Capítulo Um
Apesar de eu sempre ter tudo o que quis, sempre senti um pouco de falta da presença de meu pai. Não só eu como minha irmã caçula, Sarah, que tinha seus dezoito anos. Sarah tinha os cabelos loiros e olhos azuis, o cabelo puxou a papai, e os olhos a mamãe, já eu tenho os cabelos loiros e olhos verdes, dizem que sou a cópia de meu pai, e não n**o, sou mesmo. Minha mãe era pediatra em uma clínica aqui em Milão, Cidade onde moramos. Papai era piloto, e eu me orgulhava muito deles dois. Já andei tantas vezes com meu pai dirigindo o jatinho particular da nossa família. Eu me divertia, mas papai parecia distante.
Estou no meu terceiro ano da minha faculdade de artes. Eu entrei bem cedo na faculdade, pois fui considerada uma pessoa com o QI alto demais e rápido conclui meu ensino médio. Minha irmã está saindo agora do ensino médio e ingressará na faculdade de moda.
-Vamosss, Evaaa!! - Minha irmã batia na porta de meu quarto. Sarah estudava na mesma escola/Universidade que eu. hoje seria a despedida do ensino médio pra ela, quanto pra mim, aula normal. Ela entra no quarto e se aproxima de mim.
-Você sabe que eu demoro pra me trocar, né? - pergunto encarando nos grandes olhos azuis de Sarah que me encaravam atentamente.
-E olha que você nem passa maquiagem, imagine se passasse - diz sorrindo de lado.
-Claro que passo, estou com um brilho e um pouco de base - digo.
-Ah! Você entendeu né, Eva!
-Sim, sua boba - sorrio e aperto sua bochecha. Seguimos para a cozinha, onde só Mamãe estava. Papai quase nunca tomava café conosco, sempre saia muito cedo para seu trabalho e sempre voltava muito tarde. Ultimamente ele andava estranho, estressado, calado... Eu queria chegar pra ele e perguntar, mas papai as vezes me dava medo, com seu jeito de olhar, como falava secamente conosco.
Pego apenas uma maçã e beijo a testa de mamãe - Já vai ao trabalho? - pergunto.
-Sim, tenho muitas pacientes hoje - diz sorrindo.
-Bom trabalho.
-Boa aula - diz sorrindo, mas reparei que seu sorriso estava fraco, diferente dos outros dias, que seu sorriso iluminava tudo ao seu redor.
-Tchau, Mãe, beijos - Sarah passa como um foguete para a porta de casa. Ela estava super ansiosa para a festa que terá. Segui para o meu carro, que era uma Ranger branca, Sarah não tinha um carro pois não sabia andar, e papai não confiava entregar um carro para aquela maluquinha da minha irmã.
-Eu tô legal? - pergunta e a olho.
-Você é linda de qualquer jeito, mulher - sorri e ela agradece.
Saio e os portões da mansão de minha casa se fecham. Eu morava no bairro mais rico de Milão, onde havia apenas pessoas finas, e isso me enjoava, por que a maioria das pessoas são mesquinhas. Eu amo minha casa, meu conforto, minha comida, minhas roupas, e quem não gosta de tudo isso? Mas, eu não me sentia completa tento tudo aquilo , pois faltava amor, faltava aquela família unida. Parecia que em casa era só eu, Sarah e mamãe, pois papai nem nos momentos comemorativos como, Natal e ano novo, ele nem aparecia em casa. Mamãe não ficava surpresa, mas eu sim, eu queria saber o por que de não passar natal conosco, por que não passar Ano novo com a gente? Por que, pai?
Eu sei que profissão de Piloto é bem corrido, mas eu tenho certeza que eles liberam os pilotos para passarem natal com suas famílias.
Mas, sempre foi assim, já estou até acostumada.
Sarah desce do carro e corre para junto de suas amigas, e na porta da escola, Luiza, minha melhor amiga me esperava com um sorrisão no rosto.
Eu e Luiza nos conhecemos quando eu acabei bebendo demais em uma festa e passando m*l, aí ela estava lá pra me socorrer, me levou para o seu apartamento, onde morava com seu irmão mais velho, e cuidou de mim. No outro dia me levou em casa e inventou uma baita desculpa para minha mãe e meu pai, e né que eles acreditaram?
-Como foi o final de semana ? - ela pergunta.
-A coisa chata de sempre - digo. - E o seu? - Nós duas entremos na escola, e seguimos pelos corredores. Luiza também era de uma família rica, mas nessa família tinha amor de sobra.
