Quando o medo grita

776 Palavras
Ele estava encostado na parede, com os braços cruzados e o olhar fixo nela, como se já estivesse ali há muito tempo. Hana franziu a testa, percebendo que Mary estava mais nervosa do que antes. — Quem é aquele? — perguntou, com a voz firme. Mary sentiu seu coração acelerar. — É o Theo. Meu namorado. O nome m*l saiu de sua boca, como um sussurro. Hana não respondeu de imediato, mas seu olhar dizia que ela já suspeitava do que estava acontecendo. — Você... quer que eu vá com você até lá? Mary ficou em silêncio por alguns segundos, travada pelo medo. Não sabia o que fazer. Theo caminhou em direção a ela. Parou bem na frente, com os olhos carregados de raiva. — Onde você estava que não atendeu minhas ligações? — disse, ignorando completamente a presença de Hana. Antes que Mary pudesse responder, ele agarrou seu pulso com força. — Theo, me solta — disse ela, tentando manter a calma diante da situação. — Tá achando que pode me ignorar agora? Que tá solteira, como uma pessoa livre, é isso? — Solta ela agora! — disse Hana, firme. Theo virou o rosto em direção a Hana, que o encarava com um olhar gelado. — E você é quem? Outra v***a que ela achou por aí, foi? Isso não é da sua conta. — O que você me chamou, seu b****a? Tá achando que é quem pra falar assim comigo? — disse Hana, dando um passo à frente. — Isso é da minha conta, sim. A partir do momento em que você encosta um dedo numa mulher, isso passa a ser do meu interesse. Theo a encarou com ódio, surpreso com a ousadia dela. Mas não recuou. O clima ficou tenso. Mary m*l conseguia respirar. Com raiva, Theo soltou o braço de Mary e avançou contra Hana, tentando atingi-la com um soco. Mas Hana reagiu rapidamente. Agarrou o braço dele com firmeza, virou-se de costas e, com um movimento ágil, o puxou por cima dos ombros. Tudo aconteceu em questão de segundos. O corpo de Theo caiu com força no chão, tirando-lhe o ar. Ele gemeu, furioso e chocado. — E se encostar nela de novo, vai sair daqui de ambulância — disse Hana, com raiva nos olhos. Mary ficou paralisada, de boca aberta. Ninguém nunca a tinha defendido daquela forma. Theo se levantou, enfurecido. — Você vai se arrepender por me fazer passar essa humilhação — gritou ele, ferido no orgulho por ter sido derrubado por uma mulher. — Quem vai se arrepender é você. Acha que pode bater numa mulher pra mostrar que é homem? — rebateu Hana, firme. — Some daqui antes que eu chame a polícia. Theo lançou um olhar de ódio para as duas e foi em direção ao carro. Mary sentiu um alívio profundo quando o viu virar a esquina. Hana se voltou para Mary. — E aí? Tá bem? Ele machucou você? Mary assentiu lentamente. — Tô bem... Só o pulso que tá doendo um pouco. Mas... como você fez aquilo? Foi tão rápido... — Eu treino karatê, jiu-jitsu e boxe — respondeu Hana, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Mary se sentiu segura e, pela primeira vez em muito tempo, protegida. — Hana, obrigada. De verdade. Se não fosse você, eu não sei o que teria acontecido. — Não precisa agradecer. Eu faria isso por qualquer pessoa na mesma situação — disse Hana, com um pequeno sorriso. Ficaram em silêncio por alguns instantes. — Bom... Acho que ele não vai voltar tão cedo. Já vou indo — disse Hana, pegando o capacete. — Hana... não conta nada pras meninas, por favor. Eu... eu vou falar no momento certo. Hana olhou para ela com firmeza. — Tudo bem. Não vou dizer nada. Mas é melhor você contar logo. E denunciar ele também. Tchau. Mary observou Hana subir na moto. O som do motor ecoou pela rua silenciosa, até desaparecer. Um vento frio soprou, bagunçando seus cabelos cacheados enquanto ela ficava ali, sozinha, envolta pelo silêncio da noite. Sentia-se grata. Pela primeira vez em muito tempo, alguém a havia defendido. Seu irmão era o único que costumava fazer isso antes — ao contrário de sua mãe, que nunca acreditava nela. Pegou a bolsa caída no chão e seguiu em direção ao prédio. O caminho pareceu mais longo do que o normal. O elevador subia devagar, como se sentisse o peso do dia que ela carregava. Assim que entrou em casa, foi direto para o banheiro e tomou um banho rápido. Depois se vestiu, foi até o quarto, deitou-se na cama e, em poucos minutos, adormeceu.
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