lua segue

774 Palavras
Lua: Acomodo meu corpo no assento, vejo para fora da janela e suspiro, lembrando da Larissa. As respostas dela não foram fáceis de escutar e assimilar. Larissa: "Sim, meninas, conheço vocês. Conheço a mãe de vocês desde pequenas. A gente morava no mesmo morro, num beco precário. Na época, os barracos eram de lona e tábua. A gente morava ali, éramos amigas, crescemos juntas, tivemos namoradinhos juntas." Ela faz uma pausa e suspira. "Se estão aqui, é porque preciso contar sobre seu pai, não é mesmo?" "Ela caiu na cadeia por algo que não fez", falo convicta. "Com certeza, menina, tua mãe é a pessoa mais nobre que já conheci e burra também", ela fala. "Bom, resumindo a história, ela ficava com um tal de grego loirinho. Até ela estava impressionada que ele deu moral para ela. Na época, a gente era considerada a pior espécie por morar em frente a um lixão e nossas casas serem de lona. Ele era simpático, gente fina. Tu via eles nos becos, na simplicidade de chinelinho e sem camisa. Foi num beco desses que tua mãe conheceu ele. Foram ficando." Não sei exatamente quantos meses ficaram, mas eu e meu namorado ficamos um mês e meio, e era mais ou menos isso. Um dia, ela procurou ele e não achou. Ele nunca falhava quando o negócio era à luz; ele não deixava ela na mão. Ela chegou a pensar que tinha acontecido algo, fez até eu sair perguntando, mas ninguém sabia nada dele, nem onde ele morava. Lembro que a Luz ficou arrasada porque ela gostava muito dele. Passaram dias, semanas, e ela foi percebendo que ele não voltaria. Porém, um dia, na escola, ela passou muito m*l, e aí o tombo foi bem forte: ela estava grávida. Bom, a parte dela ser mandada embora vocês já sabem, não é? - Sol: Sim, nosso pai tá vivo? - Larissa: Bom, e tua mãe saiu do morro e não sei como ela foi parar aqui no interior. Três anos depois, nossas casas pegaram fogo e não teve nada que se salvasse, inclusive seus avós morreram nesse incêndio. Eu e minha mãe viemos pra cá com uma prima, e um dia, na rua, eu reencontrei a tua mãe. Mantivemos contato desde então. Quando vocês tinham 7 anos, me lembro que a mãe de vocês me convidou para ir cantar os parabéns, pois tinham ganhado um bolinho de uma vizinha. Bom, eu não pude comparecer porque tive que voltar para o morro para resolver um documento da minha avó. Era um bate e volta; subi o morro e as coisas estavam mudadas, tudo melhorado. Foi aí que passei por uma praça que tem no meio da comunidade. Vi teu pai, tentei perguntar sobre ele, mas só falavam que era o dono do morro, o herdeiro. O antigo dono foi preso e morto. Eu fiquei em choque, porém, conhecendo os caras do movimento, não podia chegar até ele e falar de vocês. Essa mesma noite voltei pra cá; m*l pisei os pés em solo, saí correndo contar a fofoca pra Luz, mas, pra minha surpresa, ela disse que não queria saber dele. Eu quase bati nela e deveria ter batido! Ela passando mil e um trabalhos e ele lá, comendo do bom e do melhor e bebendo que nem opala. - Revirei os olhos. Sol: "Ele é dono? Dono, dono?" -: "É burra, Sol." "Falou, dono." Sol: "Para, Lua! Aff." Não tem foto dele ou algo assim? Como vamos encontrá-lo? Pergunto já sabendo que vamos ter que viajar, e eu não gosto nada disso. Larissa: Aqui, nesse site de fofocas, ele aparece de raspão. Olhem aqui. Sol: Não dá pra ver nada. Tu quer ver teu pai? Busca na TV, nos jornais. Dr. Mas buscado, falo sem paciência já. Lula: Lua, ogra, minha! Para de dar chutes. A gente tá no mesmo barco, tem que estar unidas. Olho pra ele cruzando os braços. Desculpa, padrinho, tô nervosa, falo por fim, baixando a guarda um pouco. Larissa: Olhem aqui, aparece ele, dá pra ver melhor. E este daqui é o sub dele, se não me engano, o vulgo é Thaz. Olho pra ele, memorizando os rostos. Bom, que morro e é como chegamos, falo. Larissa: Morro da Pedra, RJ. Eu olho pra ela com uma cara óbvia que dizia que não temos dinheiro, mas antes de poder falar, ela se levanta e vai até um cômodo da casa, traz com ela uma lata e nos entrega: Aqui estão as economias da sua mãe. Botei mais uns trocados, vai dar pra ir e se alimentar uns dias. Nos despedimos dela e saímos andando.
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