-Passei com meus pais - diz com os olhos brilhando. Eu tinha que admitir que tinha inveja de Luiza, por ter uma família tão unida, uma inveja boa , claro.
-Que bom, amiga - digo entrando na sala. Ela senta atrás de mim.
Nossa faculdade é o dia inteiro, almoçamos aqui ou as vezes vamos em um restaurante perto. Já no final de nossa aula, recolhemos o material e segui para a saída da faculdade, onde Sarah estava com suas amigas encostada no carro de Scott - Um carinha que ela era caidinha por ele.
-Eu já disse pra Sarah não se meter com esse cara, ele é mais velho que ela, e é um babaca, fica com as meninas e depois sai falando o que fez com elas.
-Converse com ela depois. - Luiza diz.
-Eu irei. - digo a observando, e quando ela me vê, da tchau a suas amigas e deixa um beijo na bochecha do cara, que lhe rouba um selinho. Ela sorri boba e vem em minha direção.
-Vamos? - pergunta toda tímida. - Oi, Luizaaaa! - ela abraça Luiza.
-Oi, cabeça oca - Luiza adorava provocar Sarah, as duas eram bem amigas também.
-Tchau, miga. Até amanhã - lhe abraço e seguimos para o carro.
-Eu já disse que não vou com a cara do Scott, Sarah, sinto que ele vai te machucar. - digo tirando o carro do estacionamento.
-E eu já disse pra você não se meter nisso, Eva, poxa vida. - ela resmunga.
-Eu sou sua irmã mais velha, é claro que vou me preocupar. Não quero você chorando depois que ele começar a inventar besteiras suas por ai, e se isso acontecer, não vem chorando pro meu lado não viu, por que eu vou dizer "Eu te avisei " - digo e Sarah só da de ombros, tirando o celular da bolsa e mexendo. Antes de irmos para casa, paramos em uma Pizzaria e comemos pizza com vinho. Uma combinação maravilhosa.
Ahh, como amo a Itália.
Com meus quase vinte anos, nunca namorei sério, já tive uns rolos e tal, mas nada sério. Nunca fiquei com um cara, sim, eu sou virgem e me orgulho disso. Depois de comermos, seguimos para casa, já estava anoitecendo, a rua em que moramos já estava com os postes ligados, iluminando toda a rua limpa e organizada. Chegando perto de casa, aperto o botão e os portões se abrem.
-Olha, o papai tá ai - Sarah fala e fico surpresa.
-Papai? - pergunto me concentrando apenas na direção da garagem.
-Sim, olha lá o carro dele, e também tem outro carro lá, Uau, um carrão - diz admirando o lindo carro como se nunca tivesse visto outros mais lindos. Desço do carro, travando e colocando as chaves no bolso. Pego minha bolsa de trás do carro e sigo para a entrada da minha casa. De fato estranhei ver o carro de papai, e outro desconhecido. Se papai veio, foi por negócios, e nada mais que isso. Já estou até acostumada. Sarah já havia entrado em casa, e não a vi mais. Eu estava exausta, precisava de um banho e minha caminha bem macia. Não vi Mamãe, acho que ela ainda está no trabalho. Fui para meu quarto, onde tomei um bom banho e me vesti com uma calça colada e uma blusa manga comprida já que estava fazendo frio em Milão. Soltei meus cabelos para me esquentar e resolver descer para a cozinha, pra comer algo. Saio do meu quarto e caminho pelo longo corredor da casa. Me assusto em ver mamãe surgindo das escadas com os olhos vermelhos e lacrimejando.
-Mamãe? - pergunto a parando no meio do corredor. Ela apenas me encara e me abraça forte, bem forte. - Você está me assustando, mãe - digo saindo do abraço a encarando-a
-Me desculpe, filha, eu... - antes que ela termine, Sarah sai de seu quarto já tomada banho e vestida.
-Mãe? Tá chorando ? - pergunta preocupada e mamãe segura nossas mãos.
-Me desculpem minhas meninas, eu não queria que acabasse assim, nunca quis, nem seu pai quis...
-Para, mãe, me explica que eu estou voando aqui - peço exasperada por alguma notícia.
-O pai de vocês está na sala, ele quer conversar com vocês - diz.
-Papai? Querendo conversar com a gente? Sério? - pergunto com ironia.
-O assunto é muito sério - ela diz e solta nossas mãos.
-E você não pode participar da conversa , mãe ? - Sarah pergunta.
