O frio do Alasca inundou meu corpo por baixo das cobertas. Devagar abri meus olhos encarando aquela linda paisagem pela janela,a neve cobria os pinheiros ao redor da casa e as poucas casas mais afastada a leste,se eu estivesse em minha época saberia me localizar ,mas voltei alguns anos no tempo.
Paro um pouco para pensar no lindo e encantador inverno em Paris junto com minha família , mesmo sendo bastante rigorosos e ausentes tínhamos nossos momentos especiais. No natal íamos a Itália visitar o museu dos institutos,mesmo indo todos os anos e vendo as mesmas coisas eu sentia que aquele era um momento sem discussões ou regras.
Me levanto e vou a uma pequena porta onde deduzo ser a saída já que só existem duas portas neste quarto estreito. Observo o corredor e tento me lembrar da noite anterior quando ela me guiou,resolvo seguir a minha direita e encontro a velha escada de madeira,sei que se eu descer saberão que eu estou acordada e perderei a oportunidade de explorar esse lugar. Assim que dou meia volta sinto meu corpo inteiro tremer ao escultar aquela voz.
- Sei que esta ai Safryly desça e venha comer conosco. - Acho que nunca me acostumarei com sua voz dominante.
Respirei fundo e comecei a descer as escadas rangentes daquela velha casa. Segui o barulho de talheres e alguns cochichos e acabei por chegar em uma cozinha m*l iluminada e com um aspecto um tanto medieval,Tory me olhou com um sorriso sincero nos lábios o que me levou a sorrir também,Kenisem permaneceu serio se limitando a me apontar a cadeira ao seu lado,sussurrei um " bom dia" a ambos e me sentei. A mesa estava farta,tinha pães e tipos diferentes de queijo fora o famoso mingau medieval,agora não tenho duvidas que voltei no tempo. Em silencio comecei a comer,tenho que admitir o desconforto em estar com pessoas que você não tem i********e.
- Então Lyly,irei te levar para dar um passeio hoje,espero que goste. Quando terminar pode ir se arrumar o banheiro fica ali ao lado da sala,eu estarei te esperando do lado de fora.
Apenas assenti e terminei minha refeição o mais rápido que pude para fugir dos olhares de acusação de Kenisem. Entrei no banheiro e não me surpreendi por não achar um assento sanitário ou no minimo uma pia. Havia um pequeno buraco em uma elevação no chão que dava para uma foça profunda,em uma pequena mesa tinha uma bacia e uma jarra com água morna ao lado,acima um pequeno espelho embaçado e enferrujado,atras de mim vi uma caixa de madeira quase da minha altura,provavelmente esta é a banheira,creio que Tory arrumou tudo para mim como faria para seu filho que ela afirmou ter deixado para traz junto ao seu companheiro.
Despejei a água morna na bacia e lavei meu rosto tomando cuidado ao tirar algumas manchas de poeira da testa. Segui para a "banheira" também com água morna e tomei um banho tranquilo. Quando sai me deparei com uma roupa bem parecida com a que Tory usava ontem a noite,uma calça marrom,uma blusa de época e um colete escuro,uma bota preta e um pente para desembaraçar meus cabelos alaranjados.
Quando cheguei do lado de fora Tory estava sentada em uma das cadeiras na varanda da casa,seu olhar estava perdido, me parece que estava pensando em como seu filho estaria agora,já fazem três anos que ela esta aqui e sei que não é fácil.
- Vamos lá querida?- Quando ela notou minha presença se levantou e começou a seguir em direção a uma pequena floresta de pinheiros altos e coberto de neve,mesmo com todo aquele gelo não senti frio como eu esperava. Tory estava com as roupas iguais as minhas porém em tons de preto e marfim,seu cabelo castanho estava solto e ondulado chicoteando contra a brisa gélida,de repente ela parou e aqueles profundos olhos azuis me encararam como se pudessem ler a minha alma.
