02

2031 Palavras
Landon Asher arrumou cuidadosamente as várias pedras com símbolos desenhados que um dia havia ganhado do seu falecido pai em um círculo grande o suficiente para que uma pessoa conseguisse ficar dentro dele sem problema algum, mas também pequeno o suficiente para que quem quer que estivesse dentro não conseguisse dar sequer um passo para qualquer direção, seja para os lados, para frente ou para trás. O rapaz olhava casualmente para trás, mais nervoso com a probabilidade de estar sendo seguido e atacado do que por estar invocando um demônio em si, porque, bom... Era justamente isso que ele estava fazendo. Invocar demônios através de runas era algo bastante antiquado e definitivamente já ultrapassado, sendo que praticamente mais ninguém conhecia ou ainda usasse esse método. Mas para seres que não possuíam magia que poderia ser moldada como bem entendesse (como bruxos e os próprios demônios), aquele era o método com a maior probabilidade de dar certo, apesar de ser tão complicado que quase ninguém conseguia fazê-lo. Na verdade, Landon nunca havia tentado fazer aquilo antes. Ele repassou mentalmente tudo que o pai o ensinara em segredo quando o rapaz ainda era uma criança. E agora, quase quinze anos depois desde que ouviu como aquela invocação deveria ser feita, Landon finalmente iria arriscar fazê-la. "Se um dia precisar de algo, invoque Abadom. Ele me deve um favor". A voz vívida do seu pai ecoava repetidas vezes na sua cabeça, mesmo que vários anos há haviam se passado desde que tinha ouvido aquilo. Essa foi a única frase que seu pai havia dito depois de mostrar para Landon como invocar o demônio, antes de simplesmente enfiar as várias pedras de obsidiana e quartzo dentro de uma pequena bolsa de linho e depois enterra-la em um lugar onde apenas os dois conseguiriam encontra-la. Seu pai nunca mais sequer pronunciou uma simples palavra relacionada aquilo, apesar do segredo ter entranhado no cérebro de Landon e nunca mais ter saído de lá. Mesmo quando era criança, o rapaz ficava imaginando o que raios o pai havia feito para conseguir um favor de um demônio. Um favor que ele achava que poderia ser trocado por qualquer coisa. Aquela era a única herança que o pai havia deixado para Landon. Uma carta coringa que deveria ser usada na hora certa e no momento certo. Por muito tempo o rapaz imaginou se aquele favor conseguiria ter salvado a vida do seu pai, que tinha muitas dívidas e inimigos por toda parte. Mas depois de anos Landon aprendeu à não ficar se lamentando por coisas que poderiam ou não ter acontecido. Aquele favor agora era seu. Sua herança. E seria usada no momento mais relevante possível. Durante sua adolescência, Landon ficava divagando sobre se deveria pedir riquezas, poderes, imortalidade... Ele sequer sabia se aquele favor realmente existia de verdade, mas gostava de imaginar que tinha uma carta na manga e que poderia mudar sua vida para sempre. O problema de verdade surgiu anos depois: Landon achou que depois da morte do seu pai, toda aquela perseguição contra os dois havia acabado também, mas pelo visto bandidos e agiotas tinham algo chamado de "herança herdada", o que significava que todas as dívidas do seu pai seriam automaticamente transferidas para ele assim que completasse dezoito anos. E foi exatamente assim que Landon passou os últimos quatro anos fugindo e se escondendo por becos sujos e porões, temendo por sua vida. Mas foi então que ele decidiu que ainda poderia reverter isso. Por um bom tempo o rapaz sequer se lembrava mais da sua herança valiosa, mas então resolveu tentar fazer aquilo, mesmo que não desse certo. E agora alí estava Landon, dentro de um casarão abandonado que não passava de ruínas no meio da floresta, organizando as pedras com runas da forma que a invocação exigia. Naquele momento ele sequer ligava para poderes, riqueza ou imortalidade, tudo que iria pedir para Abadom seria que ele destruísse cada pessoa que o tivesse perseguindo. O demônio era conhecido como "príncipe da destruição", então àquele favor não deveria ser tão complicado, certo? Landon queria que todos aqueles homens sofressem