2

1626 Palavras
Três meses atrás — É, ricaça, eu vou entrar aqui. ” — Sussurrei, com um sorriso no rosto. Toda vez que venho para os exames de rotina nesta clínica, recebo olhares de desprezo ou estranheza. Elas pensam que são diferentes das outras mulheres, só por ter uma conta bancaria gorda. Bem... não posso julga-las, se eu tivesse uma gorda fortuna eu estaria nas nuvens, contudo, a vida não é um conto de fadas. Claro que uma professora do primeiro grau não tinha dinheiro suficiente para bancar uma consulta em um lugar como esse, mas ser amiga de uma médica que trabalha neste lugar ajuda muito. Eu não gosto de aceitar favorecimento como esse só porque é minha amiga ou parente, no entanto, da última vez que fui no ginecologista com meu plano, fui tratada tão m*l que fui expulsa do consultório. Por quê? Não levo desaforo para casa. Uma maldição que carrego desde pequena. Minha mãe diz que é porque comi muito jalapenho quando criança, já que tenho descredencia mexicana e minha mãe adora fazer comidas apimentadas. Então a Mila, uma das minhas melhores amigas, que trabalha neste lugar chiquérrimo, me convidou e disse que seria totalmente grátis, não pude recusar. — Beatriz Miller. — Me sinto toda importante quando dou meu nome na recepção. — A doutora Goodner não está atendendo hoje, mas ela deixou marcada para outra médica. — Espera, Mila não vem? — Bati os saltos no piso de mármore, pensando. — d***a! Sempre faço com ela. — Não se preocupe, o doutor Jackson está esperando no terceiro andar. Outro ginecologista? Há não. Odeio quando isso acontece. Ainda mais nessa situação, onde será um homem ao invés de mulher. Tive que aceitar, pois não perderia esse dia. É apenas rotina, não vai fazer m*l. Tentei me convencer. Subi pelo elevador, que dava para ver todos os andares, pelas paredes de vidro. Quando cheguei, dei passos para fora, indo até o balcão, dei meu nome e esperei. Quase no mesmo instante meu nome foi chamado e isso me alegrou. — Está tudo pronto, senhora Midder. — Miller. — Corrigi, mas não acho que ele ouviu direito. — Pode começar com os preparativos, serei rápido. O doutor nem me olhou no rosto, algo que não desgostei. Quanto mais rápido for, menos constrangida fico. Na verdade, odeio ficar de pernas abertas para um ginecologista homem. Sei que é algo profissional e tudo mais, contudo, odeio. Os homens com quem já saí nunca prestaram atenção no que eu tinha entre as pernas, apenas usaram e foram embora. Hoje em dia, não cometo mais esses erros, ficando na minha, sem esperar e nem ir atrás de nada. Além disso, minha personalidade sempre estraga as coisas, então é mais fácil. Não quer dizer que eu deseje ficar a vida inteira sozinha, pois não é isso que planejo para mim, contudo, agora, não me vejo em um relacionamento. Isso cobra muita dedicação, e nem estou se dedicando a mim, quem dirá a outra pessoa. Fui até o banheiro, me preparei e voltei para a sala, onde o médico se preparava. Passei, calada, deitei e só esperei tudo acabar. Sempre fecho os olhos e imagino que estou em outro universo, em um mundo onde não estou exposta para um estranho. Dessa vez as coisas estavam diferentes, achei estranho, pensei em falar, porém, ele começou a falar. — Como está se sentindo dessa vez? Ótimo, conversar com o médico que está vendo a minha… — Muito bem, obrigado. — m***a! Isso ficou estranho. — Não se preocupe, dessa vez vai dar certo. — Vai? — Franzi o cenho. E ante não estava dando certo? — Você é jovem e saudável, com certeza vai ficar bem, mas recomendo que descanse, não se estresse, se alimente adequadamente. O quê? O que esse homem está falando? Merda! O que será que ele viu? Bem que senti umas pontadas, porém, achei que não era nada. E se for... não! Deus me livre. Para de pensar em besteira, Beatriz. — Doutor, porque preciso descansar, o senhor está vendo algo… — Para o procedimento dar certo, é melhor que descanse. Os hormônios podem influenciar, vou receitar vitaminas. Merda! Eu sabia que algum dia essa coisa… Deus, minha vó morreu de câncer de útero, não posso acreditar. Isso só prova o meu ponto: sou muito azarada. — Doutor, devo me preocupar, fazer outros exames? — Minha voz estava trêmula, quase desesperada. — Não, não deve se preocupar. Isso é só um conselho a mais. Você já deve saber. Deus, vou m***r esse homem. — Certo, só descansar! — Já terminei, fique um pouco nessa posição para aumentar as chances de dar certo. — Certo. Eu nem notei todo o procedimento. Quando esse homem abriu a boca e começou a dizer essas coisas, eu só me desesperei. Não posso negar que continuo desesperada. Não