Capítulo 10 - Coletiva

2364 Palavras
Sophie POV Descemos pelo elevador ininterruptamente até o subsolo onde nos esperava uma brilhante Ferrari vermelha, bem escandalosa, bem a cara de Eros e ele sorriu colocando seus óculos escuros e abrindo a porta para mim. – Por que dos óculos? Tá de noite. Franzi a testa confusa e vi ele assumir o volante com aquele sorrisinho metido a b***a. – Você vai ver. Disse ele dando partida no carro que roncou furioso sob nossos pés e logo estávamos do lado de fora do edifício Grécia. Foi só então que eu tomei um pouco da dimensão da coisa. Uma nuvem imensa de paparazzi nos esperava na saída e assim que escutaram o ronco da Ferrari de Eros eles começaram a disparar aquelas máquinas fotográficas com flashes tão fortes que eram capazes de cegar qualquer um. Era uma mistura de fãs tentando ver Eros, repórteres querendo falar com ele, fotógrafos desesperados pela foto perfeita e os seguranças tentando abrir o caminho para o carro. Não conseguia acreditar no que meus olhos estavam vendo, as pessoas não olhavam mais somente para ele, agora todos me encaravam, acenavam, torciam o rosto ou queriam tirar fotos minhas. Ao meu lado ele dirigia para longe daquele vespeiro de curiosos com aquele seu sorriso político que ele sempre mantinha ao ser observado, eu sabia bem que era falso, mas as pessoas nunca pareciam se importar com isso. Pensar daquela forma era c***l, como pode as pessoas só quererem ver um único estado de espírito vindo de Eros? Ele não podia se mostrar chateado, triste, irritado ou incomodado. Pelo menos era o que ele deixava transparecer. E agora bem longe daquela confusão, já podendo abrir as janelas daquele carro que eu finalmente notei que só tinham dois lugares e um painel bem mais rústico do que eu imaginei que uma Ferrari tinha, eu pude perguntar: – Onde estamos indo agora? Observei a maneira como ele ultrapassava os carros sem problema algum, como se nenhum deles estivesse de fato alí. – Para a coletiva de imprensa, depois para a luta. Explicou dirigindo com a mão esquerda e tirando seus óculos escuros com a mão direita onde ele portava um anel imponente em seu dedo indicador e o anel de compromisso que agora também repousava em seu anelar. – Isso não vai deteriorar a sua imagem? Perguntei ao me lembrar do que exatamente ele pretendia fazer naquela coletiva de imprensa. Ele estava prestes a assumir um relacionamento sério com uma total desconhecida que possui um corpo totalmente fora do padrão e nem tem a mesma nacionalidade que ele. Poucos famosos teriam essa coragem. Mas ele riu, ajeitou o retrovisor e aproveitou para ver como estava o próprio cabelo. – Um namoro? Sophie, princesa... Isso vai ser a salvação da minha imagem. Explicou olhando para a estrada em nossa frente e eu me dei ao luxo de descer meus olhos pelo corpo dele. Para um atleta de seu porte, ele era bem grande. Em sua ficha eu havia lido que ele quase entrou para a categoria dos peso-pesados por causa de sua massa muscular e altura, então acho que você pode bem imaginar o quão imponente ele era de perto. Suas mãos possuíam veias calibrosas que desapareciam quase no topo de seu antebraço, apenas dando o ar da graça em seus bíceps às vezes com um movimento ou outro. Seus dedos eram grossos de nós calejados pelo ofício, mas em contrapartida suas mãos pareciam bem leves em tudo o que ele fazia, quase que com uma sensualidade incutida em cada gesto dele. – Dizendo assim parece até que você premeditou tudo. Me arrisquei ao dizer aquilo e vi um sorrisinho de lado crescer em seu rosto. – Não, mas poderia. Teria sido um movimento bem inteligente. Gesticulou com a mão livre e logo em seguida fez uma curva acentuada que me fez segurar no banco onde estava. Meu coração estava disparado por estar naquele carro, naquela situação, com aquele cara, tendo aquela conversa. Tudo parecia querer me infartar. – De toda forma, isso não é de verdade, em algum momento você vai ter que dizer a verdade a eles. Disse após alguns segundos refletindo sobre aquele assunto que me corroía feito ácido, mas ele desviou seu rosto para me encarar curioso por um momento. – Por quê? Deixa estar por um tempo, quando eles esquecerem disso nós apenas seguiremos nossos caminhos. Abanou as duas mãos e eu quase dei um grito ao perceber que ele nem mesmo fazia questão de manter as mãos no volante para dirigir. Que cara louco. – Mas quem me garante que isso vai ser rápido? Eu preciso do meu emprego, e estando com