Nicolay
Passo o dia inteiro ansioso, esperando que a noite chegue logo, não sei o porquê mas gosto de está com essa garota, faz apenas dois dias que ela começou a trabalhar pra mim, eu sinto que preciso ajudá-la de alguma maneira, tirar toda aquela tristeza dos seus olhos, fazê-la sair do seu esconderijo, do seu mundinho e fazê-la confiar em mim.
Descobrir que mora com a tia a de Aretuza facilita um pouco a minha aproximação dela, com certeza Kênia vai me ajudar e me apoiar nessa decisão.
São dezessete horas e eu já estou todo arrumado e pronto para ir buscá-la, mas preciso da um tempo, porque não quero parecer ansioso de mais quando chegar lá, então vou ao frigobar e me sirvo de uma dose generosa de uísque, isso pode me acalmar um pouco, penso tomando um gole enquanto respiro fundo tentando controlar as minhas emoções.
Não entendo porque me sinto assim em relação a ela, nervoso e ansioso até, geralmente eu sou um cara tranquilo e centrado, olho mais uma vez o meu relógio de pulso, são dezessete e trinta, pronto, já posso ir digo pra mim mesmo já me sentindo animado. Dirijo ouvindo uma música sertaneja para me descontrair um pouco, em vinte minutos estou estacionando o carro em frente da casa de Kênia, desço do carro, subo os degraus e toco a campainha, Kênia me atende com um enorme sorriso d sempre e parece surpresa com a minha presença em sua casa a essa hora da noite.
__ Nick! A quanto tempo querido!__ Ela me abraça forte e como uma mãe analisa o meu corpo, meu rosto...
__ Olá Kênia, como você está?
__ Eu estou bem, se soubesse que você viria teria feito um bolo de chocolate com calda que você adora.__ Sorrio para o seu carinho.
__ Obrigado Kênia, mas não vim para uma visita.__ Seu sorriso se desfaz momentaneamente.
__ E veio porque então?
__ Vim para pegar a Jéssica...__ Ela me olha sem entender.__ Combinei de irmos ao parque hoje a noite.__ Explico e agora ela está ainda mais surpresa.
__ Jéssica não me disse nada!
__ Ah! Será que ela esqueceu?__ Indago. Ela faz um sinal com as mãos e me pede para esperar.
__Vou chama-la, espere aqui.__ Diz quando chegamos a sua sala de visitas, um lugar simples com poucos móveis mas muito aconchegante, Kênia sobe as escadas de madeiras rusticas e eu me sento no grande sofá de vime com alguns almofadões florais, há uma uma c****a com pelagens claras deitada no tapete da sala, está dormindo, é uma c****a de porte pequeno e muito peluda.
Não demora muito e Kênia volta e avisa que Jéssica descerá em alguns minutos.
Ficamos conversando sobre o meu trabalho, sobre o Brasil e ela me agradece a oportunidade que deu a Jéssica, olho para as escadas algumas vezes e Jéssica não vem nunca.
__ Querido, fico feliz que esteja tirando-a de casa, Jéssica não tem amigos, não sai com pessoas da sua idade, não se diverte e isso me preocupa.
__ Ela é um tanto calada, fechada, você não sabe como foi difícil convence-la a sair hoje.__Digo.
A c****a late anunciando a chegada de alguém e corre escada a cima e lá está ela. Jéssica veste um jeans preto que realça o seu quadril largo, uma blusa de lã branca com gola alta, um sobretudo preto e botas de cano alto preta, uma toca de lã na cabeça, seus cabelos ondulados estão soltos, seu rosto fica num tom de vermelho lindo quando me ver , ela está linda! Droga acho que estou reparando demais na minha funcionária e isso me preocupa, porque não tenho a menor intenção de envolver nem com ela e nem com ninguém nesse momento, estendo a minha mão para ela assim que desce o último degrau, ela exita olhando para minha mão mas em fim segura.
Seu toque me faz sentir as mesmas sensações que senti no dia anterior. Respiro fundo tentando controlar essas sensações e forço minha voz sair.
