Capítulo 2

1227 Palavras
  10 ANOS DEPOIS   "Senhor, temos a lista de recepcionistas e garçons para o evento de amanhã."   Dorian ergueu os olhos para sua secretária. Com um sorriso caloroso, ouviu enquanto ela detalhava os cronogramas, estendendo os braços para pegar o arquivo.   Deixou os documentos sobre a mesa — planejava revisá-los depois —, pigarreou e disse casualmente: "Acho que é tudo por agora, Sofia."   "Ok, senhor. E antes que eu esqueça — a senhora Charline disse que passa no seu escritório mais tarde. Ligou pra me avisar."   Suspirando, Dorian esboçou um sorriso forçado e acenou com as mãos.   Não esperava a Charline tão cedo, tendo passado o último fim de semana com ela.   Era sua namorada — ou melhor, sua namorada de idas e vindas —, e agora talvez ficassem noivos em breve. Uma escolha do pai dela, não sua. Dorian até considerava a ideia para fechar um acordo com o bilionário pai dela. Apesar de ela amá-lo, Dorian não podia dizer o mesmo — só amara uma mulher em toda sua vida.   Dispensando esses pensamentos, sem querer que o passado o dominasse como de costume, disse à secretária: "Estarei aqui quando ela chegar. Pode ir agora."   Acenando com educação, observou a bela ruiva sair do escritório. m*l a porta se fechou, levantou-se e dirigiu-se ao bar de vinhos, servindo-se uma dose.   Derramou o vinho na taça, deu um gole largo enquanto caminhava até a varanda do escritório.   Com a brisa fresca soprando, seus cios bem penteados começavam a se desfazer quando a mente de Dorian vagou para o passado quase imediatamente.   'Você não vai conseguir nada nesta cidade, rapaz. A menos que se afaste da minha filha — e mesmo se o fizer, prometo tornar sua vida insuportável.'   Sr. Collins...   Sorriu brevemente ao lembrar do homem que o impulsionara até ali. O homem que endurecera seu coração, o tornara frio e obcecado por sucesso — e de quem tirara sua motivação. Ainda m*l acreditava no que conquistara.   Agora era um dos solteiros mais cobiçados de Nova York — playboy bilionário, um dos homens mais ricos do mundo. Como CEO da DD Incorporation, empresário, magnata do imobiliário e do petróleo, Dorian tinha uma reputação e tanto.   Em meio a escândalos, correrias de negócios e ao comando de tanto respeito no mundo corporativo, Dorian nunca poderia esquecer seu passado assombrado — e o que sofrera nas mãos daquele velho.   E faria ele pagar! Não — já estava fazendo a família inteira pagar. Sorriu ao saber que as investigações corriam a pleno vapor. Derrubaria os Collins e os faria pagar por tudo que fizeram a ele e a sua mãe. Obteria suas respostas e, talvez, só talvez, encontrasse um pouco de paz.   Sorrindo, voltou para dentro, deixou a taça e pegou um cigarro do cinzeiro, acendendo-o. Inalou a fumaça intensa enquanto pegava alguns documentos e começava a folheá-los. Precisava adiantar o trabalho antes que Charline chegasse — sabia que, assim que ela aparecesse, drenaria sua energia com exigências absurdas.   Com um sorriso nos lábios, Dorian pôs-se a trabalhar.   .......   Marine esticou os braços enquanto lavava rápido o uniforme que usaria no evento do dia seguinte.   Com o estômago roncando de fome, sabia que não podia abandonar a tarefa só para comer seu jantar de barra proteica e laranja — teria que esperar. Fizera de tudo para garantir sua vaga como garçonete naquele evento de alto nível — gastara até suas últimas economias na passagem de avião, pois as gorjetas seriam excelentes e isso valorizaria seu currículo quando voltasse para Londres.   Mal podia esperar para terminar o trabalho e retornar à sua vida normal — e solitária —, lá nos subúrbios de Londres, procurando emprego e fazendo de tudo para sobreviver.   Uma lágrima escorreu de seus olhos, seus hormônios bagunçando tudo enquanto remoía seu passado terrível. Quem diria que ela, filha de um político renomado em seu tempo, se tornaria garçonete, hostess e recepcionista, sempre correndo atrás de b***s? Quem diria que moraria num apartamento precário no centro de Londres, tão diferente da mansão de sua infância?   Quem imaginaria que, aos 27 anos, ainda estaria solteira, vivendo no aperto, afastada da família e lutando por trabalho sem qualificação alguma?   Quem teria imaginado? — perguntou a si mesma, fungando e enxugando as lágrimas com a mão. Sua vida desabou ao fazer 18 anos, e desde então não conseguira se reerguer.   Não conseguia se permitir amar de novo, depois do estrago que fizeram em seu coração e alma. Apesar dos avanços de homens interesseiros, Marine sabia que nunca mais sentiria amor — não com a alma tão machucada. Não quando não tinha nada a oferecer, e sua essência de mulher se perdera.   Seu coração apertou de dor ao pensar no único homem que amara.   O homem a quem entregara seu mundo e coração — mas que despedaçou seus sentimentos ao ir embora sem ouvi-la ou sequer olhar pra trás... Droga! Nem a deixara se explicar, preferindo acreditar nos outros e transformando o amor que sentia em puro ódio e desprezo.   Tentava acreditar em milagres — que um dia se encontrariem em boas circunstâncias, e ela pudesse chamá-lo de seu —, mas sabia que sonhava alto demais. Nem sequer sabia onde ele estava.   Uma coisa que não entendia: por que pensava nele de repente, quando raramente o fazia? Seria pelo aniversário de morte do filho deles? Ou por estar no período menstrual? Não sabia, mas andava emotiva demais — e odiava isso.   Dorian estaria onde quer que fosse, aproveitando a vida, enquanto ela não conseguia deixar o passado pra trás — só porque uma voz insistente em sua cabeça dizia que ainda não acabara, quando ela sabia que sim.   Estava cansada de pensar nele, de se lamentar pelas lembranças que compartilharam e de se perder no passado. Além do fato de ele tê-la deixado danificada além da conta, ainda se perguntava se ele a amaria como antes — ou se o que seu irmão dissera era verdade.   Voltando no tempo, as palavras zombeteiras de Mehdi ecoavam profundamente:   "Você acha que ele te ama? Alguém que dormiu com minha namorada — e é conhecido por ter ficado com metade da cidade —, e aqui está você, pensando que ele sente algo por você. Ele odeia o pai, eu odeio ele, e ele só está usando você para se vingar de nós."   "Mas..." — gaguejara na época, as mãos segurando a barriga ainda invisível, querendo contar a desgraça em que se metera, mas as palavras morreram em seus lábios.   "Marine, Dorian não te ama. O escândalo em que vocês se meteram devia ser suficiente pra você cair na real. Ele não te ama..."   'Dorian não te ama. Ele não te ama.'   As palavras ainda ecoavam em seus ouvidos quando tirou o uniforme da máquina e saiu para estender as roupas atrás do motel onde se hospedara.   'Dorian não te ama.' — soavam mesmo quando pegou a barra de proteína e a laranja compradas para o jantar.   'Dorian não te ama.' — ressoavam ao deitar na cama pequena, os cobertores m*l a cobrindo no frio do quarto.   'Dorian não...'   "Droga!" Gritou alto, atirando a laranja meio descascada que ainda não comera.   Com lágrimas escorrendo, as mãos pressionando o ventre, Marine entregou-se ao chão enquanto as memórias dolorosas a invadiam — e chorou até adormecer, dominada pela autopiedade.   Ela estava cansada. Muito, muito cansada!
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