Bryan acordou, a cabeça ainda rodando, sentindo-se entorpecido pelo álcool da noite anterior e pelo sexo selvagem que havia compartilhado com Mia até finalmente adormecer. Seu coração ainda doía, carregando o peso de meses de decisões e segredos. Ele não havia voltado antes porque estava lidando com um problema que o afastou: a gravidez de outra loba, um segredo que jamais contou a ninguém — apenas ao seu pai. A gravidez não evoluiu, e Bryan correu de volta para Mia assim que a situação se resolveu.
FLASHBACK – O PASSADO DE BRYAN EM OXFORD
O despertar foi lento e pesado, como emergir de um lago escuro. Bryan acordou com o peso azedo da própria insatisfação corroendo seu estômago. A luz cinzenta do amanhecer inglês filtrada pela janela alta do casarão não iluminava, apenas revelava contornos fantasmais dos móveis caros e vazios. Aquele lugar, um símbolo de prestígio para tantos, para ele era uma prisão de pedra e gelo. O convite dos Stormhowl, a alcateia mais poderosa da Inglaterra, para estudar em Oxford com seus primos e aliados – Henry, Bernardo, Asher Blackwolf, Ares Mykonos, Safira Montserrat, Astrid Starweaver, Antares Nightfall e Lívia Ashowrth – tinha o gosto amargo do exílio.
O clima úmido e incessantemente chuvoso era um insulto à sua pele acostumada com o sol quente do Brasil. Mas pior que o frio era a ausência. A falta de Mia era um eco constante, uma dor surda que latejava no peito a cada batida do seu coração. E naquela manhã, o eco se tornou um grito. O celular vibrou silenciosamente no criado-mudo, a tela iluminando a penumbra com uma notificação de áudio. Era dela.
A voz de Mia preencheu o silêncio do quarto, um sussurro frágil que cortou a atmosfera pesada. "Bryan... só quero que saiba que sinto muito sua falta..." A angústia nela era quase palpável, um fio de dor que se conectava diretamente à sua alma. "Eu preferia você aqui gelado e arrogante, mas aqui comigo... eu te amo, sempre vou te amar..." O áudio terminou com um soluço abafado, um som que foi uma facada no coração de Bryan.
Ele ficou imóvel, o corpo tenso na cama fria. Replay. O sussurro dela de novo. Replay. O som do choro. Cada repetição era uma agulhada de culpa. Ele sabia que ela estava na Costa da Lua, presa pelas circunstâncias, e que o calor do seu toque existia apenas na memória e naquele arquivo de áudio.
A tensão no casarão era espessa o suficiente para ser cortada com uma faca. As festas que aconteciam eram barulhentas, mas vazias. Bryan as evitava, um fantasma percorrendo os corredores silenciosos. Na noite anterior, a embriaguez de uma loba de cabelos louros quase platinados lhe proporcionara um breve e falso refúgio. Antes de cair no sono, porém, sua mente nua e culpada enviara ordens mentais aos seus betas, Benjamin, Noah e Atlas: "Vigiem Mia. Ninguém se aproxima." O "ok" deles foi um alívio pequeno e insuficiente.
Então, alguns dias depois, o mundo desabou. Batidas graves e impacientes na porta principal ecoaram como tiros pela casa, interrompendo a rotina morna. Um cheiro de poder, terra molhada e autoridade invadiu o casarão antes mesmo da porta se abrir completamente. Era o cheiro de Nathanael Blackwolf, seu pai e Alfa. E ele não estava sozinho. Uma comitiva séria e pesada o acompanhava: Babi Maya, sua mãe, com o rosto um misto de preocupação e decepção; Alaric e Elizabeth Ashowrth, Benjamin seu irmão e sua esposa Chloe , Theo e Sara Montserrat. A expressão de todos era grave, o propósito claro: o confronto sobre a situação insustentável de Júpiter Starlight.
Naquele exato momento, Bryan estava no quarto, tentando afogar a culpa no corpo da loba de cabelos louros platinados. Ela estava de quatro na cama, e ele se movia com uma força bruta e mecanicamente concentrada, cada investida um esforço para bloquear o vínculo que o ligava a Mia. De costas, com aquela cor de cabelo, ele podia, por um instante, fingir. Fingir que eram as costas de Mia, que era o seu gemido que ele ouvia.
A paz ilusória foi quebrada pelos gritos e batidas furiosas na porta do quarto.
