Capítulo 5

1110 Palavras
Layla narrando Depois minha tia, se afastou de mim, seguimos para fora do aeroporto, para pegar um taxi. O aeroporto estava lotado, mas eu nem prestava atenção. Com minha irmãzinha dormindo em meus braços, eu apenas seguia minha tia Sema e minha prima Daiana até a saída. O calor do Rio a envolveu assim que cruzamos as portas automáticas. Pegamos um táxi, e a viagem foi silenciosa, exceto pelo burburinho da cidade. eu observava tudo pela janela, os muros grafitados e os vendedores ambulantes. Mas nada mim preparo para a visão que eu teve quando o carro parou ao pé do morro. Casas empilhadas, cada uma de uma cor, formando um mosaico vivo que subia até o céu. Eu fiquei impressionada. — Por Ala… — murmuro, encantada com a cena. – Era lindo. Rana começou a se mexer em seus braços, despertando devagar. — Já chegamos? — A vozinha sonolenta dela soou baixinho. — Sim, minha pequena. Mas pode ficar no meu colo mais um pouco, — Eu sussurro, dando um beijo na testa da minha irmã. Mas foi ao chegamos numa espécie de barreira que eu fiquei realmente impressionada. Homens armados, encostados nos muros, observavam cada movimento. Algumas armas eram grandes demais, pesadas, brilhando sob a luz. O meu coração acelero. — Ala… — sussurro, sentindo um frio na espinha. Daiana percebeu e riu. — Relaxa, Layla. Isso é normal. Os meninos são de boa, só protegem a favela. – Diz Tia Selma não perdeu tempo. Olhou para um dos rapazes e chamou: — Faísca! O jovem, que segurava um rádio na mão, se aproximou com um olhar atento. — Diz aí, dona Selma. — Avisar pro Tito que minha sobrinha chegou. Ela vai morar comigo. O Tal Faísca assentiu e pegou o rádio. — Ô chefia, a sobrinha da dona Sema chegou, com e tua mina posso libera? – pergunta e logo uma voz responde. — Ta liberando, sim faísca e qualquer coisa ajuda ai as mala da mina. – Diz Engulo em seco. Aquilo era um novo mundo para mim. E agora, era meu novo lar. Faísca afasto o rádio da boca e olhou para Dona Selma. — Tá liberado, pode subir. Tia Selma fez um gesto para mim e eu a seguir. Eu respiro fundo, tentando se acostumar com o ambiente, enquanto apertava Rana contra mim. Subimos os becos, desviando de crianças brincando e moradores sentados nas portas. O cheiro de comida no ar trouxe um calor familiar, mas eu ainda se sentia deslocada. Quando finalmente chegarmos à casa de minha tia, eu sentir um alívio ao ver um espaço aconchegante. A casa era simples mais muito bem arrumada, e acolhedora. ....... Dois meses depois Sessenta dias desde que Eu e Rana deixamos o caos da guerra e os corpos dos meus pais na Síria para encontrar refúgio no Brasil, mais precisamente na casa da tia Selma, num morro onde a paz era apenas um intervalo entre uma rajada e outra. No começo, tudo era estranho. A língua, os sons, os cheiros, a forma como as pessoas falavam alto, riam alto… ou atiravam. Mas com o tempo, Rana foi se adaptando. Fez amizade com os vizinhos, aprendeu palavras novas, começou até a sorrir de novo. Layla, por outro lado, continuava com o peito apertado. Não era só saudade da terra natal. Era o déjà-vu c***l. Na Síria, as decisões vinham com sangue. Aqui… também. A diferença era que, agora, ela não podia se esconder atrás do pai. Ou da mãe. Agora era ela quem tinha que proteger. E Selma, apesar da força nos olhos, já não era jovem. Já não aguentava calar a boca dos homens com a mesma firmeza. Na última cobrança, eu vi — com os meus próprios olhos como o Tito tava disposto a levar a minha tia para a tal cobrança. Eu não ia deixar minha tia apanhar. Nem morrer. Mesmo que isso significasse fazer o que mais odiava: se curvar. Se envolver. Se manchar. Era início de tarde quando o barulho do motor subindo a ladeira fez minha tia Selma espiar pela cortina. Um carro preto, nada discreto, paro em frente ao portão da casa, dele saiu Tito o homem que agora vivia como uma sombra atrás da minha tia. e uma mulher elegante, de salto alto e olhar afiado. Nada simpática. — É a tal da advogada. — Murmurou minha tia Selma, suspirando fundo. — Patrícia, eu acho. Eu aparece no corredor com o coração já pesado. Rana brincava com lápis de cor no chão da sala, alheia à tensão no ar. Ao ver Tito entrando, eu senti o meu estômago revirar. Ele tinha aquele sorriso preso no rosto, como se estivesse me fazendo um favor. — Boa tarde, princesa — disse, como se estivesse visitando parentes queridos. — Trouxe os papéis. A Dra. Patrícia vai te explicar tudo direitinho. A advogada estendeu a pasta com firmeza, sentando-se à mesa como quem já estava em casa. Abriu o fecho, tirou algumas folhas e começou a falar: — Isso aqui é só uma autorização simples. Formalidade. Diz que você vai visitar o detento por livre e espontânea vontade. E que não está sendo coagida a nada. Eu lanço um olhar direto e irônico. — Mas eu tô. Patrícia manteve o tom profissional. — Então assina e termina logo com isso. – Diz. Enquanto eu assinava com as mãos trêmulas, Tito tiro uma folha amassada do bolso e coloco sobre a mesa com um tapinha leve. — Isso aqui é a lista. Do Hades ele é cheio de exigência — disse, rindo como se fosse piada. — Arroz parboilizado, carne seca, suco de caixinha, bolacha importada, sabão líquido, cigarro mentolado, chocolate, sabonete antialérgico… não é pouca coisa, não. — Como é que ele quer isso tudo? Eu não tenho como compra isso aqui. Tito colocou a mão no bolso e puxou um masso de Dinheiro e colocou na minha mão. — Um carro vem te buscar no sábado. Um dos nossos vai te acompanhar até a porta da cadeia. E ele vai deixar um trocado contigo mas vê se não inventa de sumir com o dinheiro, hein? Esse homem não perdoa vacilo. Eu mordo o meu lábio inferior, engolindo a raiva e o medo ao mesmo tempo. — Tá. — É isso, então. — disse ele, se levantando. — Sábado. Se prepara. Quando o carro sumiu rua abaixo, eu ainda encarava a lista como se fosse uma sentença. Minha tia se aproximo e colocou a mão no meu ombro. — Você não devia tá metida nisso, filha. Eu não responde. Eu tava pensando em como o inferno, às vezes, não tinha chamas.
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