No dia em que Gaion fora convidada para almoçar em sua casa, Gisella ficou ansiosa. Checou se tudo estava perfeito para causar uma boa impressão a sua amiga, sim, estava.
— Espero que ela não seja vegetariana. — Disse Evin tirando um frango assado com batatas do forno. — Mas, caso seja… Tem torta de banana com canela na geladeira.
Uma batida na porta fez com que Gisella se levantasse do sofá num pulo e fosse correndo abrir a porta para receber Gaion.
— Olá? — Disse Gaion exibindo o seu sorriso mais meigo que sempre derretia Gisella.
Gaion usava uma blusa vermelha de botões que exibia sua barriga e uma saia longa preta com estampa de papoulas. Calçava sandálias douradas sem salto. Tinha os cabelos soltos e de um lado da cabeça usava presilhas pretas perfeitamente alinhadas. Nos lábios um brilho labial de sabor maçã. Não podia estar mais linda.
— Gaion! Você veio! — Gisella disse feliz e a abraçou sentindo o delicioso perfume de flores que vinha dela.
— Não perderia isso por nada. — Gaion sussurrou no ouvido dela e então recuou e reparou melhor nela.
Gisella usava um vestido amarelo com estampa de margaridas, com alças finas, sem decote, mas que ainda assim marcava seu b***o farto, e com a parte debaixo rodada, um palmo acima dos joelhos. Os cabelos ruivos estavam presos numa trança lateral, e ela calçava sapatilhas pretas. Não usava nenhuma maquiagem e também, não precisava, pois ela era naturalmente bela.
— Seja bem-vinda! — Disse Evin aparecendo atrás de Gisella.
— Obrigada. — Falou Gaion sorrindo.
— Por favor? Entre. — Disse Evin a Gaion.
— Sim, com licença? — Falou Gaion entrando.
Não havia paredes que separassem a cozinha da sala, mas havia espaço mais que suficiente para organizar toda a mobília de forma adequada. Do lado esquerdo, ficava a cozinha com grandes armários amarelos de madeira, uma geladeira branca grande, um fogão vermelho a lenha, uma mesa amarela de madeira com lugar para seis, caprichosamente forrada com uma toalha branca de renda.
Do lado direito ficava a sala, com dois sofás vermelhos, fofos e espaçosos, um grande tapete preto ficava no centro, assim como uma mesinha redonda de vidro onde uma toalha branca de renda fora posta e dois bibelôs de cisnes. Uma estante marrom onde ficava a TV, alguns livros e outros bibelôs (Evin colecionava bibelôs e os espalhava pela casa), e num canto ficava uma cadeira de balanço onde Evin se sentava em frente a lareira e bordava todas as noites.
— Vem, Gaion? Eu te mostro a casa. — Falou Gisella pegando a mão dela e já a arrastando rumo as escadas.
Elas seguiram por um corredor espaçoso onde as paredes eram enfeitadas por lindos quadros, todos pintados por Mabel: O primeiro, intitulado “Girassóis”, foi um presente para Evin, que adorava girassóis e costumava cultivar alguns; o segundo, “Bem-te-vis”, um presente para Gisella, pois, esse era o pássaro preferido dela e Eldar adorava imitar seu canto dele; o terceiro, “Anel Élfico”, tinham elfas graciosas com vestidos de tule azul dançando em um anel élfico.
— Que lindos! — Disse Gaion observando, encantada, as pinturas.
— Foi a Mabel quem pintou todos eles. Ela tem talento! — Falou Gisella e parou em frente a terceira porta, abrindo-a. — Esse é o meu quarto.
O quarto de Gisella era simples, mas com ar aconchegante. O papel de parede era branco com flores e borboletas. As cortinas eram num tom cor-de-rosa claro, assim como a cama, o guarda-roupa, o baú que ficava aos pés da cama e a escrivaninha que ficava próxima a janela. No centro do quarto ficava um tapete redondo e felpudo, branco. Tinham dois pedestais acima da escrivaninha com livros sobre fadas e ninfas, e em cima da cama, três pedestais com bonecas de pano e pelúcias.
— Hmm… Adorei! — Falou Gisella prestando a atenção em cada detalhe.
— Que bom que está aqui, assim, poderemos ver as ninfas mais tarde. Estou ansiosa para conhecê-las. — Disse Gisella.
— Eu tenho certeza que vai adorá-las. — Falou Gaion.
Gisella não achou prudente mostrar a Gaion os quartos dos outros, então lhe mostrou o banheiro e os jardins, antes de elas voltarem para a sala onde Irwan e Eldar, sentados no sofá, assistiam ao noticiário, que informava que mais uma vez, uma quadrilha de djinns azuis conseguiu sair ilesa após uma série de roubos a bancos em Ljossalfheim.
Irwan teve medo de não segurar a onda ao ver Gaion tão perto de Gisella e para evitar um desentendimento, foi para a casa da prima.
