Duplo Imprinting

Capítulo 4

Prefiro falar com meu primo na hora que ele chegar, mas, pode ser que não seja nada, afinal, ele também mora perto da floresta, deve ser cisma nossa, sei lá, ainda assim, esse assunto me deixa com a pulga atrás da orelha.

Tomo meu banho, e vou me arrumar, escolho uma calça jeans branca, uma regata cinza e uma jaqueta jeans, prendo meu cabelo em um coque frouxo, confiro meu material, e então desço para tomar o café da manhã, e me surpreendo ao ver que o chato já está aqui.

— Bom dia família. — digo já me juntando a eles.

— Bom dia querida. — disse minha mãe enquanto cortava o bolo.

— Belo dia filha. — meu pai está bem animado hoje.

— Achei que não ia descer nunca baixinha. — disse meu primo com a boca cheia.

— Nem vem, eu levo menos tempo para me arrumar do que você, pode ter certeza. Termina de engolir antes de falar, fica aí tagarelando de boca cheia.

— Primeiro que você está errada, eu me arrumo mais rápido e segundo, você não manda nem no seu nariz ainda pirralha, acha que manda na minha boca. — disse o meu primo super adulto e maduro, que logo em seguida mostrou a língua para mim.

— O que você tem de idade, falta de maturidade querido primo idoso.

— Fico feliz em ver que certas coisas nunca mudam né, passe o tempo que for, vocês dois não se separam, ficam nessa implicância aí, mas, sempre cuidam um do outro. — minha mãe ama falar isso, já estamos até acostumados, mas, ela está certa, eu e o meu primo nos damos muito bem e espero que seja sempre assim.

Como o delicioso bolo de baunilha da minha mãe e tomo meu café com leite.

— Volto já.

— Aquela minha escova de dentes ainda está aqui baixinha?

— Sim, vem logo.

Subimos as escadas correndo que nem duas crianças, escovei os dentes, e passei um batom rosa-claro, e rímel, enquanto isso meu primo escovou os dentes, e não parou de olhar para floresta nem por um segundo.

— Yuri, você vai acabar ficando paranóico desse jeito.

Assim que ele terminou, ele respondeu.

— Ok, pode até ser que eu fique, mas, acho isso muito sinistro, essa sensação de estar sendo observado, principalmente a noite, outro dia escutei um uivo, que me deixou mais assustado ainda, e juro para você que se eu tivesse dinheiro e não dependesse dos meus paia, eu mudava de casa, de cidade até, desde que eu vim para cá, tenho essa sensação estranha, mas, já faz uns três dias, que ficou ainda pior.

Certo, tô vendo que a coisa não está muito boa para o nosso lado.

— Desde que eu mudei para cá, já sentia algo estranho, mas, de um tempo para cá, tudo se intensificou, a começar por esses arrepios, que só pioram tudo.

— Eu ficava te zoando por causa disso, e agora eu que estou nessa situação, que ironia hein prima.

Tive que rir, é a mais pura verdade, ele ficava zombando de mim, parece que o jogo virou não é mesmo?

Peguei minha mochila, nos despedimos dos meus pais, e fomos para a escola.

— Vamos mudar de assunto baixinha, esse papo já está ficando sinistro demais.

— Concordo plenamente.

— Prima, eu sei que pode parecer rápido demais e tal, mas, eu tive a impressão de que o Mattew gosta de você, os olhos dele até brilhavam quando ele ia olhar para você, eu se fosse você não perdia tempo, e dava idéia pro novato, assim você finalmente pode desencalhar, ou quem sabe você prefira o Bernardo, ele também parece estar afim de você, cara, seria uma ótima disputa, de um lado, Bernardo, garoto calmo, atencioso e parece ser bem romântico, com aquele ar de menino puro, quase um príncipe disputando o coração da bela donzela, do outro lado Mattew, o novato, simpático e engraçado, com aquele ar de mistério, eu o compararia ao Jacob ou o Edward daquele filme que você adora, tipo, ele tem um jeitinho de ser bem protetor, faria tudo por sua amada. Isso sim que eu chamo de uma escolha difícil.

