3 - Estranho no bar

1471 Palavras
Eleanor Cerca de uma hora depois, estamos abrindo caminho através do Colt. É sempre cheio, mas esta noite está ridiculamente lotado. Me arrependo de ter concordado com isso, mas não consegui dizer não as minhas melhores amigas, que vieram celebrar comigo esse momento especial da minha vida. Então pensei: um drinque não faria m*l. Me aproximo do bar e percebo que Isa já agarrou um cara e os dois estão dançando de forma indecente, com as mãos deslizando por todo lado. Tudo bem, Isa saiu do jogo. Amélia ainda está ao meu lado, mas sei que ela vai sumir assim que começar a piscar aqueles cílios longos e alguém se aproximar — o que não deve demorar. Peço bebidas para nós duas e uma extra para Isa, caso ela decida se juntar mais tarde. Quando dou o primeiro gole, sinto a mão de Amélia apertando meu ombro e apontando para um cara do outro lado do bar, que ergue o copo para ela num brinde silencioso. E é isso. Estou oficialmente sozinha. Achei que demoraria um pouco mais desta vez, mas tudo bem. Vou terminar minha bebida em paz, torcendo para evitar cantadas ruins, dançar um pouco e, depois, chamar um Uber para casa. Se tudo correr bem, estarei na cama em um horário ainda razoável. — Parece que seu bando te deixou na mão — ouço alguém gritar no meu ouvido, tentando se fazer ouvir acima da música altíssima ao redor. — Desculpa, o quê!? — Viro para ver quem foi que teve a ousadia de dizer isso, lançando um olhar atravessado. Ele não apenas disse o que eu acho que disse... Ele disse, sim. — Eu disse — repete o cara, com o cabelo liso e um sorriso presunçoso, inclinando-se um pouco mais perto de mim. A colônia dele invade minhas narinas e desce pela garganta enquanto fala. — Parece que seu bando te deixou na mão! — Ah — murmuro, instintivamente me afastando um pouco. — É. Elas só estão se divertindo. Estou prestes a virar de costas para ele de novo, tentando cortar a conversa com gentileza, mas ele insiste. — E você? — ouço ele perguntar. — Eu o quê? — Está se divertindo? Meu corpo se vira por completo agora. Deslizo minha bebida um pouco para o lado, deixando-a ao alcance da mão, caso precise reagir rápido. Ele não é tão r**m de se olhar. Tem um ar um pouco áspero, a barba de uns três dias como se tivesse esquecido de se barbear — ou simplesmente não se importasse. Imagino que esteja suando dentro da jaqueta de couro preta, mas, vamos ser honestos, tanto homens quanto mulheres sacrificam conforto por aparência. Por baixo da jaqueta, uma camiseta do Nirvana — rebelde clássico. — Estou bem — respondo. — E você? — pergunto, não exatamente por querer manter a conversa, mas por pura educação. Pelo menos ele não começou com uma cantada tosca — já é alguma coisa. — Eu estou. Mas não gosto de ver uma mulher linda sozinha num bar. Parece... errado. — É mesmo? — Rio, surpresa com o tom mais direto. A música diminui um pouco, permitindo que conversemos sem invadir tanto o espaço um do outro. — O que você está bebendo? — Um Manhattan — respondo. Ele imediatamente sinaliza para o barman trazer outro. — Você não precisava fazer isso — digo, olhando agora para dois copos à minha frente, dos quais provavelmente só vou terminar um. — Eu só preciso fazer uma coisa na vida — ele sorri. — Morrer. Eventualmente. — Tudo o mais que faço é por puro desejo — completa, com uma expressão divertida no rosto. — Pelo menos você é honesto sobre isso — não consigo evitar de entrar na brincadeira. — Por que mentir? Somos todos animais. Alguns só disfarçam melhor. — Homo homini lupus est — digo, sorrindo de lado, lembrando do único provérbio em latim que grudou na minha cabeça desde o ensino médio. Ele franze a testa, inclina levemente a cabeça para o lado esquerdo e inspira longa e profundamente. Suas narinas se expandem por um breve instante, de forma quase animalesca, e então retornam ao normal. Tudo acontece tão rápido que me pergunto se realmente vi aquilo ou se foi só impressão minha. — Poucas garotas sabem citar latim — diz ele, os olhos cinzentos me observando com uma intensidade estranha, profunda. — E com boa pronúncia. Que