você eu não sei se consigo mantê-lo. Nervosa com tudo, minhas unhas quase furando o banco de couro sob mim, eu comentei aflita e ele respirou fundo voltando a segurar no volante com a mão esquerda e depositou a direita calmamente sobre minha coxa exposta pela saia que não me ajudava muito naquela situação. Meu corpo arrepiou violentamente e se Eros reparou, não quis comentar sobre. – Eu garanto. O Grécia tem muitos apartamentos bons, escolha um e more nele por enquanto, trabalhe de casa, me acompanhe na temporada de lutas... Dizia com uma praticidade quase mórbida e eu quis ter algum argumento contra aquilo, mas nenhum me veio em mente. Pelo menos não enquanto sua mão estava em mim. – Você tem esse tempo das lutas para pensar sobre isso. Caso isso te prejudique demais eu prometo que consigo um trabalho para você fora do país. Explicou tranquilo e eu quis ser infectada com um pouco daquela tranquilidade, mas logo quando eu estava prestes a respondê-lo sobre aquilo, chegamos ao lugar que seria dada a coletiva e onde seria a luta. Era um estádio fechado, entramos pelo estacionamento dos atletas onde - obviamente - paparazzis já nos esperavam, mas não puderam entrar conosco. No estacionamento também já nos esperava toda a equipe do CT Olimpo, assessores, fisioterapeuta, médico, nutricionista, treinador físico, toda aquela galera que eu sempre via os grandes lutadores terem em volta de si, mas que agora eu estava perto o suficiente para conhecer um por um. Eles usavam a mesma blusa que eu e isso me fez encolher um pouco em vergonha. Parecia que eu realmente fazia parte de tudo isso agora. – Olha pra mim. Nem mesmo me dei conta de quando o carro parou, mas a voz de Eros me guiou à olhá-lo. – Você é capaz de responder tudo sobre mim, nesse momento você é a pessoa que mais me conhece mesmo não querendo, então relaxe e sorria. Ele acariciou meu queixo com os nós de seus dedos, o anel da família Zervas roçando levemente por minha pele e eu encarei seus olhos que me atraíam como dois buracos negros. – Como você pode ter tanta certeza disso? Perguntei insegura e ele sorriu mais uma vez. – Qual minha cor favorita? Perguntou. – Vermelho. Respondi, a esse ponto isso era bem óbvio. – Qual minha ascendência? Perguntou. – Grega e alemã. Respondi, isso era de domínio público, nem era tão difícil de saber. – Nome dos meus pais? Perguntou mais uma vez. – Dimitri e Rosemarie Zervas. Respondi me lembrando também de sua ficha, mas as imagens de sua família almoçando toda reunida em volta da mesa vieram em minha mente. – Meu estilo de música favorito? A esse ponto ele me perguntava já de braços cruzados e um sorrisinho de quem já tinha provado seu ponto, mas fazia questão de que eu entendesse onde ele queria chegar. – Pop, mas sua família só gosta de rock. Respondi não inibindo uma risadinha ao me lembrar do quão nervoso ele ficou ao exigir que eu dissesse que gostava de rock aos seus familiares. Então, vendo que eu estava mais calma, ele também riu. – Viu? Você é perfeita para isso. Seu sorriso era grande, genuíno ao dizer isso. Esquentou meu coração fazendo o sangue em minhas veias parecer mais lívido. – Agora nós vamos sair desse carro de mãos dadas e vamos ser o casal mais feliz que eles já viram, okay?! Okay... [...] – Sr. Zervas, poderia nos apresentar formalmente sua namorada? Um dos repórteres sorrindo educado pediu assim que nos sentamos atrás da mesa que continha três microfones, algumas garrafas d'água e cadeiras suficientes para eu, ele e Simon nos sentarmos. – Claro, é para isso que estamos aqui, certo? Disse o lutador ao meu lado fazendo aquela multidão de repórteres rirem e continuarem nos filmando e nos fotografando. – Essa aqui é Sophie Welsh, minha namorada. Sejam gentis com ela, pessoal. Assim que ele pegou em minha mão por cima da mesa e disse aquilo, um bilhão de flashes começou a ser disparado e eu virei meu rosto na direção dele tentando fugir daquelas luzes desagradáveis. – Por favor, nada de fotos com flash agora. Simon pediu em um dos microfones, o que fez os flashes arrefecerem. – Onde vocês se conheceram? Gritou um repórter lá de trás. – A quanto tempo estão juntos? Outro perguntou. – Pretendem se casar? Mais uma pergunta. – O que seus pais acham disso? Mais perguntas. – Isso tem alguma coisa a ver com a investigação? Todas aquelas perguntas sendo feitas de uma só vez me faziam ficar tonta. – A senhorita Welsh não parece seu estilo de mulher, o que foi que te atraiu nela? Aquela