CAPÍTULO 06

1957 Palavras
| SETH DONSON | - PASSADO - — Por que te convidaram para a festa? — Matt perguntou incrédulo. — Cala a boca, o que importa é que VAMOS À FESTA DO GRUPINHO DOS DESCOLADOS! — Lucca disse animando-se. — Cadê o convite? — Não vamos. Eu devolvi o convite — Seth respondeu e viu, na mesma hora, Nathan encolher os ombros. — A Breeze me chamou para sair às nove. — Tá, e onde você e a Breeze vão essa hora? — Matt questionou. — Eu não sei. Ela não disse. Seth viu os três balançarem a cabeça e suspirou. — Vejo vocês amanhã — Matt se despediu. Lucca e Nathan o acompanharam, já que, cada um seguia seu caminho depois de uma quadra do colégio. — Qual é gente... — Seth chamou os três, ficando para trás. __________ A rua onde Seth morava era totalmente monótona. O vizinho que morava em frente, tinha comprado a casa logo depois que o senhor Halkins morreu e a filha dele colocou uma placa de venda em frente. Agora o dono da casa era o senhor Stiven. E ele não era solitário. O senhor Stiven tinha uma filha chamada Corline. — Seth sempre se perguntou se foi erro de quem a registrou, mas era Corline mesmo, sem a letra A. Apesar de terem a mesma idade e estudarem no mesmo colégio no mesmo horário, Seth não fazia a menor ideia de como ela fazia para simplesmente desaparecer. Ele não via Corline na rua, no colégio, nem no intervalo. O senhor Stiven vivia de bom humor, e a senhora Sílvia era um amor de pessoa — isso antes dela se suicidar —, mas essa era uma história que Seth nunca entendeu muito bem, então decidiu não fazer perguntas a respeito. Já os outros vizinhos trabalhavam demais e não tinham filhos, fazendo assim com que a rua fosse a mais sossegada de toda a Willou Glen. Considerando que a cidade não era muito grande e já quase não fazia parte de alguns mapas atualizados, com cerca de 1.000 habitantes, muita gente chegava até a usar como ponto de referência Willou Town, a cidade vizinha com cerca de 3.500 habitantes. Willou Glen não era bem uma cidade cheia de novidades. Por vezes, um jovem ou outro ia preso, mas nunca permanecia por muito tempo, porque todo mundo sabia que se você era jovem e morava em Willou Glen, sua vida com certeza, era uma-grande-merda-de-nada. Só a vida da Breeze e do Grupinho dos Descolados que não. Eles davam festas, conseguiam entrar em lugares para maiores de idade, tinham tatuagem, fumavam ao ar livre, dirigiam sem carteira de motorista e no outro dia estavam no colégio como se nada tivesse acontecido. Seth deduzia que o Grupinho dos Descolados tinha uma regra muito clara: viver apenas o presente. Ele jamais faria qualquer coisa que pudesse prejudicar sua matrícula na universidade como, por exemplo: ser preso ou dirigir sem carteira, muito menos ser pego fumando no colégio. Pensando nisso, Seth abriu a porta de casa e entrou, jogando a mochila no sofá. Caminhou direto para a cozinha e abriu a geladeira, pegando a comida congelada que Melinda deixava diariamente para ele. Abriu o micro-ondas, porém esqueceu que ele estava quebrado, então com preguiça, pegou um iogurte, um pacote de cookies no armário e subiu para o quarto. Naquela tarde, Seth se jogou em sua cama completamente frustrado. Será que seus amigos o achavam indigno de uma garota tão incrível como Breeze? Ou jamais acreditariam que ele estava sendo notado por ela? É claro que a resposta era sim, porém ele sentia que tinha uma chance e aproveitaria, mesmo que tudo estivesse o alertando para não se jogar de cabeça, porque Breeze tinha namorado. Encarou o ventilador de teto girando até adormecer, se questionando: “Por que ela decidiu me notar só agora?” ou “E se ela estiver fazendo isso só para um teste do Grupinho dos Descolados para saber se eu posso ser do grupo ou não?” “E se Ash estiver por trás disso também?”. Eram as perguntas mais válidas que ele poderia ter feito a si mesmo, mas sabia que, se fosse verdade, doeria mais, então decidiu só ignorar, se convencendo de que com o tempo, tudo seria explicado. ____________ Seth foi desperto pelo som da campainha, e pela janela viu que já havia anoitecido. Deduziu ser sua mãe, mas quando abriu a porta, quase caiu para trás. — Está pronto? Podemos ir? Breeze. — Ir para onde? — Seth coçou os olhos. — Nosso compromisso. Você esqueceu? — Eu... Nossa! — Sim, os garotos tinham conseguido convencê-lo de que estava louco e agora, nem ele acreditava que Breeze realmente estava ali. — Eu vou colocar uma roupa — anunciou e subiu as escadas rapidamente, colocando a primeira camiseta que encontrou. Quando desceu as escadas novamente, deixou um bilhete fixado na geladeira antes de sair: "Mãe, fui ali”. Breeze esperava na porta, de braços cruzados. Vestia um short jeans de cintura alta, uma camiseta branca da banda The Smiths, calçava um par de vans pretos e seus cabelos castanhos estavam presos. — Você chamou Matthew, Lucas e Nathanael para virem conosco? — Breeze perguntou, chutando algumas pedras pelo caminho. — Não precisa chamá-los por esses nomes, eles odeiam — Seth informou. Já fazia muito tempo que não ouvia os nomes dos amigos sem estarem abreviados. Seth sabia que eles odiavam seus nomes, porque os faziam parecer velhos demais. — Eles não deveriam se importar com o nome deles. — Breeze deu de ombros. — Não é um nome que te faz ser descolado ou não. — Que seja, mas você nunca vai ver um cara