Há cerca de dois meses, eu, Daria, 31 anos, me casei com o amor da minha vida, Evan de 33 anos. Desde então, tenho vivido um sonho: casada com um advogado bem-sucedido que me ama e cuida de mim. Ele é atencioso e gentil. Eu tenho um ótimo emprego como professora infantil, embora esteja afastada devido à gravidez de 7 meses. Sinto saudade de estar em uma sala de aula ensinando meus alunos.
Mas, essa saudade não vem ao caso. Era apenas mais um dia comum, como os outros desde que me afastei do trabalho. Eu estava sentada no sofá, lendo um livro de romance e aguardando meu marido. A TV estava ligada, passando o jornal. Enquanto eu lia, ouvi uma reportagem sobre o desaparecimento de uma garotinha há 27 anos. Prestei atenção, pois o nome do meu marido foi citado; ele será o novo advogado no caso. Quanto mais ouvia o jornalista falar sobre isso, mais fascinada eu ficava. Algo sobre esse caso me cativou profundamente; eu estava intrigada com o desaparecimento dessa menina.
As horas passaram. Pesquisei sobre a garota e, após alguns minutos, peguei meu celular e liguei para meu marido. Ele atendeu rapidamente.
— Oi, amor, tudo bem?
— Oi, princesa. Estou ótimo. E você? Como está nosso bebê?
— Estou bem, e o bebê também. Amor... — dei uma rápida pausa. — Eu vi sobre seu novo caso na TV.
— Você viu mesmo? É um caso complicado. Estava arquivado, mas surgiram novas pistas e me chamaram para ajudar. Quero defender um dos suspeitos.
— Boa sorte. Você acha que esse suspeito realmente está envolvido?
— Não posso ter certeza, meu amor. Meu trabalho é tentar provar a inocência dele.
— Eu entendo. Pensei muito desde que ouvi sobre o caso. E se essa criança desaparecida for minha irmã?
Assim que mencionei isso, Evan começou a responder, mas o sinal estava r**m e eu não consegui entender o que ele dizia. A ligação caiu. Talvez ele estivesse passando por um túnel ou o sinal simplesmente oscilou. Peguei meu notebook e continuei pesquisando. Encontrei fotos das roupas encontradas com a garota desaparecida, e uma delas parecia familiar. De algum modo, eu tinha a sensação de já ter visto aquela roupa em algum lugar próximo a mim. Guardei o notebook, deitei na cama e passei o resto do dia pensando sobre essa roupa. Não é uma peça comum; é algo que eu não consigo explicar. E se for realmente minha irmã? Tenho pequenos flashbacks desde meus 10 anos; lembro-me de uma garotinha e de ter uma irmã, mas aparentemente perdi essas memórias a partir dos meus 4 anos.
No dia seguinte, a inquietação em mim só aumentava. A lembrança da roupa e a sensação de déjà vu não me deixavam em paz. Decidi então que precisava conversar com Evan sobre minhas preocupações, mas ele estava ocupado com o novo caso. Resolvi fazer mais algumas pesquisas por conta própria.
Voltei a vasculhar notícias antigas sobre o desaparecimento e encontrei um detalhe que me chamou a atenção: uma testemunha havia descrito a menina desaparecida com uma peculiaridade que se assemelhava a uma característica da minha infância. Era uma marca de nascença discreta, mas que poderia ser um indício.
Minhas mãos tremiam enquanto pegava o telefone e ligava para minha mãe. Depois de algumas tentativas, ela finalmente atendeu.
— Olá, mãe. Eu preciso conversar com você sobre algo sério.
— Oi, Daria. Está tudo bem?
— Na verdade, não. Eu estou investigando um caso de desaparecimento e… há algo que eu preciso saber sobre minha infância. Você se lembra se eu tinha uma irmã mais nova?
Houve um silêncio longo do outro lado da linha, o que me fez sentir um nó na garganta.
— Daria, por que você está perguntando isso agora? — perguntou minha mãe, com a voz tensa.
— Eu vi algo na TV e… a descrição da menina desaparecida me fez pensar. Eu me lembro vagamente de uma garotinha, mas depois disso, minhas memórias são vagas.
A voz da minha mãe soou preocupada e eu podia ouvir um suspiro profundo.
— Eu não sei se é o momento certo para isso, mas… sim, você tinha uma irmã mais nova. Ela desapareceu quando vocês eram pequenas. Foi um momento difícil para nossa família e, para proteger você, decidimos não falar muito sobre isso.
