JESUS NARRANDO
Eu tinha passado a noite com a Joana e a manhã toda também, depois disso eu passei o dia resolvendo várias paradas do morro e com as palavras dela batucando na minha cabeça o tempo todo.
Eu saio andar pelo morro e começo a observar o olhar dos moradores para mim, todos eles tinham olhar de medo, um olhar que não era nada legal e começo a perceber o que ela estava me dizendo.
Eu queria ser temido apenas ou também queria ser respeitado?
Eu olho para as crianças brincando e quando vou passando elas vão se cutucando para pararem de brincar, uma segura a bola e segura uma criança menor para não sair correndo, eu olho para aquelas crianças e ando até elas, conforme vou andando elas vão dando passos para trás.
— Eu disse para eles não ficarem jogando aqui – uma senhora que era dona de uma vendinha de lanche fala – vão crianças, vão embora.
— Relaxa – eu falo colocando a mão no bolso e todos me encaram, tiro uma nota de cem reais – libera o salgado e a coca para criançada.
— Oi? – ela questiona
— Não escutou o que estou falando?
— Escutei sim – ela afirma
— Obrigado ai – o menino que segura o menor fala e eu apenas assinto
— Continuem jogando – eu falo e eles me encaram sem entender nada.
Eu vou andando até a boca novamente e vejo Soquete parado na frente fumando um baseado, eu me aproximo dele e o mesmo joga o baseado fora.
— Sabe a grana que eu mandei tu guardar?
— Sei – ele fala
— Pega aquela grana e manda reformar a quadra toda de esporte.
— Oque? – ele pergunta – quadra de esporte? Reformar?
— Manda colocar auqelas coisas que criança gosta lá, de escorregar, balançar essas paradas toda ai.
— Você tá maluco?
— Tá perdendo a noção do perigo? – eu pergunto
— Não – ele fala – é que eu não achei que depois de passar a noite com a cacheada você iria sair com todas essas idéias.
— Vai a merda – ele abre um sorriso – faz o que eu estou mandando, não tem mulher nenhuma nessa história, sou eu que estou mandando tu fazer todas essas coisas.
— Relaxa – ele fala – vou seguir as ordens do patrão.
Eu entro para dentro da boca e penso em pegar o plano que eu estava tramando, mas acho arriscado fazer isso aqui dentro da boca, eu continuo sentado fazendo a próxima rota das cargas que chegaria aqui para nós e começo a prestar atenção pelo gps que os caminhões não estão seguindo arrisca a rota, tento ligar para Moret mas o mesmo não me atende.
Eu pego uma garrafa de cerveja e começo a beber ali mesmo na boca, misturando com maconha o tempo todo e contando dinheiro, até que Amanda entra e se aproxima.
— O que foi? – eu pergunto para ela – tem novidades sobre a professora e quando ela vai vazar do morro?
— Acho que ela não está afim de ir embora não – ela fala de pé parando ao lado da mesa
— Deveria fazer ela ter.
— Qual sua implicância com ela? Deixa ela em paz, as crianças estão gostando do studio de dança.
— E pelo jeito você também, está lá o tempo todo.
— Você me mandou ir até lá, estou fazendo apenas o que você me mandou – eu a encaro.
— O que você quer?
— Conversar com você, você está distante de mim – ela se aproxima passando a sua mão pela sua barba.
— Vai embora Amanda, tenho muita coisa para fazer e resolver – ela me encara.
— Porque está me esnobando dessa forma? Antes pelo menos você conversava comigo.
— Antes do que? – eu questiono
— De nada – ela responde
— Boa noite – ela me olha
— Boa noite – ela responde saindo bufando de dentro da boca.
(....)
Era de tarde quando eu estava conversando com Moret e vejo Joana e Amanda juntas.
— As duas não estão se desgrudando mesmo né – Moret fala.
— Deixa elas – eu respondo
— Colocou Amanda para vigiar a professora? E está fazendo isso você mesmo.
— VocÊs são tudo fofoqueiro – eu falo – aliás, preciso falar contigo.
— O que foi?
— Estava olhando a rota dos caminhões e percebi que alguns deles estão fazendo uma rota maior, porque?
— Deve ter sido por causa de algum erro ou até mesmo ameaça de blitiz ou algo do tipo – ele responde
— Toda vez? – eu questiono – toda vez que a carga sai daqui tem desvio de rota e quando vem não tem.
— Eu preciso verificar.
— Você é responsável por isso – eu respondo – como ainda vai verificar?
— Eu não fui avisado dos desvio – ele fala
— Deveria saber de tudo Moret, você foi dono do morro por anos e deveria saber de tudo que acontece quando as cargas vão sair daqui – eu falo nervoso.
— Calma Jesus – ele fala saindo – eu vou verificar e te trago respostas.
— Acho bom mesmo me trazer respostas – eu falo e ele me encara andando.
Eu encaro Moret descer as escadas para baixo e fico pensando no porque ele ficou tão nervoso quando questionei os desvios de rotas, eu entro para dentro da boca ligando o computador e novamente verifico tudo nos mínimos detalhes
Tinha desvio de rotas quando os caminhões saia de dentro do morro, mas não quando a carga vinha para o morro, porque tinha todo esse desvio do nada? E porque eu nunca fui avisado sobre isso?
Se eu não tivesse me alertado em ir atrás e ver sobre, eu não saberia de nada, alguém está me enrolando e eu preciso descobrir quem quer me enganar. Se era Moret ou outro.
Eu pego a foto do meu pai e fico olhando para foto dele e questionando se realmente meu pai confiava em Moret com a sua vida, as vezes eu chegava a desconfiar dele mas depois pensava que o morro ficou toods esses anos na mão dele e ele continuou seguindo o legado do meu pai.
— E ai – Soquete fala
— Resolveu? – eu questiono
— Sim – ele fala
— Mas – ele me olha – tá sabendo?
— O que? – eu pergunto
— Tua princesa vai se apresentar lá no bordel – eu encaro ele.
— Que princesa? – eu pergunto
— Joana – ele fala
— Que? – eu pergunto me levantando.