Capítulo Quatro

2294 Palavras
– Meu amor, eu juro que volto o mais rápido possível, eu juro que a mamãe nunca vai te deixar. _ Digo enquanto passo a mão na lataria. – Que melação! _ Escuto a voz de Yasmin atrás de mim com um tom enojado. – Cale-se, você não sabe o tanto que eu amo esse carro. – Ah, eu sei, sei muito bem. Termino de abraçar e beijar o meu bebê, tranco as portas, tiro o que tinha que tirar e coloco a mochila no ombro. – Vamos de uma vez, Juliette, teremos um dia todo de caminhada para chegar até ele. – Você ainda não me disse quem é ele, só que é um informante e que vai nos ajudar. – Você saberá na hora certa. A morena diz e me dá as costas, impossível não olhar para aquela b***a maravilhosa. – Maldito castigo. _ Digo a mim mesma, suspirando, com certeza seria maravilhoso passar a noite com aquela mulher, pena que é impossível. – Delícia. – Eu escutei isso, Juliette. Só assim saio do meu momento de admiração, sorrio ao olhar para cima e encontrar os lindos olhos negros me encarando. – E quem disse que não era para você ouvir? Nós duas gargalhamos, apesar de amigas, nossos joguinhos de sedução nunca acabavam, mas no fim sabemos que não passariam disso. Caminho mais rápido e chego perto dela, do lado de fora do hotel um táxi nos esperava para levar-nos até perto de onde pegaríamos o barco que nos deixaria em uma trilha, a partir daí seria apenas nós duas. Foi o que aconteceu. – Vocês ficarão bem? _ O homem que pilotava o barco perguntou. – Sim, conheço o caminho, já vim aqui. _ Yasmin responde, sorridente. Ele apenas acena e segue seu caminho. Colocamos nossas mochilas de novo nas costas, a garrafinha de água pendurada no pescoço, óculos escuro, jaqueta, calça jeans e botas. – Agora é caminhar cerca de quatro horas. – Seja o que Deus... Isso não serve mais de nada. _ Falo com se fosse óbvio. – Vamos de uma vez. Escuto Yasmin suspirar atrás de mim, sei da sua posição, sei que apesar de tudo ela ainda tem fé, esperança, por esse motivo preferiu cair, por ser taxada de pecadora, anjo de uma alçada mais elevada que a minha se deixou levar pelos desejos sexuais, se entregando ao prazer. Caminhamos cerca de meia hora sem dizer uma palavra, mas aquilo já estava me deixando maluca. – Então... Quem é essa pessoa? É humano, querubim, anjo, demônio? _ Pergunta referindo-me ao contato dela. Então a morena para e vira, olhando fixamente para mim. – Você acha que eu faria negócio com um demônio? – Eu... – Pelo jeito você não me conhece muito bem. _ Percebo o tom decepcionado em sua voz, com certeza eu me sentiria da mesma forma. – Desculpa, por favor, eu não quis dizer isso, eu só... estava tentando puxar assunto, esse silêncio me perturba. Não gosto desse clima entre a gente, na verdade eu nem sei o porquê dele. Você me falou algumas coisas que eu desconhecia, mas isso não tem nada a ver, agora sei mais coisas sobre você, tivemos um passado amoroso, perdemos nossas paixões, somos mais parecidas do que aparentamos. – A nossa diferença, Juliette, é que o seu amor já morreu, você pode se acostumar com isso, já o meu só é... Impossível. – Mas... – Por favor, não vamos falar mais desse assunto. Com isso volta seu corpo para frente de novo e caminha, apesar de incomodada, eu não poderia fazer nada, aquilo era um segredo dela, por mais que eu esteja muito curiosa, respeitaria a sua decisão de ficar em silêncio. – Entendi, vamos andar. Falo baixo apenas para eu ouvir, não quero que o clima fique pior. Assim fizemos pelas próximas quatro horas. Em alguns pontos era escuro, outros davam para observar claramente a luz solar penetrar os galhos das árvores, fiquei tão impressionada que colidi com o corpo da morena a minha frente, Yasmin me encara e sorri, pela primeira vez recebo seu sorriso depois da nossa conversa esquisita. – Lindo, não é? – Esplêndido, o ser humano é tão egoísta e burro que não percebe as maravilhas que o Senhor lhe ofereceu, os benefícios, não é a toa que muitos anjos pecam pela inveja. – Eu concordo com você, sempre gostei de vir aqui. – Você vem muito? _ De repente percebo que a pergunta a deixou sem jeito, o que me deixou inquieta. – As vezes, gosto de natureza, você sabe. Yasmin se vira de novo para frente