Capítulo 26 — Minha até o fim

2513 Palavras
A brisa fria do mar, o murmúrio arrastado da música distante, o reflexo trêmulo e prateado da lua na água escura — tudo parecia conspirar para amplificar o vazio sufocante entre eles. E Mia, sentada sozinha na areia úmida, com a garrafa de bebida quase vazia e pesada na mão, sabia que aquele era mais um desses momentos dolorosos em que o silêncio cortante entre eles dizia mais do que qualquer torrente de palavras. O sal do ar era quase tão amargo quanto o gosto da frustração em sua boca. Bryan suspirou profundamente, um som sôfrego e contido que ele m*l permitiu escapar. Sentia o coração apertado no peito com a cena caótica e pública diante dele — sua Rainha Luna, vulnerável e desamparada. A prioridade era o controle do Alfa. Com um cuidado que beirava a impaciência, tentou levantar Mia da areia ainda quente, amparando o corpo mole dela contra a rigidez calculada do seu. Sentiu o cheiro forte da bebida dela, um contraste violento com o perfume suave que ele conhecia. — Vamos, agora. Não quero que te vejam assim! — disse, a voz firme, uma ordem, mas com um subtexto urgente de preocupação e, sim, pânico por ter seu status exposto. Ele a carregou até o quarto, cada passo pesado, ecoando o peso da frustração e da impotência que o dominava. Ao chegarem, a conduziu, quase arrastando-a com suavidade forçada, até a frieza elegante do banheiro. A tensão muscular em seu pescoço era palpável. — Francamente, Mia, o que diabos deu na sua cabeça? — sua voz estava misturada entre irritação latente e um desapontamento amargo, a voz de um Alfa que via seu controle se esvair. — Não pensa nos nossos filhos? No nosso legado? Mia soluçou, um som profundo que vibrou em seu peito. O tremor da embriaguez a dominava, mas sua resposta veio com uma firmeza gélida que o atingiu em cheio: — Penso sim! E é por isso que não pedi o divórcio ainda. Porque se não fosse por eles, por Bryan, essa família não existiria! Bryan parou. O corpo inteiro congelado, atingido por um choque elétrico que lhe roubou o ar. Uma onda de desespero e medo gelado percorreu suas veias, e um nó de agonia apertou seu peito até quase sufocar. Ele sussurrou, os olhos arregalados fixos na esposa: — O quê? Mia se deitou na banheira vazia com um gemido rendido, os olhos fechados, a respiração trêmula e superficial. — É... — murmurou, a voz embargada pela dor da confissão. — Isso nunca vai dar certo. Nós dois... não importa o quanto tempo passe, você continua preso a algo do passado. Não consigo quebrar suas barreiras... Não consigo ser suficiente. Ela franziu a testa, lembrando-se de momentos antigos, de promessas e carinhos vazios que pareciam ter sido de outra vida, outra mulher: — Eu só queria ser amada de verdade... Sem condições, Bryan. O silêncio que se seguiu não era apenas vazio; era sufocante, elétrico, cheio de verdades não ditas. Bryan ficou parado, olhando para ela, sentindo o peso esmagador de anos de frieza imposta, a intensidade da própria responsabilidade como Alfa que o sufocava. Pela primeira vez em muito tempo, veio a percepção clara e dolorosa do que ele havia perdido: a entrega completa de Mia, a mulher que ele havia transformado em uma estátua de Luna, e talvez a própria chance de reconstruir o que havia sido um amor intenso e destinado. Bryan permanecia imóvel, as palavras presas na garganta. Ele não esperava ouvir aquilo. Para ele, o status quo era estabilidade; estavam cumprindo seus papéis de marido e esposa, pai e mãe. Aquilo era suficiente... ao menos era o que ele havia se forçado a acreditar. Mas Mia não havia terminado. Respirou fundo, os olhos marejados, a voz trêmula, misturando a sinceridade c***l e o efeito da bebida: — Quem sabe um dia... quando eles estiverem grandes e a Alcateia não precisar tanto de nós, a gente possa seguir caminhos diferentes... — Pausou, engolindo a dor que pesava na garganta como chumbo. O pensamento era ao mesmo tempo libertador e desesperador. — Quem sabe um dia você encontre alguém que consiga responder às suas expectativas... alguém que você possa amar sem se conter, como faz comigo... sem as suas amarras. Cada palavra de Mia enviava fagulhas elétricas pela corrente que percorria Bryan, despertando um misto violento de choque, culpa e desespero que ele tentava, em vão, ignorar. Ela estava embriagada, desordenada, falando de forma arrastada, mas o lobo dentro dele — Bones — insistia em lhe mostrar que aquelas palavras não eram um impulso, que há muito tempo ela nutria esses pensamentos, escondidos sob camadas de dedicação, silêncio e profunda frustração. Com cuidado, ele a ajudou a sair da banheira e a deitou na vastidão da cama, cobrindo-a com uma manta macia. O silêncio que se seguiu foi pesado, carregado de significados não ditos. Mia finalmente se calou, os olhos fechados, respirando fundo e pesadamente, enquanto