Estava clareando o dia, porém ainda não tinha sol, estava realmente com medo do que fariam comigo. Fernando havia saído a sei lá, talvez horas e ainda não tinha retornado. Estava quase dormindo na cadeira quando retornou, dessa vez, acompanhado do meu pai.
- O que faz aqui? - perguntei encarando meu pai.
- Eu avisei para ficar longe do Matthew. - ele sorriu sarcástico.
- Como consegue? Eu sou sua filha. - ele sorriu arrogante.
- Sim, mas nunca há vi como uma. Era só mais um obstáculo, uma pessoa que iria herdar tudo que eu conquistei. - sorriu. - Você vai ficar longe do Matthew.
- Você não vai me impedir. - minha garganta já havia dado um nó.
- Eu irei, porque dessa vez, se não ficar longe, irei ordenar que executem ele, na sua frente. - ele se aproximou e manteve os braços cruzados.
- Você não teria coragem. - falei entredentes e ele apenas assentiu para Fernando, que ia saindo. - TÁ BOM, CHEGA. - gritei e Fernando parou. - Porque me quer longe do Matthew?
- Não especificamente dele, mas da família inteira. Você vai para Itália, terminará a faculdade lá e seguirá sua vida. Irei fazer depósitos para que tenha uma vida adequada.
- Se eu fizer isso, se eu ficar longe do Matthew e toda família dele. Promete que não encostara em um fio de cabelo do Matthew?
- Dele, sim. - apenas assenti. - Vai terminar com ele ainda hoje, assim como irá embora hoje.
- Tudo bem, você venceu. - sorri debochada.
Fernando me soltou e me tocaram literalmente dentro de uma vã preta cheia de homens que me encaravam sério, me encolhi e apenas fiquei pensando em o que deveria falar para Matthew, como terminaria com ele sem contar a verdade? O que deveria dizer a nível de magoá-lo o suficiente para não me procurar?
Quando percebi estávamos parado em frente a minha casa, um dos homens estacionou meu carro e saíram. Entrei e todo mundo ainda dormia, inclusive as meninas. Me deitei na cama e apaguei, de tanta exaustão e sabendo que, quando acordasse, tudo desmoronaria, que viveria apenas com as lembranças boas que vivi com minha amiga, com Matthew ou essa casa.
Acordei e as meninas não estavam mais lá, tinha um bilhete avisando que já tinham ido para casa, já era quase horário do almoço. Levantei e tomei banho, vesti uma roupa qualquer e comecei a fazer as malas. Escrevi duas cartas, uma que provavelmente nunca entregaria e a outra eu deixaria com a Emily, contando toda a verdade e que, se algum dia eu nunca voltasse ou parasse de dar notícias, deveria entregar a outra para o Matthew. Terminei de organizar tudo já em lágrimas, as sequei e desci, Maggie era alegre sempre, hoje parecia que sentia minha partida, ela estava cabisbaixa, pouco conversou comigo, Alan tinha sido a mesma coisa.
- Amiga. - disse Emily assim que me viu. - Vem entra.
- Não, melhor conversarmos aqui fora. - forcei um sorriso e ela sentou na escada da entrada comigo.
- O que houve Malia? - ela me encarou.
- Eu vou embora… - ela me interrompeu.
- O que? Porque? Como assim? - ri baixinho e a encarei já com lágrimas nos olhos.
- Eu não posso dizer o porque, mas você é minha amiga de anos e eu nunca poderia deixar de, ao menos ter um contato. - forcei um sorriso e tirei as cartas do bolso a entregando. - A que tem seu nome pode ler, vai ter muitas coisas que não sabe e que eu nunca contei, peço desculpas desde já, também terá instruções e um número que poderá falar comigo. Emi infelizmente não posso dizer para onde vou ou por quanto tempo, mas sentirei muito sua falta. - ela me abraçou já em lágrimas, deixei as minhas escorrerem.
- Tudo bem, falou com Matthew?
- Ainda não, vou assim que sair daqui. Vou sentir saudade. - a encarei segurando sua mão.
- Eu também, sempre vou estar aqui. - ela forçou um sorriso e me abraçou mais uma vez.
Sempre soube que a saudade era sobre o quanto você queria estar com a pessoa e não sobre a quantidade de tempo que não via a pessoa. Disto eu já estava sentindo, a falta dos meus amigos, a falta do Matthew e sobre tudo.
Olhei o visor do meu celular e tinha muitas mensagens encaminhadas do Matt, ligações perdidas e tudo que eu queria poder responder era que teríamos tempo. Tempo! Era tudo que não tínhamos, tempo era tudo que havia perdido, tanto da minha mãe, das minhas amigas, do Matt…
Depois da conversa com a Emily, sai de lá já chorando, mas precisava ter uma aparência melhor, então caminhei um pouco para me acalmar e respirar. Fui com meu carro até a casa do Matthew e ele estava no deck, o sol já estava se pondo, a visão mais linda.
