📖 Capítulo 11 – O Confronto

1072 Palavras
📖 CapĂ­tulo 11 – O Confronto Narrado por Olivia O retorno a SĂŁo Paulo foi como engolir gelo em brasa. A cidade me recebeu com seu caos habitual: buzinas, luzes neon, gente apressada, passos ecoando nas calçadas como se o mundo inteiro tivesse pressa. Mas dentro de mim havia um silĂȘncio pesado — aquele silĂȘncio tenso antes da tempestade. Cada ruĂ­do parecia distante, e, ainda assim, cada som fazia meu coração disparar. Eu sabia que algo estava prestes a acontecer. No primeiro dia em casa, tudo parecia parado no tempo. Meu quarto continuava o mesmo: fotos na estante, livros empilhados, o cheiro abafado da minha vida antiga ainda pairando no ar. Mas eu jĂĄ nĂŁo era a mesma garota que saĂ­ra dali. Aquele corpo, aquela mente, aquela pele carregavam agora a memĂłria de tiros, fugas e da presença firme de Kael ao meu lado. Eu havia mudado, e sabia que nada voltaria a ser igual. Quando ele entrou, trazendo consigo a sombra que eu mais temia desde sempre, o ar congelou. Meu corpo ficou tenso, a respiração presa. Cada palavra dele parecia cortar o ar como faca. — Onde vocĂȘ esteve, Olivia? — a voz era gelada, carregada de acusaçÔes veladas, de um domĂ­nio que sempre me sufocara. Encarei-o sem piscar, pela primeira vez firme. Um choque silencioso percorria minhas veias, mas meu olhar dizia mais do que qualquer palavra. — Estive me encontrando. — falei devagar, escolhendo cada sĂ­laba. — Precisava saber quem eu realmente sou. Ele deu um passo Ă  frente, a presença ameaçadora que me sufocava desde a infĂąncia agora intensificada. A raiva dele nĂŁo era surpresa, mas senti cada gota de medo e resistĂȘncia subir dentro de mim. — VocĂȘ acha que tem direito de me dizer isso? — a voz dele cortava o ar, tentando me intimidar com autoridade. — Tenho o direito de nĂŁo morrer de medo — soltei, quase cortando o ar. — Tenho o direito de decidir por mim. Houve um instante de hesitação. Ele parecia surpreso, o olhar afiado tentando me medir, tentar encontrar a menina que eu jĂĄ nĂŁo era mais. — TĂĄ brincando com fogo, garota. — cada palavra pesada, mas a certeza de que eu nĂŁo recuaria era maior do que qualquer medo. — Eu sei onde piso — respondi firme. — E sei quem me protege agora. O silĂȘncio caiu, pesado e denso, carregando anos de tensĂŁo. Por um instante, senti que toda a minha vida havia sido resumida Ă quele segundo. Cada decisĂŁo que tomei, cada passo que dei longe dele, culminava naquele momento. — VocĂȘ vai se arrepender — ele murmurou, ameaçador, antes de sair batendo a porta. Respirei fundo. A tempestade nĂŁo era apenas interna — ela estava prestes a explodir, mas, pela primeira vez, senti que nĂŁo estava sozinha para enfrentĂĄ-la. Narrado por Kael Enquanto Olivia enfrentava o demĂŽnio dentro de casa, eu nĂŁo perdia tempo. Sabia que o pai dela nĂŁo brincava, e que qualquer vacilo poderia custar caro. Reuni meus aliados na base. Mapas, celulares, cĂąmeras, rĂĄdios — tudo preparado. Cada ponto estratĂ©gico, cada corredor, cada vizinho atento contava. Eu precisava proteger Olivia de todos os Ăąngulos. — O cara tĂĄ nervoso — disse Neto, passando a mĂŁo pelo rosto, o olhar carregado de tensĂŁo. — Esse confronto vai ser fogo puro. — Se ele acha que pode intimidar a Olivia, tĂĄ enganado. — respondi firme, minha voz carregada de certeza. — E se mexer com ela, mexe comigo. Planejamos o cerco como se fosse uma operação cirĂșrgica. Vigias em cada esquina, rotas de fuga, reforço na segurança. Nenhuma brecha para surpresa, nenhum detalhe deixado ao acaso. Cada aliado tinha função, cada olhar atento. Na noite do confronto, o clima estava denso, quase sufocante. Liguei para Olivia antes de sair, e ouvir a voz dela trĂȘmula me lembrou de tudo que estava em jogo. — TĂŽ chegando aĂ­ — falei, tentando transmitir segurança. — Kael... — ela respondeu, hesitando, a voz quase quebrando. — Tenho medo. — Medo Ă© normal — assegurei. — Mas vocĂȘ nĂŁo vai estar sozinha. Pode confiar. Cheguei Ă  casa dela, onde o pai jĂĄ esperava, cercado por capangas armados. A tensĂŁo era cortante, quase palpĂĄvel no ar. Cada passo que eu dava era medido, cada movimento observado. — O que vocĂȘ quer? — ele disparou, tentando se mostrar maior do que realmente era. — Quero que pare de mexer com a vida dela — respondi, firme, sem desviar o olhar. — Isso acaba agora. Os capangas cerraram os dentes, sacaram as armas, o clima se tornou eletrizante. Um segundo de distração poderia ser fatal. Eu agi rĂĄpido: empurrei Olivia para trĂĄs, protegendo-a, enquanto disparava algumas balas de advertĂȘncia no chĂŁo. O estrondo ecoou, o cheiro de pĂłlvora se misturando com a adrenalina que queimava nas veias. — Saiam daqui! — gritei. — Ou vĂŁo se arrepender. Um deles avançou, e o confronto se tornou corpo a corpo em alguns instantes, um jogo de reflexos e força. Olivia permaneceu ao meu lado, firme, respirando fundo, o medo presente, mas a coragem visĂ­vel em cada gesto. — Kael, toma cuidado! — ela gritou, a preocupação em sua voz me atravessando. A batalha foi intensa, curta, mas suficiente para enviar a mensagem: nĂŁo haveria trĂ©gua. Os capangas recuaram, e o pai de Olivia teve que aceitar que nĂŁo poderia intimidĂĄ-la mais. A presença de Kael, a organização, e a certeza de que ela nĂŁo estaria sozinha quebraram a vantagem dele. Depois que o silĂȘncio voltou, olhei para Olivia. A tensĂŁo ainda nĂŁo havia deixado nossos corpos, mas a certeza estava lĂĄ: ela nĂŁo estava sozinha. — TĂĄ vendo? — disse, firme, segurando sua mĂŁo. — VocĂȘ nĂŁo tĂĄ sozinha. Ela me olhou, olhos marejados, e eu senti a força que existia nela mesmo diante do medo. — Obrigada por estar aqui — sussurrou, a gratidĂŁo misturada com algo que ia alĂ©m do simples alĂ­vio. A guerra tinha começado, mas, pela primeira vez, senti que nĂŁo estĂĄvamos derrotados. Pelo contrĂĄrio, estĂĄvamos prontos para enfrentar qualquer tempestade que viesse. Ela, eu e a determinação silenciosa que nos unia. Cada passo adiante seria uma batalha, cada olhar, uma estratĂ©gia, cada palavra dita, uma promessa: o que começou como proteção agora se tornava compromisso. Proteger Olivia era mais do que obrigação; era uma escolha consciente de enfrentar o perigo de frente. A tempestade podia rugir ao redor, mas juntos, eu sabia, tĂ­nhamos uma chance de sobreviver.
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