Bryan permanecia ali, em estado de alerta sombrio, incapaz de se mover ou falar, sentindo o impacto esmagador daquelas confissões como uma onda de metralha que atingia seu coração. Ele sabia que aquele era mais do que um momento isolado: era a explosão de anos de dor silenciosa, de desejos não correspondidos e das barreiras de gelo que ele mesmo erguera. E, pela primeira vez, Bryan percebeu com uma certeza amedrontadora que não poderia mais ignorar a profundidade da frustração e da solidão de sua Luna. Ele a estava perdendo. A Posse do Alfa No dia seguinte, ainda no resort, Mia acordou com a ressaca latejando na cabeça como um tambor tribal. Sentou-se à mesa do café da manhã, os óculos escuros escudos contra a luz e, sobretudo, contra os olhos vermelhos e cansados, enquanto esfregava as têmporas em movimentos lentos. Todos ao redor pareciam imersos em seus próprios mundos, alheios à turbulência silenciosa que pairava sobre ela. — Mamãe, por que está de óculos escuros? — perguntou Luke, sempre observador, franzindo a testa com curiosidade infantil. — Mamãe está com enxaqueca, querido — respondeu Mia, a voz baixa, quase distraída, o tom de quem só queria ser deixada em paz. O pequeno observou atentamente, percebendo a sombra de desconforto que pairava sobre a mãe. Bryan, sentado ao lado dela, remexeu-se na cadeira, visivelmente inquieto, os músculos do maxilar contraídos. Quando as crianças saíram para brincar com os primos, ele finalmente se virou para ela, a voz cautelosa, tentando uma aproximação: — Se precisar, posso buscar uma aspirina para você. Mia respirou fundo, o olhar perdido no brilho incandescente do mar à frente. — Não precisa, obrigado — respondeu, e mesmo ao falar, as palavras soaram vazias, carregadas de um distanciamento frio que ele não conseguia transpor. Alguns familiares próximos, observando a cena, trocavam olhares silenciosos, percebendo que o clima entre o casal era de guerra fria. Mia se levantou, apoiando-se levemente na mesa, o corpo ainda pesado, mas a decisão, inabalável: — Não estou com fome, com licença — disse, afastando-se com passos lentos e deliberados. Enquanto ela se dirigia à sombra das árvores, um dos irmãos de Bryan sussurrou: — O que ela tem? Bryan apenas balançou a cabeça, sem saber o que responder, o orgulho ferido: — Não sei dizer... — murmurou, levantando-se e saindo em seguida, incapaz de deixá-la sozinha. Mia se acomodou numa espreguiçadeira sob a sombra das árvores, fechando os olhos por um instante, respirando fundo para acalmar a frustração e a fadiga. Bryan se aproximou com a cautela de um predador, sentando-se ao seu lado, a postura tensa, tentando medir cada palavra: — Mia... sobre ontem à noite... podemos conversar? Ela franzina a testa sob os óculos, sem abrir os olhos, sentindo a fadiga emocional pulsando em seu peito. — Conversar? Eu e você? Isso é novidade — respondeu, a voz carregada de ironia silenciosa e cansaço crônico. Bryan respirou fundo, tentando manter a calma, mas a inquietação era evidente em cada gesto. — O que você disse... — começou, hesitante. — As coisas que você disse... por que disse aquelas coisas? Mia levantou um canto da boca, formando um sorriso que não era doce nem gentil; era resignado, carregado de irritação e uma certa descrença que cortava o ar entre eles. — Eu disse o que disse — respondeu ela, rápida e direta, sem deixar espaço para m*l-entendidos. — Não tem entrelinhas, se é isso que você está se perguntando. É o que é. Bryan se aproximou mais, invadindo sutilmente o espaço dela. Tentava manter a postura firme, mas a preocupação e o choque transpareciam em seus olhos. — Você não pode estar falando sério... — disse, a voz baixa, carregada de incredulidade. — Quer dizer, somos uma família, temos muitas responsabilidades, a Alcateia precisa de nós... Mia ergueu o queixo, encarando-o com firmeza cortante por cima dos óculos. — Bryan, estou ciente disso tudo — disse, a voz calma, mas carregada de firmeza. — E não é isso que quero ouvir agora. Não é sobre o dever, é sobre o nós que não existe. Então, se não tem nada melhor para me falar, por favor, me deixe só. E não se preocupe... vamos continuar sendo uma família de faz de conta pelo tempo que for necessário. Pode ficar tranquilo. Bryan permaneceu de pé, imóvel, os olhos escuros fixos em Mia. O Alfa dentro dele começou a rosnar. Ela tentou passar por ele, sair dali, buscar algum respiro, mas antes que pudesse dar um passo, ele se moveu com a velocidade controlada de um predador. Com um gesto firme e calculado, segurou-a pelo pescoço, as mãos dele se enterraram nos cabelos platinados dela e a outra mão segurou firme o rosto dela próximo ao dele, o gesto não de forma c***l, mas com uma possessividade intensa e bruta, puxando-a para si. Mia engoliu em seco, sentindo a respiração cortar nos pulmões, os olhos arregalados diante