- Oi meu amor. - ele sorriu e beijou minha testa seguido de um abraço que m*l consegui retribuir. Queria viver eternamente naquele abraço, eu precisava disto, mais do que podia admitir.
- Oi. - forcei um sorriso.
- Tudo bem? - ele me encarou e deixei escorrer algumas lágrimas. - Malia? - ele se virou e puxou meu rosto delicadamente pelo queixo, mas virei novamente para ver o sol se por.
- Matthew… - respirei fundo. - Temos que terminar, por favor me deixa terminar. - eu o olhei e ele tinha expressão de quem não estava entendendo. - Vou embora e provavelmente não me verá mais, mas Matthew, quero que saiba que vivi meus melhores momentos com você. Você me ensinou muito mais do que livros ensinam, ou que um curso. Você merece alguém que te ame a cada detalhe, eu amei você com tudo que podia, mas talvez não era para ser, ou não é o nosso momento. - eu só queria que ele entendesse que esperaria por ele a minha vida toda, que ainda nos reencontraríamos.
- Malia não vou terminar com você. O que está acontecendo? - seu olhar era triste e aquilo me matava.
- Matthew entenda que sou eu quem está terminando com você. Acabou. - me virei para ir embora e ele segurou meu braço.
- Eu não vou desistir de você. - Matthew e aquele por do sol eram as visões mais lindas que tinha visto na vida, eu o beijei, notava-se a despedida naquele beijo.
- Adeus Matthew.
Corri até meu carro e vi Matthew me seguir e parar na frente do meu carro sem entender nada. Aquele cena seria meu pesadelos por muitas noites e anos, magoar a única pessoa que cuidou de mim, esteve comigo em todos os momentos, todas as vezes que precisei. O desejo intenso que eu sentia por ele, me consumia, apesar da dor e da saudade, do coração magoado e do choro no anoitecer, tinha que admitir que precisava me descobrir, saber quem eu queria ser, quais seriam meus planos para um futuro próximo, quem era Malia? Quem era eu na vida dessas pessoas? Eu não sabia meu lugar, não sabia o momento ou o que deveria sentir.
O amor, uma coisa que ninguém sabe descrever, as pessoas escrevem e leem sobre isso, mas sentir e saber o que era, são coisas diferentes. Para mim era sentir meu coração queimar quando via Matthew chorar, era a palpitação no peito toda vez que o via, era o olhar intenso, era o toque carinhoso dele, o beijo calmo, a respiração ofegante. Ver que mesmo em silencio, me fazia feliz.
Voltei para casa e Alan estava colocando minhas malas no carro, meu pai estava parado na porta, desci secando as lágrimas e o encarei.
- Está feliz? - fui mais grossa do que já havia sido. - Conseguiu seu negócio, usou sua própria filha e agora tirou tudo de mim.
- Eu nunca quis te ver triste… - o interrompi.
- Irei para a Itália sozinha, não o quero ver nunca mais na minha vida. Você nunca mais irá me procurar, mandar mensagem ou ligar, não quero seu dinheiro, nada seu. Você morreu para mim.
- Malia. - ele segurou meu braço e eu puxei.
- Adeus Elijah.
Entrei no carro com Alan e fui até o aeroporto em prantos, não conseguia conter as lágrimas, estava sendo um dos piores dias da minha vida. Sabia que meu pai havia arrumado tudo na Itália para mim, mas jamais iria para lá. Assim que cheguei no aeroporto troquei minhas passagens, quando minha mãe morreu eu recebi uma herança enorme dela por conta dos meus avós e meu pai não sabia.
Mais uma vez eu pensei que tudo ficaria bem e acabou m*l, outra vez a felicidade bateu em minha porta e foi embora, a vida é complicada, a gente acredita que tudo ficará bem e do nada algo acontece para nos tirar essa sensação, é difícil lidar com esse tipo de coisa, com essa dor mais de uma vez e ficar pensando que em algum dia, algum momento será diferente, será melhor. As vezes, a esperança é a nossa fraqueza, nos consomem de forma dolorosa por nos fazer acreditar em coisas melhores.
Eu iria em algum momento encontrar Matthew de novo, quando ou onde eu não sabia, só sentia isso no fundo do meu coração. Eu podia estar indo embora agora, mas meu coração estava ficando e quando eu voltar, estaria pronta, pronta para dar minha vida por ele, para ser a pessoa que ele precisar, ser o que for necessário, pois não posso amá-lo estando no meu pior, com meu pai querendo caça-lo.
***