Anna O som distante dos tiros ainda ecoava nos becos quando o sol finalmente rompeu o cinza da madrugada. Da janela do quarto, eu via a fumaça subir, fina e lenta, como se o morro exalasse o próprio sofrimento. Desde que Kadu havia partido para acertar contas com os traidores, o ar parecia mais pesado. Cada respiração doía. Cada passo que eu dava parecia vigiado. A mão pousou sozinha sobre a barriga ainda plana, mas que já carregava um segredo que ninguém poderia apagar. Um segredo que crescia dentro de mim como uma chama tímida, feita de medo e algo que eu ainda não ousava chamar de amor. Grávida. A palavra ainda parecia estranha. Eu a repetia em silêncio, tentando dar-lhe forma, como quem toca um espelho e espera ver o próprio reflexo mudar. Eu estava grávida do homem mais temido da

