O médico entrou minutos depois e fez um exame rápido em Sofia. Para alívio de todos, ela estava bem, apenas um pouco agitada. Com o medicamento que o médico havia lhe dado, ela logo caiu em um sono profundo, agarrada a Ricardo. Do outro lado, Yuri segurava uma das suas mãos com firmeza, recusando-se a deixá-la ir. O seu lado possessivo lutava contra a vontade de arrancá-la dos braços do irmão, mas sabia que ela precisava daquilo, precisava se sentir segura para se recuperar de tudo o que havia acontecido.
Mel e Xavier tinham partido alguns minutos antes, após verificar que Sofia estava bem. Xavier sabia que não adiantaria a esposa ficar no hospital com a irmã, quando havia dois homens teimosos que não sairiam do lado dela. Então, mesmo contra a sua vontade, Mel foi arrastada até a casa onde Sofia morava para descansar.
— Não vou pedir desculpas, russo — diz Ricardo em voz baixa, após um longo silêncio entre eles.
Yuri sabia do que o seu cunhado estava falando. Ele sentia o peito se apertar apenas olhando para Sofia, tão frágil na cama. Ele havia visto algo que jamais pensou que veria na sua vida: Sofia chorando. Ela era sempre tão iluminada e forte que ele se esquecia de que havia alguém frágil debaixo daquela pele. Porém, os eventos da noite abriram os seus olhos para aquele detalhe.
— Não quero as suas desculpas — responde ele, com os olhos fixos na mão de Sofia sobre a sua. — Eu não me perdoo e não espero que você o faça.
Aquelas palavras não surpreenderam Ricardo. Ele já havia percebido aquilo quando os dois haviam rolado pelo chão do quarto. O russo não tentou se defender e simplesmente permitiu que Ricardo o golpeasse como desejava. Ricardo praguejou. Ele queria um motivo para arrancar o couro de Yuri, mas o homem sempre agia de uma forma que o desarmava completamente.
— Por mais que eu esteja com raiva, sei que não é culpa sua — responde ele, com os dentes trincados. Yuri levanta a cabeça e, ao ver a expressão de desgosto de Ricardo, começa a rir.
— Sabe que não vai morrer por admitir isso, Rino — responde, usando o seu nome do submundo. Yuri sempre o chamava de Rino quando estavam sozinhos; aquilo já havia se tornado algo corriqueiro entre eles.
— Fale isso para o meu ego — diz Ricardo, bufando, consternado. Com cuidado, ele se desvencilha de Sofia, enquanto Yuri o observa descer da cama com cuidado.
— Onde vai? — pergunta curioso.
— Vou encontrar o nosso homem — responde ele, com olhos sombrios. — Nem que eu tenha que pôr fogo na p***a dessa cidade.
Yuri já esperava aquilo. Ricardo não se escondia quando queria algo; ele simplesmente ia lá e pegava. Os seus contatos eram imensos, e nada do que fazia aparecia na mídia ou chamava atenção. Nada ficava no caminho de Ricardo quando ele queria algo.
— Cheguei na hora — diz Hideo, entrando no quarto com um olhar cansado, enquanto observa Ricardo e Yuri.
— Parece que foi atropelado por um caminhão — responde Yuri, com um sorriso no rosto.
— Sei que adoraria isso, russo, mas não vai ser dessa vez — diz Hideo, arqueando a sobrancelha.
A guerra entre a yakuza e a máfia russa poderia ter terminado, mas eles gostavam de se provocar sempre que podiam. Sabiam que, no máximo, aquilo terminaria em um desafio mano a mano no tatame da Fênix, onde as inimizades sempre encontravam um fim.
— Podemos conversar em outro lugar? — pergunta Hideo, lançando um olhar para Sofia mais atrás.
— Sim, preciso mesmo esclarecer algumas coisas — diz Ricardo. Assim que deixam o quarto, Nolan e mais um segurança entram para cuidar de Sofia.
Eles entram em outra sala que Ricardo havia reservado, um pequeno escritório onde poderiam conversar de forma mais tranquila, sem correr o risco de serem ouvidos.
— Agora sim, o que vocês descobriram? — pergunta Ricardo.
— Passei a madrugada visitando algumas pessoas — diz Hideo. Ricardo apenas arqueia a sobrancelha, sabendo bem o tipo de visita que ele deveria ter feito. — Ninguém sabe de nada, Ricardo, e olha que fomos bem persuasivos.
— Como assim? — pergunta ele, sentindo a raiva subir ao peito novamente.
— Andamos por toda a cidade, cada beco e organização. Ninguém sabe nada sobre o que aconteceu com a sua irmã — responde Hideo.
Ricardo encara Hideo, sentindo o corpo tremer de raiva. A cidade era grande, e era impossível que algo acontecesse sem que as organizações, pequenas ou grandes, soubessem de algo.
— Isso é impossível. Tem algo errado nessa história — diz ele, socando a mesa, frustrado.
— Sabe que estamos investigando, mas infelizmente demos de cara com um muro — responde Yuri.
— Você disse que tinha algo para mim. O que descobriu, Yuri? — Aquilo estava incomodando Ricardo terrivelmente, mas, com o que tinha acontecido entre ele e o russo, ele acabou esquecendo.
— Quando Hideo encontrou Sofia, ela estava nos braços daquele maldito professor — diz Yuri, com olhos mortais.
— Que professor? — pergunta Ricardo.
— Tem um professor na universidade onde ela trabalha que tem claro interesse nela, mas sua irmã aparentemente o admira demais para perceber isso — diz ele, de forma sarcástica. Ricardo o olha curioso, sabendo que o russo devia estar se remoendo de ciúmes da sua irmã.
— Continue.
— Ele disse que havia voltado à sala para pegar algo que esqueceu, quando viu Sofia caída no chão e um homem ao lado dela. Mas o homem fugiu quando o viu — os olhos de Ricardo se escurecem. Ele não acreditava naquela história.
— Onde ele está? Talvez eu deva fazer uma visitinha a ele.
— Já o liberamos — responde Hideo.
— Vocês o quê? — diz Ricardo, frustrado.
— Calma, Ricardo, tem mais ainda — diz Yuri, antes de continuar. — Na primeira vez que o vi, não gostei dele e mandei investigarem quem ele era. Então, imagina a nossa surpresa quando descobrimos que ele tem dois nomes diferentes.
— Como assim? — pergunta Ricardo, a adrenalina subindo pelas veias, com a possibilidade de terem deixado livre o homem que havia atacado a sua irmã.