A Caçada ao Segredo
O ódio de Daniel (38) era agora uma ferramenta precisa. Ele não podia mais atacá-la legalmente no caso PHOENIX, mas a mentira dela o havia desarmado e rearmado. Ele precisava do diário para entender a anatomia da traição, para saber se ela o havia abandonado por desprezo ou, como ela alegava, por uma versão doentia de amor.
Ele dirigiu até o luxuoso hotel onde Helena (36) estava hospedada, entrando em sua suíte sem cerimônia, usando a chave de segurança que a gerência do hotel lhe forneceu, citando uma "emergência legal de alto risco" que o Promotor Albuquerque não costumava ter que justificar.
A suíte era um santuário de ordem e controle. Nenhuma evidência de desordem, exceto por uma leve bagunça na mesa de café, onde os documentos da PHOENIX se misturavam aos artigos pessoais.
— Se aquele diário está aqui, está escondido, não jogado. — Daniel murmurou para si mesmo.
Ele vasculhou o escritório de Helena, abrindo as pastas de couro, revirando pilhas de papéis. A ironia não o perdeu: ele, o Promotor da Comarca, estava invadindo a privacidade de sua adversária legal e mãe de seu filho.
A busca o levou ao quarto. A cama king-size estava feita com precisão militar. Ele passou os olhos pelos closets, cheios de tailleurs e vestidos caros. Aquela vida era o oposto daquela que ele se lembrava dela, a garota que vestia jeans rasgados e sonhava com justiça social.
Lucas (18) havia dito: "Diário". Onde um jovem esconderia um segredo da mãe?
Daniel revirou a biblioteca anexa, passando pelas pilhas de jurisprudência que ele sabia que Helena não leria por lazer. Então, seus olhos caíram sobre a prateleira inferior, atrás dos volumes mais antigos e empoeirados.
Ele moveu os livros e encontrou a caixa de madeira. Estava destrancada.
Lá dentro, entre cartas amareladas e cadernos de faculdade, estava o objeto de sua caçada: o diário de capa de couro marrom.
As mãos de Daniel tremeram ao abri-lo. As páginas se abriram diretamente na fatídica entrada: “10 de outubro. Eu estou grávida. G. R. Á. V. I. D. A.”
Ele leu a decisão dela de fugir, de protegê-lo de um futuro "caótico" que a presença de um filho ilegítimo poderia lhe impor. A cada frase, a raiva de Daniel diminuía, substituída por uma dor dilacerante. Ela não o abandonou por desprezo. Ela o abandonou por uma Minha Escolha egoísta e torta, convencida de que ele seria mais feliz sem ela e sem Lucas.
A fúria voltou: ela o havia subestimado. Ela havia decidido por ele.
Enquanto Daniel revirava o passado de Helena, Viviane (34) movia suas peças.
A fúria de Viviane era o oxigênio de sua ambição. A verdade da paternidade de Lucas não a intimidou; apenas lhe deu um alvo mais pessoal. Se ela não podia ter Daniel, e se Helena representava um obstáculo permanente, ela iria destruí-la de forma irremediável.
Viviane ligou para seu contato nos jornais sensacionalistas da cidade, um editor que adorava um bom escândalo de colarinho branco.
— Tenho uma história para você. Um escândalo que envolve o Promotor Daniel Albuquerque e a Doutora Helena Monteiro. — Viviane não revelou toda a verdade, apenas o suficiente para causar o caos. — A Doutora Monteiro tentou sabotar um mandado judicial na noite passada, em uma propriedade de luxo. A história de cobertura? Ela estava lá com seu jovem amante tentando mover ativos da PHOENIX TECNOLOGIA. O jovem acabou sofrendo um acidente grave, e a Doutora Monteiro está usando o hospital para esconder o caso de evasão.
— E o Promotor Albuquerque? — O editor perguntou, com a voz carregada de interesse.
— Ele tentou impor a lei, mas a Doutora Monteiro usou a chantagem emocional. Ele está comprometido. A história é: Advogada de Fraude USA Acidente de Amante Jovem para Chantagear Promotor.
A semente da mentira foi plantada. Viviane sabia que, mesmo que Daniel e Helena tentassem desmentir a parte do "amante", a reputação de Helena como advogada seria irremediavelmente manchada. O caso PHOENIX morreria. E a atenção da mídia exporia todos ao ridículo.
Daniel terminou de ler o diário, fechando-o com um estrondo silencioso. Ele sentia-se invadido pela necessidade de confrontá-la, não com a lei, mas com a dor.
Ele voltou para o hospital, encontrando Helena na cafeteria, com os olhos vermelhos e cansados, falando ao telefone com sua equipe legal sobre os últimos acontecimentos.
— ...Não, não há evasão. Foi um erro, uma suspeita infundada. Precisamos garantir a estabilidade da PHOENIX e focar no...
Daniel jogou o diário na mesa, interrompendo a chamada.
— Por que você não me disse?! — A voz dele era baixa, mas estrondosa. — Por que você decidiu o meu futuro? Você me tirou o direito de ser pai, Helena!
Helena olhou para o diário, seu último segredo exposto. — Eu fiz o que achei certo! Eu era jovem! Eu vi o seu potencial! Eu não queria que a nossa paixão te destruísse!
— Você me destruiu! — Ele agarrou a mesa, a fúria o consumindo. — Eu te odiei por dezoito anos, e esse ódio me levou a atacar o meu próprio filho!
Antes que Helena pudesse responder, o telefone de Daniel tocou. Era Viviane.
— Daniel, não me ligue... Eu apenas queria te avisar. O jornal da tarde vai sair em trinta minutos. Eu não pude parar a história. — A voz de Viviane era falsa, cheia de lamentação. — A história é que a Doutora Monteiro usou um amante para sabotar um mandado judicial na mansão, e agora está chantageando você com o acidente dele. Me desculpe, Daniel.
Daniel desligou, o rosto branco. Ele olhou para Helena.
— O que você fez agora? — Helena estava confusa.
Daniel lhe estendeu o telefone, mostrando-lhe a manchete que Viviane havia ditado. A mentira da traição estava agora estampada em letra garrafal.
— Viviane. — Daniel rosnou, entendendo a armadilha. Ela não podia atacá-los legalmente, então os atacou publicamente.
Helena pegou o telefone, lendo a manchete. Ela sentiu o golpe fatal. Não era apenas sobre o caso PHOENIX; era sobre a sua credibilidade, sobre a exposição de Lucas, o amante, o paciente.
— Eu não fiz isso! — Helena disse, o desespero voltando. — Eu juro, eu nunca tentei chantagear você!
— Eu sei. — Daniel disse, a voz cheia de exaustão. Ele acreditava nela. A verdade no diário superava a mentira da manchete. — Mas o mundo não sabe. E agora, o mundo pensa que o nosso filho é o seu amante e que você é uma criminosa.
Daniel olhou para o diário na mesa. A verdade estava ali, escrita em páginas desbotadas. Mas a mentira estava agora impressa em milhares de jornais. A única maneira de proteger Lucas era confrontar Viviane e a mídia, juntos.
— Vamos. — Daniel pegou o diário. — Temos que voltar para o tribunal.