CAPÍTULO 10

3057 Palavras
|SETH DONSON| - PASSADO - — O que foi Seth? — Breeze perguntou. — Relaxa, é só um parque. Brincamos um pouco e se aparecer alguém, a gente corre. — Ah, claro! Eu faço isso todos os dias — disse ele, sentindo seu coração quase atravessar seu peito. Pararam diante da cerca alta e os garotos, após erguerem as garotas, pularam depois. — Eu lhes apresento: o painel de controle! — declarou Breeze animada. — Só precisamos ligar... E pronto. — Coçou a nuca, olhando para o gigante painel desligado. — Precisamos abrir a grade e ligar o painel — corrigiu Matt. — Eu acho que consigo — murmurou ele, se aproximando do cadeado. — Só preciso de um grampo — pediu. As garotas procuraram no cabelo e nos bolsos, mas não havia nada. Nada de grampo, e isso para Seth, só podia ser um sinal para esquecerem aquela ideia e irem para casa, porque a faculdade ainda era mais importante que um parque de diversões. — Alguém tem um cinto? — sugeriu Breeze. — Arrancamos o ferrinho da fivela. — Cinto? Quem é o trouxa que usa cinto em pleno século vinte e um? — Lucca levantou a camiseta, exibindo sua cueca à mostra e as calças quase caindo. — Vai tomar no ** — Seth resmungou, tirando seu cinto preto do cós de sua calça jeans. Teve uma leve impressão de que todos ali queriam rir de sua cara. Mas não riram. Breeze estava concentrada em Matt, que demorou séculos só para abrir um cadeado. Tudo bem que se dependesse de Seth para abrir, ele não conseguiria nem se demorasse, mas Matt demorou muito, mais do que nos filmes. — Eu diria “obrigada Matt”, mas ainda falta o painel. — Breeze soltou um longo suspiro. — Isso vai levar a noite inteira — Nathan murmurou, olhando a hora no celular — Já são onze da noite. Minha mãe vai me matar. — Isso é um c*****o para abrir — comentou Matt. — Nos filmes parece ser a coisa mais fácil — Jade acabou por se sentar no chão, cansada de esperar. — Eu conheço um jeito mais rápido — Breeze disse, se abaixando. Ela enfiou as mãos nos bolsos do short e retirou a chave do carro, em seguida, levou até um dos parafusos e começou a rosquear o primeiro, o segundo, o terceiro, depois o quarto, o quinto e o sexto parafuso estava muito duro, então Matt usou sua força para ajudá-la. — Agora é só fazer uma ligação direta — ela comentou abrindo a lateral do painel. — É como roubar um carro — explicou ela, enfiando a mão entre os fios. — Você já roubou um carro? — Nathan questionou boquiaberto, observando a garota mexendo no painel e arrancando faíscas de dois fios. — Se eu não tivesse roubado — ela riu —, acha que eu conseguiria fazer isso? — As luzes do parque de diversões se acenderam e ela sorriu vitoriosa. — p***a! — gritou Nathan, olhando ao redor. — Não! Claro que não conseguiria fazer isso! — Ele cobriu a boca que formava um perfeito “o” enquanto as luzes coloridas refletiam em seus óculos. Seth sentiu sua mão ser segurada por Breeze que observava tudo maravilhada, houve uma troca de olhares entre os dois e eles sorriram um para o outro cúmplices. — Não parece ser a coisa mais certa a se fazer? Seth assentiu para ela. — É maravilhoso — Corline comentou. — Este era o lugar que eu mais gostava de ir quando era pequena. Depois que minha mãe se foi, meu pai começou a trabalhar muito e nunca mais teve tempo de me levar de novo. Desde então, eu nunca tive uma companhia que pudesse vir comigo. Seth pensou o mesmo que Corline. A mãe dele quase não tinha tempo de cozinhar, quem dirá, levá-lo a um parque de diversões. Lucca e Matt puxaram Nathan para os carrinhos de bate-bate, Jade arrastou Corline para a montanha-russa e Seth se viu ali, parado no mesmo lugar ao lado de Breeze. — Você quer ir em qual brinquedo primeiro? — perguntou ela, apertando a mão dele. — Você quem sabe, vou onde você quiser. — Vem comigo — Breeze praticamente correu, o puxando pela barra da camiseta. Ele correu com ela torcendo para suas calças não caírem por estar sem cinto. — Nós vamos ficar rodando e rodando como um cavalo em um carrossel — Breeze apertou o botão verde no painel ao lado do carrossel, que logo começou a se mover. — Vem logo, Seth! — ela o puxou pelo pulso e em seguida, montou