— BRYAN, SAI DAÍ p***a! Papai está aqui! — a voz de Bernardo, seu irmão, era um misto de alerta e pânico.
A loba sob ele gritou de susto, empurrando-o para longe com força repentina. O encanto, falso como era, se quebrou.
— Para! Estão batendo na porta! ESCUTA! — ela disse, ofegante, os olhos arregalados de medo.
Bryan, ainda envolto na névoa de sua fuga, tentou puxá-la de volta, um rosnado de frustração escapando de seus lábios. Mas foi tarde demais. A porta do quarto se abriu violentamente, estilhaçando a tranca fraca.
Nathanael Blackwolf preencheu o vão da porta. Sua aura de Alfa era uma força física, esmagadora, fazendo o ar parecer pesado e difícil de respirar. Seus olhos, frios e claros, percorreram a cena: o filho seminu, a loba desconhecida encolhida na cama, a atmosfera carregada de sexo e culpa. A fúria que emanava dele era quase tangível.
— VISTA-SE. AGORA. QUERO VOCÊ LÁ EMBAIXO! — seu rugido não era um pedido, era uma ordem que vibrou os ossos de todos no quarto.
Bryan, desafiador mesmo naquela posição vulnerável, tentou se erguer.
— VOCÊ ME DISSE PRA FAZER ISSO, LEMBRA? Pra treinar e não machucar minha Luna! — ele gritou, a culpa se transformando em uma raiva cega e dirigida ao pai.
A resposta de Nathanael não foi verbal. Ele se moveu com a velocidade de um raio, Seu punho cerrado conectou-se com o rosto de Bryan com um impacto seco e ossudo. Bryan caiu de joelhos, o gosto metálico do sangue enchendo sua boca instantaneamente.
— EU NÃO MANDEI VOCÊ FAZER ISSO, GAROTO, NÃO DESSE JEITO! — o rugido de Nathanael era a voz da decepção absoluta, mais cortante que qualquer golpe físico.
Lá embaixo, no salão principal, o julgamento aguardava. Todos os olhos estavam sobre ele – família, amigos, aliados. O olhar era unânime: nojo, desprezo, decepção. Trair a companheira era a mais baixa das traições lupinas.
Sob a pressão opressora da presença de Nathanael, a verdade veio à tona em uma cascata atropelada e acusatória. Os jovens, intimidados, falaram:
— Júpiter Starlight está grávida...
— Bryan a engravidou...
— Ela está internada, a gravidez está mal...
— Os médicos e os anciãos da Stormhowl disseram para Bryan marcá-la...
— Ele se recusou.
Cada palavra era um prego no seu caixão. Alaric, pai de Mia e Beta leal de Nathanael, não conteve a fúria e desferiu um soco brutal no estômago de Bryan, que dobrou-se para a frente, sem ar. Antes que Bryan pudesse se recompor Theo, seguindo o exemplo do pai e atingiu-o também. A indignação de Orion e Lyra Starlight, os avós de Júpiter, era um fogo silencioso e perigoso enquanto saíam para ver a neta no hospital.
Nos dias que se seguiram, Nathanael e os adultos impuseram uma solução pragmática e c***l. Júpiter recebeu os melhores cuidados, mas a gravidez, de risco iminente, foi interrompida. As alianças entre os Blackwolf e os Stormhowl foram reforçadas em mesas de reunião, com acordos feitos sobre o corpo do segredo de Bryan. A ordem foi clara e absoluta: silêncio. Se Mia descobrisse, não seria apenas Bryan quem cairia, mas toda a estrutura da alcateia Blackwolf na Costa da Lua.
E Bryan, com o lábio ainda sangrando e a alma esfarrapada, carregou aquele peso. Mas nenhuma dor física ou política era maior do que o aperto no peito a cada nova mensagem de Mia, que continuava a chegar da Costa da Lua, inocente e amorosa, ignorante da fortaleza de mentiras que ele agora era obrigado a sustentar.
FIM DO FLASHBACK
Voltando ao presente Bryan de lembrava , O erro dele quase o fez perder tudo: Mia, sua companheira, sua alcateia, seu futuro como Alfa da Blackwolf. Ele se sentia culpado — culpado por ter ficado aliviado com o fim daquela gravidez, mas também por quase ter colocado em risco tudo que importava de verdade. Aquele segredo, que por meses carregou como uma pedra no peito, ele esperava poder levar para o túmulo.