Foi a primeira experiência minha em um trabalho onde precisava fazer alguém se apaixonar por mim. A primeira onde eu acabei levando um t**a na cara. E a primeira vez em que eu estava no quarto do meu "acompanhante", enquanto ele passava a pomada para aliviar a dor na minha bochecha e colocar gelo.
— Está doendo? — Perguntou.
— Um pouco. — Confessei. — Mas garanto que com todo esse cuidado em breve estarei bem. Obrigada. — Agradeci.
— Caso você prefira posso levá-la em casa. — Avisou.
— Não será necessário. — Neguei.
— Nos vemos amanhã? — Demorei para entender que no fundo da sua frase havia um pouco de dúvida.
— É claro senhor Alan. — Concordei.
Após as demais despedidas, direcionei-me até o meu carro que estava estacionado na rua da casa do senhor Estevan.
Amanhã começaria a trabalhar como secretaria e ainda não sabia como deveria me vestir, será que eles tinham algum uniforme? Caso tivessem, com certeza me dariam na hora.
O alívio tomou conta do meu corpo quando adentrei o meu apartamento. Aquela sensação de conforto e de estar em um local seu, onde pode ser quem de fato você é, trás liberdade.
Havia recebido muitas mensagens no celular, algumas da Sabrina, outras da Gabriela e por fim e menos importante do Leandro, ele realmente não conhecia o significado de se terminar uma relação.
"Oi mana, como você está?"
Sabrina
"Onde você está? Em algum evento?"
Sabrina
"Ainda não voltou? Quero conversar com você!!!"
Sabrina
"Estou aqui! O que aconteceu?"
Selena
"Acabei de chegar de outro evento, está tudo bem."
Selena
"Amiga? Onde você se meteu? Não manda mais mensagens!!!"
Gabriela
"Esqueceu da amiga, só pode!!!"
Gabriela
"Está com algum bofe??"
Gabriela
"Acabei de chegar, estava em um evento."
Selena
"Nunca esqueço de você."
Selena
"Finalmente descobri seu endereço!"
Leandro
"Estou louco para te ver novamente..."
Leandro
"Precisamos ter uma conversa séria!"
Leandro
"Nós não temos mais nada para conversar! Já falei para você me esquecer."
Selena
A coisa que mais me deixava furiosa era essa mania do Leandro tentar resolver a nossa relação. A verdade é que não existia mais nada entre nós dois.
De vez em quando algum colega de escola ou mesmo a minha família comentava comigo que ele perguntava de mim e sobre onde eu morava. Nunca havia passado o endereço para ninguém, as únicas pessoas que sabiam era a minha irmã, mãe e a Gabriela.
Ele deveria respeitar o meu espaço e saber deixar o que já foi no passado. Não havia o porquê de insistir em algo que não tinha futuro.
"Estou indo para o seu apartamento."
Gabriela
"Mas está tarde, já é quase meia noite!"
Selena
"Não tem problema, irei dormir aí."
Gabriela
Havia perdido a autoridade dentro do meu próprio apartamento.
Gabriela morava cerca de trinta minutos do meu apartamento, ou seja, ela vinha voando até o mesmo com o seu carro. Quando ela estava com pressa andava com a sua moto, uma bis na cor pink que ela amava.
— Amiga? Cheguei! — Ela anunciou entrando no meu apartamento com a chave que ficava com ela.
— Estou cansada. Você quer dormir? — Perguntei.
— Acabei de chegar, vamos beber alguma coisa. — Ela começou a fuçar a geladeira e a minha estante onde havia algumas bebidas quentes.
— Quer vodka, wisky ou cerveja? — Ofereceu como se eu estivesse em sua casa.
— Cerveja. — Escolhi.
A minha melhor amiga não era fácil, esse seria o momento onde eu teria que contar sobre o meu novo acompanhante e sobre o plano para me aproximar da minha mãe.
— Preciso te contar algumas coisas. — Comecei a falar.
— Você estendeu uma das noites com um acompanhante? — Ela perguntou na expectativa de que eu afirmasse aquela pergunta.
