Estava confinada em uma residência suntuosa, em um quarto espaçoso, rodeada por pessoas desconhecidas cujas intenções permaneciam nebulosas. Minhas preces silenciosas buscavam uma concessão do senador para atender ao meu pedido, a esperança de que Christian estivesse disposto a enfrentar o desconhecido ao meu lado. No entanto, a incerteza permeava meu ser, pois ponderava sobre as possíveis razões por trás da minha reclusão em um lugar tão grandioso e a razão pela qual Christian fora trazido até mim.
O som de passos e vozes na sala capturou minha atenção, e me aproximei da janela para investigar. Guardas trajados de uniformes impecáveis conduziam Christian em direção ao meu quarto, atendendo ao chamado do presidente. A tensão no ar era palpável, e minha esperança misturava-se com a ansiedade ao ver Christian sendo guiado até mim.
— Trouxemos-o, senhor! — anunciou um dos guardas ao entrarem em casa em alto e bom tom. Corri para o outro lado da porta, a fim de espiar pela brecha.
O senador Lowtner, com sua postura confiante, acompanhou os guardas. Seu sorriso caloroso parecia carregar uma revelação, e eu m*l podia conter a antecipação.
— Pois bem, sigam-me. — ordenou o presidente, indicando que todos o seguissem.
Ele se dirigiu ao meu quarto, e eu recuei da porta, reassumindo meu lugar na cama. O senador adentrou o quarto com um sorriso intrigante.
— Surpresa!
Um sorriso animado floresceu em meu rosto, ansiosa pela reunião com Christian. No entanto, ao observá-lo, percebi que seus olhos permaneciam cerrados e seu corpo imóvel. Uma onda de preocupação e questionamentos se desenhou em meu rosto.
— Está feliz? — perguntou o presidente, notando minha expressão.
Preocupada com o estado de Christian, fiz a pergunta que pairava em minha mente.
— Por que ele não se mexe? Por que não abre os olhos? — questionei, sentindo a tensão no ar.
O senador suspirou, quebrando a notícia de forma direta.
— Tivemos que dopá-lo!
— Dopá-lo? Por que? Ele estava se recusando a vir? — indaguei, abalada com a revelação.
O guarda presente explicou o procedimento, revelando que Christian não estava ciente da mudança, e que o remédio foi administrado para evitar resistências. As palavras ecoaram em minha mente, e a incerteza sobre como Christian reagiria quando despertasse instigou um misto de emoções.
— Calma, Isabel! Logo, ele acordará, e quando o fizer, ele decidirá se quer ficar ou não. Não vamos o obrigar a nada. — assegurou o presidente.
A presença de Christian ao meu lado, mesmo que inconsciente, trouxe uma sensação agridoce. Enquanto o senador e os guardas se retiravam, eu me encontrava sozinha com ele, perdida em pensamentos sobre o que o aguardava e se ele, de fato, escolheria permanecer ao meu lado.
Horas se passaram, e Christian permanecia imerso em um sono induzido. Contemplei cada detalhe do rosto dele enquanto dormia, sua tranquilidade contrastando com a agitação que habitava meu interior. Finalmente, ele despertou, pronunciando meu nome com uma mistura de confusão e surpresa.
— Isabel?
— Oi. — respondi, sorrindo com alívio ao vê-lo acordado.
Ele pulou da cama, desorientado, e começou a questionar o ambiente desconhecido ao seu redor. Respondi às suas perguntas da melhor maneira possível, compartilhando a pouca informação que eu mesma possuía.
— Onde estamos, Isabel? — perguntou ele, seus olhos vasculhando o quarto e absorvendo cada detalhe.
Eu me aproximei, tentando acalmar sua inquietação.
— Estamos na casa do senador Lowtner. — respondi, escolhendo minhas palavras com cuidado.
Ele franziu o cenho, claramente sem entender como havíamos parado ali.
— Por quê? — indagou, buscando uma explicação para a mudança abrupta.
— Eu o pedi para te trazer aqui. — admiti, enfrentando seu olhar com sinceridade.
Christian pareceu surpreso e, ao mesmo tempo, intrigado com a revelação. Seus olhos azuis, ainda turvos pela recente recuperação da inconsciência, buscavam os meus em busca de mais esclarecimentos.
— Você pediu? Por quê? O que está acontecendo? — questionou ele, tentando conectar os pontos em sua mente.
Eu não respondi. Afinal, não sabia como. Ele permaneceu em silêncio por um momento, processando as informações que acabara de receber. Sua expressão passou de surpresa para um alívio.
— Você pode escolher partir a qualquer momento, Christian. — expliquei, tentando amenizar a tensão.
— Você simplesmente sumiu depois daquela nossa última conversa... — Christian desabafou, atormentado. — Eu pensei que... Eu achei que você tivesse...
— Morrido? Eu sei.
Sem hesitar, Christian estendeu seus braços e me envolveu em um abraço reconfortante. Surpreendida pelo gesto, permiti-me ser envolvida, enquanto o calor do abraço dissipava parte da angústia que carregava.
— Pensei que tivesse perdido você para sempre. — Sussurrou, quase que em um som inaudível.
Durante todos esses anos, o calor de um abraço tornou-se uma lembrança distante, quase esquecida.
A sensação dos braços de Christian ao redor de mim fez com que uma onda de emoções represadas emergisse. Era assustador, mas ao mesmo tempo bom. Era como se aquele abraço estivesse dissolvendo não apenas uma solidão física, mas também um choro entalado na minha garganta, uma expressão silenciosa de todas as dores e isolamento que carreguei por tanto tempo.
A cena evoluiu para um jantar conjunto, onde o senador Lowtner se revelou de maneira surpreendente. Sua figura imponente, oculta por trás de uma cortina de formalidade, mostrou-se como alguém com uma história de perdas e uma gentileza que transcendia as aparências. À mesa, compartilhou histórias e experiências marcantes com a complexidade de emoções que a vida nos impõe.
A noite se desdobrou em revelações, e a compreensão mútua entre mim, Christian e o presidente começou a florescer, criando laços inesperados que moldariam o curso dos eventos que estavam por vir.