Olivia Hayes
A "proposta incomum" de Alessandro Volkov ecoava em minha mente como um mantra perturbador, um enigma que se recusava a ser decifrado. O que ele queria dizer com "muito além das responsabilidades habituais de uma assistente executiva"? A pergunta pairava no ar, densa e carregada de uma promessa que me causava tanto calafrios quanto uma estranha excitação. Eu havia aceitado o cargo, é claro. A curiosidade, ou talvez uma dose de masoquismo profissional, me impedia de recusar.
Os dias que se seguiram foram uma dança intrincada entre a formalidade gélida do ambiente corporativo e uma tensão subterrânea que parecia crescer a cada interação com ele. Meu novo escritório, adjacente ao dele, era uma extensão do seu domínio — impecável, funcional, mas com uma ausência de calor humano que me lembrava a personalidade do meu chefe. Eu me vi imersa em planilhas, relatórios e agendas que exigiam uma precisão cirúrgica, mas era nos momentos de contato direto com Alessandro que a verdadeira natureza do meu novo trabalho se revelava.
Ele tinha o hábito de me chamar à sua sala sem aviso prévio, com um simples toque no interfone que soava como uma convocação real. Ao entrar, eu o encontraria invariavelmente em pé, talvez observando a cidade pela janela, talvez com as mãos nos bolsos da calça de alfaiataria, exalando uma aura de poder que parecia preencher cada centímetro cúbico do espaço. O cheiro dele — uma mistura sutil de sândalo e algo metálico, quase elétrico — sempre me atingia primeiro, um aviso sensorial de sua presença imponente.
— Srta. Hayes, preciso que revise este contrato de fusão em vinte minutos. Quero uma análise dos riscos ocultos, não apenas os evidentes. — Sua voz era sempre controlada, sem oscilações, mas com uma autoridade que não admitia questionamentos.
Eu pegava o documento, sentindo o peso do papel em minhas mãos, e me sentava na cadeira à sua frente. Ele não se sentava. Ficava ali, em pé, observando-me com aqueles olhos azuis penetrantes, como se pudesse ler cada pensamento que passava pela minha mente. Era um teste constante, uma provocação silenciosa que me impulsionava a ser mais rápida, mais perspicaz, mais impecável. E, para meu próprio desgosto, eu me via respondendo a esse desafio com uma energia que eu não sabia que possuía.
Certa manhã, ele me chamou para discutir um projeto complexo. Eu havia passado a noite anterior debruçada sobre os dados, exausta, mas determinada a não dar a ele qualquer brecha.
— Srta. Hayes, sua análise sobre a expansão para o mercado asiático é… adequada. — A palavra "adequada" dita por ele soava como um insulto velado, uma forma de diminuir meu esforço. — Mas sinto que falta algo. Um toque de… audácia.
Minhas sobrancelhas arquearam. Audácia? Eu havia sido meticulosa, cautelosa, como qualquer bom estrategista faria.
— Audácia, Sr. Volkov? — respondi, com um tom que beirava a ironia. — Em finanças, audácia sem fundamento é sinônimo de irresponsabilidade.
Ele se aproximou da mesa, apoiando as mãos na superfície de ébano, e seus olhos fixaram-se nos meus. — E irresponsabilidade, Srta. Hayes, é um luxo que não podemos nos permitir. Mas a ousadia, quando calculada, é o que separa os grandes impérios das meras fortunas. Você não concorda?
O hálito dele, fresco e levemente mentolado, roçou meu rosto. A proximidade era quase sufocante. Senti um arrepio percorrer minha espinha, uma mistura de irritação e uma estranha atração que eu me recusava a nomear. Era como se ele estivesse invadindo meu espaço pessoal, não com agressão, mas com uma intensidade que me desarma.
— A ousadia deve ser sustentada por dados, Sr. Volkov. — Minha voz saiu um pouco mais rouca do que o pretendido. — E os dados que temos sugerem cautela.
Ele sorriu, um leve movimento de um canto dos lábios que raramente alcançava seus olhos. — E o instinto, Srta. Hayes? O que o seu instinto lhe diz? Ou você é apenas uma máquina de processar informações?
A provocação era clara. Ele estava me testando, não apenas em minhas habilidades profissionais, mas em minha essência. Eu o encarei, meus olhos encontrando os dele em um desafio silencioso.