— i****a, você desencalha e já quer arrumar namorado para mim? Os dois te pagaram quanto por essa propaganda hein? Fala sério, você bem que gostava de crepúsculo, e de onde você tirou essa fantasia toda? Bernardo, o príncipe que lutaria pelo coração da sua bela donzela, versus, Mattew, o misterioso, que faria de tudo para proteger a sua amada? Eu diria que o amor, está mexendo com seus neurônios, e que você só pode estar ficando louco, falando que o Mat gosta de mim, foi só um dia de convivência e você já criou suas teorias.

Nós dois rimos, esse Yuri, nunca muda mesmo, lembro quando eu tinha uns 12 anos, e ele ficava falando dos amigos dele para mim e dizia que era para escolher um, e falava que ia forçar o garoto a ir na minha casa, conversar com meus pais, para a gente namorar, esse meu primo não presta, queria saber quando tempo ele levou para planejar essas descrições.

— Não vou falar mais nada, por enquanto, só digo uma coisa, grava bem ai na sua memória isso que eu disse e depois me fala se eu estava certo ou não, eu tenho certeza que você vai me dar razão algum dia, vou repetir, não esquece não. Bernardo, o garoto romântico, quase um príncipe que vai lutar pelo coração da bela donzela, e Mattew, o simpático e misterioso, que sempre ira proteger a sua amada.

Da primeira vez ele disse isso rindo, já agora, foi totalmente sério, ele leva suas brincadeiras muito a sério.

— Anotado primo vidente.

– Eu não diria vidente, eu diria observador, e além do mais, eu sou homem, sei reconhecer quando um garoto está afim da minha bela prima, mas, como eu disse, não vou falar mais disso, por enquanto.

Tenho que torcer para que ele não fale mesmo.

Ele se aproximou de mim, me deu um beijo na testa, depois deu uma piscadinha.

— Boa aula baixinha, te vejo no intervalo, me espera na sala. — ele disse já se afastando de mim.

Assim que cheguei na sala, me surpreendi ao ver que a Daiana estava sentada no meu lugar, já que é assim, vou me sentar no lugar dela, creio que duas podem jogar esse mesmo jogo. Ela ainda não me viu aqui, então, m*l posso esperar para quando isso acontecer.

Assim que eu me sentei, ela se virou, me encarou, mas, não falou nada.

Pouco tempo, depois, o Mattew e o Jeremy chegam, o Mat me olha, e em seguida, olha para frente, já o Jeremy, se senta do meu lado, quando isso acontece, tenho a impressão de que o Mat cerra os punhos, mas, logo, parece se tranquilizar.

— Bom dia linda.

— Bom dia Mat.

Ele colocou a mochila na sua cadeira e então foi conversar com a Daiana, ótimo, parece que eu perdi mesmo o meu lugar.

— Bom dia Lara, vejo que já estão ficando bem próximos, se tratando por apelidinhos e tal. — disse o Jeremy com um certo tom de deboche.

— Bom dia para você também, bom, não sei se você já reparou, mas, a gente senta um ao lado do outro, então acho bem normal, a gente se tratar bem, conversar, e até usarmos apelidos, se for da nossa vontade, e você não tem nada a ver com isso.

Só o que me faltava o garoto nem me conhece e já está se intrometendo na minha vida.

Olho para frente, e vejo que a Daiana e o Mattew estão olhando para nós, poucos segundos depois, vejo ela pegando sua mochila e vindo na nossa direção.

— Ficar na frente é um tédio. — ela disse colocando sua mochila na mesa.

Eu peguei a minha mochila e me levantei.

— Ótimo, fico feliz por pensar dessa maneira, tédio maior seria ter que ficar aqui no seu lugar, só dois chatos conseguem se aturar, e com certeza aqui é o seu lugar.