confio nesse velho. Tenho que falar com a Mila. — Pode ir ao banheiro se arrumar, vou levar os materiais. O barulho da porta me fez sair do lugar. Olhei em volta e tentei me acalmar. Aquele lugar ficou pequeno para as minhas paranoias. Comecei a duvidar da capacidade desse médico. Eu nem senti nada. Isso é normal? Será que eles têm alguma maquina moderna para esse procedimento? Bem, acho que a culpa é minha, já que passei o tempo todo pensando em besteiras, por ele ter aberto a boca e me colocado medo. — Aposto que ele é um maluco. Um velho que já não sabe de nada. — Peguei as roupas e comecei a me vestir. — Faço exames periódicos, caso estivesse com algum problema, Mila me diria. — Parei e olhei no espelho do banheiro. — É isso. Ele é um doido. Só encheu a minha cabeça de paranoias. Coloquei algumas mechas do meu cabelo para trás e sorri, tentando me convencer disso. Saí da sala esperando nunca mais olhar no rosto daquele homem. Eu o mataria, só por ter colocado essas coisas na minha cabeça. Ao esperar o elevador, bati o salto no chão e ele chegou, fui caminhar para dentro, esbarrei em uma perua alta. Ela nem pediu desculpas, apenas ignorou a minha existência. Como estava agitada, apenas fui embora. Olhei o monitor, onde ficavam os números dos andares, pensando que levaria horas até chegar no meu destino. Respirei fundo e tentei me acalmar. As palavras daquele homem ainda estavam na minha cabeça. Ele deveria tomar mais cuidado com o que fala para as pessoas. Peguei um taxi, ainda tinha algo para resolver no centro de Manhattan e não podia esperar. Já que tirei o dia de folga, nada do que resolver problemas para melhorar o dia. contudo, lembrei: descanse. Mesmo achando que aquele homem era um lunático, seu conselho me atingiu profundamente, o que me deixava agoniada. Quase passei do ponto, quase gritei para o motorista, que freou o carro, me fazendo sentir um abalo repentino. - Você está louco? – Acho que expressei a minha indignação em voz alta. Ele olhou para mim, pelo vidro, com julgamento. - Você que é uma desatenta. - Quer saber? – Fucei a bolsa, buscando os dólares para pagar o arrogante. – Tenha um bom dia. Sai do carro, apressada, com o coração batendo forte. Hoje não era o meu dia, e como se tudo isso já não fosse o bastante, outra vez, esbarrei em alguém. Dessa vez, quase caí e beijei o chão. A pessoa me segurou com força, impedindo que isso acontecesse. Fiquei assustada, meu coração foi à boca e ao encarar seus olhos azuis, senti que morri e fui para o céu. O homem, que tinha o dobro do meu tamanho, ombros largos e uma barba bem feita, sexy, me encarou de volta, surpreso, tão confuso quanto eu. Apenas segurei forte em seus ombros, que com certeza eram bem definidos. Senti que o ar havia sumido, a língua paralisou e não pensei em mais nada a não ser em como aquele estranho era lindo, como um anjo. — Você é maluca? — As palavras demoraram a chegar nos meus ouvidos e levou alguns segundos até eu entender. O estranho ainda me segurava, tipo aquelas cenas de filme, onde o casal está agarrado, um ao outro, depois de um esbarrão. — Garota, olha para onde anda, ou vai se desmanchar no chão, e isso seria humilhante. O arrogante me soltou, depois que levantei. Olhei para ele, agora com outros olhos, pensando que o esmagaria com as minhas mãos. — Você entra na minha frente, como um i****a, esbarra em mim e ainda me ofende? — Meu sangue começou a esquentar. — Seu b****a arrogante, quem pensa que é? — Giovanni Midder. — Arrumou o terno, perfeitamente alinhado ao seu belo corpo. — E foi você quem esbarrou em mim. Espera, eu já ouvi esse nome. Midder! Quer saber, esquece. Não pode perder seu tempo pensando em algo desnecessário. — Eu? — Fechei as mãos com tanta força que o sangue parou de circular. Dei passos em sua direção, o fazendo recuar, algumas vezes. — Acabei de ter uma consulta maluca, onde milhares de possibilidades estranhas podem acontecer, uma siliconada, assim como você, esbarrou em mim e não pediu desculpas, e como se não fosse suficiente, um playboy arrogante aparece na minha frente, como uma avalanche, e sou eu a culpada? A voz alterada chamou a atenção das pessoas ao meu redor. O arrogante estava me olhando com estranheza, com uma das sobrancelhas levantada. — Isso só comprova que é uma destrambelhada. Sem pensar, chutei o covarde, que no mesmo instante, gemeu de dor. Olhei para ele e refleti. Cometi um erro. Então, me desesperei e saí dali o mais rápido possível, deixando-o na porta da clínica, como se nada tivesse acontecido.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR