Nostalgia

4393 Palavras
INGLATERRA, 1345 O sol nascia aos poucos trazendo sua luz a bela clareira onde o capim crescia moderadamente. Havia algumas árvores centenárias ali e musgo se alastrando na madeira e do alto das árvores junto as folhas. A moça estava sentada na raiz exuberante de uma árvore cujo tronco tinha entalhado um coração com as iniciais D+K. A bela ruiva estava imersa na paisagem exuberante onde havia também um lago cristalino. O longo cabelo rubro e ondulado voava pela ventania e reluzia capturando em seus fios o brilho estonteante do sol. A abraçou por trás a assustando no início. — Minha linda dama... — Cumprimentou-a Demétrius. Ela reconheceu a voz e se colocou de pé, virando-se para ele. Os olhos verdes e intensos dela estavam cheio de lágrimas e ela o repeliu o empurrando para longe e cruzou os braços. Demétrius realmente não entendeu a atitude. —Você se alistou no exército do rei... Quando pretendia me dizer? — Gritou ela. —Quem te contou? — Perguntou-a num fio de voz. —Quem você acha? Nikolai... —Ela relatou com um curvar do canto esquerdo dos lábios e grossas lágrimas descendo pelas maças do rosto. —Ele foi me deixar uma carta sua e me contou que vocês iam para a guerra. Eu precisei saber por ele, Demétrius! Por qe? Por que não me disse? Ele foi até ela e a abraçou fortemente acabando com a relutância de antes. —Eu devo ir amor. —Informou-a atordoado e a consolando. Passou a mão pelo longo cabelo dela. —Por que? —Teimou ela escondendo o rosto no peito dele. —Prometeu que se casaria comigo e me daria vários filhos e filhas. Prometeu que seria o melhor marido e pai do mundo. Você é um poeta, um sensível, um belo maestro das palavras... Foi por esse homem que me apaixonei. Matar não é para você. Não é. Eu te conheço e sei que lamenta até pelas caças que tem que matar ... como matará homens? —Meu pai me presenteou com uma espada. —Confidenciou-a encarando o lago mais distante com um sorriso que não chegava a seus olhos azuis. —Acredite Ka, eu entendi o que ele quis dizer, mesmo que ele não tenha dito nada. Eu tenho que ir por uma questão de honra. Ainda mantinha-a com o rosto sobre seu peito agora dando um longo suspiro beijando o cabelo ruivo. —Quando você passou a se importar com o que seu pai quer? — A ruiva falou relutante e rancorosa. Tentou animá-la forçando um sorriso pegando a mão esquerda dela e fazendo-a enroscar os dedos na sua mão direita. —As nossas alianças... Eu fui ao joalheiro e mandei fazê-las. —Ele mudou o assunto. Demétrius queria ter a benção de seu pai para casar-se com ela e só teria se fosse para a guerra primeiro. A ruiva com algumas sardas ergueu o rosto, levou a mão enluvada livre ao rosto dele fitando-o o mais intensamente que conseguia. —Eu compreendo seu dever para com sua família. Mas volte para mim. —Rogou-lhe a moça. —Voltarei. Katrina estava sentindo uma dor traiçoeira em seu peito. —Estarei esperando por você... —Declarou ela. —E se a morte me reivindicar antes? —Quis saber, temeroso. —Eu serei uma viúva antes mesmo de casar, pois, nenhum outro entrará em meu coração. —Tranquilizou-o. — Serei sua noiva pela eternidade. Mas caso aconteça use o seu dom com as palavras e persuada a morte e peça-a que apiede-se de nós jovens enamorados e eu pedirei daqui para que te deixe viver... Ele sorriu. —Eu tentarei. — Garantiu-a ele. —Sobreviva, Demétrius! Cumpra a promessa que me fez! — O exigiu. —Eu prometo que irei regressar, Ka. — Acalentou-a. —Não é o suficiente. Jure. — Implorou-o. —Eu juro. ... DIAS ATUAIS DEMÉTRIUS Demétrius parou de andar pela estrada de terra da propriedade dos Bulstrode saindo de seu devaneio. O peso das lembranças massacrava seu peito. Ele admirou o céu estrelado e sua vista estava embaçada e seus olhos rubros. Levou a mão ao coração e as lágrimas de sangue desceram enquanto fechava a mão sobre o peito, bateu-a ali e ar parecia faltar à medida que mirava a lua iluminando as trevas da noite com rancor e puxava a camisa com força para tentar conter tamanha tormenta. Limpou as lágrimas, mas continuaram descendo com rebeldia criando rastros horrendos contra a face pálida. Agora não era a hora para sentimentalismo. Outro ciclo começaria. Outra vez a reconquistaria e eles ficariam juntos até que a morte a reivindicasse. Primeiro casaram-se quando ele regressou já um monstro e ela morreu enforcada por bruxaria por causa dele. A reencontrou novamente em Salém e ela morreu queimada e agora Salém novamente. O que ele deveria esperar dessa vez? — O que você faz por aqui, mestre? Esperando alguém... — A voz familiar e acalentadora de Anne se fez presente e o acalmou um pouco de seu desespero. Era a voz de Andreia. A voz daquela que amou além de Katrina. A voz de sua pequena filha adotiva. Anne espiando procurou por alguma pessoa ao redor da floresta dos gritos, contudo, só havia o estridular dos grilos e as árvores nuas de folhas. —Gostaria de ficar sozinho. —Expulsou-a basicamente. — Sua família barulhenta e aduladora me irrita. Demétrius não se surpreendeu com a aparição que para qualquer outro seria abrupta porque já tinha escutado o som do carro ao longe e os passos leves dela se aproximando pisando sobre as folhas de outono. Anne tinha pedido para Matthew deixá-la na entrada, antes de entrarem nas terras da família dela totalmente para que fizesse o resto da caminho andando. Não queria que o garoto entrasse ali e visse o quanto eram esquisitos. No fim, acabou vendo a silhueta parada olhando para cima e isso a fez ir até ele. —Somos dois a quem eles irritam então. —A menina foi perspicaz na resposta. —O ônibus da escola passa esse horário na estrada? —Perguntou ele retórico. —Eu só tive que resolver um problema. — Começou Anne. Ela estava parada ao lado dele. Anne era tão baixa que parecia muito pequenina perto dele. —Não está tarde para chegar em casa, mocinha? Ainda mais acompanhada por um rapaz que nem se apresentou a sua família...Se fosse antigamente eu o arrancaria do carro e o faria jantar conosco. — Demétrius deixou-a ciente. Ela gargalhou alto. —Ele? Jantar? Nós não somos namorados, então ele não tem que se apresentar. Como você... Ah, a sua audição. —Tranquilizou a si mesma. — Bem, tive que fazer um serviço depois da escola e ele ajudou. —Explicou ela. —Apenas isso. Estou juntando o dinheiro para sair daqui aos poucos não se preocupe. —Já disse que sua presença nessa casa não me aborrece...Esse é o seu lar, Anne. Tem o sobrenome daquela que me jurou lealdade eterna e isso te faz minha família como o resto deles. — Demétrius ilustrou um pensamento. Anne se sentiu estranha. Colocou as mãos dentro dos bolsos do casaco que usava já que estava bem frio. Não estava acostumada a alguém controlando seus horários ou com quem saia e muito menos dizendo que ela era parte da família. Era engraçado de certa forma o jeito protetor que ele agia, por isso, por mais que o tentasse odiar por ele ser um monstro, a bondade que ele demonstrou com ela até agora a protegendo de sua mãe tornava isso impossível. O homem estava de costas para ela, parecia mais distante do que realmente estava, mas era algo psicológico. Anne viu as roupas novas e ficou curiosa, não resistiu e o tocou no ombro coberto, gentilmente, o fazendo se virar para poder admirar o novo visual, acabou aterrorizada com as grossas listras de sangue no meio da bochechas as quais ele limpou rapidamente. Apesar de estar um tanto surpresa pela versão moderna dele, ela captou a dor angustiante e se desesperou ao ver o rastro das lágrimas ignorando todo o resto. — Sei que não é da minha conta, mas...Droga. Você está chorando sangue? Está tudo bem? — Anne sondou-o. O único relato que conhecia de choro de sangue ou quase perto disso era o de Jesus. Ela tirou um lenço da mochila e entregou a ele. —Você não consegue cuidar apenas da sua vida, bruxa? —Constatou amargo. Demétrius aceitou o lenço e limpou o rosto. Ele respirou fundo o ar frio da noite e soltou-o pela boca fazendo uma ligeira fumaça surgir. —Desculpa, mestre. — Pediu Anne. — Por me intrometer nos seus assuntos, eu só... —Não precisa se desculpar. — Expressou resignado. —Está na sua natureza. Eu não quis ser rude também é só que... É complicado. —Sou uma boa ouvinte se quiser partilhar...—Tentou Anne. —Isso parece estar te consumindo e o corroendo... —Eu só a vi...Ainda não estava preparado para o reencontro. —Relatou o vampiro angustiado e com a voz embargada. —Reencontrar minha noiva é sempre doloroso... —Desabafou. Demétrius passou a mão pelos fios agora curtos sentindo falta deles como eram antes. Ele preferia eles longos. —Desculpe, mestre. Eu não entendi. Sou um pouco lerda... — Anne deixou escapar tentando realmente captar cada detalhe. —Quando a vejo, como uma maldição sempre lembro de como nos conhecemos e de como sempre ela morre tão jovem. E essa sina, me mata aos poucos, Anne... — Explicou-a. —Fala de Endora? —Anne falou o nome para se certificar, contudo, empática. —Sim, nessa vida, Endora... — Suspirou ele. Anne não gostava dela. Mas desde que soube que Endora era noiva dele, a moça resolveu relevar. Todavia, por algum motivo, dessa vez seus olhos ficaram marejados por eles dois e deu ligeiros tapinhas no ombro dele para consolá-lo. —Vai ficar tudo bem. —O consolou. —Calma. Sofrer antes do tempo para quê? Por que ficar ansioso? Vai dar certo. Você vai ser feliz, mestre...Relaxa e deixa acontecer. Você é rico, bonito, sensível...Ela vai se apaixonar na hora. Prometo que irei ajudar no que puder, só não chore, tá? Ele achou certa graça da gentileza dela e resolveu mudar de assunto. —O que achou do meu novo visual? —Ele perguntou e deu uma girada que fez Anne morder o lábio para suprimir uma risada. —Ficou legal? —Ah, sim. Muito! Eu já ia comentar. Está muito bonito, mestre. Gato e misterioso. — Aprovou a menina. Ela mostrou os polegares em positivo o arrancando um ligeiro curvar dos lábios outrora numa linha severa. —Houve um tempo que terno e gravata era o referencial de boa educação. Eu gostava mais daquela época. Sinto falta do meu cabelo... —Lamentou ele. — Sinceramente, assim combinou mais com você. Todas as garotas gostam de um bad boy. — Anne constatou. —Gostam é? — Ele o disse. Um último curvar de lábios denunciou o quanto ela o divertia. —Temos que escolher um nome de impacto, mestre...Que mostre ao que você veio. Pá! Sou um imortal que está atrás da sua amada eterna e... — Anne começou a tagarelar e Demétrius quis suprimir outra risada. —Demétrius. —Ele deixou o nome sair da sua boca, de repente, parando de sorrir e aceitando a carga dos anos. —Já te disse que é livre e não sou seu mestre. Ao observá-la Demétrius acabava sempre se lembrando da criança que ele criou. Entendia porque simpatizou com ela de imediato. Por causa de Andreia Bulstrode. A jovem órfã que havia salvado da inquisição em Salém e criado como filha e foi ela lhe jurou servidão eterna. Anne o mirou sem entender e ele riu ligeiramente com a testa franzida dela. —Ah, sim. Então esse é seu nome? Que maneiro! Mas... Eu não sei se devo te chamar assim. O resto da família pode não gostar e... — Começou a moça insegura. —Eles não importam. —Desdenhou-os. —Você pode me chamar de Demétrius, Anne. E sim esse é o meu nome verdadeiro. — Revelou-a. — Gosto de conversar com você. O silêncio se fez presente entre eles. Mas não era um silêncio tenso. Era um silêncio de respeito e entendimento. —Por que todo vampiro tem o nome bacana... Não pode ser mais simples tipo Jonh...Sei lá. —Brincou ela. Ele inevitavelmente acabou abrindo outro sorriso e negou com a cabeça a estudando profundamente. —Obrigado criança. — Agradeceu-a sinceramente. — Hoje era para ser um dia agridoce e agora se tornou apenas agradável graças a você. Anne quis argumentar e dizer que não era uma criança, mas aquela sensação de cuidado lhe era tão rara que...No fim, deixou. —Pelo que agradece? — Ela sussurrou para si. — Eu não fiz nada. —Está tentando me distrair. —Acusou-a. Ele podia lê-la tão claramente mesmo não sendo um sensitivo. Bondade, misericórdia, graça...As coisas que Jesus ensinou eram refletidas nela de uma forma bonita que o fez acreditar em algo novamente que não fosse apenas maldade. Entendia que ela não gostava de ver as pessoas tristes a sua volta e talvez fosse por egoísmo já que ela por ser uma sensitiva absorvia como uma esponja as emoções, entretanto, ele gostava daquele dom divino porque sensitivos eram almas caridosas e sempre sentiam que tinham que ajudar o mundo. —Eu não estou... — Anne ia contra argumentar. Ela sentiu algo vibrar no bolso da sua calça, tirou o celular e arregalou os olhos assustada vendo o horário e lembrando-se do trabalho de história. —O que foi? —Quis saber ele. — Por que essa cara? —Merda! Estou tão ferrada! Tão tarde. Eu preciso entrar, Demétrius. Tenho que fazer meu dever de casa. —Informou desesperada e quase correndo. —Espera. Você já jantou? —Insistiu ele. —Posso preparar algo para você antes de começar as tarefas se estiver com fome. —Comi um hambúrguer com um amigo. —Dispensou-o com os olhos repletos de gratidão. —Mas obrigada. Nossa! Isso é tão estranho para mim. Ninguém nunca se importou... —Eu sei. —O tom dele era manso. Vendo os olhos dela tristonhos, Demétrius permitiu que a mão fosse ao cabelo dela e acariciou os fios do cabelo curto dela os bagunçando e cedendo um de seus sorrisos gentis e raros a ela. —Isso é legal... — Confessou Anne apreciando o carinho. —Vá fazer o seu dever, pirralha. E se precisar de ajuda em alguma matéria me peça... Tenho anos de experiência. — O vampiro disse suavemente. —Oh, claro vovô! —Ela falou debochada e revirando os olhos o arrancando uma leve negação com a cabeça pelo desrespeito. —Mas respeito, Anne... — Exigiu-a. — Obrigada por ofertar cozinhar para mim, isso foi gentil. Só para constar, seu nome é bem legal. Só com ele a Endora vai gamar em você e se for bom cozinheiro como aparenta já é um grande passo. Está decidido, vou te ajudar nisso então não chore mais. Tenha uma boa noite e bons sonhos! Que os anjos te protejam. — Ela desejou e se retirou correndo. O deixou sozinho indo em direção a mansão. —Vou mesmo precisar. —Disse ele voltando a contemplar o céu. —Mas quanto aos anjos? Ah, eles me abandonaram há muito tempo, Anne. Acho que nem o todo poderoso olha por mim. NIKOLAI (Nos arredores de Salém) O rapaz de rosto pálido e olhos ligeiramente puxados atirava a adaga no alvo de dardos do bar silencioso e depois trazia a arma branca com um movimento da mão de volta para si levitando-a no ar, a pegando e jogando-a de novo. A sua volta havia dez cadáveres jogados com os pescoços dilacerados e sangue inundava todo o chão. A voz de mulher cortou a falta de som: —Está tão irritado assim? Nikolai com os olhos assassinos revidou quase que de imediato: —Você não está? Essa coisa entediante de novo e de novo... Ele nunca vai aprender que eu nunca o deixarei ser feliz. Droga! Eu vou fazer da vida dele um inferno. Ele reencontrou ela, eu posso sentir essa felicidade irritante. A bela voz feminina com certa diversão acrescentou: —O que isso te interessa tanto, Nikolai? Não me diga que depois de todo esse tempo continua desejando algo que nunca vai ser seu...Achei que já tinha superado isso...Tão mimado. Ele ergueu a cabeça, analisou friamente ao símbolo desenhado com sangue no espelho no teto do bar e estarrecido apreciou a bela mulher ruiva com cabelos quase de fogo e olhos rubros com pupilas escuras dentro do espelho. —Você transformou a mim e a ele e agora está presa no inferno, Lilith. Demétrius ignora a sua existência mesmo com a marca ardendo e eu sou o único que ainda sente que te deve algo. Não deveria falar de uma forma melhor comigo? —Confrontou-a arrogante. —Demétrius é um garoto levado, Nik...Mas você é um bom garoto, não é? Nunca irá me trair. — Havia uma certeza que o irritava na voz dela. Ele sentiu a marca do dragão arder em suas costas e fez uma leve careta. —Não. Você sabe que não. — Deixou escapar ele obediente. Lilith continuou: —Se está tão irritado... Por que não vamos para Salém e você me cede o corpo da reencarnação ao invés de fazê-la morrer? Katrina é um receptáculo poderoso e de uma alma já fragmentada. Seria uma boa forma de se vingar do seu antigo senhor e da garota que te rejeitou há tanto tempo, não é? —Sim. — Nikolai acolheu a sugestão de vingança. Ele escutou gargalhadas demoníacas. —Acho que já sabe o que deve fazer... — Aconselhou a bela mulher presa no espelho. Nikolai deu um sorriso pegando a adaga de volta e saindo dali. ... ENDORA Endora saiu do personalizado ranger rover rosa de Debbie. Paralisada contemplou o novato chegar ao lado de Anne num belo conversível preto. O coração da ruiva ganhou vida novamente e um despertar que pulsou numa esfera sobrenatural. A ruiva arqueou a sobrancelha o admirando ainda no estacionamento da escola inconsciente do despertar que teve. O dia estava ligeiramente frio. A escola toda parou por causa dele no corredor dos armários. As meninas suspiravam e alguns meninos também. A ruiva parou de falar por alguns minutos como se estivesse em transe quando os olhares deles se encontraram e sorriu tímida e sentindo especial que tivesse o par de olhos azuis só para si. Anne notou o flerte deles dois e revirou os olhos, e seu olhar debochado por tanta fofura irritante que presenciava entre Endora e Demétrius se encontrou com o de Debbie à distância e a pequena Bulstrode desviou rápido o olhos dos âmbar da loira e voltou-se para seu armário com as bochechas vermelhas. —Quem é o novato gato ao lado da esquisitona? —Debbie quem perguntou. Endora apenas negou com a cabeça saindo de seus pensamentos e se lembrando de que já o tinha visto. —Será que é o namorado dela? —A voz de Debbie era furiosa e ela fechou a mão em punho. —Não! —Respondeu Endora rápido e sentindo uma pitada amarga em seu peito com essa hipótese. Essa certeza Endora tinha sem mesmo que ela soubesse o porquê. Demétrius a dirigiu um sorriso estonteante e mostrando os dentes e a ruiva retribuiu de imediato fazendo um ligeiro aceno com a mão para mostrar a ele que o tinha visto como se houvesse só eles dois ali e não um enxame de alunos. —De qualquer forma, achei que ela fosse lésbica. —Debochou a loira ao lado de Endora bem m*l-humorada. — Eu já falei Debbie que sua suspeita dela estar a fim de você é sem fundamento. Acho que podemos deixá-la em paz agora. E mesmo que estivesse…Não é como se ela tivesse dando em cima de você ou tenha te ofendido de alguma forma apesar de cá entre nós você sempre usar roupas mais decotadas quando tem aula de biologia. —Acrescentou Endora. — E foi a Ashley que piorou os rumores. Você só disse que Anne te olhava enquanto você escrevia as anotações da aula de biologia. Já pensou na hipótese que ela te olha porque vocês são parceiras de laboratório. Não seja maldosa. —Pensar o quanto ela é nojenta em gostar de garotas e se vestir como um menino já me faz sentir nojo, Dora. O cabelo dela ficou horrível curto, não ficou? Tão masculino e... —Desprezou-a Debbie. Endora dirigiu a amiga um olhar piedoso e paciente. Ela tocou o rosto de Debbie com aceitação e carinho e negou com a cabeça dando um profundo suspiro. — Discordo. Dizem que o que a gente odeia nos outros é o que vemos de semelhantes deles em nós. — A ruiva aconselhou olhando a amiga com compaixão. — Na verdade, combinou mais com o formato oval. Ficou bem bonito apesar de um pouco masculino sim mas essa moda é tomboy. Dá para ver o rosto lindo que ela tem agora. Ela gostava de escondê-lo no fundamental lembra? —Endora foi sincera e Debbie apenas concordou com a cabeça. — Esqueci de te contar que a vi com um garoto ontem. —Acrescentou a ruiva sondando a reação da amiga. —Ele até que era bonitinho e eles pareciam bem intensos. Eles pareciam ter alguma coisa, Debbie... —Hm...se você diz. —Foi só o que a loira disse ainda observando a menina mais distante ao lado do novato agora com ligeira tristeza. Endora percebeu e disse. — Ouvi dizer que tem pessoas que gostam de garotas e garotos. Pode ser o caso dela, não é? Aliás por que se incomoda tanto com o que