e volta a caminhar, cerca de quinze minutos depois estávamos paradas no meio de um terreno completamente exposto, o céu descoberto, com ocas perfeitamente construídas, mulheres com s***s à mostra, crianças completamente nuas e homens armados com flechas e lanças, prontos para atacar o desconhecido, que no caso éramos nós. Eu também já me preparava para o combate quando escuto a voz de um homem, os índios guerreiros se afastam em sinal evidente de respeito, o homem idoso, com marcas brancas pelo corpo feitas com algum tipo de tinta, olha diretamente para Yasmin, essa que se aproxima e abaixa a cabeça, apesar de relutante, recebendo um toque no topo da cabeça, acredito que seja uma forma de cumprimento, então me aproximo e recebo o mesmo. – Mulher celeste. _ Ele diz olhando para Yasmim. – Precisamos da sua ajuda. – Eu sei, eu sei, cacique sempre sabe, vamos, temos muito o que conversar. Com isso ele apenas acena para um dos homens de pele vermelha e adentra na maior oca do lugar, eu acompanho e percebo que quatro homens ficam na porta, impedindo que qualquer um entre, mas também que qualquer outro saia, isso me deixa na defensiva, mas ao mesmo tempo eu confio em Yasmin, se ela me trouxe ali deve ser seguro. O idoso senta perto de uma pequena fogueira dentro do lugar, Yasmin faz o mesmo, fica de frente para ele, esse que me encarava deixando claro que algo o intrigava. – Mulher branca quer a minha ajuda. Quer entender o que acontece. – Sim, eu preciso descobrir... _ Tentei falar, mas ele me impede. – Eu sei o que você quer. De repente sua voz muda, sua postura, o olhar muda, ele me encara, depois de centenas de anos eu sinto meu corpo estremecer, depois de anos eu percebo que há muitas coisas erradas. E só então percebo que tudo não passou de uma farsa, que tudo foi encenação, na minha frente estava a pessoa que me colocou nessa situação, a pessoa que me deixou sem nada, e principalmente, a pessoa que tirou a vida da mulher que amo, o líder e príncipe dos querubins, anjo dos mistérios e guardião dos segredos de Deus. – Raziel. _ É tudo que eu consigo falar. ............................................ Olhar aquele rosto, sentir aquela aura, saber que estava diante do todo poderoso querubim me deixava nervosa, não que tivesse medo, não que me sentisse em perigo, eu apenas não sabia como agir depois de tantos anos que aquele ser me castigou, que matou, ou mandou m***r a única pessoa que amei na vida. Mas alguém me devia mais explicações. – Que brincadeira é essa, Yasmin? – Calma, vamos apenas escutá-lo. – Escutá-lo? Você está de brincadeira comigo? Sim, só pode ser brincadeira, vocês já fizeram o pior comigo, já tiraram o que quiseram de mim, o que? Agora vieram terminar o serviço? Estão aqui para me m***r, pois então façam, seria um favor que me prestam. – Jasmim... – Não me chame assim, Raziel, o que você quer? _ O homem mantinha seu olhar sereno, mostrando superioridade como sempre foi. – Você... _ Eu levanto e aponto para Yasmin. – É claro, você está com eles esse tempo todo, você está me vigiando, m***a, você me traiu. – Juliette. _ Vejo a morena se levantar e tentar se aproximar. – Não encoste em mim, eu confiei em você, eu contei tudo a você, e... m***a, eu cheguei a cogitar... _ Fecho meus olhos com força. – Eu vou embora daqui, quero vocês todos longe de mim e... – Já chega! _ Raziel grita, com certeza sua graça estava intacta. – Sente-se, pare de falar de coisas que não sabe, pare de cogitar sobre o que está fora da sua alçada, e principalmente, pare de acusar sem ter provas, tudo está acima de você, porém ao seu redor, estamos aqui por um motivo, veio até mim por um motivo, e eu acredito que estamos lutando a mesma guerra, porque, sinto lhe informar, os problemas são maiores do que imagina e você está mais ligada a eles do que eu mesmo queria. _ Sinto a raiva em sua voz. – Deve ser, afinal o todo poderoso Raziel desceu à Terra e contra a sua vontade. – Juliette, por favor, nos escute, é importante. _ A voz de Yasmin era fraca e meiga, m***a de mulher doce e sensível, apesar de uma guerreira, a querubim conseguia infernizar a minha mente. – Eu não sei se voltarei a confiar em você, mas já que estou aqui vou