da força silenciosa que ele exercia. O coração disparou, a adrenalina subiu, e por um instante o mundo ao redor deixou de existir. Ela não podia se mover, não podia falar; só existia ele, ali, tão perto, e o peso de anos de frieza e silêncio concentrados em um gesto de domínio. — Mia... — disse ele, a voz firme, carregada de autoridade Lúpus e desejo contido. — Vou deixar uma coisa bem clara pra você: nós não vamos nos separar nunca! Você não vai embora. Ela sentiu o cheiro amadeirado e de poder dele, a proximidade sufocante que, paradoxalmente, fazia seu corpo reagir sem consentimento, a tensão elétrica percorrendo cada músculo. Os olhos de Bryan não tinham suavidade; havia apenas determinação fria, controle e uma possessividade silenciosa que a lembrava de que, por mais distante que fosse emocionalmente, ele ainda a considerava sua. Mia tentou desviar o olhar, a voz presa na garganta, mas o peso dele a mantinha ali, vulnerável, presa entre o medo e a atração perigosa. O coração dela batia tão rápido que parecia gritar contra a contenção. — Bryan... — murmurou, a voz baixa, quase um sussurro — me solta... — Não — cortou ele, firme, sem hesitar. — Blackwolfs não se divorciam e eu não vou ser o primeiro a manchar o legado da minha família. Isso é inegociável. Os rostos deles ficaram a poucos centímetros de distância, o ar compartilhado, quente e tenso. O rosto de Bryan era uma máscara de possessão. – Eu e você nunca vamos nos separar, você pertence a mim e eu nunca vou deixar você ir... Ela sentia o coração acelerar, a mente girar, e mesmo assim, não havia medo verdadeiro, apenas uma mistura de frustração, desejo e impotência diante do homem que sempre a dominara de formas sutis, mas agora com intensidade palpável. – Se você pensa que, eu vou ficar parado vendo você ir embora e ficar com outro... a voz dele era cada vez mais densa e perigosa, caindo para um rosnado baixo. Continuou: – ... você está enganada, eu vou destruir qualquer um que ousar te tocar. E você sabe que eu farei isso. Mia o encarava de baixo, seu nariz quase tocando o dele. Seus 1,98m de altura e puro músculo formavam uma fortaleza viva, uma prisão de carne e osso da qual ela não tinha a menor chance de escapar fisicamente. E, por um instante de pura verdade, ela não quisesse escapar. A mão dele, firme em sua nuca, não a machucava, apenas a mantinha no lugar, afirmando um domínio que fazia seu sangue ferver de um modo proibido. Ela se debateu, é claro, mas foi um teatro frágil — mais um ritual de resistência do que uma tentativa real de se libertar. Cada movimento contra sua força imensa apenas a fazia mais consciente do poder que ele exercia, e de como uma parte obscura de sua alma se alimentava disso. — Você não pode me obrigar a te querer... — a voz dela saiu mais como um suspiro ofegante do que uma afirmação de força. Era uma mentira que ela mesma tentava desesperadamente acreditar. — Se eu não quiser mais você... eu vou embora. E você não pode fazer nada. Você não me controla. Ele sentiu o corpo dele vibrar com um som baixo, quase um rosnado de satisfação. Ele inclinou a cabeça, seus lábios perigosamente próximos de seu ouvido. — Essa é a sua maior mentira, Mia — sussurrou ele, a voz grave como o cair da noite, definitiva. — Mais a verdade é que você é minha, no fundo da sua alma. Você não quer ir embora. Você quer ser conquistada. Quer que eu prove, cada dia, que você é tão minha quanto o ar que eu respiro. E eu provei. E vou continuar provando. Sua outra mão desceu pela sua coluna, puxando-a com uma força irresistível contra o corpo duro e quente dele. Mia sentiu um arrepio percorrer todo o seu ser, uma onda de calor que anulou qualquer protesto. A resistência minguou, substituída por uma necessidade avassaladora de contato. — Você é minha até a morte. E eu sou seu — ele afirmou, não como uma promessa, mas como um fato consumado. A autoridade em sua voz não era opressiva; era um elixir que ela secretamente ansiava. Antes que Mia pudesse reagir, ele colou os lábios nos dela em um beijo intenso, faminto e possessivo. Cada movimento dele transmitia força e urgência, a fúria do Alfa que se recusa a perder. O corpo de Mia reagiu automaticamente: o coração disparou, os músculos se tensionaram, e por um instante ela se perdeu completamente, incapaz de resistir ao impulso lúpus que ele despertava. A mão de Bryan ainda segurava o pescoço dela com firmeza, controlando o ângulo, enquanto a outra envolvia sua cintura, aproximando-a mais, como se quisesse fundi-los em um só. O gosto dele, o calor, o toque intenso e o cheiro familiar a deixaram sem fôlego. Mia se deixou levar, sentindo a mistura explosiva de desejo, frustração e entrega percorrer cada fibra de seu corpo. A guerra havia terminado, e o Alfa havia conquistado o campo de batalha.
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