CAPÍTULO 03

1278 Palavras
Juliana lutava contra a amargura de vida e a depressão, era difícil para ela lidar com sua realidade, mas tinha dias que era vencida, ela entrou no ônibus pensando que aquele dia era um daqueles, sabendo que quando era assim tudo dava errado, o fato de ver Roberto tão lindo e arrumado daquele jeito não a deixou feliz, muito pelo contrário, uma tristeza e uma inferioridade tomava sua mente, não entendendo porque as coisas pareciam ter dado certo para ele e para ela não, ela que trabalhava seis dias na semana nunca conseguiria um Rolex daquele que ele usava, nem roupas tão caras de marcas e tênis tão bonitos, as correntes pareciam ser original de ouro, ela já tinha vinte anos, seu planos na adolescência diziam que nessa idade ela teria um bom apartamento, um bom emprego com uma sala de empresaria em um terraço, um lindo carro e talvez um belo marido, mas até então o que ela tinha era ônibus lotado uma hora daquela onde o sol passava a clarear, ela não achava justo uma pessoa que não trabalhava ter tudo aquilo que ele tinha, não achava justo ele ter dado certo com a vida que sonhou enquanto ela via dia após dia as suas esperanças enfraquecerem até morrerem por não conseguir fazer nada do que desejou mesmo quando fez tudo correto para conseguir alcançar seus objetivos, mais uma vez ela via o sol nascer de dentro do ônibus no percurso até o trabalho, ouvindo seu celular tocar e ignorando a ligação ao ver que era um colega do seu serviço, a vida não parecia justa para ela pensando que talvez sua alegria estivesse na eternidade, aquele era um momento repetitivo na vida dela, mas até comum, parecido com as misericórdias do Senhor que se renovavam a cada manhã. Ela seguia deprimida fechando os olhos sem falar com ninguém, brigada até mesmo com o sol que nascia em sua mente, então resolveu ficar ali planejando a vida que era para ter tido há muito tempo, pedindo a Deus que fosse pelo mover dele porque suas mãos já não tinham poder para fazer nada “pela graça” pensava ela. Quando chegou no serviço seu ânimo estava melhor, ela pensava que aquele era um lindo e ensolarado dia para as coisas melhorarem, podendo até mesmo conhecer alguém diferente, mas sendo recebida por Eduardo, todos os dias ele vinha ao seu encontro antes que ela colocasse o uniforme da empresa, sendo ele apaixonado por ela, as vezes achava que ela sabia, mas as vezes a achava inocente. -Bom dia- disse ele sorridente- Achei que nem viria hoje. -E porque eu faltaria? -Como assim porque faltaria, talvez por causa da operação da polícia na comunidade e o tanto de gente morta, os traficantes desceram o morro e colocaram os corpos de quatro pessoas no começo da subida, antes mesmo a polícia reagir. -Quando isso Edu? -Agora, está passando no jornal. Juliana foi até a frente da pequena televisão ligada na copa dos funcionários, achando que Eduardo estava exagerando sobre a notícia, mas ficou de boca aberta em ver os quatros corpos jogados no começo do morro e a polícia recuando depois de entender que aquela briga já tinha terminado e não tinha sido com eles, ela acreditava que eles tinham devolvido os corpos por causa da conversa que tinha tido com Roberto na madrugada, mas os jornais diziam que faltava mais uma pessoa, ela só tinha visto quatro, mas eles procuravam por um que era o suspeito de ter feito o ataque contra a comunidade, o nome de Roberto, não aparecia nas reportagens, a mídia não sabia ao certo quem ele era, mas especulavam que o rapaz estava sob custódia no morro preso por ter tentando invadir aquela área e quebrado um tratado de paz, mas na verdade tudo era boatos, nenhum jornalista subia no morro para fazer uma entrevista com um traficante de verdade, eles falavam apenas com os subordinados e com muito cuidado para não serem mortos. Ela prestava naquela repercussão de sangue e morte e sabia o que vinha em seguida, a vingança da mafia do lado, fazendo os moradores prisioneiros daquela grande disputa, para ela todo mundo que morava lá era refém de uma grande guerra civil onde pessoas matavam sem piedade, crianças cresciam com um pensamento na riqueza falsa do tráfico e a maioria dos jovens morriam antes de chegar aos trinta anos, sendo assassinado, mas o real governo não tinha poder militar para derrubar aquela milícia, então aprendeu a lucrar com tudo o que acontecia naquele lugar, não se importando com as vida que eram descartadas toda semana, no morro a polícia não mandava e nem subia sem antes ter uma autorização sendo raras as vezes que subiam de surpresa e sempre que faziam tinha uma intenção política por traz, a situação era muito diferente dos olhos de quem vivia lá, para os olhos de quem produzia filmes. Juliana tinha a impressão monarca sobre o governo constituído nos morros, pois a população não tinha o direito de escolher quem lideraria naquele lugar, o “trono” no caso de Roberto era passado em família, assim que o tio recebeu uma bala e perdeu o movimento das pernas não querendo mais administrar o morro, se entregando totalmente ao álcool e as drogas e morrendo de overdose, antes mesmo dele morrer quem administrava a favela era Roberto, os roubos no reinado dele estavam diminuindo, as mortes também diminuíam, mas as torturas e dissipação de membros aumentando, ele era conhecido por castigar devedores, ladrões de vila entre outras categorias sendo uma pessoa temida na comunidade, mas ela não sabia se tudo aquilo que diziam era verdade, pois o Roberto que conheceu era apenas uma pobre e triste criança que perdeu os pais para o tráfico e foi criado pelo tio, que no fundo desejava que ele tivesse uma vida diferente da que via, mas não conseguindo evitar quando ele largou a escola que aquela fosse a vida do menino, Juliana sempre pregou a palavra para ele, quando era mais nova imaginava que ele poderia se converter, tirar aquela ideia da cabeça e ir em bora do morro com ela, mas vendo do jeito que estava achava que tinha sido melhor para ele que não tivesse acontecido. Mas não sabia se um dia teria a oportunidade para pregar a palavra para ele novamente e se faria algum efeito, pois como ele tinha dito “sua vida era importante”, ele não daria tempo para uma pessoa como ela, era como se seu amigo Beto se tivesse transformado na celebridade do morro, não tinha tempo para uma norma como ela, não era a toa que não a via há anos. -Está distraída hoje- disse Eduardo a despertando dos pensamentos- Chega tão cedo e bate o ponto atrasada, aí não dá né? -É mesmo- disse ela correndo para bater seu ponto escondida antes de se trocar. Roberto estava cansado, havia passado a noite toda acordado, sua namorada o esperava na cama, mas ele antes de dormir resolveu dar uma olhada no rapaz que tinha preso, pensando em qual seria seu fim e pensando no que Juliana o aconselharia a fazer, “provavelmente” disse ele sorrindo “ela mandaria eu o soltar mesmo que isso custasse minha própria”, ele suspirou fundo “ela estava tão impactada com os defuntos, faz muito tempo que não me sinto como ela” ele chegou no cômodo que o rapaz estava, parecia estar desmaiado deitado no chão e todo ensanguentado, preso por um portão na intenção que parecesse uma prisão e como dois homens fortemente armados do lado de fora.
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