outras surpresas você esconde nessa cabecinha linda? Ele se aproxima, e a fragrância de sua colônia me atinge em cheio. O cheiro é enjoativo. Forte demais. Uma tontura me atinge — mas não como a que vem com um flerte inocente. É mais intensa, como se o chão tivesse mudado sob meus pés. Imediatamente, me lembro de todos os avisos sobre homens em bares e bebidas adulteradas. Mas eu vi meu copo o tempo inteiro. Ele não tocou nele. Mesmo assim, por que me sinto... tonta? — Eu não revelo segredos depois de só uma bebida — ouço minha própria voz dizer, e, por um segundo, parece que estou me ouvindo à distância, como se estivesse presa numa caverna, e a minha voz ecoasse de volta, distorcida. — Mais bebidas podem ser providenciadas — ele diz, com um sorriso que se transforma em algo entre o charme e o escárnio. E por um instante, me pergunto se bebi demais… ou se ele está me vendo de um jeito que eu ainda não entendi. Seus olhos estão lascivos, e suas presas parecem ter crescido mais. Mas não pode ser. Dentes não crescem em pessoas. Eu simplesmente não os tinha notado antes porque não o observei com atenção suficiente. — Obrigada, mas pretendo terminar o que encomendei para mim e ir para casa — consigo murmurar, lutando contra uma onda repentina de cansaço. Sinto como se pudesse deitar no chão, fechar os olhos e simplesmente adormecer ali mesmo. Nunca me senti assim antes, e isso é alarmante. Algo não está certo. Olho ao redor, procurando Amélia ou Isa, mas elas não estão em lugar nenhum. — Procurando alguém? — ele pergunta. — Sim. Meu pelotão, como você chamou eles. — Quer que eu te ajude a procurar por elas? A oferta dele me pega desprevenida. Não entendo por que ele insiste tanto. Normalmente, os caras percebem quando você não está interessada, e a maioria acaba se afastando. Este, no entanto, não desiste. Então, medidas mais diretas se fazem necessárias. — Escuta… — Bjorn — ele me interrompe. — Bjorn? — repito, com um sorriso que ameaça dar a ele esperanças erradas. — Países nórdicos — ele dá de ombros, e a jaqueta de couro acompanha o movimento, estalando levemente. — Claro, Bjorn — continuo com educação. — Você parece ser um cara legal e tudo mais, mas tive uma semana superocupada e só quero encontrar meus amigos para me despedir e ir pra casa. Perdi completamente o interesse naquela bebida que ainda me encara do balcão. Tudo o que quero agora é me enfiar na minha cama nova, deitar de lado e ler meu livro até pegar no sono. — Você disse isso muito bem — ele responde com um sorriso que não soa ameaçador… mas aquelas presas ainda parecem mais longas do que antes. E a tontura dentro da minha cabeça não passa. — Então, não vou te incomodar. Só queria ajudar, caso você precisasse. Mas, obviamente, você não precisa. Não respondo. Apenas concordo com um aceno. Estou aliviada que a conversa não acabou em drama. Se tudo der certo, estarei em casa, com a porta trancada atrás de mim, em menos de meia hora. — Posso só… não, desculpa. É e******o. — O que foi? — pergunto, sentindo um leve traço de culpa. Afinal, ele se afastou quando pedi. — Eu só queria te dar um abraço. Penso por um segundo ou dois, mas quando percebo, ele já está se inclinando com os braços abertos. Desisto de resistir. O abraço dura mais tempo do que eu gostaria, mas, quando ele me solta, sorrio sem jeito, aceno brevemente e desapareço na multidão, agradecendo silenciosamente por ter escapado daquela com tanta facilidade. Encontro Isa montada no novo namorado. Preciso cutucá-la no ombro para que ela me note. Ela se vira, surpresa. — Casa?! — ela grita, parecendo inconformada. — Não! Fica! Balanço a cabeça, aponto para o relógio e faço cara de “já é tarde demais”. Dou um beijo rápido em sua bochecha. — Você vai ficar bem? — ela grita novamente, e eu só aceno mais uma vez, confirmando. Faço o mesmo com Amélia. Ela está ainda mais relutante em me deixar ir embora sozinha, mas claramente encontrou uma distração para a noite. Não quero estragar a diversão de ninguém. Dou um abraço nela também e saio do clube.
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