Gaion aproveitou para entregar a todos envelopes vermelhos, decorados com laços de crepom. Dentro dos envelopes tinham balas brancas com sabor de coco e leite. Como elfos tinham compulsão por doces, todos adoram o mimo e não esperaram até a sobremesa.
Gisella e Gaion ajudaram Evin a pôr a mesa e logo o almoço foi servido. Frango assado com batatas, arroz a grega (arroz de forno com azeitonas, passas e muçarela, etc), purê de batata e cidra. Como sobremesa, torta de maçã.
— Hmm… A senhora cozinha bem. — Gaion disse a Evin.
— Obrigada. Pode me chamar pelo meu nome. — Falou Evin.
— E você, Gisella? Já se acostumou a culinária élfica? — Gaion perguntou.
— Sim. Na verdade, não tem muita diferença. Digo… Vocês ainda comem torta de maçã e tomam sorvete como qualquer humano. Não tem receita especial ou tem? — Disse Gisella alternando olhares entre Gaion e Gisella.
— Nosso povo tem sim, algumas receitas típicas… Como todos os povos, mas está certa… Não tem muita diferença. — Evin sorriu, exibindo um brilho malicioso no olhar.
— Eu diria que o que torna nossa culinária especial, além de nossos temperos, são nossos encantos. — Falou Gaion. — E não é por nada não, mas a nossa comida é muito melhor que a das fadas, viu?
— Oh, isso com certeza. — Concordou Irwan.
— Mas dizem que a comida das fadas é irresistível… — Gisella quis argumentar.
— Ah, querida. Só que os humanos usam a palavra “fada” indiscriminadamente para se referir a qualquer ser mágico. — Falou Evin.
— Mas é verdade que uma vez que se prova a comida dos elfos ou das fadas, perde-se o interesse pela comida humana? — Perguntou Gisella, curiosa.
— Sim, é verdade. — Confirmou Gisella. — E não só pela comida humana, mas a de outros elementais também.
— Quer dizer então que… Não vou gostar da comida das fadas?! — Gisella abaixou a cabeça chateada. Sempre tivera curiosidade em provar a comida das fadas para comparar o sabor com o de outras culinárias de seu mundo.
— Infelizmente não. — Falou Evin. — Mas, ainda que tivesse provado a comida delas primeiro, assim que provasse a nossa, você perceberia que é melhor.
— Mas então eu não preferia a delas a de vocês? — Perguntou Gisella confusa.
— É impossível não gostar da comida élfica. Não importa o que digam. — Evin piscou.
Após o almoço, Gisella lavou as louças e Gaion as secou e as guardou no armário. Então, as duas foram até o bosque. Gaion tirou as sandálias e pediu para que Gisella também tirasse suas sapatilhas. Gisella obedeceu. Descalças, elas sentiram a grama úmida sob seus pés.
Gisella olhou ao redor, fascinada pela beleza das árvores, arbustos e flores.
— As ninfas estão recolhidas em suas árvores, dormindo. Todas as noites, elas despertam para dançar e cantar para a lua. Podemos despertá-las agora. — Falou Gaion pegando as mãos de Gisella e girando com ela suavemente. — Elas, logo se juntarão a nós.
Gaion começou a cantar com sua voz sedutora e suave:
Hoje é noite de luar
Quando as ninfas saem pra dançar
Talvez as fadas e elfos possam a nós se juntar
Dançando e girando,
Girando e dançando,
Posso lhe dar um beijo
Ou até conceder-lhe um desejo
Porque hoje é noite de luar
É tempo de sonhar
É tempo de amar
É noite de luar.
Enquanto Gaion cantava e dançava com Gisella, luzes douradas reluziram dos troncos das árvores e também dos arbustos. Moças de aparência angelical que usavam vestidos longos de cores claras e tecidos leves, e tinham flores enfeitando seus cabelos, saltaram das árvores e arbustos, aproximando-se devagar e olhando para as estranhas com curiosidade.
Gaion soltou uma mão de Gisella e gesticulou para que as ninfas se aproximassem. Uma a uma, elas vieram, uma dando a mão a outra, formando um grande círculo onde todas dançaram e cantaram belas canções que Gisella não conhecia. Infelizmente, o tempo passou depressa e, logo Gaion e Gisella tiveram de se despedir das ninfas.
— Obrigada por essa tarde inesquecível, Gaion. — Disse Gisella a encarando enquanto segurava suas mãos.
— Não por isso. — Disse Gaion sorrindo e aproximou seu rosto do de Gisella.
Quando percebeu que a elfa se aproximava, Gisella fechou os olhos e prendeu a respiração, sentindo o coração acelerar. Gaion lhe deu um beijo no rosto e então recuou. Gisella abriu os olhos e sentindo as bochechas corarem, disfarçou rápido, virando o rosto e abaixando a cabeça.
— Tenha uma boa noite e bons sonhos. — Disse Gaion antes de soltar as mãos dela, se afastando.
— Você também. — Gisella respondeu e observou Gaion até perdê-la de vista quando ela cruzou a névoa.