Capítulo 2
Parecia um pesadelo!
Como eu poderia ter colocado tudo a perder em troca de uma noite de s**o?
Eu tinha tudo o que qualquer garota do morro sonharia em ter, dinheiro, um noivo maravilhoso... e eu havia colocado tudo a perder por causa de um cara que só me usou e ainda por cima era traficante!
Desde o dia em que passamos a noite juntos eu não via o Caio, e isso havia me frustrado muito, de algum jeito ele despertou um sentimento totalmente novo em mim, que era bom, muito bom, mas agora havia se transformado em algo r**m, um sentimento de culpa misturado com vergonha!
Por sorte na tarde em que eu descobri a gravidez, a Lívia tinha ido acompanhar tia Lúcia em uma consulta médica, e eu fiquei sozinha em casa.
Se não eu não sei como teria sido, seria impossível disfarçar!
Mil coisas passavam pela minha cabeça, não prosseguir com a gravidez foi à primeira delas, mas não sei por que eu a descartei rapidamente, eu não deveria, mas eu queria aquela criança, e eu daria um jeito!
Comecei a arrumar as minhas coisas, eu precisaria agir de pressa. Fiz a reserva de uma passagem de volta para casa no dia seguinte.
-Porque suas malas já estão prontas? - perguntou a Lívia evidentemente chateada – o que aconteceu, você andou chorando?
Eu já tinha lavado o rosto, tomado banho, mas o inchaço dos meus olhos ainda era notável.
- Sim, eu tive uma briga com o Leo, foi uma bobagem mas resolvi voltar mais cedo pra casa para resolver as coisas – Eu disse tentando parecer indiferente, porém com a voz embargada.
A lívia não disse nada, apenas me abraçou, e nesse momento eu desabei, queria tanto contar tudo pra ela, eu precisava tanto abrir o meu coração!
Eu soluçava, e ela acariciava o meu cabelo:
- Chora... as vezes tudo o que a gente precisa é chorar, estou aqui com você pra tudo, nunca esqueça disso!
Eu sabia, e naquela hora quase contei tudo pra minha prima, mas me contive, isso com certeza não facilitaria as coisas.
Durante o resto do dia eu fui literalmente mimada pela lívia e minha tia.
Tomamos café da tarde na pequena área atrás da casa com pão de queijo, café e bolo quentinhos.
O movimento no morro não parava, motos por toda parte, crianças empinando pipa, os caras do tráfico na esquina
Eu já estava me acostumando a toda aquela agitação.
- Minha filha, dor de amor dói, mas passa, pergunta pra sua mãe como sofremos, mas passou, e olha, é ate gostoso sofrer por amor! – Disse a tia Lúcia como que pensando alto.
- Eu hein – Disse a lívia enfiando um pão de queijo na boca e falando alto demais – Eu sofrer por homem jamais! Eles que sofram por mim- disse com um sorriso cínico.
Todas rimos.
Depois do café da tarde assistimos juntas a novela das seis.
- Só faltou minha irmã aqui- Disse a tia lucia cabisbaixa- vocês lembram quando eram pequenas? nós nos reuníamos todos os dias para assistir as novelas, naquela época não tinha celular, nada disso. A gente era feliz e não sabia! – Ela disse enquanto fazia carinho na cabeça da Lívia que estava deitada no seu colo.
Eu me lembro tia, nunca vou esquecer.
Eu queria tanto curtir esse momento, estar ali por inteiro, mas minha cabeça era um turbilhão de culpa, arrependimento, medo e remorso.
O mauro chegou mais cedo do que de costume, com uma caldeirada de frutos do mar que trouxe do restaurante.
- Jantar especial de despedida da minha sobrinha já tão querida! – disse ele abrindo as sacolas enquanto a tia Lúcia preparava a mesa.
Foi quando comecei a sentir.
O cheiro dos frutos do mar me causou náuseas, e minha barriga doía. era como se o cheiro dos frutos do mar estivesse impregnado nas minhas narinas e garganta.
Corri para o banheiro.
Quando sai todos me olharam, tive a sensação de que eles sabiam de tudo, impressão típica de quem sente culpa.
