Casamento entre amor e ódio

Prólogo

O Altar Vazio

A grandiosidade da Catedral de Berlim era um eco vazio para a tempestade que rugia dentro de mim. Os arcos neobarrocos, a cúpula verde-cobre — tudo que deveria ser o palco da minha ascensão e paz — de repente parecia uma gaiola dourada. Eu, Gregório Schneider, o Dom da máfia alemã, estava prestes a selar a aliança mais crucial da minha vida, mas o chão se abriu.

O propósito era claro: dar uma rainha ao meu reinado, selar novas e poderosas alianças, e calar a boca dos conservadores que ainda me viam como um mero substituto, não como líder de direito. Casar com Lívia Miller, filha do chefe de uma organização de assassinos, era a jogada de xadrez perfeita. Era a fusão de poder, a garantia de que a máfia alemã não seria mais o "elo fraco". E acima de tudo, era a chance de ter, finalmente, a mulher que eu amava, apesar dos anos de falhas de comunicação e mentiras.

Eu sabia que ainda tínhamos um longo caminho pela frente. Cinco anos de briga e a dor de um m*l-entendido— onde ela acreditava que eu estava noivo de outra— não desaparecem com uma noite de amor. O processo de cura m*l havia começado, mas o futuro nos esperava no altar. E, por um breve e lindo momento, achei que Lívia tinha, finalmente, engolido seu orgulho e aceitado o meu domínio e a minha devoção.

Então, Lucca, seu irmão e protetor feroz, me parou com uma mão firme no ombro, jogando uma âncora fria na minha impaciência.

— Vai encontrar ela no altar, onde os noivos podem ver as noivas — disse, com aquele tom de quem marcava território. Eu insisti, aquela sensação estranha de que algo estava errado me roendo por dentro, mas ele garantiu: — Minha mulher está com ela, minha mãe, tias e primas. TODAS as mulheres da nossa família estão com Lívia, ela não vai fugir, não se preocupe com isso.

Tentei me acalmar. Lívia Miller era fogo, era implicação em cada detalhe, ela querer casar na Itália e não na Alemanha. Ela tinha feito da minha vida um inferno desde que aterrissou aqui. Mas fugir? No dia do nosso casamento, com todo submundo de olho? Parecia extremo até para ela.

Foi quando senti a presença de Ken atrás de mim. Meu novo conselheiro, leal e de valor inestimável. Seus olhos estavam esbugalhados, sua postura rígida.

— Senhor... — ele olhou de Lucca para mim, o nervosismo palpável.

— Desembucha, Ken, o que está acontecendo?

O silêncio de Lucca tornou-se ameaçador. A resposta de Ken, no entanto, foi um tiro que rasgou a falsa paz da Catedral.

— A noiva não chegou...

A frase me atingiu como um golpe físico, esvaziando o ar dos meus pulmões. O sangue gelou nas minhas veias. Olhei para Caio, buscando qualquer sinal de que fosse um blefe, uma última tentativa mesquinha de me separar de Lívia. Mas Ken não estava brincando.

Lívia não podia fazer isso comigo, podia?

Em um instante, a razão e a fúria colidiram na minha cabeça. O desespero se manifestou em um grito mudo.

Fugiu ou foi sequestrada? Ela realmente teve a audácia de queimar todas as pontes, de me humilhar diante dos meus subordinados e, pior, diante dos meus novos e cruciais aliados? Ela preferiu a anulação, a guerra declarada, a me aceitar como seu marido?

Ou...

Ou a sensação de que algo estava errado que me atormentava tinha uma razão mais sombria? Lívia era teimosa, sim, mas não burra. Ela sabia o que significava este casamento para a máfia.

Minha mente correu para a outra possibilidade, a que mais me apavorava e, ao mesmo tempo, acendia um fogo vingativo: foi raptada?

Quem se atreveria a sequestrar a filha de Andreas Miller e a noiva do Dom de Berlim, no coração do meu território? Os velhos conservadores? Algum inimigo do meu pai? Ou seria o cartel mexicano, aquele desgraçado que eu havia ameaçado, que tentei destruir por se aproximar da minha mulher? Teria ele voltado para cobrar o preço?

CASSANDRA!

O Altar da Catedral de Berlim era o centro do meu poder. E estava vazio.

Virei-me para Lucca, que parecia tão paralisado quanto eu. O pânico nos olhos dele confirmou que a situação era real, e que ele não estava por trás disso.

— Lucca, ela fugiu ou a levaram? — Minha voz soou baixa e perigosa, cortando o ar como vidro.