O silêncio que se seguiu foi pior que qualquer grito. Cada palavra dele esmagou Mia de dentro para fora, deixando um vazio corrosivo no peito. O amor que ela ainda nutria se desfez em pó, reduzido a uma corrente invisível, fria, que a mantinha cativa.
Ela sentiu o corpo tremer, as mãos encolherem sobre o prato, os pulsos latejando. Cada músculo queria fugir, mas o olhar dele a mantinha presa, submissa, escrava do jogo dele.
As amigas trocaram olhares rápidos. Selena apenas observava, preocupada, sentindo a dor de Mia mas sem se envolver. Já Lívia, sua irmã mais velha, deixou escapar um sorriso contido, frio, saboreando o sofrimento da irmã. Cada movimento de Mia, cada reação dela, era um espetáculo para Lívia, e ela não precisava de mais nada para se sentir vitoriosa.
Leo fechou os punhos sob a mesa, impotente. Não havia nada que pudesse fazer. Bryan controlava o espaço, a mente e a emoção de Mia com o simples movimento dos olhos, e todos ali já haviam entendido isso.
Mia engoliu em seco, tentando recuperar a respiração. Cada sílaba de Bryan ainda ecoava em sua mente, cada pausa era um tapa invisível. Ela queria fugir, gritar, desaparecer — mas seu corpo não obedecia, como se cada fibra dela estivesse viciada na atenção c***l dele.
E Bryan, consciente desse poder, apenas manteve o olhar firme, predatório. Ele não precisava fazer mais nada. Ele já havia vencido, e ela sabia disso. A prisão dele não tinha grades físicas, mas era mais opressiva que qualquer cela.
Mia sentiu o nó no peito apertar ainda mais. Eles eram um casal, mas não um casal de verdade. Desde crianças, ela e Bryan tinham sido destinados um ao outro, marcados pela lua e pelo destino, ligados por um fio invisível que o mundo lupino jamais vira igual. A marca do lobo n***o — um desenho perfeito na pele — selava a promessa de que seriam parceiros para sempre, um elo inquebrável que nem a dor nem o tempo poderiam romper.
Mas Bryan não queria isso. Ele já quis no passado; agora ele rejeitava a ideia, como se o elo deles fosse uma maldição que ele carregava. Por isso, seu afastamento doía tanto.
No passado não muito distante, ele a tratava como ela deveria ser tratada — com amor, desejo, respeito, paixão e devoção. Agora ele era frio, distante, quase c***l em sua indiferença. Ela se sentia uma obrigação, uma parceira designada, não uma mulher amada.
Selena e as outras amigas tentavam mudar o assunto, mas a tensão ainda pairava, e Mia sabia que aqueles olhares não a deixariam em paz. Ela permaneceu em silêncio, acostumada com o peso daquela solidão compartilhada.
Leo, ainda preocupado, perguntou suavemente:
— Então não vai ter nada especial?
Ela tentou sorrir, mas a dor falhou em se esconder:
— Não, Leo. Vai ser só um dia como todos os outros.
Ela não queria que ele soubesse o quanto aquela resposta a destruía por dentro. Sentia-se culpada, insuficiente, falhando não só como companheira, mas como alguém que poderia — ou deveria — ser capaz de curar Bryan.
Enquanto a mesa retomava as conversas, Mia se levantou, o olhar perdido, e viu Bryan se erguer também. Ele não esperou, caminhando firme, distante. Mia sentiu o fogo da determinação subir: não podia deixá-lo ir assim.
Ela o seguiu pelos corredores frios e silenciosos, o som distante do refeitório ficando para trás, o cheiro da pedra antiga e do mar vindo pelo ar.
Quando ele estava prestes a desaparecer na curva, ela chamou, a voz trêmula mas cheia de coragem:
— Hei! Espera.
Bryan parou, virando-se lentamente, o rosto duro, mas os olhos não conseguiram esconder a surpresa contida.
Ela tirou do casaco uma pequena caixa prateada, delicadamente embrulhada com um laço vermelho perfeito, feito à mão.
— Eu… hum… eu trouxe isso pra você.
Ele tentou soar irritado, o tom cortante, mas a rigidez deu lugar a uma curiosidade contida. Com movimentos precisos, desatou o laço e abriu a caixa.
Dentro, brilhava uma pulseira de prata estelar, um brilho que parecia próprio, quase mágico. Fios prateados — o próprio pelo de Mia — estavam entrelaçados no metal como um líquido lunar solidificado.
Bryan virou a pulseira e seus olhos foram capturados pela inscrição vermelha, profunda como um rubi:
“Be the moon to my wolf”
Essa frase não era uma frase qualquer — ele dizia isso a Mia muitas vezes antes de se tornar o alfa frio que era agora. Seu coração apertou.
— Seu sangue? — ele murmurou, quase incrédulo.
— E seu pelo? — a voz dele vacilou, quase um sussurro.
— Sim — respondeu ela, os olhos brilhando com a luz tênue. — Colhi sob a lua cheia passada… mandei derreter e fundir o metal… a prata veio do meteorito que caiu no Vale do Uivo Solitário. O lugar onde nos beijamos pela primeira vez, depois da nossa primeira corrida de lobos.
A respiração dela falhou ao pronunciar essas palavras, e Bryan sentiu a intensidade daquele gesto.
— É uma parte de mim — disse ela, puxando o braço dele e colocando a pulseira no pulso firme. — Pra te proteger nas caçadas.
Antes que ele pudesse responder ou reclamar, Mia o puxou pelo colarinho do uniforme e o beijou. O beijo não era urgente, mas denso, carregado de uma emoção contida, um pacto silencioso entre dois astros atraídos pela força.
Bryan não resistiu. Agarrou-a e beijou-a com intensidade, um beijo quente e lento, onde amor e ódio se misturavam, desejo e rancor se confrontavam. As línguas dançaram em uma coreografia sensual, enquanto Mia tentava, com o coração sangrando, derrubar as barreiras que ele construíra tão cuidadosamente.
E então ele rompeu o beijo bruscamente.
Ele olhou para a pulseira e disse, com a voz cortante como um estilhaço de gelo:
— Não fique achando que eu vou usar isso, é inútil pra mim!
E sem esperar uma resposta, ele simplesmente virou as costas e se foi.