo se irritou.
Enrique está bebendo uma iguaria menos pedida, mas que ainda é muito tomada pelos britânicos, falo da “Balaca Putz”.
Trata-se de um chá deixado em infusão por 3 minutos e ainda com o sachê, levado à geladeira até que fique gelado. Em seguida ele é misturado com uma vodka de cor vermelha ou mais gritante, e misturado em uma coqueteleira após adicionar uma ou duas rodelas de limão.
— Pra mim, é como um chá gelado normal.
— Só você toma isso aqui na Biblioteca-Café. — expôs Edmundo.
— Ontem eu me machuquei de novo, só pra ver se ainda sinto dor, a ferida ainda estava aberta, fui beber e piorou. Já tentei de tudo para tirá-la de vez da minha vida. Mas não dá. Toda vez que me lembro de nós, dou outro gole na bebida. Sem notar, embriagado e desiludido. Quando bate a saudade, revejo as mensagens e a foto dela na minha p******o de tela. E tome cerveja na minha goela.
— Enrique, assim você vai acabar se matando, não vê isso?
— Eu espero sinceramente de coração que a bebida me mate antes do casamento dela. — respondeu se retirando da mesa.
Edmundo rapidamente o segurou pelo braço.
— Você precisa de terapia.
— Eu não estou maluco! — rebateu.
— Às vezes, sair para tomar um açaí com uma amiga é a única terapia que você precisa. — confrontou Edmundo.
— Perdão Senhor, mas já me encontro numa posição que se a Dona Morte viesse até a mim, eu a abraçava e pedia para me levar. — replicou.
— Tome cuidado, quando chamamos a atenção dela, ela costuma nos rodear. — expôs Edmundo.
Enrique, ainda assim, se retirou aborrecido. Pegou o seu capacete preto na mão esquerda e jogou sua jaqueta de couro na direita. Um homem que tinha tudo bebia como se não tivesse nada. O que pessoas assim são capazes de fazer?
Flávia notou que Enrique saiu chateado do lugar.
“Isso tem acontecido com frequência, espero que esteja tudo bem entre eles”. — pensou.
— Deixa que eu pago a conta dele, ok? — sinalizou Edmundo.
No momento exato em que ele estava saindo da Biblioteca-Café, pode ver Edseu e Natasha entrando de mãos dadas como um bom casal. Enrique se aborreceu ainda mais ao ver que existem vários casais felizes por aí.
Ele esbarrou intencionalmente em Edseu e saiu às pressas pela porta da frente, esbarrando em ninguém mais, ninguém menos que Neríssa aos prantos.
— Enrique?
— Neríssa?
Os piores padrinhos do mundo acabaram de se chocar. Ela chorando e ele arrasado, o que pode acontecer?
Contudo, porém, entretanto, toda a via, vamos até o interior da Biblioteca-Café.
A trama de Edseu e Natasha é meio genérica? Talvez! Mas retrata muitos jovens da mesma faixa-etária que mesmo inteligentes, são inconsequentes em seus atos, palavras e atitudes. Nem tudo o que fazemos vale muito à pena, mesmo que seja por amor.
Os apaixonados, Edseu e Natasha veem Edmundo amargurado e se aproximam.
— O que houve chefe? — questionou Natasha.
— Está meio pra baixo hoje? — disse Edseu.
— Não é nada, são coisas de adulto, vocês não entenderiam. — explicou.
De fato, por mais que os dois sejam maduros, a história está um pouco além do que um jovem pode absorver.
— O que querem?
— É que... — Edseu tentou buscar a melhor palavra para introduzir o assunto, mas Natasha, impaciente, logo expôs.
— ELE ME PEDIU EM NOIVADO! — exclamou ela.
Edseu levou as mãos ao rosto.
— Eu não disse que iria falar?
— Você estava enrolando demais!
Enquanto o casal brigava, Edmundo quase caiu para trás.
— Mas como? O que? Como assim?
— Foi assim, eu comprei um anel, né? Aí eu... — Edmundo o interrompeu.
— Eu sei como foi seu ignóbil, o que eu quero saber é a causa, motivo, razão, circunstância!
— Nós dois meio que namoramos a uns meses, sabe? Não é isso o que todos querem? — explicou Edseu.
— MAS VOCÊS SE CONHECEM A ALGUNS MESES! — exclamou Edmundo.
A ira dele foi tanta que Flávia e alguns dos outros clientes da Biblioteca-Café os encararam assustados e irritados.
— Eu sei, eu sei, mas eu não me aguentei, sabe? — sussurrou Edseu.
— E se ele não fizesse isso, eu mesmo faria. — completou Natasha.
— Mas vocês m*l se conhecem, como sabem que se completam? Como podem ter certeza disso? Um noivado requer meses e até anos de convívio, além de um planejamento de vida e financeiro real e estrutural. Vocês dois definitivamente não tem isso. — pontuou Edmundo.
— Sr. Edmundo, me entenda, eu tenho sede de céu. — disse ela.
— E eu me apego pela vastidão do universo. — disse ele.
Edseu e Natasha dão as mãos e se encaram.
— Nós nos completamos. — responderam juntos.
Edmundo quase cedeu às palavras românticas que a dupla resolveu soltar para o ar. Mas sabe que como um bom adulto, essa história não acabaria bem.
Mas mesmo que as coisas parecessem estar bem, Edseu não sabia onde enfiar a cara, pois sabia que estava no furo e que pisou na bola.
— Eu preciso de sua ajuda para... — Edmundo o interrompeu de novo.
— Para um transplante de cérebro, só pode! Como você acabou fazendo isso?
— É que eu sou muito... — ele o interrompeu de novo.
— Impulsivo! Eu sei, mas é um i****a também, onde já se viu isso!
— Então... — Natasha tentava emplacar o assunto.
Edmundo os encarou seriamente.
— O que vocês estão me escondendo?
— É que eu gastei todo o dinheiro do aluguel com o anel...
Edmundo colocou a mão no rosto.
— E eu achei que não teria problemas, vocês são os melhores alunos nos seus anos do Instituto Imperial da Inglaterra, pelo amor de Deus.
Natasha e Edseu abaixaram a cabeça, temendo o tremendo esporro que viria a seguir, mas Edmundo tomou uma atitude inusitada.
— Vou falar com a Flávia, quem sabe ela aceite.
— Sobre o que? — questionou Natasha.
— Sobre o Edseu passar um tempo lá em casa.
Um tensão começou a subir do chão e a tomar o ar.
— Flávi, pode vir aqui? — sinalizou Edmundo.
Mas creio que sem dúvida alguma a cereja do bolo ainda é a trama do casamento, certo? Ou então você quer saber da despedida de solteiro? Ou saber se os padrinhos vão ficar com os noivos? Ou até mesmo se pegar? Voltaremos para o lado de fora.
— Preciso conversar contigo. — por incrível que pareça, Enrique e Neríssa falaram a mesma frase ao mesmo tempo.
A dupla se encarou um tanto sem graça.
— Vamos tomar um chá depois do expediente? — Enrique e Neríssa falaram de novo ao mesmo tempo.
Parece cena de desenho animado.
— No mesmo lugar? — questionou ele.
— No mesmo lugar! — confirmou ela.
O que vem por aí?