Allie Stuart
Houve um certo momento durante o trajeto que eu cansei de puxar assunto. Fiquei apenas olhando a vista da janela do carro e ele percebeu o meu silêncio. Ricardo tentou puxar assunto e vamos conversando, mas o clima era estranho.
Eu estava louca para questionar sobre o comportamento dele, mas chegamos na clínica e eu tive que esperar. Nesse momento, ele preenche a ficha médica obrigatória e eu fico aqui do lado dele só observando. De repente, eu recebo uma mensagem da minha amiga Nayra e começo a ler.
“Amiga, tudo bem?”
“Oi. Eu estou numa clínica agora, mas estou bem. Podemos nos falar mais tarde?”
“Oh, tudo bem. Eu vou esperar e quero te contar uma coisa bem séria. Me liga!”
Fico curiosa aqui e até penso em perguntar, mas não tenho tempo.
— Pronto... tudo preenchido. — Eu apenas aceno. — O que foi, amor? Faz um tempinho que você está com essa cara.
— Você anda esquisito, Ricardo... como quer que eu reaja? — Pergunto olhando bem para ele. — Você está distante, só tem me procurado quando precisa de alguma coisa e tem mostrado um belo desinteresse... me diz qual o problema?
— Nenhum amor. Não houve nada... — Ele toca a minha mão e olha pra mim. — Foram dias difíceis e com a separação dos meus pais, eu tenho preferido ficar um pouco só... desculpa.
— Não creio que seja apenas isso... quer terminar? —
— O quê? Claro que não... jamais! — Ele fica todo nervoso e fico ainda emburrada. — Eu amo você, sabe disso... só, tem sido complicado. Mas vamos mudar isso... que tal sairmos essa semana para jantar?
— Jantar fora? — Ele confirma. — Não sei...
— Vamos... um momento nosso. — Fico pensando aqui e ele logo é chamado.
Ricardo fica de pé e antes de ir, ele me dá um beijo rápido e depois vai com a moça da clínica. Eu não faço muita ideia de quanto tempo eu vou esperar aqui, eu só sei que ele não poderia vir sozinho. Nem quero imaginar como é esse exame, mas sei que a pessoa fica bem dopada pela medicação.
Espero nunca precisar disso!
Eu tento ligar para a Nayra agora, mas ela não atende e vai para a caixa postal. Todas as três tentativas dão o mesmo resultado e assim, eu fico aqui esperando. Os minutos vão se passando e fico dando voltas na recepção da clínica. Bebo um pouco de água e converso um pouco com a recepcionista sobre o procedimento. Ela conta que, assim que acabar, eu e ele ainda teremos que esperar um tempo. Ricardo nem vai conseguir ficar de pé sozinho e já imagino a cena.
Vai ser engraçado.
— Oi, mãe! — Eu atendo a ligação assim que eu vejo.
— Oi, minha filha. Como estão as coisas aí? — É nessa hora que eu lembro que nem liguei para ela.
— Ele já está no procedimento e estou esperando... já está em casa? — Ela confirma e ouço som de panelas.
— Já, sim. E a entrevista? — Sorrio aqui já animada por lembrar.
— Foi ótima e estou otimista! Teve vários testes e no meio deles, eu conheci o dono... é um homem mais velho bem simpático e bem bonito. — Comento lembrando bem. — Parece ator, sabe.
— Você observa tudo, não é... e qual o próximo passo? — Eu tinha contado antes, mas ela sempre esquece os detalhes.
— Eles vão me ligar e pedir os documentos para a contratação. É nessa hora que vou saber mais detalhes do trabalho e benefícios. — Vamos conversando um pouco e eu volto a me sentar.
Ela já está preparando o jantar e sinto a fome vir. Faz horas que fiz um lanche bem pequeno e ela conta que vai fazer um frango grelhado, salada e até milho. Eu amo essa combinação.
Minutos depois, nós encerramos a ligação e eu continuo aguardando aqui. Eu logo sou avisada de que Ricardo fez cena lá dentro e ele está mais do que dopado. Quase não conseguiram realizar o procedimento pela agitação dele e duas pessoas tiveram que lhe segurar já que tinham administrado a medicação e anestesia.
Nem acredito nisso!
Um tempo depois, eu sou avisada de que posso entrar e eu o encontro numa poltrona todo parado encarando o chão e com a boca aberta.
— Minha nossa... — Fico até sem saber o que fazer. — Ricardo? Tudo bem?
— Dá um tempinho para ele. Tem pacientes que reagem de forma mais complicada ao procedimento e ele é um desses, mas é só esperar. — Eu aceno e vou entrando.
Ele continua parado e mexe apenas a pupila. A boca aberta começa a fazer a saliva escorrer e eu pego uns lencinhos da mesa para limpar a boca dele e fechar. Ele me olha como se nem soubesse quem eu sou e logo começa a se agitar.
Eu tento falar com ele, tentar lhe ajudar a ficar quieto, mas ele não diz nada coerente e se negä ao meu toque. Só consigo entender a palavra “preciso”. Apenas isso! São mais de trinta minutos assim e nada dele melhorar. De repente, ele mostra querer sair e alguns dos seus reflexos ficam melhores. Ele já consegue andar um pouco, a balbuciar algumas palavras mais coerentes e já começa a ter mais forças.
— Ricardo, calma... vamos já embora. — Peço tentando acalmá-lo. — Isso vai passar logo.
— E-eu... preciso d-dela... — Essa é a primeira frase que consigo entender. — Ela... e-eu preciso... dela.
Nisso, ele quer sair daqui e vou lhe ajudando nos passos. Fico maluca de lembrar que ainda tem o corredor aqui, elevador para pegar e ainda procurar o carro no estacionamento. Não vai ser nada fácil com ele, dificultando tudo aqui.
Fora que ele ainda é mais forte que eu e ele ainda quer pegar o celular querendo ligar para alguém.
— Ricardo, espera um pouco. — Peço ainda tendo a paciência de Jó e chegamos no elevador. — Ei, precisa me ajudar também..., calma!
— Ela... eu preciso da... da Sabrina. — Eu paraliso aqui sem entender nada. — Sabrina... cadê ela? onde?
Ele começa a repetir o nome e a procurar sem parar e tenta de tudo ligar para esse contato. Já sem muita paciência, eu pego o celular dele e vou direto nos contatos vendo o nome na lista. Eu faço questão de ligar agora para descobrir e quando a ligação é atendida, eu fico mais incrédula ainda.