capítulo 03

1546 Palavras
KEVIN. Eu não aguento mais olhar para essas paredes cavernosas. Não consigo mais ficar apenas rolando de um lado para o outro nessa cama sem vontade de dormir. E definitivamente não consigo ficar mais um segundo sem fazer absolutamente nada. Meu tempo era cuidadosamente dividido entre treinamento, estudos e farra (não nessa ordem. O correto seria: treinamento > farra > estudos, já que a faculdade de RI era apenas para continuar no time de futebol, que era minha segunda opção de carreira caso o Boxer não me levasse a lugar nenhum). Recolho o pequeno retalho de pele felpuda que mais parece uma minissaia do chão ao redor da cama, já que não tenho o costume de dormir vestido. O chão de pedra (assim como 99% das coisas aqui) é surpreendentemente limpo e gelado, mas não o suficiente para incomodar enquanto estou descalço, me vestindo. O couro amarrado na minha cintura esconde a tatuagem do lado esquerdo da minha virilha, que na verdade é bem cafona e não tem significado algum, pois eu estava caindo de bêbado e quando acordei: voilá! Uma mistura de galhos na forma de um pássaro em traços fortes e negros estava na minha virilha. Na verdade já ouvi várias piadinhas sobre ela, porquê pela direção em que o pássaro está voando, parece que estava pousado no meu p*u segundos antes, mas tenho apresso suficiente por ela para não lhe ter apagado com uma seção a lazer. Coloco a capa quente e calço as botas que abraçam meus pés de forma perfeita. Com essas roupas eu fico parecendo um viking, só faltou uma barba longa e bem ruiva. Tento ser o mais silencioso possível enquanto caminho para fora do quarto, concertando-me nas memórias para tentar lembrar para onde cada corredor leva, mas no fim acabo pegando alguns caminhos aleatórios, torcendo para que me leve a cozinha. — hey. — uma voz diz. Demoro alguns segundos para perceber que isso foi dito em inglês, então olho para o dono da voz rapidamente, dando de cara William à poucos metros. — ah, Oi, William.— respondo, enquanto observo-o se aproximar com um sorriso gentil no rosto. — Will. Meu nome agora é só Will. — explica ele, assim que para ao meu lado. Will pode ser considerado uma pessoa alta (para os parâmetros do nosso mundo), mas é alguns bons centímetros mais baixo do que eu. Seu cabelo é preto e está cortado de um jeito meio engraçado, com algumas mechas maiores do que as outras. Os olhos são de um verde exatamente igual a tonalidade da pequena pedra que pende do colar em seu pescoço. Ele é bonito, na verdade. — está procurando alguma coisa? — na verdade... Estava procurando a cozinha.— digo, então ele assente levemente com a cabeça e começa a andar pelo corredor, indicando para que eu o siga. — Como você saiu de um daqueles cilindros sozinho?— pergunto, enquanto caminho logo atrás dele. — eu não estava preso em um daqueles cilindros, e sim numa espécie de gaiola. — entendi. E... Como eles eram? Os Alienígenas que nos capturaram??— penso no corte já cicatrizado na lateral da minha cabeça. Só em pensar que estivemos a mercê desses monstros... — erram horrorosos. Imagine uma versão ainda mais esquisita dos reptilianos de doctor who, acrescentando um cheiro fétido de coisas em decomposição. — credo.— sussurro baixinho, realmente não querendo pensar muito nisso agora. Nós passamos por vários corredores, até que Will para na entrada de um enorme salão, com balcões (de pedra) e fogueiras para todos os lados. Ele vai até um dos balcões onde há pequenas porções de carne seca e sinaliza para que eu vá até lá também. Pego alguns pedaços e começo a comer, lançando um olhar para Will, que apenas observa o grande cômodo em silêncio. — você não vai comer? — na verdade... estou comendo só frutas esses tempos.— ele diz, então dou de ombros e continuo comendo. Estranhei o gosto no início, mas a comida é muito boa, na verdade. Depois de algum tempo em silêncio, ouço o som de passos pesados se aproximando atrás de mim. Olho rapidamente por cima dos ombros, esperando ver Wahlk com aquela carranca de sempre, mas dou de cara com Yake, o namorado Alienígena de Will. Ele assente para mim, em reconhecimento, antes de abrir um pequeno sorriso e caminhar até William, colocando as mãos enormes na cintura do menor e depositando um beijo na sua testa. Desvio os olhos rapidamente e encaro a parede, não sabendo ao certo se quero ver/ouvir as carícias e os sussuros amorosos entre os dois. E quando volto a olhar, Yake está atrás de Will, com o peitoral colado em suas costas, as mãos acariciando sua barriga e o queixo apoiado no todo de sua cabeça. — bom... Acho que já vou indo. — digo por fim, revirando os olhos. Começo a andar em direção a saída, mas a voz de Will corta o silêncio: — espera! Nós vamos com você.