num dos cavalinhos cor-de-rosa. Seth se sentou em um cavalo de cor de laranja atrás do dela. Era bizarro para ele estar com Breeze em um carrossel. A b***a de Seth não era do tamanho adequado para o brinquedo, então ele resolveu ficar em pé, segurando na barra de ferro. Breeze parecia ter entrado em transe. — Os cavalos sempre na mesma distância, sempre lentos, sobem e descem na mesma velocidade. É frustrante você não acha? — Sei lá — Seth deu de ombros e Breeze soltou um riso. — Por que está falando isso? — perguntou confuso. — E se você vivesse rodando e rodando como um cavalo em um carrossel a vida inteira? Os mesmos cavalinhos, as mesmas cores, as mesmas pessoas, tudo sempre igual. Você roda e roda, mas está sempre no mesmo lugar — ela disse, fazendo-o soltar um longo suspiro. — Essa é a famosa mesmice. — Isso é só um carrossel de merda, é só você saltar dele, Seth. Aí você salta e dá de cara com um parque de diversões inteiro à sua espera. Cada brinquedo, cada jogo — Seth quase achou estar delirando quando viu Breeze se levantar do pequeno cavalinho e o puxar pelo colarinho da camiseta, sussurrando cada palavra como se fosse um segredo só deles. — Pule deste maldito carrossel, Seth — Ela agarrou a nuca dele selvagemente, porém como num modo de defesa, Seth a impediu de continuar seja lá o que aquilo fosse. — Eu não quero me machucar, Breeze — Ele balançou a cabeça, porque, na verdade, aquela conversa não era sobre pular de um carrossel. — É impressionante como você conseguiu continuar o mesmo em todos esses quatro anos em que estivemos longe um do outro. — É, eu sei. Você é descolada e eu uso cinto para segurar as calças. Breeze gargalhou alto. — Gosto do seu bom humor. — Por que você nos trouxe e não o Grupinho dos Descolados? A pergunta de Seth fez o brilho, que até então havia nos olhos de Breeze, desaparecer e ser substituído pela vermelhidão que sempre se fazia presente nos olhos dela, quando um nó se formava em sua garganta e ela estava prestes a chorar. Pelo visto, uma parte dela ainda continuava a mesma, pensou Seth. Porque se havia alguém que conhecia Breeze Wills, era ele. Seth levou anos para entender como as emoções de Breeze funcionavam. Ela geralmente era boa em esconder tudo o que sentia, mas quando estava por um fio, os olhos marejando eram a primeira coisa que dava sinal, e isso era um alerta de perigo, porque também significava que ela já estava aguentando há muito tempo e estava prestes a desmoronar. No momento em que Seth decidiu perguntar se ela queria conversar sobre aquilo, Breeze se virou e limpou rapidamente a lágrima solitária que escorreu por seu rosto. — Por que não damos uma volta na roda-gigante? — disse Breeze e em seguida, saltou do carrossel. — Vamos chamar os outros. Damos uma volta na roda-gigante e depois caímos fora. Seth não hesitou indo logo atrás. Os outros estavam nos carrinhos de bate-bate, rindo como crianças. Seth e Breeze ficaram parados ali próximo por alguns minutos, gargalhando de Jade vomitando em tudo ao redor enquanto Lucca e Matt batiam no carrinho dela. Depois disso, o silêncio se instalou na roda-gigante. — É como se meu coração fosse sair pela boca — Corline comentou. — Cara, eu sinto que coloquei meu estômago todo para fora — Jade murmurou, os fazendo gargalhar. Breeze acendeu um cigarro. Estava quieta desde a hora em que Seth perguntou por que ela estava com eles e não o grupinho o qual ela fazia parte. — Como você consegue fumar tanto? — Seth lançou o comentário, quebrando o silêncio e ela tirou o cigarro dos lábios, entregando para ele. — Fuma o resto. — Seth recusou no mesmo instante. — Vamos, é fácil — insistiu ela. — Não fumo — recusou. — Não fuma ou tem medo? — Jade debochou. Seth percebeu que a atenção de todos estava voltada para ele e claro que todos o achariam um tremendo medroso por não aceitar dar uma tragada. A verdade é que ele nunca fizera aquilo e estava dividido entre seus amigos o acharem um medroso ou um burro por não saber fumar um cigarro. Ele decidiu provar que estavam errados. Já o achavam um i****a por usar cinto, agora ser considerado medroso perto da garota que ele estava afim, estava fora de cogitação. — Medo? Por que eu teria medo de uma porcaria como essa? — Seth retrucou. — Me dê logo isso — ele estendeu a mão e Breeze entregou a ele, que levou o pequeno cigarro à boca, tragou lentamente assim como ela havia dito, mas não teve tanto sucesso no final. 