chamado Seth com pose de bad boy — Seth brincou e Breeze soltou um leve riso, levantando as mãos como sinal de rendição. Seth odiava o próprio nome, sabia que seu pai tinha escolhido, mas mesmo assim, odiava a escolha que ele havia feito. — Você não precisa ter um nome legal para enxergarem você. Deveria saber disso — Breeze comentou, soprando a fumaça tóxica por entre os lábios, fazendo com que Seth usasse todas as forças para não deixar seu ego falar mais alto e fazê-lo sorrir orgulhoso com o comentário da garota. Talvez seu nome fosse mesmo incomum e talvez ele também não precisasse ser descolado para fazer com que Breeze o enxergasse, porém, o que Seth deveria ter perguntado àquela hora, era até quando ela o enxergaria. — Mas, e aí? Como você anda nestes últimos anos? — Breeze quebrou o silêncio. — Bem, eu... Vou indo bem. — Na verdade, ele queria dizer: minha vida não mudou nada, continuo na mesmice e me sinto um bosta por ter que assumir isso logo pra você. — Você não vai me perguntar como vai a minha vida? — Ela abriu um sorriso genuíno, daqueles que sempre faziam Seth querer suspirar. — Bom, você é a “Breeze Wills”, todos sabem como anda a sua vida. — Seth disse, chutando uma pedra em seu caminho. — Todos acham que sabem. — E como anda sua vida, então? — Seth perguntou. — Uma merda ou uma bosta se preferir também — Breeze deu de ombros, fazendo movimento de concha com as mãos para acender mais um cigarro e depois tragou. Seth deveria ter perguntado o porquê da “vida de merda dela”, mas ao invés disso, escolheu o silêncio, porque ele nunca fora bom em puxar assunto. O garoto não fazia a menor ideia para onde Breeze o levaria, não tinha certeza se deveria continuar com o mistério ou pedir que ela contasse de uma vez. Por outro lado, havia uma parte dele que estava disposto a se jogar de cabeça em qualquer coisa que Breeze estivesse tramando para aquela noite. Então decidiu escolher a segunda opção. Seth não precisava se incomodar com o silêncio que pairava entre os dois, porque mesmo tendo apenas a presença dela em silêncio, era melhor que o que ele tivera em anos. Os dois continuaram andando por longos minutos, até Breeze finalmente terminar o cigarro que tinha entre os lábios e Seth decidir puxar assunto. — Então você e o Ash estão... Namorando de novo? — Sim. Nós voltamos. Na verdade, já faz mais de um ano que a gente vai e volta, mas ser a namorada do Ash às vezes é uma droga, então peço pra ele me deixar respirar. — Você o ama? — Não — dizendo isso, Breeze acendeu mais um cigarro. Já era o terceiro. Seth estava contando. — Vai acabar morrendo se continuar fumando nesse ritmo. — Todo mundo vai morrer um dia Seth, a única diferença é que uns vão morrer fazendo o que gostam. Houve silêncio. Pelo menos agora ele sabia que Breeze não amava Ash. Poderia amar a ele, se ela preferisse. — Eu não namoraria uma garota, se não a amasse. — Namoraria, sim. Milhares de pessoas fazem isso por comodismo. — Por que você namoraria alguém sem estar apaixonada? — Seth questionou e quando se deu conta, já estava há vinte minutos longe de casa e ainda não fazia a menor ideia de onde estavam indo. Breeze soprou a fumaça por entre os lábios. — Ninguém conhece o amor da sua vida tão novo — explicou ela. — Nós somos jovens Seth, ainda não temos a mínima ideia do que é o amor, ainda não temos noção de quem vamos ser. — Seth balançou a cabeça, discordando da opinião dela. — Eu tenho. — Não, você não tem — disse convicta. — Nós somos só dois adolescentes. Vamos passar por muitas mudanças, muitas paixões. Você pode ter uma profissão aos vinte e cinco, acordar em um belo dia aos quarenta e achar que poderia estar mais feliz fazendo outra coisa, isso funciona com relacionamentos também. — Você não tem como saber — Seth protestou. — Se eu ficar em Willou Glen, talvez eu pense como você, mas não vou. — Eu gosto de Willou Glen. — Gosta porque nunca levantou voo — Breeze retrucou. — Você passa a vida toda em Willou Glen achando que sabe tudo e quando sai dela, descobre que ela é só uma linha reta. — O que tem a ver Willou Glen com o que estamos conversando sobre você e Ash? — Uma hora você está andando em linha reta, então descobre que essa linha reta era só uma pista de decolagem, e aí você decola e encontra um céu inteiro para voar — ela encarou o céu e Seth arqueou a sobrancelha para a fala dela. — Somos jovens demais, Seth. Willou Glen um dia vai ficar para trás e tudo o que estiver nela também, é por isso que não me importo se amo Ash ou não, nós vamos crescer, vamos tomar rumos diferentes e ele vai ficar para trás. Gosto do Ash, amar é atemporal, o Ash na minha vida não. Aquele momento foi o único e memorável dia em que Seth se sentiu triste por Ash, porque ele era só uma peça no presente de Breeze e ela não pretendia levá-lo para além de Willou Glen. O que Seth deveria ter entendido naquela hora, era que todos ao redor de Breeze Wills não fariam parte do futuro dela e obviamente, ele também não. O toque do celular de Breeze interrompeu aquele momento e Seth achou que ela recusaria a chamada. Mas ela atendeu. Era Ash perguntando onde ela estava. — Eu já estou chegando — Breeze respondeu. — Estamos indo para a casa de Ash?! — Seth indagou. — Relaxa, nós só vamos roubar o carro dele e depois caímos fora.
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