🔗 CAPÍTULO 3🔗

900 Palavras
CAPÍTULO 3 RIO DE JANEIRO CAROLINA Observo todas as coisas que ele comprou, e a alegria de LĂ©o, e eu tinha que dar um basta nisso, imagina se o pessoal daqui soubesse que eu andava recebendo visitas de um delegado? Eu estaria em mĂĄ situação sem dĂșvidas. Assim que terminamos o cafĂ© eu o olho e digo. —Obrigada pelo o que fez, realmente nĂŁo precisava de nada disso, me fala quanto vocĂȘ gastou vou te fazer uma transferĂȘncia—digo. —NĂŁo me lembro de ter lhe cobrado nada—ele diz. —Mas eu nĂŁo quero favor de ninguĂ©m—digo. —Garota, por que Ă© tĂŁo difĂ­cil pra vocĂȘ receber ajuda?—ele me pergunta. — Porque desde muito nova eu aprendi que as pessoas nĂŁo fazem nada sem algum interesse—digo. —Conheceu as pessoas erradas—ele diz, olha para o LĂ©o e pisca pra ele e sai pela porta. Droga era sĂł o que me faltava, escutar merda desse delegado metido a b***a. Começo a guardar as coisas que ele comprou, bolachas, suco, chocolate e tudo que uma criança gosta, nem eu me lembrava quando havia sido a Ășltima vez em que comi um chocolate, tudo que eu ganhava ia para as despesas de casa e a escola do LĂ©o, essa era outra realidade, escolas pĂșblicas eram cada vez mais difĂ­cil no Rio e se eu nĂŁo pagasse por uma escola ele certamente nĂŁo estaria estudando, fora isso eu ainda pagava a dona Jurema para ficar com ele meio perĂ­odo, e mesmo sendo uma casa simples o aluguel ainda era muito para uma pessoa que ganhava um mil e trezentos reais por mĂȘs. Desde que minha mĂŁe morreu e eu me vi sozinha tudo passou a ser dez vezes mais difĂ­cil pra mim, eu daria tudo para tĂȘ-la ao meu lado de novo,mesmo que eu nĂŁo entendesse as broncas dela, mesmo que na minha cabeça de adolescente ela estivesse me enchendo o saco, a verdade era que ela estava tentando me proteger de tudo que estou passando agora. Quando pego a Ășltima sacola um cartĂŁo cai dela, nele estava o nome dele e o telefone Theodoro Ferrer, o nome combinava com ele, forte. Penso em jogar fora, mas acabo colocando na minha bolsa, por mais que eu nĂŁo desejasse encontrĂĄ-lo outra vez, nĂŁo sabemos o dia de amanhĂŁ. Começo a arrumar a casa e tentar da melhor forma deixar mais aconchegante para o meu filho, limpo o mofo das paredes mesmo sabendo que eles estariam de volta em menos de duas semanas. Assim que ele pega no sono, peço para Jurema ficar com ele para que eu possa levar o atestado mĂ©dico atĂ© o supermercado onde trabalho. Assim que chego Fabiana me olha com olhar de nojo e desdĂ©m. —Vim trazer o atestado mĂ©dico do meu filho, passei a noite com ele no hospital e por isso nĂŁo vim trabalhar—digo entregando o papel para ela que olha e me diz. —O atestado Ă© do seu filho e nĂŁo seu, e ele nĂŁo trabalha conosco—ela diz. —Mas Ă© meu filho, eu tenho o direito de acompanhĂĄ-lo e ficar com ele—digo. —Direito? VocĂȘ tem o dever de vir trabalhar, eu nĂŁo tenho nada haver com isso Carolina e a verdade Ă© que vocĂȘ jĂĄ nĂŁo faz mais parte do nosso quadro de funcionĂĄrios, pode passar no RH—ela diz. —VocĂȘ Ă© uma vaca insensĂ­vel isso sim —digo jĂĄ que eu havia sido mandada embora mesmo. Sigo rumo ao RH e quando eu chego lĂĄ Marluce a coordenadora me olha com pena. —Oh menina eu tentei evitar, mas ela sĂł queria uma desculpa para pedir sua cabeça—ela diz. —Eu sei que nĂŁo tem culpa, nĂŁo se preocupa—digo. —Fiz sua rescisĂŁo com todos os seus direitos, seguro desemprego e FGTS, vocĂȘ estĂĄ aqui a bastante tempo, o que vai receber vai dar pra se manter por um tempo atĂ© arrumar outro emprego—ela diz. —Obrigada—digo pegando o papel de suas mĂŁos e saindo de lĂĄ. Caminho atĂ© a praia e fico olhando o mar, o que eu faria agora? Como eu ia sobreviver com LĂ©o? Deixo as lĂĄgrimas contidas por tempo demais escorrerem pelo meu rosto, eu tinha que encontrar uma solução. Olho algumas pessoas que passeiam pela orla, para eles parecia tudo tĂŁo fĂĄcil, e ainda hĂĄ pessoas que dizem que dinheiro nĂŁo trĂĄs felicidade, a falta dele Ă© que nĂŁo trĂĄs, se eu tivesse dinheiro nĂŁo estaria passando por nada disso. Enxugo as lĂĄgrimas e atravesso a rua para pegar o ĂŽnibus, eu tinha que voltar para casa e pensar no que eu ia fazer, eu tinha que sair daquela casa ou meu filho nunca ia melhorar e tentar arrumar outro emprego. No caminho para o ponto de ĂŽnibus compro um jornal de classificados, assim que chego em casa encontro Jurema. —E aĂ­ filha como foi?—ela diz. —Eles me mandaram embora—digo. —NĂŁo acredito, como tiveram coragem de fazer isso, e agora filha o que vai fazer?—ela inquire me olhando com pena. —Eu ainda nĂŁo sei, mas vou dar um jeito nisso—digo passando a mĂŁo pelos cabelos do meu filho que ainda dorme. Eu tinha que conseguir arrumar tudo isso.
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