— os dois começam a andar na minha direção, e sem muito o que fazer, apenas espero um pouco para que ambos me acompanhem. (***) Assim que chegamos aos corredores um pouco menos espaçosos, meu coração começa a bater de forma bastante estranha e começo a suar frio sem parar. Encaro as paredes imponentes e me espremo contra uma delas, sentindo como se todas as outras viessem na minha direção e quisessem me esmagar ou me prender num pequeno cubículo. Merda. Merda. Merda. Isso de novo não... — Kevin, você está bem?— Will vem até mim e toca meu ombro sob a capa. Faço que sim com a cabeça e desvio os olhos, não querendo parecer um fraco na frente deles. — eu estou... Vocês... poderiam me levar até a saída desse lugar?? Preciso tomar um ar.— peço de forma quase desesperada, então ele confirma e começa a andar pelo corredor em passos rápidos, enquanto Yake joga o braço por cima dos meus ombros e me ajuda a caminhar, pois a tontura está me fazendo ver estrelinhas. — Kevin... Você é claustrofóbico??— will olha para mim espantado; então limito-me a apenas assentir e continuar caminhando. Tenho essa merda e outra centena de fobias esquisitas que tentei de todas as formas ignorar, mas essas paredes são tão grossas... E estamos tão abaixo da superfície... Odeio lugares com muitas pessoas, lugares apertados, aranhas, tempestades e nevoeiros. E não é a p***a de um medinho passageiro; é algo irracional que parece tomar conta do meu corpo de uma forma tão estranha que não consigo pensar em outra coisa a não ser nisso. As terapias e manter a mente ocupada fazia essa merda toda ficar de lado, mas esse lugar faz tudo voltar a tona com uma intensidade assustadora! Depois do que parece ser uma eternidade, finalmente saímos da enorme caverna. Yake me ajuda a sentar em uma das poucas pedras que não estão cobertas de neve, então embrulho meu corpo com a capa e respiro com dificuldade, apreciando o ar absurdamente frio, mas fresco. Um barulho estranho vindo da nossa direita nos faz olhar na direção do som, dando de cara com Wahlk, que caminha rapidamente para fora da caverna. Há duas lanças na sua mão esquerda e diversas outras armas presas em suas costas. O seu olhar recai sobre mim, me analisando por um breve instante, antes que ele desvie o olhar para longe e comece a andar pela neve novamente. — Hey! Você vai para onde? — Yake pergunta com um sorriso amigável no rosto, que não é retribuído, mas faz a carranca do rosto do outro sumir quase que por completo. — Caçar. Vou passar um tempo fora.— explica ele, antes de continuar caminhando para longe. Isso desperta algo em mim. Algo estranho que não sei identificar o que seja. — Espera!! — eu grito, pondo-me de pé e dando um passo para frente, surpreendendo a mim mesmo. — E-eu... Eu vou com você.— digo por fim, fazendo Yake e will me observarem com atenção, enquanto Wahlk me lança um olhar incrédulo e espantado. Não consigo suportar a ideia de entrar nessa caverna outra vez, então respiro fundo e começo a andar pela neve para seguir o cara estranho, mesmo que tudo em mim grite para não fazer isso. — Kevin! Espera aí.— Will corre até mim e segura meu pulso, me impedindo de continuar andando. — eu preciso te explicar algumas coisas, antes que você vá com Wahlk. — Will, eu vou ficar bem. Volto quando estiver mais calmo.— tento tranquiliza-lo, lutando para não revirar os olhos. Ele provavelmente vai começar com todo aquele papo estranho de como os aliens são diferentes lá embaixo e coisas assim, mas como eu não estou cogitando sequer chegar perto de um deles dessa forma, não preciso me preocupar com isso. — por favor, Kevin. Você precisa saber que... — eu juro que vou ficar bem, William. Ele pode até ser um esquisitão, mas não parece ser alguém que me machucaria. E eu tenho ótimas cartas na manga, caso ele tenha a audácia de tentar. — me desvencilho dele e lhe dou um sorriso tranquilizador, antes de começar a andar, sem esperar sua resposta.
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