__ Vamos? __ Sorrio em sua direção e ela me dá um sorriso constrangido, sigo com ela ao meu lado até o meu carro e abro a porta pra ela, Jéssica me lança um olhar questionador, passa algum tempo me olhando esquisito, eu desfaço o contato visual e pergunto com ar divertido.
__ Não vai entrar?__ Ela não diz nada, apenas entra e senta no banco do carona, sento no banco do motorista e dirijo o carro em silêncio.
Quando chegamos ao parque fico deslumbrado com o brilho dos olhos de Jéssica, há um sorriso genuinamente lindo e verdadeiro em seus lábios, ela olha para todos os lados aos mesmo tempo, sua respiração está alterada, ela parece uma criança na Disney pela primeira vez e eu estou feito um bobo, olhando ela maravilhada com uma coisa tão simples quanto um parque de diversões.
__ Por onde quer começar?__Inquiro trazendo sua atenção pra mim, ela puxa o ar com força e volta a olhar o parque.
__ Não sei...__ Ela exita.
__ Que tal um brinquedo calmo pra começo? Como a roda gigante?__ Ela levanta a cabeça, olhando em direção ao brinquedo e se empolga.
__ Sim, pode ser a roda gigante.
__Ok.
Volto a pegar em sua mão e vamos juntos comprar os bilhetes que no darão acesso aos brinquedos .
Jéssica senta na cadeira do brinquedo e eu me sento ao seu lado, ela parece nervosa e agitada ao mesmo tempo, seguro em sua mão que está gelada e o brinquedo começa a se mover lentamente, quando já estamos no alto ela fala de modo apreciativo.
__ Nossa...! É lindo aqui de cima!__ Podemos ver uma enorme parte de Londres aqui de cima, é extremamente lindo, o olhar de Jéssica dança em todas as direções e eu estou adorando ser a pessoa a lhe fazer isso.
Quando o passeio termina ela quer repetir, mas a convenço a experimentarmos outros brinquedos e com certeza a diversão foi garantida.
Depois de uma hora e meia indo de brinquedo em brinquedo, decido levar Jéssica para barraquinha de lanches, ela escolhe um cachorro quente com refrigerante e eu peço uma cerveja para acompanhar o meu, quando da sua primeira mordida ela solta um delicioso gemido de apreciação e eu me sinto encantado pela garota.
__ Posso te perguntar uma coisa?__Ela me olha com a pontinha do nariz suja de maionese e eu não resisto e passo o meu dedo indicador limpando a maionese e o levo a boca em seguida.__ Ela olha em meus olhos surpresa.
__ pode...
__ Porque você é tão calada? Tão restrita?__ Jéssica da de ombros.
__ Não sei... esse é o meu jeito, eu acho.
__ Você parece ser uma pessoa muito triste Jéssica...__ Ela põe a comida de volta ao prato e para de comer e eu me arrependo do comentário.
__ Desculpe! Olha, se não quiser conversar sobre isso não tem problema, podemos mudar de assunto.__ Ela n**a com a cabeça.
__Tudo bem... __ Ela toma alguns longos minutos e volta a falar.
__ Não sei se sou uma pessoa triste.__ Comenta. __ Eu me acho uma pessoa perdida na verdade... eu não sei nada sobre o meu passado senhor Nicolay, o que eu sei é que... eu perdi a minha família em um acidente de carro e é só. Não sei quem foram os meus pais, nem os meus irmãos, como ou onde eu vivia.__ Ela da de ombros.__ Eu sou uma pessoa sem passado e isso me faz um ser humano incompleto... entende?__ Eu assinto sentindo um nó apertar a minha garganta.
__ Você não recebeu essas informações no orfanato?__ Mais uma negativa.
__ Não. Eu cheguei lá com sete anos, era pra mim ter algumas lembranças não era?__ Inquire.
__ Acho que sim. Você não procurou investigar?
__ Eu saí de lá tem poucos dias... estou tentando me estabelecer, ficar independente e procurar um rumo pra minha vida, e só então saberei realmente o que devo fazer.
__ Como conheceu Kênia?__ Ela me olha com curiosidade.
__ Você a conhece?
__ Sim. Fiz faculdade com Aretuza, a sua sobrinha, quando fiz um intercâmbio aqui na Inglaterra fiquei alguns meses na casa de Kênia.