a Anne faz ou deixa de fazer? — Endora questionou maternal. Debbie recuou assustada e como se tivesse saído de um transe. —Qual é? Quer ser a boa samaritana agora? Você também zoa com ela e nós a chamamos de “ fofinha” desde o fundamental. Endora tomou um profundo suspiro: —Apenas porque você é minha amiga e não vai com a cara dela que eu participo das suas brincadeiras sem graça com ela. Mas eu não tenho nada contra a Anne. Na verdade, eu estava desesperada ontem na prova de Matemática e ela me passou cola e me ajudou dizendo as letras certas das questões que não precisavam de cálculo. Debbie apenas respirou profundamente. — Por que ela te ajudou? O que? Vai se tornar amiga dela agora para se aproximar do garoto? — Inqueriu a loira. —Eu não preciso disso para me aproximar de ninguém. — Endora soltou ofendida. —Esqueci que estou falando com a Afrodite. —Debochou Debbie. Endora a deu uma cotovelada encarando-a ofendida, entretanto, relevando. ANNE Do outro lado, Anne e Demétrius estavam perto, mas cada um em seu armário, arrumando suas coisas. —Então, Demétrius... Você vai falar com sua noiva eterna ou vai ficar só encarando daqui? Deus, não tenho paciência para isso. —Não agora. — Demétrius a respondeu. —Quando ela estiver sozinha. Aquela amiga dela é um desgaste emocional. Elas estavam falando sobre você. —Elas sempre falam sobre mim e o quanto sou nojenta. —Anne informou calma. —Não está curiosa para saber o que? —Instigou-a ele. —Já tenho ideia do que pode ser. Sensitiva aqui, lembra? —Constatou Anne realmente cansada. —Mas posso dizer daqui que Endora já está animada e interessada em você... Continue como o estranho misterioso e gato. E seu sotaque britânico quando ela ouvir, nossa, com toda a certeza vai ajudar a soar mais interessante. Você sabe como causar em... —Endora não tem namorado? — Questionou o vampiro fechando o armário e observando a pequena Bulstrode. —Não que eu saiba, De. Mas não foi por falta de pedidos. Dava pena dos garotos que se confessavam e levavam um não bem na cara. — Contou-o Anne pensativa. Demétrius apenas notou o jeito que Anne o chamava agora “ De” resolveu nada dizer. Estava feliz. E era mesmo como se esse papel de atuar como adolescente estivesse se tornando bem real. —Ah, qual é... Me poupa disso. Não me diga que está todo felizinho só porque ela esperou por você? — Quis saber a Bulstrode. —É só que ela cumpriu a promessa que me fez... — Soltou ele bem baixinho. Anne captou a sensação de felicidade. Anne o analisou parecendo só um adolescente apaixonado e sorriu sentindo a alegria dele. —Tá legal. Isso é bem fofinho. — Se rendeu a menina. —Talvez esteja no inconsciente dela a promessa de vocês, acho que por isso ela não ficou com mais ninguém. O sinal tocou e Demétrius fez uma leve careta pelo barulho quase ensurdecedor. —Vá para a aula, Anne. — Ordenou paternal. Anne revirou os olhos apesar de apreciar alguém cuidado de si. —Sim, eu sei. Tenho que entregar um trabalho de história. Qual é o seu horário agora? — Quis saber ela toda curiosa. Ele olhou no papel que o avô de Anne o dera mais cedo aquele dia. —Literatura. — Respondeu-a. —Hm...senhor Spasky. Isso é bom. Esse é o horário de Endora pelo que eu sei. — Animou-o. —Quer ajuda para encontrar a sua sala? —Não precisa, pequena. Eu me viro. — Respondeu-a Demétrius. — Sente-se perto o suficiente para ela te ver, mas longe para causar um mistério. Espera. O que é isso. Essa sensação não é minha. Você está nervoso? —Anne se deu conta do desespero dele. — Por que nervoso? —Ela sempre me deixa assim. — Explicou-se ele. — Que bom que posso dividir essa carga com você. Ajuda um pouco. Anne o deu leve tapinhas nos ombros negando com a cabeça. —Ah, o amor... — Soltou Anne. — Relaxa De. Tenta não fazer merda. Vai dar tudo certo... Anne saiu o deixando sozinho no corredor já que os outros alunos seguiam para suas respectivas salas e se virou para trás se despedindo dele mais uma vez com um “tchauzinho”.
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