1.° Ele levou até a boca. 2.° Tragou. 3.° Tossiu. 4.° Jogou o cigarro lá de cima da roda-gigante. 5.° Prometeu mentalmente que nunca mais colocaria uma porcaria daquela na boca. 6.° Corline riu, mas não disse nada. 7.° Matt balançou a cabeça. 8.° Nathan bateu nas costas dele achando que ele tinha se engasgado. 9.º Lucca fingiu que não tinha visto, para não deixar o amigo mais constrangido. 10.º Breeze arrependida por fazer a oferta, mudou o assunto. — Viram só? — indagou ela. — Nada de r**m aconteceu. Somos trombadinhas profissionais — disse vitoriosa. — Qual é o nosso próximo destino? — perguntou ela, se preparando para descer. — Eu posso ser o próximo... — Nathan se interrompeu ao notar todas as luzes do parque se apagando e a roda-gigante também, antes de chegar lá embaixo. — Que droga aconteceu? — Eu vou chamar a polícia pra vocês! — Surgiu um guarda na escuridão, digitando algo no celular. — Droga, droga, droga, droga! Breeze! Eu disse que isso não iria terminar bem! — Matt surtou, fazendo Breeze bufar. — Eu disse que se algo acontecesse, era só correr — justificou ela. — Como a gente vai correr daqui de cima?! — Seth praticamente berrou enquanto ela olhava lá para baixo mordendo o lábio. — Tudo bem, eu não esperava por isso. — Eu sabia que iríamos nos f***r, mas cara, foi tão rápido! — Lucca berrou desesperado. — Se eu pular, será que machuca? — Breeze perguntou. — Não, você não vai pular. Tá louca? — Seth indagou. — Se ninguém pular, como vamos saber se vai machucar ou não? — ela protestou. — E, além disso, eu quem trouxe vocês pra cá. — Não interessa, você não vai pular — Seth segurou Breeze, impedindo-a de se pendurar na barra de ferro. — Seth, merda! Você quer ser preso?! — Ela o empurrou, irritada. — Tudo bem. Deixa que eu pulo então — acrescentou ele. — Seth, você espera aqui. Não quero que se machuque — Breeze tentou negociar, mas Seth avançou sobre a barra de ferro primeiro. Do alto, viram luzes da viatura da polícia virando a esquina e antes que Breeze pudesse pensar em pular, Seth respirou fundo e saltou, arrancando um grito agudo de Jade. A queda não foi tão feia, mas doeu. Seth sentiu seu tornozelo doer assim que alcançou o chão. Logo em seguida, Breeze rolou no cascalho e antes que ele pudesse se levantar, ela montou em cima dele dando murros em seu peito. — Você é louco ou o quê?! Qual seu problema?! Podia ter quebrado o braço ou qualquer merda! — ela gritou, agarrando-o pelo colarinho como se realmente se importasse com ele. — Vem, vamos ajudar os outros — Estendeu a mão para ele e Seth, ofegante, permaneceu ali no chão, tendo a total convicção de que ela se importava, sim, com ele. — Levanta logo daí e para de me olhar assim. Lucca, Matt e Nathan ajudaram Corline a descer e em seguida correram até a grade, por onde haviam entrado. Seth e Breeze ficaram para trás, encorajando Jade a pular. — Jade, ande logo! Eles já estão aqui, droga! — Breeze disse apressada. — Bree, isso é alto demais — murmurou. — Eu vou te segurar — Seth estendeu os braços. — Pode pular. — Vão sem mim — disse Jade, se negando a pular. — Claro que não, Jade! — berrou Breeze impaciente. — Escute, Jade. Só pula — Seth encorajou. — São três metros de queda, eu vou te segurar e nada vai acontecer — garantiu. — Breeze está com o braço sangrando — Apontou. — Parados! — gritou um policial com uma lanterna na mão. — Jade! — Breeze gritou e a morena pulou nos braços de Seth, rolando no cascalho. Jade correu na frente, enquanto Breeze o ajudava a se levantar e os policiais correram atrás dos três, a toda velocidade. Breeze serviu de apoio para Seth que não conseguia mais ignorar a dor no tornozelo. — Eu disse: parados! — berrou o policial novamente. — As coisas só vão piorar se vocês resistirem! Assim que estavam diante da grade, Seth deu apoio para Jade, que pulou rapidamente. Em seguida, Breeze