Nos dias seguintes, Ayla seguiu com seu ritual, não conseguia sentir raiva de Marco, mas também sabia que deveria se manter afastada.
Estava hospedada em um hotel próximo ao escritório principal e foi surpreendida com por um carro preto que a esperava na porta do local, tinha recebido de Ivan roupas, hospedagem e uma quantia importante para que pudesse se manter, o prazo era de seis meses, após esse tempo teria que conseguir se manter sozinha.
Tudo o que conseguiu fazer no dia em que Ivan a deixou naquele hotel foi esboçar um agradecimento tímido, mas internamente, sabia que devia-lhe a vida e a oportunidade de conquistar a própria liberdade.
- Obrigada, senhor.
Yael não gostava da aparência de Ivan, achava que ele parecia um soldado saído de uma zona de guerra, mas estava grata por tudo o que ele tinha proporcionado, sem nem mesmo conhecê-la.
- Não precisa me agradecer, Ayla, terá que lutar muito para conquistar sua independência, eu só estou te dando a oportunidade para que isso seja possível. Tem seis meses de hospedagem gratuita, depois terá que procurar um lugar para alugar, já terá seus documentos e receberá um bom salário pelos seus serviços. Daqui para frente estará por sua conta, eu não estarei aqui para ajudá-la.
A garota fazia questão de se recordar daquelas palavras todos os dias, por isso, acordava cedo, caminhava pela região em busca de um local que pudesse pagar, chegava no escritório antes das sete e só saia quando todo o trabalho estivesse terminado, muitas vezes ficou até depois que todos já tinham partido, sabia que tinha uma dívida extremamente alta com o presidente do grupo.
Ayla conhecia aquele carro, já tinha esperado por ele muitas vezes olhando pela janela do escritório Bianchi.
Marco não tinha motorista, gostava de dirigir e apesar de possuir um cargo alto no grupo agia como se ainda fosse administrador júnior que era quando começou a trabalhar no conglomerado empresarial.
- Bom dia, Ayla, tudo bem?
Marco, falou enquanto beijava sua mão e a menina ficou paralisada com a presença altiva e magnética daquele homem.
- Bom dia, senhor, Marco.
O empresário sorriu, mas a corrigiu.
- Tínhamos um acordo, me chamará apenas de Marco, apesar da minha idade.
O homem tinha lembrado da justificativa que recebeu de Ayla no primeiro dia dela na empresa.
- Sim, desculpe, Marco, o que faz aqui?
- Vim te buscar para tomarmos café da manhã, estou com fome e sem vontade de comer sozinho, pensei que poderia me acompanhar.
- Claro que sim!
Ayla ficou empolgada, a sensação no peito era de êxtase, apesar de saber o risco, adorava as emoções que a proximidade com Marco lhe causava.
Chegaram a uma padaria bonita e muito movimentada, mas o empresário não recebeu uma comanda, foi recebido por uma mulher bonita que fez a israelense se lembrar daquelas modelos que via escondido em vídeos na internet.
Marco seguiu a hostess, mas conduziu os passos de Ayla com a mão em suas costas, na região da cintura. A menina olhou para o homens por alguns instantes, queria poder ler em sua mente se aquela era uma atitude de cuidado, ou se ele sabia o que causava nela.
Marco não imaginava que a menina pensasse nele daquela forma, era muito mais jovem, tinha uma cultura diferente e já falado algumas vezes que nunca teve um relacionamento.
As ações do empresário eram naturais, ele gostava da companhia de Ayla e aquela manhã sentiu vontade de levá-la a algum lugar diferente para o café da manhã, sabia que ela economizava absolutamente em tudo, e já tinha visto a menina levar biscoitos na bolsa para comer no escritório.
- Ayla, eu a chamei aqui porque queria conversar, não sei quais problemas teve no seu país e sei que está trabalhando no grupo por indicação de Ivan, mas quero saber se está precisando de algo, sei que ainda não recebeu o seu salário, mas posso pedir um adiantamento ao RH se for necessário.
- Não é necessário, o senhor Ivan deixou uma quantia generosa e deixou pago o hotel, então na verdade quase não tenho despesas, mas muito obrigada.
Marco ficou intrigado com aquela informação, provavelmente o chefe realmente tinha algo com a menina, nenhum homem pagaria pelas despesas de uma desconhecida se não tivesse algo entre eles.
- Sabe que Ivan é casado, não sabe, Ayla?
- Não, não conversamos sobre isso, mas não entendo o porquê eu deveria saber.
- Nada, esqueça, mas se precisar de algo, por favor, me avise, sou amigo de Ivan e ele me ouvirá, só não quero que se machuque.
Ayla realmente não tinha compreendido a preocupação de Marco, mas também não estava pensando sobre isso, queria aproveitar a oportunidade para saber mais sobre Yara.
- A sua namorada, é muito gentil, o dia que a conheci ela me disse que também não é brasileira, onde ela nasceu?
Marco demorou para associar a pergunta da secretária a Yara, mas respondeu.
- Etiópia, Yara nasceu em uma área rural chamada Tigré, mas recebeu asilo no Brasil há muito tempo. Contudo, infelizmente ela não é minha namorada, atualmente ela gerencia uma das startups de maior crescimento na cidade e tem negócios com o Grupo Bianchi.
- Você gosta dela?
- Sim, ela é inteligente, pragmática e tem uma companhia agradával, é diferente das outras mulheres, não me canso de conversar com ela.
Ayla pensou que era algum tipo de indireta e se calou.
No entanto, quando Marco mudou o assunto para o trabalho ela se empolgou novamente, gostava de aprender, mas principalmente adorava o tom de voz forte que o empresário adquiria quando falava sobre negócios.
Naquele mesmo dia, a vida de ambos mudaria drasticamente, mas por enquanto estavam felizes, Marco apreciava a agilidade de Ayla em aprender e a menina se encantava com a personalidade de Marco, se permitiu esquecer de todas as mulheres que viu entrar e sair acompanhadas pelo empresário e se sentiu única ao lado do homem.