— Meu instinto me diz que, às vezes, é preciso saber quando recuar para avançar com mais força, Sr. Volkov. — Respondi, com um tom que esperava ser tão afiado quanto o dele.
Ele riu, um som baixo e rouco que me surpreendeu. Era a primeira vez que eu o ouvia rir. — Uma resposta interessante. Mas nem sempre a mais eficaz.
O drama da situação era palpável. Eu me via presa em um jogo de gato e rato, onde eu era o rato, mas um rato que se recusava a ser facilmente encurralado. A pressão do cargo, a intimidação constante de Alessandro, tudo isso me levava a questionar meus próprios limites. Até onde eu estava disposta a ir para provar meu valor? E, mais importante, até onde ele estava disposto a me levar?
Um dia, o destino, ou talvez o próprio Alessandro, orquestrou uma situação de proximidade forçada. Estávamos ambos atrasados para uma reunião com investidores no andar de baixo. Entramos no elevador privativo, um espaço luxuoso, mas confinado. O silêncio se instalou, pesado, preenchido apenas pelo zumbido suave do motor. Eu estava de costas para ele, observando os números dos andares diminuírem.
De repente, o elevador parou abruptamente. Um solavanco, e as luzes piscaram, mergulhando-nos em uma penumbra momentânea antes de estabilizarem em um brilho fraco e intermitente.
— Problemas técnicos, Srta. Hayes? — A voz de Alessandro soou atrás de mim, calma, quase divertida.
Virei-me, e ele estava mais perto do que eu esperava. Tão perto que pude sentir o calor do seu corpo, o cheiro inebriante de sândalo e algo mais, algo que era puramente dele. Ele estava a poucos centímetros de mim, a mão estendida para o painel de controle, mas seus olhos estavam fixos nos meus.
— Parece que sim, Sr. Volkov. — Minha voz era um sussurro. Meu coração batia como um tambor descontrolado. O espaço era tão apertado que eu podia sentir a respiração dele no meu rosto.
Ele não tentou apertar nenhum botão imediatamente. Apenas me observou, um sorriso lento e quase imperceptível se formando em seus lábios. Seus dedos, longos e elegantes, roçaram levemente meu braço enquanto ele parecia se inclinar para ver o painel. Foi um toque rápido, quase acidental, mas a eletricidade que percorreu meu corpo foi inegável. Minha pele formigou, e um arrepio percorreu minha espinha. Era um toque intencional, eu sabia. Um teste.
— Parece que teremos um pequeno atraso. — Sua voz era baixa, rouca, e a proximidade fazia com que cada palavra vibrasse em meu peito. — Espero que não esteja claustrofóbica, Srta. Hayes.
— Não, Sr. Volkov. — Eu m*l conseguia respirar. A tensão s****l no ar era tão densa que eu podia quase tocá-la. Meus olhos estavam presos nos dele, incapaz de desviar.
Ele se inclinou ainda mais, e eu tive que levantar o queixo para manter o contato visual. Seu rosto estava a centímetros do meu, e eu podia ver a intensidade de seus olhos, a profundidade do azul que me puxava para dentro.
— Bom. Porque há certas situações, Srta. Hayes, onde a proximidade é inevitável. E, às vezes, é nessas situações que as coisas mais interessantes acontecem.
Seu olhar desceu para meus lábios por um instante, e eu senti um calor se espalhar por todo o meu corpo. Ele não me tocou novamente, mas a promessa implícita em seu olhar, a sugestão de algo mais, era quase tão potente quanto um beijo. O elevador, com um solavanco suave, voltou a funcionar, e as luzes se acenderam completamente. A magia, ou a tensão, se quebrou.
Ele se afastou, apertou o botão do andar desejado, e a formalidade retornou aos seus traços, como se nada tivesse acontecido. Mas eu sabia que algo havia mudado. A linha entre o profissional e o pessoal, já tênue, havia sido cruzada. E a proposta que ele me faria, eu sabia, não seria apenas sobre trabalho. Seria sobre controle, sobre submissão, sobre algo que eu ainda não conseguia compreender completamente, mas que me atraía com uma força perigosa. O que mais ele esperava de mim? A pergunta me assombrava enquanto as portas do elevador se abriam, revelando o burburinho da vida corporativa. Eu estava prestes a descobrir.