pergunta maliciosa feita por, pasmem, uma repórter mulher me fez apertar a mão de Eros com força e me encolher. Isso era o que eu mais temia. Eu não estava preparada para ter meu corpo sendo julgado pelo mundo inteiro quando eu mesma o odiava. – Nos conhecemos quando ela estava em serviço, meus pais adoram ela e eu não estou gostando muito da maneira como está falando da minha mulher. Respondeu apontando para a repórter que logo se calou. Abismada com a maneira ríspida e mesmo assim polida que ele respondeu aquelas perguntas - mesmo que ignorando algumas - eu me senti mais segura ao ouvir ele dizendo minha mulher. Acho que eu estava sendo gananciosa demais, mas aquele sentimento egoísta que surgiu em meu coração me reconfortou. Eros estava aqui, do meu lado. – Sobre a investigação, ela está ocorrendo em segredo de justiça, então não podemos falar sobre isso. Finalmente tive a coragem de dizer algo, e todas aquelas pessoas me olharam como se finalmente repararem que eu também tinha boca. Isso me fez perceber que eu estava muito omissa até agora. Era eu quem estava com o anel de compromisso na mão e ao lado de um lutador ricaço, eu quem tinha o poder, não eles. Talvez era isso o que Eros queria me dizer desde o início. – Mais alguma pergunta? Não? Ótimo, precisamos nos preparar para a luta, não é, amor? Com uma coragem que eu não sei de onde surgiu eu disse aquilo e ele, como sempre, sorriu mostrando aquelas malditas covinhas, seus olhos brilhando em um verde claro por causa dos flashes novamente acionados pelas câmeras. – Com certeza, princesa. Precisamos ir, obrigado pela atenção, pessoal. [...] Eros POV Eu não sei exatamente quando aquele sorriso i****a tinha brotado em minha cara, mas eu não conseguia inibi-lo mais. Nem mesmo por um segundo. – Tá feliz hoje, né Zervas? Meu treinador Frederick, carinhosamente apelidado de Ricky pela equipe, provocou enquanto segurava os aparadores para eu chutar. – A garota é linda, não sei como foi se encostar em um cara como você. Comentou ele e eu gargalhei mesmo ofegante dos high-kicks que estava dando nos aparadores que ele segurava no alto. – Eu tenho meus charmes, okay?! Mesmo que fosse mentira, eu gostava de todo aquele ar novo que Sophie havia trazido para a minha vida. Estava tudo monótono demais, e como uma bola de demolição ela veio e mudou tudo. – Charmes... sei. Vamos, me dê um ura mawashi. Ele pediu e eu fiz uma careta, ele sabia o quanto eu odiava esse chute. E bem na hora que eu me inclinei formando um perfeito ângulo de noventa graus com o meu corpo, meu celular tocou. – Sortudo miserável... Ricky riu e eu celebrei indo até os bancos da sala de preparação vendo que quem me ligava era mamãe. Respirei fundo. – Oi, mama. Estou ocupado agora, o que houve? Perguntei recebendo uma toalha de um dos assistentes e uma garrafa d'água. – Você sabe que eu odeio ser a portadora das más notícias, mas eu e seu pai não vamos poder ir te ver lutar hoje. Conseguia ouvir o tom de preocupação em sua voz e eu quis bater o pé como quem faz pirraça, mas pensei duas, três, quatro vezes antes de fazer. Algo deve ter acontecido. – Linux está muito m*l, estamos levando ele para o hospital. Estão suspeitando que a doença voltou a atacar os rins... Minha respiração parou no meio do caminho, meu peito apertou. – O quê? Mas e o tratamento? Não estava dando tudo certo?! Arranquei as luvas de treino com os dentes e deixe-as cair no chão. – É do emocional dele, Niko. Não podemos fazer nada quando se trata do emocional. Sophie POV As fileiras mais próximas de um octógono sempre são as mais caras. Eu nunca imaginei que um dia seria capaz de me sentar na primeira fileira de uma luta tão importante como essa e ainda ser paparicada como uma deusa, mas cá estou eu. As pessoas estavam loucas apenas com a ideia de que em algum lugar do estádio Eros já se encontrava. Bom, Eros não. Hades. Todos gritavam em uníssono: Hades, Hades, Hades... E a música de entrada dele era algum rock alemão que eu não conhecia e ele provavelmente nem gostava, o que me fez querer rir. Ele era um cara tão cheio de camadas que chegava a ser engraçado. Mas ao vê-lo entrar no octógono parecia que só eu havia percebido, mas o sorriso político dele não estava alí. Ao passar a vaselina em seu rosto, verificarem seu corpo, seu protetor bucal e luvas, ninguém, nem mesmo sua equipe parecia reparar que algo estava errado. O que havia acontecido?
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