Episódio 5

1209 Palavras
Revivi aquele beijo maluco que tive com Arte na sala dos fundos. Um presente que me dei quando cheguei à maioridade. Foi emocionante. Semelhante a beijar o dem*ônio mais perigoso do submundo. Ah, e ele me levou num balanço emocional... Sobre o abismo. Sem seguro. Sem chance de salvação. No penhasco. Com um início de corrida. Desde aquela noite, apelidei mentalmente Arte, de Escuro. Infelizmente, esse apelido caracterizou muito bem o meu primeiro amor não correspondido. — Sarah…Artur sussurrou em oração, aconchegando-se ainda mais. — Bem, vamos acender um incêndio na minha casa? Você sabe o que farei com você... Artur passou a língua de um canto ao outro do meu lábio. Deixei escapar uma risada nervosa. — O-ok... Para de alguma forma me envolver no processo, novamente fiz algo que era absolutamente proibido de fazer. Lembrei-me detalhadamente daquele presente especial que recebi do Arte no meu aniversário de dezoito anos... Comecemos pelo fato de que o meu aniversário de dezoito anos não correu bem pela manhã. .... — Como é que a minha festa foi cancelada? Tentando não perder os resquícios da minha última compostura, olhei horrorizado para os olhos indiferentes de meu pai. Apesar da idade, o meu pai continuou sendo um homem imponente e atraente. Com cabelos grossos e brilhantes cor de café e olhos castanhos claros, ele era o tipo de homem que, como o vinho envelhecido, sempre foi popular entre as mulheres. — Sarah, você sabe muito bem que sou contra essas reuniões. O meu pai acenou, me saudando com um copo de suco de maçã fresco. — Convide as meninas para ficarem aqui em casa. Não vejo problema. Ele tomou um gole de suco, os seus movimentos eram lentos e medidos. — Você não vê o problema? – repeti num meio assobio: Pai, convidei os rapazes com antecedência! Reservei a boate! Paguei adiantado... — Já resolvi tudo. O dinheiro foi devolvido. Não seja dramática. Papai me deu um tapinha no ombro, esticando os lábios em um sorriso gelado. — Mas… — Querida, você manteve silêncio sobre o fato de que metade dos convidados são homens. Não pensei que a minha filha se sentisse atraída por tais reuniões. O meu pai olhou para mim com condenação. Havia muita coisa na ponta da minha língua, mas franzi os lábios e sustentei desafiadoramente o seu olhar pesado. Ensinado pela amarga experiência, sabia que discutir era inútil. Meu pai é um homem de vontade inflexível. Depois que ele decide algo, é impossível convencê-lo do contrário. Quantos nervos eu gastei sendo uma adolescente impulsiva... No entanto, todos os motins terminaram da mesma forma. Em prisão domiciliária com acesso limitado ao telefone e à Internet. — Comemoraremos no jantar está noite! E no fim de semana você pode convidar os seus amigos. Mas só sem essa besteira... Papai torceu o nariz em desgosto, obviamente lembrando do nome da minha ex-amiga Karina. Foi por causa da reação inadequada dele ao relacionamento dela com nosso colega Mishka que Karina acabou entre os primeiros da lista n***a do meu pai. Infelizmente, de acordo com Roman Sakharov, um relacionamento de uma aluna com um professor, era algo inadmissível. Ele não levou em consideração o fato de que o professor apresentou a sua carta de demissão há algumas semanas. — Ok, pai. Vejo você à noite. Sorri para meu “supervisor”, tentando suprimir a vontade repentina de virar tudo de cabeça para baixo. Resolvi, como sempre, acalmar a sua vigilância com minha humildade irreversível, porque com uma pessoa que tem um arsenal de armas de fogo em casa dificilmente qualquer outra coisa funcionará. — Estou feliz que finalmente começamos a nos entender. Ele murmurou com um sorriso falso. Uma visão legal em forma de ultimato. Cinco pontos, pai. Que bom que naquele momento o meu pai se distraiu com uma conversa telefônica e a necessidade de continuar a dolorosa conversa desapareceu por si mesma. Passando pela despensa, que o meu pai usava como adega para guardar bebidas alcoólicas, não resisti e entrei furtivamente. Peguei da prateleira uma garrafa de prosecco rosa que valia um mês de salario e enfiei-a na minha espaçosa sacola enquanto corria para o trabalho. É incrível como ainda não fui privada dessa pequena válvula de escape... Talvez o meu próprio pai não esperasse que eu durasse tanto tempo como garota de recados. Na verdade, meu estágio no restaurante Patricks foi iniciado como medida educativa após o nosso próximo confronto, para, como disse o “supervisor”, derrubar pelo menos um pouco minha arrogância. Papai fez um acordo pessoalmente com Arte, que estava em dívida com ele, para que os meus turnos não entrassem em conflito com meus estudos, e eu trabalhava principalmente à noite ou nos finais de semana. Só que o pai não levou em conta um detalhe essencial... Meus sentimentos estúpi*dos e não correspondidos pelo dono deste estabelecimento. Eu tinha doze anos quando, ao ver Arte pela primeira vez, o Cupido salpicou o meu coração de confetes brilhantes. O problema é que na época em que nos conhecemos ele já tinha vinte e cinco anos. Bem, e mais uma circunstância agravante... Arte foi ferido. Por motivos óbvios, ele não quis comparecer ao hospital, preferindo realizar a cirurgia no centro cirúrgico localizado em nossa casa. E ele também se recuperou conosco. Todas as noites eu ia secretamente até o paciente para alegrar pelo menos um pouco seu tempo: trazia livros, palavras cruzadas, revistas... Apesar de não se sentir bem, Arte estava sempre de bom humor comigo. Conversavamos. E ele brincava comigo. Ele até adormeceu ouvindo as minhas músicas e contos de fadas. Até dancei para ele algumas vezes. No entanto, não percebi imediatamente que havia me apaixonado... No início, os meus sentimentos pareciam mais sintomas de uma doença: palmas das mãos suadas, euforia, rubor de beterraba e perda de apetite. Na presença dele, naturalmente estremecia. Lembrei-me do nosso primeiro diálogo, quando invadi o quarto dele no meio da noite com presentes pré-preparados e prontos. — Qual é o seu nome, milagre? Naquela voz baixa e arrastada dele, perfurando-me com um olhar atento e comovente. – Sarah Vitoria. De tanta emoção quase revelei meu nome do meio. Bem, é claro, ele sabe que eu sou Sakharov... — Docinho Sarah, portanto... Foi assim que ele me apelidou. O sorriso quase imperceptível que brilhou nos cantos dos lábios rachados do homem cheirava a algo cativantemente sincero. — Docinho Sasha. Repeti, com falta de ar. E, finalmente, tendo recebido um presente de despedida na forma de um horóscopo de compatibilidade, Arte até prometeu se casar comigo. Com tudo isso em mente, fui com grande expectativa para um estágio em seu restaurante, esperando pelo menos um pouco de comunicação do meu chefão. Mas Arte pisoteou nos meus estúp*idos sonhos de menina, fingindo que não se lembrava de mim. Claro, tentei preservar os resquícios da minha dignidade, mas foi muito difícil ignorá-la completamente... Porque o meu chefe não era apenas criminalmente bonito, indecentemente rico e perfeitamente construído, mas também tinha uma energia masculina tão densa e fumegante que era difícil respirar na mesma sala que ele... É impossível “ignorar” um homem como ele. ‎ ‌​​​‌‌ ​‌‌​‌​‌​ ​​
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