grudou os dedos na grade e estendeu a mão para ele. Assim que Seth se preparou para pular, os pés dos dois foram puxados bruscamente e caíram da grade. Dando de cara com os dois policiais. — Vocês dois estão bem encrencados — comentou um deles, o mais forte com cara de Superman. — Não é o que parece — Breeze falou, levantando os braços como rendição. — Ah! E como é, então? — ele debochou. — A gente só... bem... — Breeze se atrapalhou com os argumentos. — Vocês vão ter bastante tempo para explicar na delegacia. — O mais alto, um policial, magro, ruivo e cheio de sardas no rosto, disse, os algemando com uma só algema. — Você não pode nos prender. Nós não... — Seth foi interrompido pela mão do policial que acertou seu rosto. — Calado. — Pense pelo lado bom, aonde eu for você vai — sussurrou Breeze para Seth, se referindo às algemas em seus pulsos. — Se fizerem um relatório, adeus faculdade — Seth balançou a cabeça, só agora tendo consciência do que eles tinham feito. — Relaxa, Seth. — Não tem como relaxar. A gente vai ser preso. — Eu disse para calarem a boca! — o policial berrou, abrindo o porta-malas da viatura. Os dois entraram e de uma coisa Seth teve certeza assim que o policial fechou o porta-malas: Ele tinha se fodido. Seth bufou observando os policiais se distanciarem da viatura, voltando para o parque para desligarem o painel de controle. E foi só o que Breeze esperou para se remexer, apoiando a perna para dar chutes no vidro que em poucos minutos começou a rachar. — Vamos logo! Me ajude, antes que eles voltem! — O quê? Hã... A gente vai... — O vidro se quebrou assim que ele ajudou com os chutes e ela sorriu. Aquele típico sorriso cheio de luxúria e vitória. — Breeze, só vamos piorar as coisas se fugirmos — Na verdade, ele queria muito fugir, mas e se algo desse errado? Seriam dois relatórios. Não teve muito tempo para pensar. Breeze segurou firme em sua mão e passou pelo vidro, não dando a Seth a chance de dizer que iria ficar e esperar os policiais voltarem. Passou pelo espaço do vidro quebrado, agradecendo por sua b***a não ser tão grande, senão, certamente ficaria preso naquele espaço mínimo. Os dedos finos e pequenos de Breeze apertaram a mão dele, e saíram correndo. Mas os policiais notaram a movimentação, e no mesmo instante, foram atrás deles, entrando na viatura. — Vem, Seth! Vem logo! — Breeze o puxou pela algema já que, Seth estava ficando para trás, mancando como um cachorro com a perna machucada. No fim da rua, viram o carro de Ash estacionado no mesmo lugar. — Veja, Seth! — disse ela ofegante, apontando para o carro que agora estava ligado e Jade acenava para eles, os apressando. Eles abriram a porta e, como ninjas, Breeze e Seth pularam para dentro do carro. Lucca, que assumia o volante, acelerou o carro enquanto a viatura os perseguia com a sirene ligada. — Cara, isso é tão incrível! — Lucca gritou, apertando o couro do volante. — Como conseguiram? — Matt perguntou. — Por que nos esperaram? — Breeze perguntou ainda ofegante. — Jade disse que você daria um jeito — Matt respondeu. — Vocês estão bem? — Corline perguntou. — Seth machucou o tornozelo — Breeze limpou uma gota de suor que escorria de seu rosto. — Quer voltar para casa? — perguntou. — Vou ficar bem. — Mesmo se quisesse ir, não iria, já que está preso a mim. O carro de Ash era mais veloz do que Seth pensou, a viatura ficou para trás rapidamente. Ele dividiu o cinto de segurança com Breeze enquanto Lucca entrava em algumas ruas, para ter certeza de que a barra estava limpa. — Seth, tem certeza de que está bem? O tornozelo está doendo? — Breeze se preocupou. Seth negou. — Vou ficar bem — ele repetiu, tranquilizando-a. — Como vamos soltá-los dessa algema? — Jade perguntou. — Vão ter que ficar algemados até arrumarmos alguma coisa para abrir isso — Matt disse, vendo que apenas um ferrinho, não abriria a algema. — Você está preso a mim, Seth — Breeze sussurrou cúmplice para ele. — Eu não me importo nenhum pouco, Breeze — Seth sussurrou de volta e essa já era a terceira vez que eles se olhavam daquela forma em menos de vinte e quatro horas.
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