por horas até finalmente morrer, porque só assim ele realmente sentiria que a morte do seu pai e todos aqueles chutes, socos e espancamentos que recebeu nos últimos anos estavam sendo finalmente vingados. E se não desse certo, Landon poderia pelo menos vender aquelas pedras de quartzo e obsidiana para alguém que se interessasse. Talvez valessem pelo menos o suficiente para que ele conseguisse dar o fora daquele lugar e ir para o mais longe possível. Depois de se assegurar de que estava tudo no lugar, Landon deu dois passos para trás rapidamente, sentindo um arrepio cruzando por cima da sua pele e reverberando pela sua coluna. Os sentidos aguçados do rapaz eram bons o suficiente por causa do que sua mãe era para que Landon conseguisse saber que aquele não era um arrepio comum. Era como se uma eletricidade estática estivesse estalando entre as moléculas de ar, e além disso, aquele típico cheiro agridoce de magia começou à se espalhar pelas ruínas do casarão. Isso só podia indicar que estava funcionando, certo? A temperatura começou à aumentar gradativamente, fazendo Landon soltar um grunhido de medo. Ele sabia o suficiente sobre a terceira dimensão para saber que os demônios não eram seres completamente horrendos, pelo menos não fisicamente, mas isso não fez com que ele ficasse com menos medo. Na verdade, o seu medo só aumentou quando ele percebeu que as pedras entalhadas com runas estavam vibrando levemente, além de estarem soltando uma densa fumaça, mais escura do que qualquer coisa que Landon já vira. Os segundos se passaram de forma lenta e angustiante, então aquela névoa escura e espessa começou à subir pelo ar como como se fossem tentáculos, ficando da altura de uma pessoa. Uma pessoa assustadoramente de mais ou menos dois metros de altura. Aquela fumaça começou à tomar forma rapidamente, antes de simplesmente ser sugada para dentro do corpo que estava dentro dela, revelando o demônio em pé dentro do círculo. A primeira coisa que Landon notou foi a pele absurdamente pálida e perolada do homem, que tinha uma estatura esguia e musculosa ao mesmo tempo. O rapaz começou à encara-lo de baixo para cima, encarando primeiro os pés descalços e elegantes, depois, foi subindo o olhar devagarinho. Logo após os tornozelos, um tecido fino e n***o cobria as panturrilhas grossas do demônio como uma segunda pele, deixando evidente cada um dos músculos por debaixo. As coxas musculosas do homem eram grossas e fizeram Landon engolir em seco, percebendo que na verdade estava com água na boca. A tecido deixava completamente evidente aquele enorme pronunciamento na virilha do homem, de modo com que fosse possível ver o comprimento longo cuidadosamente arrumado dentro da calça para a esquerda, seguindo a coxa musculosa. A calça acabava tão bruscamente abaixo da linha da cintura que era possível ver o começo dos pêlos pubianos cuidadosamente aparados do demônio, eles eram curiosamente brancos, não de um branco grisalho que pessoas velhas possuíam, mas sim um branco tão brilhante e imaculado que parecia ter luz própria. Uma trilha fina e rala daqueles pelinhos seguiam até o umbigo do homem. Haviam gomos perfeitamente simétricos no abdômen. O peitoral era grande e possuía dois m*****s rosados contra a pele pálida, e logo acima dele, ombros largos e braços musculosos podiam ser vistos, contrastando com a cintura elegante. Se aquilo tudo já não fosse sobrenaturalmente inumano, o rosto do demônio era completamente a coisa mais assustadora e linda que Landon já havia visto em toda a sua vida. Ele era simétrico de uma forma como o rapaz não conseguia descrever, e Landon estava tão atordoado que só conseguia interpretar por partes o que estava vendo. Olhos verde amarelados como os de uma víbora, lábios rosados e carnudos, um nariz grande e empinado, um maxilar quadrado onde era possível afiar uma lâmina de tão pronunciado. As sobrancelhas grossas e retas eram brancas como a neve, assim como o cabelo longo levemente assanhado da sua cabeça, como se o demônio estivesse dormindo quando foi invocado. Landon se sentiu subitamente vulnerável e pequeno diante daquele