-Eu não consigo - Mamãe diz chorando e saindo dali correndo, entrando em seu quarto e trancando a porta. Olho para Sarah preocupada, e sem entender nada. Nós duas fomos correndo para a sala, mas não entramos de vez, apenas escutamos a voz de nosso pai conversando com outra voz grossa e que deu um arrepio em meu corpo, uma coisa estranha, um medo.
-Você desde sempre soube que perderia pra mim, Samuel, não deveria ter entrado nessa - a voz que me deu medo falava.
-Você trapaceou, jogou sujo - papai fala.
-Não, eu joguei limpo, você que é um péssimo jogador. perdeu, Samuel, e terá que honrar com seu acordo e vamos concordar que saíra ganhando ainda, não é?
Eu e Sarah entramos na sala, e eu de cara não olhei para o homem sentando a frente de meu pai. Meus olhos foram para Samuel, meu pai, que me olhou com um olhar diferente.
- Mamãe disse que queria falar comigo e Sarah. - digo olhando somente pra ele - Aconteceu algo? - pergunto e meu pai suspira abaixando a cabeça, porém logo me encara e encara Sarah. - Venham comigo - ele diz e eu apenas concordo. Ele sai da sala, e eu, juntamente com Sarah o sigo. Eu nem olhei pro cara que estava lá na sala, não sei por que mas eu não consegui olhar.
Papai nos leva até seu escritório, e logo o tranca. Eu e Sarah ficamos encarando uma a outra tentando entender o que estava acontecendo.
-Filhas... - Ele nos chamou de filhas???
-Eu não aguento mais - falo - O que está acontecendo?
-É tudo minha culpa, mas, eu só queria o melhor pra minha família, pra vocês...
-Diga de uma vez o que está acontecendo, pai! - Sarah pede.
-Eu não sou piloto - diz rápido - Quer dizer, eu estudei e me formei, mas essa profissão é só uma fachada. Eu precisava de algo para despistar a polícia, as pessoas... Eu sou um mafioso. - diz por fim e aquelas palavras me quebram por inteira.
-O que? - pergunto mais pra mim do que pra ele. Meus olhos se enchem de lágrimas, minha garganta trava e eu não consigo dizer mais nada. Eu me enganei esses anos todos. Eu sou uma i****a.
-Pai!! - Sarah só consegui falar isso, e começou a chorar.
-Me desculpem por estarem sabendo disso agora, meninas - ele diz e tenta se aproximar, mas eu e Sarah nos afastamos. - Eu trabalho com contrabandos de vinhos e alguns metais preciosos. Eu sou dono de quase todas as vinhedos e vinícolas aqui em Milão e na Itália inteira. Elas são escondidas, e fornecem vinhos aos mercados. Eu roubo vinhos, eu sou um dos Mafisiosos que mais rouba esses vinhos. É por isso que tenho tudo isso, pois vinho da muito dinheiro, ainda mais pra quem não paga nada, nesse caso, eu.
Fui assimilando as coisas. É claro que ele era isso mesmo. Lembro-me de ter ido ao porão de casa, e lá tinha tantas, e tantas carradas de vinho, que seria quase impossível contar quantas tinhas. Lembro-me dele falando em seu escritório com alguém, falando sobre as carradas que ainda não tinham chegado. Claro que eu era muito ingênua e não pensei nisso, em nada.
-Você é um bandido!!!! - grito e parta pra cima dele, gritando, dando tapas em meu próprio pai. Ele me segura com força, e me matam afastada dele. Olho para Sarah que estava no chão chorando, tadinha, sempre pensou que o pai fosse um bom homem.
-Você tem que me escutar - ele grita comigo.
-Não, chega!! - grito - Você é um ladrão, golpista... E eu i****a pensando que você era piloto mesmo, que trabalhava dignamente. Tudo isso que tenho, todas essas coisas que temos foi conquistado com o suor dos outros - grito mais. - Você é um louco, obcecado por dinheiro. Sempre foi, pra você tudo sempre foi negócios e negócios! Nunca teve tempo pra mim e Sarah, ou até pra mamãe.
-Eu fiz isso por vocês - ele diz.
-O que sempre quis era o amor, a presença do meu pai, que vivia enfurnado nesse mundo!!! - Brigo. Sarah já não estava mais no escritório, nem vi quando saiu.
-Isso não é o pior - papai diz. E eu arregalo o olho.
-Não é a pior? O que pode ser pior que isso??!!! - grito com raiva.
-Você viu aquele homem que estava comigo na sala? - pergunta.
-Não, eu não quis olhar! - digo.
-Fiz uma aposta com ele.... - papai diz.
-Uma aposta?? Que tipo de aposta??
-Apostamos em quem conquistaria primeiro o vinhedo de Madri, e ele conseguiu... Ele disse que se conseguisse, iria querer uma de minhas filhas, e eu aceitei, por que eu estava confiante que eu iria ganhar, mas ele ganhou, Eva.
-Uma filha? - pergunto me desequilibrando e caindo no carpete vinho da sala. - Você vendeu suas filhas por uma i****a aposta? Nunca passou por essa sua cabeça que poderia perder??? - grito - E agora? Quem vai mandar? Sarah ?? Ela é muito nova, apesar de ter dezoito anos, Sarah é uma adolescente ainda, não tem maturidade o suficiente - grito.
-Eu não queria mandar nenhuma de vocês, eu Juro que não, Eva, mas ele disse que se eu não cumprir com o meu acordo, ele pegaria todas os meus vinhedos, e Oliver não é um homem com quem se brinca - papai diz preocupado. - Se ele pegar meus vinhedos, não terei como sustentar você, sua mãe e irmã. Como ficará a faculdade de vocês? E o seu sonho de artes? E o sonho de sua irmã da moda? E sua mãe?
-E pra que ele quer uma de nós duas? O que ele fará? - pergunto.
-Ele não disse nada, só disse que precisava de uma mulher de família...
-Ele é um..
-Mafioso? Sim, ele é - papai diz.
-E você quer que eu aceite? - pergunto.
-Ele quer escolher - papai diz abaixando a cabeça.
-Isso mesmo, abaixa a cabeça e pensa na burrada que você se meteu e colocou sua família junto. A que ponto você chegou em apostar uma troca, usando suas próprias filhas? As dando pra um total desconhecido, que aliás, é um bandido também. Ele pode me abusar, maltratar de mim, ou de Sarinha!!!!
-Oliver nunca faria isso - Papai diz e o encaro.
-Prefiro passar fome, do que ir com um estranho ladrão embora. Você fez a aposta, agora sofra com as consequências seu irresponsável. Perca seus vinhedos, perca seu dinheiro, e quero que se dane tudo isso, seu mentiroso. Você não é digno de ser chamado de pai!!!
Saiu da sala as pressas, correndo para o quarto de mamãe, que estava abraços com Sarah. Me junto às duas e ficamos ali as três chorando e não falando nada.
-Você sabia, mãe? - Sarah pergunta e Mamãe demora um pouco, mas logo confirma.
-Sim, mas eu não pensei que isso aconteceria mesmo. - diz. - Seu pai está com contas, muitas contas... Se meteu em negócios errados e agora está pagando tudo isso. Estamos sem dinheiro no banco, tudo já foi em contas e elas nunca acabam - Mamãe suspira.
-Estamos sem nada? Estamos no zero?? - Sarah pergunta.
-Sim, infelizmente sim. Seu pai fez muitas apostas e perdeu tudo. Teremos que vender tudo o que temos para pagarmos as outras contas.
Fico olhando o sofrimento de minha mãe, e minha irmã chorava também.
-Meu sonho de trabalhar com moda foi por água abaixo, tudo por conta de papai - Sarah diz chorando e aquilo me parte o coração. - Como papai teve a coragem de se tornar isso? Como você deixou isso acontecer, Mamãe? - ela pergunta.
-Não fui eu filha, seu pai é impossível - diz chorando.
Talvez eu estivesse tomando a decisão mais louca da minha vida, mas ver minha família chorando e sofrendo daquele jeito só me machuca mais. Eu poderia não ir, mas sofreria do mesmo jeito morando no mesmo teto que um bandido e ainda vendo as dificuldades de minha família. Eu não poderia deixar aquilo acontecer, terei que me contradizer no que disse a papai no escritório.
-Sarah, papai disse que ele quer escolher uma de nós duas. Você é nova ainda, e eu não quero ver vocês sofram mais, e eu tomei minha decisão - digo firme - Eu vou lá agora falar com papai, e pedirei para que o cara me escolha. Eu ficarei bem, sei me cuidar... Agora só não ficarei bem se eu ficar e ver nossa família se quebrando aos poucos. Isso eu não ia suportar - digo levantando e limpando as lágrimas.
-Você não tem que fazer isso - Mamãe diz.
-Mas eu quero! - digo decidida.
-Eu vou, se ele quiser me escolher, eu irei - Diz Sarah se levantando e indo em direção a porta. Seria impossível para-la, quando ela diz algo, está dito. Descemos as escadas, e vejo papai guiando o tal cara até a porta.
-Espera! - grito e papai se vira, juntamente com o cara que estava com ele, o tal de Oliver.
ma jo