Meu coração acelerou. Eu nunca havia ouvido essa parte da história. A revelação deixou-me chocada e ao mesmo tempo determinada. Se aquela menina desaparecida era realmente minha irmã, eu precisava saber a verdade e ajudar a trazê-la de volta.
Após a conversa com minha mãe, resolvi ir ao escritório de Evan. Eu precisava falar com ele pessoalmente. Quando cheguei, a tensão estava no ar, e o ambiente estava repleto de documentos e investigações. Evan estava concentrado em seu trabalho.
— Amor, precisamos conversar — disse, interrompendo-o.
Ele olhou para mim, surpreso e preocupado.
— Claro, o que aconteceu?
Expliquei a ele a revelação da minha mãe e o que descobri durante minhas pesquisas. Evan me ouviu atentamente e, quando terminei, ele parecia profundamente afetado.
— Isso muda tudo — disse ele. — Se você está certa, isso pode ter implicações enormes para o caso e para nossas vidas. Vou fazer o possível para descobrir a verdade, e juntos vamos resolver isso.
Eu senti um alívio ao saber que Evan estava ao meu lado. A incerteza ainda pairava sobre nós, mas a busca pela verdade e pelo reencontro com minha irmã me dava uma nova razão para enfrentar o que viria pela frente.
Enquanto deixávamos o escritório e voltávamos para casa, a sensação de esperança e determinação crescia em mim. A jornada estava apenas começando, mas eu estava pronta para enfrentar qualquer desafio, na busca por justiça e pela verdade sobre minha família.
Eu estava sentada na cozinha, ainda processando a conversa com minha mãe. Eu sabia que precisava de mais informações, mas, por enquanto, estava decidida a dar um tempo para que as coisas se acalmassem. No entanto, meu telefone tocou. Era um número desconhecido, mas, naquelas circunstâncias, qualquer contato parecia importante.
— Daria, é a sua mãe — a voz dela estava carregada de uma tensão que eu não tinha notado antes.
— Oi, mãe. O que aconteceu?
— Eu… eu preciso te pedir um favor — a voz dela vacilou. — Por favor, não continue com a investigação sobre sua irmã.
O pedido a pegou de surpresa. Eu franzi a testa, confusa.
— O que? Mas eu preciso entender o que aconteceu. É minha irmã, mãe. Eu…
— Eu sei, querida, mas isso pode ser perigoso. Não é apenas sobre o que aconteceu no passado, mas sobre o que pode ainda estar acontecendo — a voz da minha mãe estava desesperada. — Já fizemos o melhor que pudemos para proteger você de tudo isso. Por favor, Daria, não insista. É melhor para todos nós.
Senti um nó na garganta e um frio na espinha. A súplica de minha mãe soava mais como um aviso do que um simples pedido. Havia um medo palpável em cada palavra.
— Mas por que você não quer que eu descubra a verdade? O que mais você está escondendo de mim?
Minha mãe suspirou profundamente do outro lado da linha.
— Eu tenho medo de que, se você cavar mais fundo, acabará se machucando. Havia coisas que não podíamos prever, coisas que não sabemos como lidar. A verdade pode ser mais dolorosa do que você imagina.
Percebi a vulnerabilidade na voz de minha mãe e o medo subjacente que não podia ser ignorado. Embora a revelação a tivesse abalado, o medo de minha mãe era inconfundível. Isso só fazia com que eu me sentisse mais decidida a entender o que realmente aconteceu, mas também a questionar as verdadeiras motivações por trás do cuidado de minha mãe.
— Mãe, eu entendo que você está preocupada, mas eu preciso fazer isso. Preciso saber o que aconteceu com minha irmã, por mim e por você. Não posso simplesmente ignorar isso.
Houve um silêncio pesado antes que minha mãe falasse novamente, com um tom de resignação.
— Se você realmente precisa seguir por esse caminho, então tome cuidado. Há coisas que não entendemos completamente, e algumas verdades podem ser mais difíceis de enfrentar do que você imagina.
Encerrei a ligação com um sentimento de inquietação crescente. As palavras de minha mãe ecoavam em minha mente, misturando-se com a determinação de descobrir a verdade. O medo de minha mãe se tornou uma nova peça no quebra-cabeça, uma pista de que havia mais a ser revelado e mais perigos à espreita.