ser, prendendo a respiração quando sentiu os olhos verdes do demônio o avaliarem calmamente, ao mesmo tempo que um pequeno sorriso surgia nos lábios rosados, mostrando duas fileiras de dentes retos e perfeitos, com presas levemente maiores. O rapaz só não deu outro passo para trás porque já estava com as costas pressionadas contra uma parede. O sorriso daquele demônio enviou calafrios por todo o corpo de Landon. Definitivamente não era um sorriso gentil, mas sim um sorriso felino, selvagem e s****l, como se aquele homem estivesse prestes à ataca-lo e fazer coisas inimagináveis com ele, enquanto Landon pedia por mais. Implorava por mais. — Você me chamou? — A voz do demônio pálido ecoou pelas ruínas, grave e levemente rouca. Landon só percebeu que ainda estava prendendo o fôlego quando arquejou profundamente, sentindo seu coração bater de forma desenfreada. [•••] Assim que seus pés voltaram à tocar no chão, só que dessa vez na segunda dimensão, Mamon percebeu logo de cara que não estava na mesma região onde Amon vivia, onde nevava durante todo maldito dia do ano e o frio era insuportavelmente irritante. O demônio percebeu que onde estava agora, as temperaturas eram um pouco mais altas, embora ainda não chegassem à ser como no seu próprio reino infernal. Assim que a invocação estava completa, Manon notou que estava nas ruínas de alguma construção antiga de madeira, onde ninguém morava à muito tempo. Ele olhou para baixo e percebeu que estava dentro de um pequeno círculo desajeitado de pedras de invocação, o que o fez erguer uma das sobrancelhas, surpreso. Ainda existiam humanos que usavam aquelas baboseiras? E por falar em humano, Manon ergueu o olhar para procurar seu invocador, encontrando-o à poucos passos na sua frente, espremido contra uma das paredes das ruínas e encarando-o com olhos arregalados. O rapaz era baixo e parecia ter mais ou menos a idade de Amon. Ele tinha uma pele levemente bronzeada, repleta de sardas. Seu cabelo era uma confusão de cachos de um curioso tom avermelhado, que eram da exata cor das sobrancelhas dele, que estavam tão erguidas que quase chegavam até metade da sua testa. Ver os olhos arregalados do humano quase saltando para fora fez Mamon querer soltar uma risada, mas ele rapidamente se controlou, percebendo que os olhos do rapaz eram de um azul escuro e tempestuoso. O humano tinha... Espera. Mamon parou no meio do pensamento ao perceber que as orelhas do rapaz eram levemente pontudas. Não pontudas como as de uma fada puro sangue, mas definitivamente não eram 100% humanas também. Ele era mestiço, então, constatou Mamon depois de alguns milissegundos. O desconhecido vestia roupas simples de linho, botas e uma camisa com mangas compridas demais para os seus braços, o que fazia com que suas mãos ficassem quase que completamente escondidas dentro delas. Mamon sorriu ao ver o rapaz observa-lo de cima à baixo, absorvendo a sua beleza e encarando cada centímetro do corpo do demônio, que encarava de volta na mesma intensidade. Ao contrário do que havia dito para Amon naquele dia durante uma das invocações, Mamon conseguia controlar muito bem aquela onda sobrenatural de sexualidade e desejo que emanava dele e fazia todos ao seu redor o desejarem prazer carnal quase que de forma incontrolável. Mamon usou propositalmente a sua influência contra Benjamin naquele dia, sabendo que tanto Amon desejava Benjamin, quanto Benjamin desejava seu filho, os dois só não tinham coragem de dar o primeiro passo. Além disso, seu filho não poderia culpa-lo por ter dado um empurrãozinho, não é? Com aquele rapaz ruivo que havia na sua frente, Mamon cuidadosamente deixou essa sua habilidade nula, sabendo que não precisava dela para deixa-lo completamente desconcertado. — Você me chamou? — Mamon perguntou, observando o outro tremer levemente diante das palavras roucas e provocantes. Isso fez o sorriso do demônio se alargar um pouco mais, definitivamente feliz com toda a situação. As coisas definitivamente estavam ficando interessantes, e Mamon estava mesmo procurando alguma coisa para se distrair.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR