Capítulo 2

1143 Palavras
Maya Albuquerque Maya Albuquerque é uma estudante de arquitetura reconhecida por sua inteligência e dedicação, mas por trás das notas altas e elogios dos professores, esconde-se uma vida repleta de desafios e segredos. A fachada de aluna exemplar oculta uma mulher determinada, que luta para ser respeitada em um mundo que muitas vezes vê a fragilidade como sinônimo de ser mulher. Nas encostas do morro, a realidade é implacável. Em um instante de desespero, empunhei uma arma contra aqueles que se sentem superiores, os que subestimam uma mulher. Minha transformação começou quando presenciei a cena horrenda de um pai que estava abusando da sua própria filha, enquanto os policiais permaneciam inertes. Sem pensar duas vezes, enfrentei aquele homem, e minha coragem trouxe não apenas respeito, mas também medo. Assim, passei a ser chamada de “dama do gelo” – uma mulher com olhos que refletem a frieza da vingança e a profundidade da dor. Mas esse título não é um emblema de poder; é uma máscara que visto sob uma camada de maquiagem cuidadosamente aplicada e roupas justas. Ninguém suspeita que a bela jovem que caminha pelas ruas do morro é, na verdade, a temida dona do lugar. Nem mesmo os mais próximos sabem que sou Dóris, a mulher de coração gelado, que oculta um passado obscuro e um desejo insaciável de justiça. As memórias dos meus pais e do meu irmãozinho são como sombras que me seguem. Recordo-me do olhar aterrorizado do meu pai, da violência que ele desencadeava contra aqueles que ameaçavam nossa família. Nunca esqueci o momento em que o vi agredir um homem, um ato que moldou minha noção de força. O que eu fiz em resposta ecoa em minha mente: a necessidade de ser respeitada, mesmo que isso signifique ações que desprezo. Em uma boate barulhenta, cercada por rostos desconhecidos, me deparo com um homem que não conhece minha verdadeira essência. Lucas se apresenta com uma arrogância que me irrita, lembrando-me de um dos monstros que destruiu meu mundo. Sua ousadia é um desafio que não posso ignorar. O i****a não para de me encarar. Acho que ele nunca viu uma mulher gostosa. — "Bem que muita gente me falou que você era gata. Realmente, você é muito gata e gostosa," ele diz, como se suas palavras pudessem me conquistar. "Gostaria de ter do meu lado uma Dona como você." Sorrindo sem emoção, respondo: — "Se eu quisesse tocar em você, já teria feito. Não preciso de ninguém para lidar com você. Gosto de fazer as coisas sozinha, e não hesito em acabar com quem invade o que é meu." Ele sorri, pensando que estou brincando, mas não faz ideia do que sou capaz. Acreditam que, por eu ser mulher, sou frágil, mas a única fragilidade que conheço é a da minha infância. O dia em que meu ex-parceiro testemunhou minha crueldade ainda ressoa em minha mente. Ele ficou chocado ao ver o que sou capaz de fazer, mas nunca estive sozinha. O que ele não sabia é que desenvolvi minhas habilidades ao longo dos anos, treinando em clubes de luta e aprendendo a sobreviver. Os traumas que carrego são um fardo, mas também uma arma. A cada ato de violência, a lembrança da minha família perdida se torna um combustível que alimenta meu desejo de vingança. Não queria viver assim, mas a necessidade de justiça superou qualquer remorso. Se Lucas for parente do homem que destruiu minha família, será um prazer pessoal acabar com ele. — "Eu sou a dona do morro mais procurada do estado do Rio de Janeiro," murmuro, com um sorriso que mistura frieza e determinação. "E você deve entender que, ao entrar aqui, está pisando em terreno sagrado." Meu plano de retribuição começou há muito tempo, e agora, aos 26 anos, já vivi uma vida inteira. Ganhei a confiança dos traficantes locais, manipulando e sobrevivendo sem revelar minha verdadeira identidade. A cada dia, me aproximo mais da verdade que tanto busco, mas o preço pode ser alto. O olhar de Lucas me provoca e, por um instante, sou inundada pelas memórias do que perdi. A sede de vingança e a necessidade de justiça se entrelaçam, complicando cada decisão. Enquanto ele tenta flertar comigo, minha mente se volta para o que realmente importa: a certeza de que, no final, serei a única a sair vitoriosa. E se isso significar derramar mais sangue, que assim seja. Ninguém, absolutamente ninguém, se interpõe entre mim e meu objetivo. Sendo ainda menor de idade, precisei construir uma nova realidade familiar para mim no morro. Com apenas 15 anos, já havia conquistado meu próprio espaço, uma casa que se tornou meu refúgio e meu disfarce. Para proteger meu segredo, criei uma família fictícia. Sempre que alguém perguntava sobre meus parentes, eu dizia que minha mãe estava ocupada com o trabalho e que meu pai havia morrido, um informante cujos segredos o levaram à sepultura. Essa farsa se tornou uma segunda pele, confortável e familiar. No morro, as escolas ofereciam um ensino limitado, e eu não podia abrir mão da educação. Assim, descia até a cidade todos os dias, enfrentando a realidade c***l e desigual que me cercava. Essas jornadas me proporcionavam uma liberdade sem igual ao voltar para casa. Sozinha, sem ninguém para me vigiar ou controlar, eu me transformava, moldando a imagem da mulher forte que desejava ser. Durante as aulas, eu era a aluna aplicada, sempre com a mão levantada, ansiosa para responder. Ninguém sabia que, por trás da fachada de estudante exemplar, havia uma jovem lutando contra demônios muito mais sombrios. Ao chegar em casa, as paredes da minha casa fictícia se tornavam o cenário da minha verdadeira batalha. Eu sonhava em um dia me livrar do peso da mentira, mas a cada nova chama que consumia o morro, sabia que precisaria manter a encenação. No meio dessa vida dupla, o desejo de vingar a morte da minha família crescia como uma chama inextinguível. Cada visita ao centro da cidade, cada encontro com os bandidos que dominavam as ruas, alimentava essa paixão ardente por justiça. A liberdade que encontrava em minha casa me permitia planejar e sonhar, enquanto as memórias de um passado repleto de dor me empurravam para frente. Ser uma jovem sem supervisão em um lugar como o morro era uma faca de dois gumes. As pessoas podiam me ver como uma criança perdida, mas eu sabia que, na verdade, era uma guerreira disfarçada, pronta para lutar por minha verdade. Em cada olhar, em cada sussurro, eu sentia a força de minha determinação, uma força que brotava das cinzas do meu passado e me guiava em direção ao futuro que eu tanto almejava. E, assim, entre sorrisos e lágrimas, entre aulas e encontros, continuava a encenar minha vida, cada dia mais próxima de um destino que, embora sombrio, prometia um vislumbre de redenção.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR