CAPÍTULO 2 - RICK

1944 Palavras
Atravesso o corredor e paro no balcão, encarando Olivia, a magricela que tem um caso secreto com o diretor de publicidade, casado, o mesmo que tem um caso com a secretária pessoa, uma das meninas do marketing e uma do almoxarifado, embora essa é mais reservada. Pobres mulheres, estão jogando na loteria com ele, m*l sabe ela das probabilidades de ganhar. Mas também, o diretor de de publicidade era um Deus grego, do tipo que se der mole, você cai, mas não qualquer tombo. Já disse que sou ótimo em descobrir as coisas? Então. A mulher me encara com uma expressão séria, eu deslizo a documentação rabiscada com um x do tamanho da America e ela olha sem entender. – Rick – Eu respiro fundo, vendo que ela já entendeu que o problema vai vai ser com nosso chefe, que nessa altura não era mais para ser meu chefe. Todos aqui conhece Ian, ninguém bate de frente tão abertamente, quando isso acontece, geralmente, uma das duas partes é prejudicada, raramente é o lado dele. – Aquele filho da p**a acha que vai me segurar com um contrato? – Balanço a cabeça, me movendo impaciente. Ele havia negado minha carta de demissão, nessa altura do campeonato nem carta de referência eu podia ter. – Mandamos a documentação mais cedo, mas ele mesmo veio aqui e falou pra ignorar o seu pedido de rescisão, lamento, não sou eu que decide. Olivia está sendo passiva, controlada, sabe o chefe endemoniado que tem. – Ótimo, agora ele quer me segurar nessa joça! – Você quer realmente sair, Rick? Balanço a cabeça, era uma decisão que já estava escolhida e fechada, sem retorno ou nada. Eu só precisava agora desfazer o contrato que me ligava na revista. – Essa bundinha não foi feita pra sentar em uma cadeira – Olivia disfarça o sorriso, enquanto eu sumo dali, direto para o vigésimo terceiro andar, quando passo pela ruiva peituda, que ele come pra impressionar os outros, eu entro na sala do digníssimo. Ele ergue o olhar assim que me vê, me encarando surpreso, me aproximo da mesa, faço uma bola de papel com o papel e jogo nele. Ah, no meu lugar vocês fariam o mesmo. Ele me olha com aqueles olhos verdes, como se quisesse apertar meu pescoço, e não estamos falando de s**o pessoal. – Rick? O que faz aqui? Pra que isso? - Fala, pegando a bola de papel. – Era pra enfiar no seu **! – Olho e ele responde, se levantando da mesa e dando a volta, quando penso que ele vai parar, ele vai pra porta e bate ela com força, eu me viro pra encarar o homem, que arregaça as mangas da camisa e se aproxima de novo, a gravata encaixada é verde, assim como os olhos verdes. – Ninguém vai me segurar em lugar nenhum, não vou ficar dentro dessa revista por sua causa, eu não me prendo por causa de ninguém. Eu sou livre e eu vou sair Ian – Ele fica parado, calado, me encarando, sem se mexer, respirando devagar. Viram, ele é um filhote de ratazana. Rato miserável. – Acabou, flor? - Dou uma risada, totalmente chocada com a ousadia dele. – Não te dei i********e. – Ah, não? – Eu bufo irritado. Ele suspira, dando os ombros. – Rick, eu não vou deixar você sair assim, você sabe disso, sabia disso quando meses atrás você entrou aqui e começou a tentar me testar. Você teve resultado? Solto uma risada nervosa. O que ele quer que eu digo? Que a culpa foi minha? Que fui apenas eu que fiz as coisas sujas no último fim de semana. Meu p*u recheado, isso sim. – Sim, você realmente gosta de homem, confirmei o que eu já sabia – Digo firme. – Pois então, agora aguente. – Eu não vou aguentar petulância de "macho" escroto Ian, nunca aguentei e nem vou aguentar. Ainda mais um que paga de hetero. Ele nem se abala comigo falando aquilo, aquilo me deixa com raiva e com vontade de grampiar as bola dele na cadeira estofada dele, bem devagar, grampo por grampo, até ele pedir pra par porque está doendo. – Você não vai sair daqui – Ele para no aparador, perto da vidraça perto da mesa. – Você sabe que se envolveu comigo Rick, sabe que isso é entre mim e você. Ele está fazendo de novo. Anotem aí, Ian manipula a cena pro lado dele. Tenta ficar por cima sempre, até na cama, na vida não era diferente. – Eu não fui o primeiro cara, não vou ser seu último. – Mas foi o que mais me interessou – Solto uma risada. – Qual é a graça, Rick? Suspiro fundo, onde ele está querendo chegar? Na bozolandia, com esse circo todo? – Acha que por isso vou ficar? Que vou dar pra você de novo? – Sim – Quando ele se vira ele segura dois copos de bebida, se aproximando e erguendo um na minha direção. – Eu gosto de você. As palavras deles queimam escondidas dentro de mim, mesmo sabendo que nada disso é suficiente pra mim, que eu não era nenhuma vaca sem coração, que eu tinha sentimentos. Minha sensibilidade era aguçada, mas a forma que eu sentia era a mesma de um rapaz da minha idade. O silêncio. A cabeça agitada. E a sensibilidade entra agora, mas claro, a sensibilidade de uma moça abusada. Por que ele tinha que fazer isso comigo? – Gosta nada, seu p*u no r**o! – Falo depressa. – Você não gosta nem mesmo de você, do que você gosta, eu não acho que vá gostar de alguém sem antes se gostar. Ele