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1098 Palavras
Tayná Sol de 40 graus e eu tô como no pique da faxina, porque é assim que eu sobrevivo no Rio de Janeiro, trabalhando que nem uma condenada para receber R$ 250 por faxina. E o pior de tudo é que o dinheiro nem cai na minha mão. Quando eu chego em casa, aqueles vagabundos que moram lá pegam tudo para eles. E sim, eu já tentei sair de casa várias e várias vezes, mas quem disse que eu consigo? Toda vez que eu saio, eles vão atrás de mim, ficam infernizando a minha vida até eu perder a casa que eu alugo. E aí eu sou obrigada a voltar para aquele inferno. E olha que eu só tenho 21 anos! Para vocês verem como o bagulho tá doido para o meu lado. A minha mãe que estava certa, tá ligado naquela frase que o pai vai comprar um cigarro e nunca mais volta? Bom, na minha casa foi ao contrário: a minha mãe falou que ia comprar um cigarro e nunca mais voltou. Desde então, o banco daquela casa sou eu. Tayná, eu sou uma otária, eu sei. Mas a vida não é um morango e eu não tenho escolha. Tayná: Dona Cristina, terminei - gritei para a velha que me explora como se eu fosse uma c****a. Cristina: Deixa eu ver - ela falou, olhando em volta - nossa, está tudo perfeito como sempre. Tayná: Olha, Dona Maria, deixa eu falar uma coisa para a senhora: a faxina, a partir da semana que vem, vai ter um aumento. Não vai ser mais R$ 250, vai ser R$ 350. Se a senhora quiser pagar, eu volto. Se a senhora não quiser pagar, bom, eu vou ficar na minha casa, dormindo até meio-dia, com o maior prazer do mundo. Cristina: Que isso, menina? Aí você só me avisa assim em cima da hora! R$ 350 fica muito dinheiro para mim. Eu olhei para a cara dela e eu juro que se eu não respirasse fundo, eu ia perder o meu réu primário. Tayná: Dona Cristina, com todo respeito, a senhora tem uma casa com três quartos e dois banheiros. Eu arrumo tudo. A senhora quer que eu tire o livro do lugar, que eu arraste o sofá, que eu faça a p**a que pariu e não quer me dar um aumento? Tudo bem, arruma outra trouxa para cuidar da sua casa. Cadê o dinheiro de hoje? Que eu quero meter meu pé, porque eu ainda tenho que ir trabalhar no posto de gasolina. Ela me deu o dinheiro e ficou me olhando com cara de cu. Qualquer dia desses, eu ainda vou matar um desses velhos, sério. Saí da casa dela e vim direto para o posto. Sim, eu tenho dois empregos e, se botar na ponta do lápis, eu tenho mais de três, porque de manhã eu faço faxina na casa de quem quiser me pagar. Quando dá mais ou menos 2 horas da tarde, eu venho para o posto e só chego em casa meia-noite, porque a cachorra sou eu, né? Eu tenho três marmanjos para sustentar: um viciado, um viado e um p*u no cu que se acha o gostosão do morro, mas não tem dinheiro nem para pagar o x-tudo da gata. Aí, o que acontece? Eu tenho que pagar o x-tudo da gata dele. É f**a, né? Enquanto tiver cu vagabundo, vai botando, e é isso. No cu da Tayná, é refresco. Troquei de roupa e vim para o caixa. Os clientes daqui ficam jogando umas piadinhas para mim, mas eu nem dou confiança, porque paciência é zero. Rosana: Tayná, hoje é dia de pagamento, então eu vou te liberar mais cedo, porque eu vou te dar o dinheiro na mão, já é. Olhei para o céu e agradeci a Deus. Pelo menos o censo ela tem uma vez no mês, porque fora isso eu fico aqui até meia-noite junto com o Carlos, que é um amigo meu, e a gente fica esperando para poder trocar de turno com os filhos da p**a que chegam depois da gente. E quando eles não chegam, a gente toma no cu e tem que ficar aqui. Exatamente, a gente não troca de turno, a gente fica aqui, trabalho escravo. Sim, claro, com certeza, mas ainda assim é melhor do que a minha casa. O dia passou rápido e eu fui trabalhando, limpando e arrumando a loja de conveniências do posto. Quando deu mais ou menos 21 horas da noite, a Rosana me chamou e me deu o meu dinheiro. Ela disse que eu podia ir embora e eu respirei aliviada. Eu estava subindo o morro, conversando com algumas pessoas, e quando eu cheguei na rua da minha casa, eu ouvi uma gritaria. Reconheci a voz do meu pai e dos meus irmãos discutindo, mas nada fora do comum. Eles devem estar querendo se matar para ver quem vai ficar com o meu dinheiro hoje, mas eu nem dei confiança. Tirei R$ 800 e coloquei no peito, porque eu não vou ficar sem as coisas por causa deles. Deus que me perdoe. Entrei em casa e eles pararam de discutir. Eles ficaram com cara de desespero e foi aí que eu coloquei a mão na cintura e falei: Tayná: Posso saber o porquê da discussão? Antônio: Eu preciso de dinheiro, minha filha, de muito dinheiro mesmo. Carlinhos: O seu pai pegou R$ 20.000 de drogas para poder passar para um outro traficante e o cara não pagou ele. Ele falou que ia pagar o traficante aqui do morro amanhã e ele não tem dinheiro, ou seja, ele vai para o saco preto. Gilmar: E eu não vou entrar na frente para poder defender ele. Agora ele repassa a droga desse o****o. Além de usar aquela p***a, ele repassa. Tayná: Você falou R$ 20.000? Foi isso mesmo que eu entendi ou eu tô ficando maluca? Calma aí, tu pegou a droga do traficante daqui para vender para traficante de outro morro? Tu tá usando crack? Podem preparar o saco preto, porque eu não tenho R$ 20.000. Nem se eu me prostituir na pracinha eu vou conseguir esse dinheiro. Agora eu vou para o meu quarto dormir. Eu, hein! Era só o que me faltava. Antônio: Você precisa dar um jeito de conseguir esse dinheiro. Você sabe como o Jerry é. Ele vai acabar com a minha vida. É isso que você quer? Você já não tem mãe e ainda quer perder o seu pai? Tayná: Eu tô cheia de dor de cabeça. Amanhã eu penso nisso. Boa noite.
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