Me sentei no meu lugar.

— Como você suporta esses dois Mat?

Ele sorriu, estava precisando desse sorriso.

— Missão quase impossível linda.

— Acho que você convenceu ela a sair daqui, o que você falou para conseguir isso?

— Eu falei que se ela ficasse aqui, o Jeremy ficaria lá do seu lado, tentando te conquistar, aí ela olhou para trás e viu vocês conversando, e percebeu que eu poderia estar certo.

— Ela gosta dele? E ainda sim, só para implicar comigo sentou longe dele. É chata mesmo hein.

— Ela gosta sim, e ver vocês conversando foi terrível para ela.

— Ótimo, ficamos quites então, ela quis me tirar do sério, mas, eu que acabei tirando ela. E eu não diria que o amado dela daria em cima de mim, porque ele é chato igual ela, eles com certeza, foram feitos um para o outro.

— Que bom que você pensa assim. — ele disse baixinho.

— O quê? — finjo que não ouvi.

— Eu perguntei, o que ele te disse para você pensar assim? — será que o Yuri está certo, e o Mat está afim de mim? Meu primo falou tanto que acho que é coisa da minha cabeça mesmo.

— Ele veio falar com tom de deboche, que a gente já estava até se chamando por apelidinho, como se isso fosse da conta dele, eu me intrometi na discussão de vocês, mas, isso não quer dizer que ele tem direito de se intrometer em como eu chamo as pessoas, ou elas me chamam.

— Deixa ele para lá, ele não é chato sempre, pelo menos não com pessoas que ele não conhece, isso deve ser culpa da Daiana, certeza, que ela falou alguma coisa que o irritou.

— Que seja, mas, eu não tenho culpa.

— Eu sei linda, mas, é difícil entender o que se passa na cabeça das outras pessoas.

— Você está certo.

Os três primeiros horários, foram tranquilos, eu nem tive tempo para conversar, duas aulas de matemática seguidas, e só exercícios complicados, e uma de português, a professora já briga só de olhar para o lado, agora finalmente já é o intervalo.

— Vai ficar na sala? — Mat perguntou já se levantando.

— Vou só esperar o Yuri.

— Entendo, bom, vou lá fora um pouco.

— Até logo então.

— Até.

Quase todos saem da sala, e até agora meu primo não chegou.

Uns cinco minutos depois ele aparece na porta e me chama, quando estava prestes a sair, a Daiana joga o conteúdo que estava em seu copo, na minha calça, e para completar a m***a toda, parece ser suco de uva, bem na minha calça branca, cretina.

— Você só pode ter ficado louca — eu disse já me aproximando mais dela —, qual é o seu problema comigo garota? O que eu fiz para ganhar o seu ódio dessa maneira?

— Quer saber mesmo? — ela disse bastante exaltada enquanto se levantava —, eu te detesto, odeio o fato de ter que estar aqui, bem na sua frente, de ter que estudar na mesma escola, e pior, na mesma sala que você, cara, você me tira do sério, pelo simples fato de ser você, consegue entender? Você é uma sonsa, e para o seu próprio bem, se eu fosse você, sairia logo da minha frente.

— Olha só, ela querendo dar uma de conselheira, para começar, você que quis implicar comigo desde o início, sem ao menos saber meu nome, depois veio querer brigar comigo, simplesmente do nada, e agora vem querer bancar a louca e jogar coisas em mim, para ajudar ainda vem dizer para que eu saia da sua frente, garota, você é mais sonsa do que aparenta ser, que tipo de i****a você é, que caça confusão e depois me falar para sair da sua frente?

Quando eu estava prestes a ir para cima dela, o Yuri aparece e fica entre nós, seguido do Mattew que me analisou e em seguida se aproximou de mim.

— Lara, está tudo bem com você? — ele perguntou enquanto lançava um olhar de repreensão para a Daiana.