— Não é isso. — Neguei com a cabeça. — Fui contratada para fazer um homem se apaixonar por mim. — Contei.
— Como assim? — Sua boca estava aberta, como se estivesse espantada.
— O senhor Estevan me contratou para fazer com que seu filho Alan se apaixone por mim e que eu fique casada com o mesmo por pelo menos seis meses. — Resumi tudo da maneira mais rápida que achei.
Gabriela absorveu tudo com cuidado, a maneira de ver como ela estava pensando era pelos seus olhos direcionados para cima.
— Quantos anos ele tem? Qual é o nome dele? — Encheu-me de perguntas.
— Alan e tem vinte e quatro anos. — Respondi.
— E você irá mesmo fazer isso? — Perguntou.
— Sim. Já aceitei, fui "contratada" — dei ênfase no contratada — para ser a secretaria dele, pelo menos é isso que Alan pensa. — Expliquei.
— Sua mãe e sua irmã já sabem disso? — Perguntou desconfiada, sabendo que minha mãe e minha irmã nunca aceitariam isso.
— Não. Quero utilizar isso para me aproximar da minha mãe. — Contei. — Ela achará que parei de trabalhar como acompanhante.
— Isso tem grandes chances de dar errado. — Opinou.
A minha amiga estava certa, as chances de eu não conseguir fazer com que Alan se apaixone por mim é grande.
— E se você se apaixonar? — Perguntou, nunca havia pensado nessa possibilidade, porém achava ela impossível.
— Não irei me apaixonar. — Falei firme com a certeza do que eu estava falando.
Gabriela fez questão de deitar comigo na minha cama, ela iria dormir comigo.
— Não quero ver você sofrer. — Falou.
— Não irei.
— Talvez eu desista desse trabalho. — Contou baixo, como em um segredo.
— Como assim? — Virei-me bruscamente para olhá-la nos olhos.
— Conheci alguém. — Houve uma pausa. — Roberto.
Era por isso que ultimamente ela não comentava sobre a noite com os seus acompanhantes. Ela estava gostando de alguém.
— Como ele é? — Perguntei. — Um cliente?
— Não. — Negou. — Conheci em um café.
— Que interessante, ele sabe com o que você trabalha? — Perguntei.
— Sim. — Confessou, olhando atentamente nos meus olhos, como se quisesse enxergar a minha reação.
— Nós conversávamos sobre alguns assuntos aleatórios, então eu contei. — Explicou. — A reação dele foi normal, como se fosse um trabalho simples.
Havia sido a primeira pessoa a enxergar o que fazíamos como algo normal. Realmente ela havia encontrado alguém diferente, especial.
— Acho que encontrei o cara certo. — Os seu olhos brilhavam, sabia que ela estava a ponto de chorar.
— E você irá trabalhar com o que? — Perguntei em dúvida sobre qual seria o seu meio de sobrevivência.
— Ele me ofereceu um trabalho em sua empresa, é arquiteto, algo relacionado a administração dentro dos seus funcionários. — Explicou.
— Isso será interessante. — Confessei. — Apoio você com todas as minhas forças.
Gabriela estava chorando, eu estava chorando. A sua felicidade estava sendo refletida em mim.
— Obrigada por ser a melhor amiga do mundo. — Abraçou-me intensamente.
— Eu tenho muito a agradecer por você também. — Beijei sua bochecha.
Gostava da companhia dela, a sua presença no apartamento ou no mesmo ambiente que eu estava fazia com que tudo ficasse melhor.
Contar para ela sobre o meu novo emprego, fez com que um peso caísse dos meus ombros.
Ela já estava dormindo ao meu lado, como sempre de barriga para cima com a boca um pouco aberta, deixando o cheiro de cerveja pelo ar.
A vontade que eu tinha era de ser alguém bacana para Alan, não apenas pelo dinheiro que eu estaria recebendo e sim porque teríamos que conviver durante seus meses juntos. Quer dizer, fora o tempo que irei levar para conquistá-lo e depois casar.
Algumas horas iriam passar para enfim o meu primeiro dia de trabalho chegar. O segundo dia do novo plano que estava em ação.