- Sabe Lyly. Eu entendo que você deve estar confusa agora com tantas coisas,mas eu estou aqui para te ajudar,alias eu e Kenisem estamos aqui pra ajudar você. - Sua voz suave conseguia me convencer da mais profunda duvida que minha mente pudesse produzir,ela sorriu e continuamos andando em silencio enquanto eu procurava as palavras certas para começar uma conversa.
Nossa caminhada não foi tão longa,paramos em frente a um lindo riacho de águas claras e provavelmente muito frias,havia alguns troncos derrubados em volta,nos sentamos e ficamos encarando o nada.
- Em qual seculo estamos? - Tomei coragem para perguntar. Tory não me olhou como da ultima vez,seu olhar estava fixo no riacho,apenas me abriu um meigo sorriso.
- Idade media,paradas no tempo para ser exata. - Para ela tudo isso parecia normal,para mim tudo me parece um pesadelo.
- Como assim? - Dessa vez seus olhos acharam os meus e não tinham a mesma doçura de antes.
- Estamos no ponto médio,no meio da ponte. Existe uma outra dimensão chamada Latet,creio que já ouviu falar sobre o mundo dos sobrenaturais,o portal que nós duas passamos é uma passagem direta para lá,porem não fomos estamos paradas em uma realidade intermediaria,imagine uma ponte sobre esse riacho,aqui é a nossa realidade e do outro lado é Latet,nós estamos no meio da ponte. - Ela explicou.
- E porque não conseguimos atravessar? - Ela sorriu de novo e segurou minha mão.
- Querida,tudo é feito da mais pura magia que você pode imaginar,e uma das coisas que esta entrelaçada a essa magia é o destino. Não atravessamos porque não é o nosso destino atravessar,nós temos uma missão aqui e temos que cumpri-la. - Sempre ouvi falar de buracos de minhoca,fendas temporais,portais para ouras realidades mas uma realidade intermediaria onde nunca existimos foi uma informação um pouco nova para mim.
- Teve medo? - Ela soltou minha mão e a mesma tristeza que vi em seus olhos ao falar de seu filho tornou a aparecer.
- Tive muito medo. Ele me assustava,a vida me assustava. Eu chorava todas as noites querendo voltar para casa e ajudar a concertar as coisas. Por muito tempo eu achei que nunca encontraria alguém que preenchesse as lacunas que existiam em meu coração. Mas hoje eu sei que encontrei e jamais me perdoarei por não ter aproveitado o tanto que pudia. - Lagrimas começaram a escorrer dos meus olhos,ela olhou para mim e estendeu o braço para que eu pudesse me aconchegar em seu colo. Chorei enquanto ela se balançava e me aquecia como uma mãe faz com sua filha. - Não chore. Tudo ficará bem.- Ela sussurrou em meu ouvido.
- Será que um dia eu voltarei para casa? - Ela suspirou e começou a alizar meus cabelos.
- Claro que voltará,assim que estiver pronta. - Deixei que meu corpo aproveitasse o carinho de mãe que ela estava me dando,como ela falou não quero me arrepender de não ter aproveitado o tanto que posso.
- Agora temos que voltar,Kenisem quer começar o seu treinamento o mais rápido possível.- Assenti. Ela se levantou e deu alguns passos até notar que eu permaneci sentada lhe observando.
- Ainda tenho muitas perguntas. - Murmurei para o vento. Ela encarou o chão e sorriu.
- Teremos muito tempo para tirar todas elas.- Estendeu sua mão para que eu pegasse e assim o fiz.
- Qual seu segredo? - Tenho que parar de ser tão curiosa isso ainda custará a minha vida.
Tory virou de frente a mim e pude ver as mais lindas asas já vistas a por olhos humanos,eram de tons rosê e quase translucidas,fiquei encantada vendo aquelas asas com mais de um metro e meio cada.
- Agora vamos, não irá querer ver o Kenisem irritado no seu primeiro dia de treinamento. - Suas asas sumiram da mesma forma que apareceram,e seguimos nosso caminho de volta a velha casa onde o feiticeiro já nos esperava próximo a alguns alvos e varias armas usadas naquela época. Será um longo dia por sinal.