Anna O relógio marcava seis e vinte da manhã quando acordei com a sensação de que algo estava errado — não fora, mas dentro. Um incômodo pequeno, discreto, mas insistente, como um segredo que tenta se fazer ouvir. O corpo tem maneiras estranhas de avisar quando algo muda, e o meu falava em sussurros. Virei na cama e olhei o calendário riscado preso na parede com fita. As datas, tão organizadas, denunciavam o que eu fingia não querer ver: o atraso. Três dias. Três malditos dias. O ar me pareceu pesado. Levantei devagar, tentando racionalizar. Era o estresse — o trabalho, as aulas, o peso de viver num lugar onde o chão pode virar guerra a qualquer instante. Era o sono, o calor. Era qualquer coisa, menos aquilo. Mas o corpo sabe antes que a mente aceita. No espelho, a imagem me devolveu

