Algumas pessoas nascem com escolhas.
Outras nascem com destinos.
Nunca acreditei que a vida pudesse ser diferente do que ela é. Não porque seja justa — mas porque é imutável. Aprendi cedo que querer não muda nada. Sobreviver, sim.
Meu nome é Aziel Volkov.
Poucos sabem quem eu sou. Menos ainda ousam pronunciar meu sobrenome. Não porque me temam diretamente, mas porque o nome Volkov carrega histórias que não foram feitas para serem contadas em voz alta.
A máfia Volkov não tem origem clara. Não tem território fixo. Não tem rosto único. Somos conhecidos pela ausência — nunca estamos onde esperam, nunca atacamos como preveem. O silêncio sempre foi nossa maior arma.
Fui criado dentro dele.
Não tive infância no sentido comum da palavra. Tive treinamento, estratégia, disciplina. Aprendi a observar antes de agir, a ouvir antes de falar, a matar antes de hesitar — quando necessário. Sentimentos sempre foram tratados como fraquezas. Ainda assim, nunca consegui extirpá-los por completo.
Aos dezessete anos, já entendia como o mundo funcionava.
Aos vinte, já comandava homens que tinham o dobro da minha idade.
Aos vinte e dois, a Volkov passou a responder apenas a mim.
Não foi um golpe. Foi uma transição silenciosa. Como tudo na nossa história.
O poder nunca me interessou pelo que ele oferece, mas pelo que ele impede. O caos só existe onde não há controle. E eu aprendi a controlar.
Ainda assim, há noites em que o silêncio pesa mais do que deveria.
Não acredito em redenção. Nem em justiça no sentido romântico da palavra. Acredito em equilíbrio. Em consequência. Em fazer o necessário para que o mundo continue funcionando — mesmo que isso exija mãos sujas.
Mulheres, homens, inocentes… palavras perdem significado quando o sistema está corrompido desde a base. Ainda assim, existem limites que eu nunca ultrapassei. Não por bondade, mas por princípio. Violência gratuita sempre foi coisa de homens fracos.
Foi quando ouvi o nome De Luca pela primeira vez que algo mudou.
Não como ameaça.
Como curiosidade.
A máfia De Luca sempre foi organizada, tradicional, previsível. Um império construído à luz do dia, com regras claras e uma liderança respeitada. Vittorio De Luca era tudo o que um líder deveria ser — aos olhos do mundo.
Mas impérios perfeitos costumam esconder rachaduras.
Quando soube que quem assumiria o lugar dele seria Cassandra De Luca, não senti desprezo. Nem subestimei. Senti algo mais perigoso: interesse.
Uma mulher no comando de um sistema que nunca foi feito para ela sobreviver.
Ainda não sei exatamente o que Cassandra representa para mim. Uma ameaça, talvez. Uma aliada improvável. Ou apenas o reflexo de algo que sempre evitei encarar.
O que sei é que, desde que nossos caminhos começaram a se cruzar, o silêncio deixou de ser apenas uma arma.
Passou a ser um aviso.
E, pela primeira vez em muitos anos, sinto que o destino — esse conceito que sempre desprezei — está se movendo contra mim.
Ou a meu favor.
Ainda não decidi.