- Quando eu fico nervosa como fiquei hoje a tarde, meu estômago embrulha... – Eu disse tentando me explicar.
- Essa minha sobrinha até doença de gente rica tem agora!- disse a tia rindo, mas com um olhar curioso - Mas você não vai jantar Alice? o cheiro está divino, e o gosto pode apostar que deve estar melhor ainda
- Não tia, deve estar delicioso, sinto muito mauro - eu disse olhando pra ele com um sorriso envergonhado - esse meu estômago é muito fraco, vou tomar uma água e descansar um pouco, Jajá passa - eu disse indo em direção a cozinha.
A lívia estava esse tempo todo no portão conversando com uma vizinha, ainda bem.
Mais tarde minha tia entrou no quarto , com uma sopa de legumes e frango desfiado.
- Tia, a senhora é um anjo – Eu disse enquanto devorava a sopa deliciosa!
Tia Lúcia ficou me olhando um tempo, quando finalmente disse:
- Minha filha, você já é mulher, tem o seu noivo...você não esta grávida?
Meu coração disparou, mas respirei fundo para manter a calma.
- Não tia, a gente se previne, só não estou muito bem hoje.. mas logo passa – Eu disse com um sorriso falso.
Ela levantou e me deu um beijo na testa.
- Tudo bem... mas quando chegar na sua casa faça um teste, eu conheço você como conheço a minha filha, e instinto de mãe não falha.
Engoli em seco enquanto ela saia do quarto sorridente.
No outro dia acordei cedo para me preparar para ir embora, e quase cai para trás quando fui até a sala e o caio estava lá sentado, tomando café e assistindo jornal.
-Bom dia ruivinha – ele abriu um sorriso lindo! – Que saudade!- ele levantou e beijou o meu pescoço, me arrepiei toda!
Lembrei então de toda a situação e o afastei.
-O que foi ? o que eu fiz? eu avisei você que eu tinha uma missão importante, por isso precisei ficar sumido uns dias - ele disse aparentemente confuso.
- Não me importa caio, tudo o que aconteceu foi um erro, resultado de muita bebida e pouca noção!
Entrei no banheiro, e bati a porta.
As lágrimas rolaram, porque tudo precisa ser tão difícil?
Passei a manhã toda no quarto arrumando as minhas coisas.
Tia Lúcia como sempre um anjo, me trouxe café da manha no quarto enquanto me ajudava, junto com a Lívia, a arrumar as minhas coisas.
- Alice, leva essa boneca para a sua mãe, ela não dormia sem quando era criança – ela disse sorridente enquanto guardava uma boneca simples e toda rabiscada de caneta na minha mala.
Pobre tia lucia, minha mãe com certeza jogaria a lembrança enviada com tanto carinho no lixo.
O mauro estava de folga e gentilmente se ofereceu para me levar ao aeroporto, junto com a lívia e a tia Lúcia.
Me despedi do Caio com um abraço para não levantar suspeitas, e nunca vou esquecer do seu olhar triste enquanto o carro ia embora.
No aeroporto foi um festival de lágrimas
Eu ia sentir muita falta daquela família que me recebeu com tanto amor, mas ali não era o meu lugar, minha vida não era mais no morro.
A viagem de avião foi uma tortura, meu estômago embrulhou boa parte da viagem, para não me deixar esquecer o tamanho do meu problema.
Desembarquei aliviada, e com frio no estômago, o meu plano tinha que dar certo!
O Leo me esperava no aeroporto com um buquê de flores, e o remorso pelo que eu estava prestes a fazer me atingiu como uma faca.
Dei um abraço no meu noivo, e um beijo cheio de desespero e culpa.
- Que saudade me amor! – ele me disse, olhando fundo nos meus olhos.
Eles erão tão parecidos! minha suspeita de que o Leo e o Caio eram por alguma obra do destino irmãos separados no nascimento ainda era forte, mas agora eles nunca poderiam se conhecer!
E isso poderia ser uma vantagem ao meu favor, se o meu plano desse certo.
- Amor, eu tenho uma surpresa pra você! – Disse o Leo com um olhar enigmático enquanto puxava a minha mão.