escutá-los. Volto a me sentar, porém não tão perto de Yasmin, agora não consigo pensar corretamente em como resolverei aquela situação, só quero escutá-lo e ir embora dali. – Sejamos sinceros, Jasmim, eu nunca gostei de você, nunca quis você, detestava suas dúvidas, sua desobediência, sua teimosia, rebeldia, mas eu via sua força, queria te transformar na melhor. – Isso não é novidade. – Você acreditou mesmo que só permaneceu viva porque Samandriel intercedeu por você? _ Só escutar esse nome me faz encher de tristeza, depois de Laura foi a única pessoa que amei e confiei de verdade. – O que... – Não seja ingênua, Jasmim, ele não tem esse poder, o seu destino era a morte, eu faria isso com maior prazer, porém, fui calculadamente impedido. _ Eu tentava processar as informações, tentava registar cada detalhe daquela conversa. – Quem? _ O sorriso presunçoso de Raziel se acabou quando eu fiz a pergunta. – Você está com medo. _ Aquilo me deu uma pitada de satisfação. – Eu não... Isso não vem ao caso, o que importa agora é que eu recebi ordens diretas de cima para te manter viva. – Eu estou viva há duzentos anos, não preciso da ajuda de vocês. _ A raiva dava para ser sentida em minhas palavras, assim como em cada fibra do meu corpo. – Juliette, nós estamos te protegendo desde que você caiu, desde que Laura se foi, você nunca ficou sozinha, você nunca ficou desamparada, nós nunca te deixamos correr nenhum tipo de risco. Agora me sinto burra, i****a a ponto de realmente pensar que desde que caí eles não tinham o controle, desde que eu perdi tudo eles me mantiveram da forma que queriam, já cheguei a me perguntar por que os humanos nunca chegaram até mim pelas mortes das mulheres, mas está explicado, eram eles, esse tempo todo eram eles. – Você... _ Nem consigo falar ao olhar para a mulher ao meu lado. – Perdoe-me, eu tinha que descer e ficar perto de você, todos os guardiões que estiveram aqui morreram, eu me ofereci. – Mas... Quem mandou? Que m***a está acontecendo? Eu estava confusa, estranha, todos ao meu redor são meros traidores, pessoas falsas que seguem a ordem de outras que dizem lutar por um bem maior, mas no fim ainda estão lutando por si só, depois do sumiço Dele, Miguel e Gabriel se sentiam os donos do mundo, com certeza passariam na frente de qualquer um para conseguir o que queriam. – Mas... O castigo... – Ele é real. _ O homem fala. – Precisávamos que você não se ligasse a ninguém, se apaixonar seria o mesmo que fazer você se manter na Terra, na vida humana, não poderíamos aceitar isso. _ A voz de Raziel estava irritando-me ao ponto de querer matá-lo. – Eu... Quem mandou me deixar viva? Encaro os dois que se olham, ao mesmo tempo em que me sinto triste pela traição de Yasmin, sinto que a morena faria tudo por mim, mas agora como acreditar nela? Como fazê-la entender que a confiança era algo que depois de quebrada era difícil de concertar? E pior, será que eu a queria dar outra chance? – Esse é o problema, Juliette, nós não sabemos. – Como assim, Yasmin, vocês receberam ordem de alguém. – Sim, a mesma luz que entrou em contato com você, primeiramente pensávamos que era Miguel, estávamos acreditando nisso, apenas os arcanjos tem aquela aura, aquela presença, mas então você me disse que essa luz entrou em contato com você, o que nos deixou em dúvida. – Espera, apenas vocês dois estão nessa? – Sim, nós e mais outros que morreram. – Mas que... – Os demônios estão matando todos os nossos aliados, estamos em um cerco que nem sabemos o motivo, estamos andando na corda bamba. _ A voz de Raziel já era insignificante, tudo agora era como um nada, eu me apoio com as mãos no chão e a cabeça baixa. – Vocês não sabem quem deu a ordem, vocês não sabem por que me manter viva, vocês não sabem o que vai acontecer, que m***a vocês sabem? – Nós imaginamos quem deu a ordem. _ Yasmin fala e eu levanto a cabeça. – Quem? _ Escuto Raziel respirar fundo e depois me encarar para falar. – Ele. E só então eu me dei conta de que a coisa era mais grave do que eu imaginei, com certeza teríamos que descobrir muitas coisas, só ainda não sei se sozinha, porém tenho que admitir que ainda preciso dos dois.
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