CAPÍTULO 3 - CHARLLES

1414 Palavras
Olhei para o relógio na parede, passando a mão no rosto e vendo que o prédio devia estar pegando fogo pra alguém bater na minha porta mais de três horas da manhã. Me esquive do corpo na minha cama e me levantei, colocando roupa e indo pelo corredor, escutando mais uma vez o barulho. - Já vai - Quando destravei a porta e abri, vi a figura da minha mãe, molhada e com casaco ensopado, o tempo mais cedo devia ter pego ela de surpresa. Ela segurava uma sacola com embrulho de presente e quando pude encarar o rosto dela, vi que não era somente a chuva que molhava ela. Ela se aproximou rapidamente e me abraçou, aquilo me preocupou e eu fiquei quieto, enquanto acariciava as costas dela, sem entender nada, enquanto ela se desfazia me lágrimas. Me perguntei o motivo. Mamãe nunca chorava fácil, a última vez foi na adolescência, em uma das brigas minha e do meu irmão. Agora depois de tantos anos, ela aparece assim, de madrugada na minha porta, me abraçando e chorando. Meu pai veio na cabeça na hora e eu senti um arrepio atravessar minha espinha, respirei devagar e me esquive dela, encarando ela nos olho. - Filho - Ela não conseguiu falar. - Você comentou um erro tão grave! Analisei a fala e lembrei que a última coisa que ela havia falado sobre isso, bem, se relacionava a Ana Luiza, não aí meu pai ou a uma tragédia. Respirei fundo e pensei em algo pra falar, algo que não foi ofensivo e nem nada, levando em conta a situação de nervos que ela se encontrava agora. Pelos céus, parecia complicado o apego que ela criava. - Vem, vou buscar água pra senhora e uma toalha - Me mexi, em poucos minutos havia feito aquilo tudo, vendo ela se sentar no sofá e segurar a sacola em uma mão junto ao corpo e o copo na outra. - Agora quer falar o que houve? Nessas horas longe de casa, nesse tempo, papai sabe? - Eu disse que precisava pensar, ele está em casa eu acho - Ela me encarava agora. - Eu vou ligar pra um táxi... - Não, eu preciso falar - Ela respirou fundo, deixando o copo de lado. - Seu filho nasceu, ele é um garotinho Charlles, um garotinho tão pequeno - Não esboce reação. - Ana Luiza agora é mãe, ela acabou de dar a luz no seu filho, no meu netinho. - Mãe... - Ele é seu filho, pelo pouco que eu pude ver filho, ele é sim seu, acredito agora ainda mais na armação e coisa ruin que seu irmão fez. - Vamos com calma, está bem? Começava a achar preocupante a atitude da minha mãe, a forma que defendia Ana e até acreditava no que ela falava. - O filho é seu, eu sei que é! Você tem que ir, se você olhar para aquele rostinho pequeno vai sentir isso, ele se parece com você quando pequeno, por favor, você tem que fazer algo Charlles, vai perder uma garota boa e um filho, por favor. - Por favor, pare - Ela parou de falar, ficando ereta e então abrindo a sacola, puxando um embrulho e tirando dele um coisa pequena, quando abriu, vi a roupa quase minúscula de bebê, vendo ela colocar sobre o colo e me encarar, agora seria. - Vai continuar na sua ideia - Ela deslizou os dedos na roupa da criança. - Eu não pude ver meu neto, ela não quer ninguém perto, ninguém da nossa família e nem da dela. - Isso é uma coisa que ela pode escolher mãe, não podemos fazer nada. - Você é o pai! Quantas vezes vou repetir isso? Aquela garota não traiu você, eu acredito nela, você morou com ela, pelos céus Charlles, a garota teve que fazer um teste pra comprovar que tinha dado pra você e você ainda acredita que ela teve coragem de trair você?! Me levantei. - Dispenso sermão. - Olha aqui seu moleque, eu perdi boa parte da aproximação com você e seu irmão, por conta de atitudes como essa, armação de um lado, briga do