fica calado, ele sabe do que eu falo. Essa coisa de ficar com que não se assume não dá pra mim, não cola, não faz sentido, ainda mais quando eu gosto da pessoa e quero mais que ser apenas um rostinho bonito e uma b***a sexy e gostosa. – Me escute – Ele deixa o copo na mesa e vira o dele, deslizando o copo na mesa. – Rick, eu sou o primogênito da minha família, cuido dessa revista com o meu sangue, eu não posso falhar. Minha família me afastaria e essa empresa ficaria deixada, eu me preparei a vida inteira pra isso. Tenho que ser isso, lamento por ter que fazer isso com você. Aí está, a raiz do problema. Meu problema é ele, mas o problema dele, bem, tem sido a família. – Eu não falhei por ser um cara que gosta de outros caras – Eu me aproximo dele. – Pelo contrário Ian, eu fiz o meu melhor pra ninguém apontar o dedo pra mim. As pessoas te cobram duas vezes mas, você deve imaginar isso – Ele me encara fundo. – Minha família não me aceitou, com 14 anos eu saí de casa chutado como um cachorro, eu tive pessoas que me aceitaram. Eu me preparei pra ser o que sou hoje. Eu tento falar com ele, dar uma dose de ânimo e até coragem, mas ele me olha e balança a cabeça em negativa, com um bendito cabeça duro covarde. – Somos diferentes – Ele dá mais um passo na minha direção, fica tão próximo que posso sentir o hálito quente e o cheiro pesado do perfume. – Até quando vai esconder o que tem aqui? – Ergo a mão e bato no peito dele. – Eu não sou gay! – Você não se identifica com gay Ian, por que você não é afeminado? Na verdade ser gay é apenas um adjetivo que deram pra gente. Isso é um adjetivo com muita história, isso é uma coisa rasa comparada o que realmente tem por trás – Ele ergue a mão e pega a minha, apertando contra o peito. – Você sabe disso. Ele se inclina um pouco para frente, os ombros largos e a forma que a boca fica entreaberta, meu corpo treme e eu me encolho, o tamanho de quase um e noventa fica evidente e o porte atlético. O cara perfeito para sediar isso. Feito em um laboratório. Testado meticulosamente. – Para – Pede. – O que você faz não é o que você é. – Você não me entende, não é? – Entendo que você é fachada, pegando cada uma daquelas mulheres e no fim da noite – Eu aperto minha mão na direção do peito dele. – O vazio está aqui, e sem sentido, chega a pensar que é errado, imoral o que fez, mas no fundo foi sem sentido, sem desejo real, apenas um prazer monótono. Esse mesmo desejo vai carregar você, vai fazer você se casar por fachada daqui uns anos, vai fazer seu casamento não dar certo de verdade, vai fazer você não ser o melhor pai do mundo, talvez você vire um refugiado em meio aos segredos, quando velho se separa ou pior, se envolve com alguém e tudo desabe, a fachada cai. – Isso é algum tipo de praga?! – Ele solta a minha mão, vejo o nervosismo, os olhos faiscando. Ian sempre era assim, temperamental, exigente e ofensivo. – Não preciso de você me falando isso, mas você não vai sair daqui, vai ficar perto de mim. – Ian – Ele balança a cabeça, os cabelos escuros balançam. – Você é meu – Ele se vira pra mim, tenta se aproximar e eu me afasto. – Longe, seu neandertal das cavernas. – Não pode simplesmente fechar a sua boca, ficar nessa revista, fazer seu trabalho e ficar comigo de uma vez? Gargalho . – É isso que quer? Manter um segredinho sujo? – Sim, isso é o que eu posso oferecer. Não pode esperar algo sério, mas minha companhia – Fico parado. – Por favor, não pode me deixar agora, eu preciso de você, sabe disso. – A revista vai de vento e polpa, tem mais uma lista de fotógrafos e eu não sou mais necessário – Fico parado. – E eu não preciso de você pra nada, nem pra esquentar minha cama. Não vou me envolver por s**o, não apenas s**o. – Sabe que você dá certo comigo Rick, você sabe. Respiro fundo, respirando e segurando aquelas palavras engasgada, quando volto a encarar ele, eu me xingo, abro e fecho a boca. E no auge, eu desabo, refletindo algo que eu nunca iria falar na minha vidinha toda. Meu doce diva cor de rosa. Minha Santa Mercedes. – Isso não é o suficiente para mim. Eu acabo aquilo. E com essa frase o caminho é único. Quando falamos essa frase estamos no expondo, por isso, você nunca usa ela com qualquer um. Neste "Isso não é suficiente pra mim" o ser está se mostrando tudo que deve ficar bem guardado, de preferência em uma caixinha púrpura no fundo da gaveta, naquela que você guarda tudo de mais secreto. Eu acabo de mostrar fragilidade diante outra pessoa. Porra Rick, ainda mais de quem? Ele não vai entender o que você quer e precisa dele, o que você espera. E quando ele fica calado, eu sei que essa fragilidade e meu orgulho foi pro inferno, dançar com o cão de calcinha rosa. – Eu não posso ser o que você espera – A voz dele sai fria. – E por isso que eu vou me afastar querido Ian, pra não ser mais r**m do que já está sendo – Eu me movo para porta. – Rick – Paro antes de abrir a porta, erguendo o olhar por cima dos ombros. – Estou gostando de você. E por isso que eu não vou deixar você ir assim. Infeliz de m***a.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR