Makrisla

903 Palavras
Albucacys queria arrastar Mouse para uma conversa, mas Hector veio avisar que havia uma moça no porão. — Moça, Hector? — chamou Albucacys, sem entender nada. — Isso, Albucacys — respondeu Hector, ofegante. — Parece uma moça, bem simples, segura uma mochila no peito. Está assustada, ela disse que era um pedido da avó de Estela para ficar ali, mas Albucacys passou a mão no rosto: mais um problema. Se a moça havia sido mandada por Medeia, só traria confusão. Mesmo assim, foi até lá. Quando chegou, a moça estava encostada no muro, os olhos arregalados, segurava o vestido longo. Tremia. — Qual o seu nome? — perguntou Albucacys, com a voz mais macia do que esperava. — Me chamo Makrisla — ela disse, a voz baixa, trêmula. — Vim procurar Mateus. Disseram que ele poderia cuidar de mim, ou melhor, a senhora Medeia disse, me mandou procurá-lo. — Sua família, Makrisla? — perguntou Albucacys, avaliando cada traço do rosto dela. — Não tenho — sussurrou ela, a vergonha subindo no rosto. — Perdi meus pais quando aconteceu a epidemia. Fiquei só com a minha avó. Ela morreu… e depois fui trabalhar em uma pousada, .mas os homens começaram a me oferecer dinheiro, eu dizia nao, mas não sei me defender muito bem, a senhora Médeia estava na pousada e me deixou no quarto delas por duas semanas e depois me mandou para cá, a amiga dele me deixou aqui.77 Albucacys ficou sem saber o que fazer. Era praticamente uma moça sem ninguém e ele não podia simplesmente deixá-la na rua. Olhou para Hector, buscando algum apoio. — Entre, entre — disse, por fim. — Sim, senhor — ela murmurou, acostumada a obedecer. Uma amiga deixou aqui algo de comida, disse Hector. Quando Mateus apareceu, ficou olhando para Makrisla por um tempo que pareceu longo demais. Havia algo naquele olhar — uma mistura de surpresa e reconhecimento. Era como se a conhecesse há muito tempo, de um lugar distante da memória, e até mesmo Hector percebeu.. Um silencio tomou conta da varanda... Makrisla abaixou o rosto, envergonhada, e Albucacys entendeu, a avó de Estela e Corine não havia mandado aquela moça à toa. Medeia sabia. De algum modo, ela sabia que Mateus ia gostar da moça.. — Eu posso mesmo ficar? — perguntou Makrisla, ainda meio encolhida. — Pode — respondeu Albucacys, cruzando os braços. — Esse é o Mateus. Ele vai cuidar de você. Makrisla sorriu, e Mateus também. Era um sorriso tímido dela, vinda do interior, gostava de fazendas e de paz, vivia assustada na pousada com o tanto de gente que entrava e saia, e ainda mais assustada com os homens. — Ela pode ficar no meu quarto — disse Mateus sem nem vacilar Albucacys o olhou e balançou a cabeça; — No seu quarto não, Mateus. Lá não. Ela vai ficar na casa onde Dulce e Zoe vão motar. Já está mobiliada. — Mas por quê? — perguntou ele, num tom que misturava confusão e desejo contido. — Com calma, Mateus, com calma — respondeu Albucacys, pousando a mão no ombro do irmão. — As coisas certas têm hora certa pra acontecer. Makrisla o observava em silêncio, sem entender completamente, mas com os olhos mohados de alívio., parecia que tinha encontrado uma casa grande e com paz. Lilian foi mostrar a casa para Makrisla, e Albucacys ficou ao lado do irmão. — Escute, não assuste Makrisla — disse Albucacys, em voz baixa. — Mas gostei dela. — Eu sei, Mateus. Foi Medeia que mandou, e mandou porque sabia que você iria gostar dela. __ Às vezes ainda sinto falta da senhora; algumas coisas me fazem lembrar dela. — Mas se sente algo por Medeia ainda, não pode começar nada com Makrisla. Vai fazê-la sofrer. — advertiu Albucacys. — Não vou fazê-la sofrer. Ela parece tão bonita, boa, e... — murmurou Mateus. — Não diga, não diga. Cuidado, lembra? — cortou Albucacys. — Tem coisa que não se pode dizer, mano, mesmo para mim.. — Entendi. — Mateus respirou fundo. — Você já está adaptado, precisa me ajudar. Zoe está chegando, e Severus vai querer ficar perto dela, mas temos que ajudar pra que ele não machuque Zoe. — Pode deixar. — respondeu Mateus com um sorriso no rosto — Vou ajudar Makrisla __ Você precisa ajudar Severus. Vá levar o almoço e fique um pouco com ele. — Calton não pode levar, quero ficar com Makrisla. — Não pode, Mateus. Pode ir cuidando do seu outro irmão. Mateus foi, mas saiu reclamando, ainda contrariado, queia saber mais sobre Makrisla. Já Albucacys foi atrás do Mouse, mas ele já tinha fugido de moto — talvez para o clube ou para algum canto isolado; passava horas por lá. Makrisla já as poucas roupas que tinha. — Aqui é bom, não é? — perguntou ela, insegura. — Sim, Makrisla, vai ser feliz aqui . __ E Mateus? A senhora Medeia disse que ele é muito bom.. e mandoou procurar ele. Mas não entendi bem — Makrisla hesitou. — Porque a senhora Medeia mandou eu procurar ele? Se tinha você e as outras mulheres aqui... — Depois você entende, Makrisla — acalmou Lilian. — Vem, vamos à cozinha. Vai conhecer a estrutura: as mulheres ajudam, cuidam da casa juntas, e fazemos bolos e tortas para a semana. Assim a gentge tem tempo de descansar e passear por aqui. A vida aqui é boa.
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