outro, pelos céus, eu nunca pude falar que tinha paz entre vocês dois. Eu estou cansada disso. Eu agora vou perder uma coisa tão importante pra mim, meu primeiro neto, por conta de briga e intriga do seu irmão e você. - Eu vi a foto. - Acredito que aquilo tem algo por trás, não acredito que ela tenha feito coisa alguma. - Isso é o seu ponto de vista. Respeito a senhora e não vou ser grosso e nem nada, mas esse assunto já deu pra mim, se ela ganhou o bebê, ótimo, se ela quer criar sozinha, ótimo pra ela, eu não tenho nada com isso. Não quero saber dela e nem da criança, eu mais que ninguém acredito, não tem nada que possa me fazer mudar de ideia ou de opinião. Eu não vou ser burro de novo, não vou perdoar e nem conviver com isso, fiz isso uma maldita vez e arruinei as coisas pra mim e pra outra pessoa. - Seu bendito passado de novo?! Quando vai superar e aprender a seguir em frente, ver que acidentes acontecem e escolham podem não ser tão boas assim, que perdoar é uma escolha e não uma consequência. Ficamos os dois nos encarando. Queria falar ou dizer algo, mas ela já sabia o que eu iria ou poderia falar, pelos meses que se passaram ela já havia deixado claro o que achava e o que queria. -Já está tarde, vou chamar um táxi pra senhora. - No hospital estavam os pais dela, eu e seu pai também, todos esperando, até que o médico veio com uma enfermeira, lamentou que a mãe não autorizou ninguém entrar pra ver a criança e nem na ala do berçário, mas que estava tudo bem com os dois, tem noção disso?! - Ela limpa uma lágrima que cai. - Eu consegui ir até lá do meu jeito e vi pelo vidro o garotinho, ele estava tomando o primeiro banho, ela deixou apenas uma amiga entrar, eu a vi e soube que tinha carinho, eu quis entrar e ver meu neto, saber como ela estava e se precisava de algo. Mas ela negou todos nós, acho que ela está tão determinada e com tanta mágoa. Ela proibiu cada pessoa daquela sala de espera. - Mamãe... - Eu vi aquele rostinho Charlles, parece tanto você, até a pinta no braço, ele é seu, você tem que fazer algo, peça desculpa e se aproxime, não precisa ficar com ela, apenas seja pai daquele garotinho. - Ela me traiu mãe, sabe o que é isso? - Eu não me importo caramba, estou falando do bebê. Aquele bebê é seu filho - Ela pega a roupa e guarda na sacola. - Eu perdi meu neto antes mesmo de conhecer ele, foi falar isso. - Não é assim. - Eu sei que seu irmão passou dos limites e tenho medo de pensar no que ele está disposto a fazer, mas você ceder a provocação e armação. Eu gosto ainda dos dois, mas estou tão cansada da atitude dos dois, pra mim deu, eu não quero saber nem dele e nem de você. Eu vou me dedicar a tentar me aproximar do meu neto e não deixar que ele se torne r**m como seu irmão e i****a como você. - Não sou o culpado. - Vai conhecer seu filho, quando bater os olhos vai ter a resposta, não precisa de nenhuma comprovação além dessa, eu sei disso. Confia em mim. Abro a boca pra responder e escuto uma voz feminina chamar meu nome, olho por cima dos ombros e vejo uma garota que havia pego mais cedo, vestindo uma das minhas camisas e encarando a cena. - Desculpa chamar você. - Me espere no quarto, já estou indo. Espero ela sai e vejo minha dar uma risada baixa. - Vejo que sofre bem. - Eu sou solteiro. A senhora sabe disso. - Você é uma vergonha pra mim - Ela se mexe e se aproxima da porta, me aproximo e evito que ela abra. - Vou chamar um táxi. - Não precisa, estou com o.motorista. Acho que você prefere se importar com uma estranha no seu quarto do que com o seu filho que acaba de nascer. Eu não vou insistir mais. - Está ótimo assim pra mim.
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