Ayla entrou no escritório apreensiva não conhecia aquelas pessoas e sabia que precisaria conquistar o próprio espaço. Ivan era o presidente do grupo, mas um homem assustador, não se parecia com um empresário e sim com um daqueles mercenários de filmes de ação, tinha uma cicatriz que deformava parte do seu rosto e era alto e musculoso, mas tinha salvado sua vida e lhe dado um emprego. Tentava não julgar sua aparência.
Mas assim que a dr. Amanda a levou até a sala da presidência viu Marco. Ela sentiu o coração reagir, e o corpo estremecer, o homem devia ter entre 39 e 45 anos, mas tinha uma áurea forte e autoritária, parecia determinado e a roupa perfeitamente alinhada deixava evidente os músculos de um corpo saudável.
Ayla respirou fundo e entrou com seu melhor sorriso, ouviu Ivan dizer algo a Marco quando os olhos do vice-presidente se cruzaram com os da menina, mas não foi capaz de entender, não falava português e mesmo a língua que o presidente do grupo usou parecia outro idioma, talvez latim, mas ela não identificou.
Quando ficou a sós com Marco sentiu o espaço pequeno, parecia muito menor do que realmente era. Gostaria de falar algo, mas sequer sabia qual idioma o homem usava, arriscou o inglês, era o mais próximo de um idioma mais conhecido e ela tinha fluência.
- What do you need me to do?
Como posso ajudar, ao senhor?
Marco não era o vice-presidente de um grupo global por ser amigo da família, era competente e falava com fluência pelo menos seis idiomas. Respondeu a garota em inglês perfeito.
- Quero saber quem você é! Se será minha secretária preciso conhecê-la. Vamos almoçar e você me conta como chegou aqui.
A voz de Marco tinha um tom forte e Ayla sentiu a barriga gelar com o som, olhou diretamente para o homem e aceitou com um sorriso.
Marco era o oposto completo de Ivan, era espirituoso, divertido e cavalheiro, fez questão de abrir a porta do carro e segurou a mão de Ayla para que ela descesse do carro.
Quando chegaram ao restaurante ele solicitou a mesa que ficava reservada para ele habitualmente e conduziu Ayla com a mão em suas costas.
O toque fez com que a pele da menina arrepiasse, mas ela aproveitou a proximidade sem demonstrar o que sentia, sabia que não podia se permitir gostar de alguém como Marco, ela era uma refugiada no país e ele um dos maiores nomes em uma empresa de alcance global, era impossível e provavelmente Marco era casado.
O homem a conduziu até a mesa e a israelense pensou que as coisas que falavam desse país eram mentirosas.
Tinha crescido ouvindo o pai falar sobre os países ocidentais com rancor.
- Yael, eles não servem a Torá, são infiéis e por isso estão condenados, suas mulheres são usadas como se fossem objetos e os homens afeminados, não há respeito naquelas terras e aquele de nós que se misturar com qualquer um deles também será repudiado pelo grande Javé.
A menina olhou para Marco e pensou que aquele homem não tinha nada de afeminado. Aliás era fascinante, cuidadoso, mas forte e dominador, ele perguntou a ela o que gostava de comer, mas ele fez o pedido, quando o garçom olhou para Ayla, o empresário reagiu com um tom frio que a deixou encantada.
- Senhorita, deseja provar um de nossos vinhos?
Marco já sabia que Yael não ingeria bebidas alcóolicas, tinha sido cuidadoso ao perguntar antes de pedir.
- A senhorita está acompanhada e um não pedi degustação, mas agradeço se trouxer uma água saborizada e um tabule de kashe e Guefilte Fish.
- Sim, senhor, desculpe.
Marco voltou o olhar para Ayla e continuou inquisidor.
- Onde estávamos? Há você estava me contando o que a trouxe ao Grupo Bianchi e como poderá ser útil como minha secretária.
- Eu tive problemas em Israel, o senhor Ivan me ajudou e disse que eu poderia conseguir um trabalho na empresa, aprendo rápido e posso ajudar com o que o senhor mandar.
Marco era um namorador convicto, nunca tinha se deixado apaixonar, e quando ouviu aquela menina lhe dizer que faria o que ele pedisse sentiu o corpo aquecer, mas lembrou das palavras do chefe, Ivan confiava nele e por alguma razão estava protegendo a garota, talvez fosse uma amante que Ivan precisava esconder, mas descobriria isso com o tempo.
- Não precisa ter medo de mim, menina, será bem tratada, acho que pode começar ficando mais tempo com Lia, ela é minha secretária há muitos anos e poderá lhe ensinar tudo o que precisa saber.
- Muito obrigada, senhor.
- Vamos começar por você me chamando apenas de Marco.
- Certo, desculpe, meu pai sempre disse que devemos tratar os mais velhos por senhor e senhora, é um costume de onde venho.
Marco sentiu que a fala de Ayla tinham sido uma forma de afastá-lo, a garota tinha deixado clara a diferença de idade que tinham.
- Sim, devo ser bem mais velho do que você menina, deve ter 19 anos?
- Vinte e dois, Marco, mas sou muito focada e não vou decepcioná-lo, apesar de nunca ter trabalhado, tenho muita vontade de aprender.
O empresário e a menina passaram várias horas ali, terminaram a refeição, mas não partiram, a conversa após alguns minutos estava fluida, Ayla falava sobre seu país e sobre como em sua religião a comida não podia ser preparada por qualquer pessoa, além de haver exigências quanto ao uso das panelas, pratos e copos, por isso, dificilmente um judeu frequentaria um restaurante comum, mas ela adorava fugir de seu pai e experimentar outros tipos de comida e sabores.
- Então estar aqui não é um problema? Nem estar sozinha comigo?
Ayla olhou para Marco e sentiu o rosto queimar com a intensidade dos olhos do empresário.
- Gosto de estar aqui e de estar com você.
O vice-presidente olhou para o celular, respirou fundo e enviou uma mensagem para Ivan.
“Essa missão que me deu será a mais difícil de toda a minha vida, além de linda é inteligente e perspicaz.”